A Informática na Educacão: Uma Contribuicão ou um Peso



O computador tem provocado uma revolução na educação por causa de sua capacidade de ensinar. As possibilidades de implantação de novas técnicas de ensino são praticamente ilimitadas e contamos, hoje, com o custo financeiro relativamente baixo para implantar e manter laboratórios de computadores, cada vez mais demandados tanto por pais quanto por alunos. Com isso, trata este artigo de expor a maneira como essa máquina foi inserida na educação e as conseqüências trazidas pela informatização no contexto da educação brasileira.

Introdução

No paradigma da educação, o uso do computador na escola consistiria simplesmente na informatização dos meios tradicionais de instrução. No entanto, o computador pode enriquecer ambientes de aprendizagem onde o aluno, interagindo com os objetos desse ambiente, tem chance de construir o seu conhecimento. Com isso, uma reviravolta acontece, mudando o foco do ensino, causando insegurança nos professores, que num primeiro momento temem sua substituição por máquinas e programas capazes de cumprir o papel antes reservado para o ser humano. Mas o computador pode realmente provocar uma mudança no paradigma pedagógico e pôr em risco a sobrevivência profissional daqueles que concebem a educação como uma simples operação de transferência de conhecimentos do mestre para o aluno?

1 A TECNOLOGIA INSERIDA NA EDUCAÇÃO

A tecnologia sempre afetou o homem: das primeiras ferramentas, por vezes consideradas como extensões do corpo, à máquina a vapor, que mudou hábitos e instituições, ao computador que trouxe novas e profundas mudanças sociais e culturais, a tecnologia nos ajuda, nos completa, nos amplia, facilitando nossas ações, nos transportando, ou mesmo nos substituindo em determinadas tarefas, os recursos tecnológicos ora nos fascinam, ora nos assustam.

A Tecnologia não causa mudanças apenas no que fazemos, mas também em nosso comportamento, na forma como elaboramos conhecimentos e no nosso relacionamento com o mundo. Vivemos num mundo tecnológico, estruturamos nossa ação através da tecnologia.

Os recursos atuais da tecnologia, os novos meios digitais: a multimídia, a Internet, a telemática trazem novas formas de ler, de escrever e, portanto, de pensar e agir. O simples uso de um editor de textos mostra como alguém pode registrar seu pensamento de forma distinta daquela do texto manuscrito ou mesmo datilografado, provocando no indivíduo uma forma diferente de ler e interpretar o que escreve, forma esta que se associa, ora como causa, ora como conseqüência, a um pensar diferente.

Os seres humanos são constituídos por técnicas que estendem e modificam o seu raciocínio e, ao mesmo tempo, esses mesmos seres humanos estão constantemente transformando essas técnicas.

Dessa mesma forma devemos entender a Informática. Ela não é uma ferramenta neutra que usamos simplesmente para apresentar um conteúdo. Quando a usamos, estamos sendo modificados por ela.

O principal objetivo, defendido hoje, ao adaptar a Informática no contexto da educação, está na utilização do computador como instrumento de apoio às matérias e aos conteúdos lecionados, além da função de preparar os alunos para uma sociedade informatizada.

Entretanto esse assunto é polêmico. No começo, quando as escolas começaram a introduzir a informática no ensino, percebeu-se, pela pouca experiência com essa tecnologia, um processo um pouco caótico. Muitas escolas introduziram em seu currículo o ensino da informática com o pretexto da modernidade. Mas o que fazer nessa aula? E quem poderia dar essas aulas? A princípio, contrataram técnicos que tinham como missão ensinar informática. No entanto, eram aulas descontextualizadas, com quase nenhum vínculo com as disciplinas, cujos objetivos principais eram o contato com a nova tecnologia e oferecer a formação tecnológica necessária para o futuro profissional na sociedade. 

Com o passar do tempo, algumas escolas, percebendo o potencial dessa ferramenta introduziram a informática educativa, que, além de promover o contato com o computador, tinha como objetivo a utilização dessa ferramenta como instrumento de apoio às matérias e aos conteúdos lecionados.

Entretanto esse apoio continuava vinculado a uma disciplina de Informática, que tinha a função de oferecer os recursos necessários para que os alunos apresentassem o conteúdo de outras disciplinas.

Vivemos em um mundo tecnológico, onde a Informática é uma das peças principais. Conceber a informática como apenas uma ferramenta é ignorar sua atuação em nossas vidas. E o que se percebe? Percebe-se que a maioria das escolas ignora essa tendência tecnológica, do qual fazemos parte; e em vez de levarem a informática para toda a escola, colocam-na circunscrita em uma sala, presa em um horário fixo e sob a responsabilidade de um único professor. Cerceiam assim, todo o processo de desenvolvimento da escola como um todo e perdem a oportunidade de fortalecer o processo pedagógico. Na visão de Alameida, o computador esta ligado a um conceito de capitalismo globalizado:

A origem do pensamento e dos aparelhos computacionais esta ligada visceralmente ao desenvolvimento de um modo de produção voltado para o rendimento industrial e bélico de modelo concentrador. De modo algum pode-se imaginar que a origem do computador tenha vinculação com as necessidades das camadas carentes ou com a solução dos problemas de distribuição de renda (ALMEIDA, 1988, p. 27).

A globalização impõe exigência de um conhecimento holístico da realidade. E quando colocamos a Informática como disciplina, fragmentamos o conhecimento e delimitamos fronteiras, tanto de conteúdo como de prática. A organização curricular das disciplinas coloca-as como realidades estanques, sem interconexão alguma, dificultando para os alunos a compreensão do conhecimento como um todo integrado, a construção de uma cosmovisão abrangente que lhes permita uma percepção totalizante da realidade.

Integrando a educação neste contexto, nas palavras de Kawamura, a informática na educação, tinha como propósito integrar o cidadão a uma competência global e socialmente econômica.

{...} era mister, torná-la eficiente para formar trabalhadores competentes e cidadãos integrados ao projeto econômico e social mencionado. Aqui dois pontos se colocam: a redefinição da competência e a importância do planejamento (KAWAMURA, 1990, p.23).

Dentro do contexto, qual seria a função da informática? Não seria de promover a interdisciplinaridade ou, até mesmo, a transdisciplinaridade na escola?

2 MUDANÇAS TRAZIDAS PELA INFORMATIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO

Vivemos numa sociedade que está cada vez mais informatizada. Encontramos computadores na maioria dos lugares públicos (bancos, supermercados, lojas, escritórios). A maioria das escolas particulares já possui laboratório de informática, muitos deles com conexão Internet. Os sistemas municipais e estaduais também estão desenvolvendo programas para aquisição de seus laboratórios. Espera-se que num curto espaço de tempo, nossa realidade será muito mais informatizada. Essa disseminação do computador, e de toda a tecnologia assessória, está provocando uma grande mudança social: noções de tempo e espaço se alteram com a possibilidade de rápido acesso à banco de dados em qualquer lugar do planeta; novas modalidades de comunicação e trabalho emergem. Essas mudanças também contribuem para complexificar as relações homem/homem e homem/máquina.

A reflexão a respeito da necessidade da inserção critica de todos nós na sociedade tecnológica e da responsabilidade da escola e do professor para que este processo se concretize vem demonstrara preocupação com um tipo de formação que capacite o professor a enfrentar os novos desafios que a dinâmica desta sociedade traz. Essa preocupação impulsiona e sustenta este trabalho que apresenta e discute idéias relacionadas ao conceito de alfabetização tecnológica do professor {...}. Este tema é atual e complexo e contribui para a atribuição de significado e amplitude ao processo de preparação do professor no que se refere ao mundo da tecnologia, e poderá servir como base para que cursos deformação de professores orientem a pratica pedagógica deste profissional no tocante à sua relação com a sociedade tecnológica (SAMPAIO; LEITE, 2006, pg.13).

Embora muitos considerem o computador e seus assessórios, em si mesmos, como ferramentas análogas ao lápis e ao livro, a grande maioria da população não sabe usá-los nem conhece suas potencialidades e seus limites. A interatividade, a velocidade, o complexo de relações e o dinamismo estabelecido entre seus componentes provoca, principalmente no adulto, um certo estranhamento, o que dificulta o processo de familiarização deste com a máquina. Já com as crianças não existem grandes dificuldades, elas aprendem a usar um computador eficientemente assim que se deparam com a necessidade de utilizá-lo; começam a explorar e logo descobrem como funciona.

Envolver os professores nesse novo contexto apresenta-se como o grande desafio, pois o professor sempre teve a imagem de único e soberano. No inicio, como em qualquer outra coisa nova, o computador não foi tão aceito pelos professores. O ar era de substituição conforme destaca Ethevaldo Siqueira:

À primeira vista, as novas tecnologias da informação já poriam estar sendo utilizadas em larga escala nas escolas, como um dos caminhos mais lógicos e tranqüilos para aumentar a eficiência e a qualidade de ensino. Na pratica, as coisas se complicaram,. Educar é algo muito mais complexo do que se pensa. A maioria das pessoas guarda a imagem da escola como uma oficina de trabalho de um único profissional.: o professor. Ali, o mestre tem sido absoluto. Esse absolutismo esta também associado à imagem estereotipada da velha escola e de seu mestre marcado pelo estilo de aula discursiva, verborrágica e livresca. O velho professor só descia do podium para usar giz e quadro negro (SIQUEIRA, 1987, pg. 181).

Contudo, cabe às escolas organizar uma estrutura que dê oportunidade e não apenas aos responsáveis pelo laboratório de informática.

Mesmo que o aluno não precise do professor para ganhar o instrumento, vai precisar para ajudar a definir o que fazer com ele. O desafio é grande porque não se trata de ensinar o aluno a mexer com a tecnologia, e sim de ensinar o aluno, que já está inserido nela, a usá-la, ver o que vai fazer com ela, fazer a análise das possibilidades que apresenta, indicar o caminho de um novo tipo de produção de subjetividade que pode ser gerada nessa interação.

Especialmente nos cursos de Licenciatura, enquanto espaços de formação de professores, os alunos precisam ter oportunidade para interagir com essa tecnologia, apropriando-se dela com uma visão crítica de suas possibilidades e limites, já que ao ingressarem no mercado de trabalho irão se defrontar com essa tecnologia instalada na escola, estando os jovens estudantes imersos nessa nova realidade. Nesse momento precisarão posicionar-se: O que fazer com o computador? Como usá-lo na sala de aula? Quais as concepções que vão embasar esse agir pedagógico? O suporte técnico, teórico e metodológico precisa ser oportunizado pelos cursos de formação, sob pena de estarem preparando professores "alienados" da realidade com a qual vão trabalhar e deixando de lado recursos que podem ser importantes para desencadear uma nova dinâmica educacional.

O computador é um recurso que pode desencadear essa nova dinâmica porque possibilita o fazer, o executar e criar coisas, encurta distâncias e facilita a comunicação. Portanto, a sua utilização na educação - principalmente quanto ligado em rede - significa uma possibilidade de estruturar, potencializar, fortalecer novas idéias; idéias que podem transformar a escola num espaço vivo de produção, recepção e socialização de conhecimentos.

3 A INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO DO BRASIL

A utilização de computadores na educação é tão remota quanto o advento comercial dos mesmos. Esse tipo de aplicação sempre foi um desafio para os pesquisadores preocupados com a disseminação dos computadores na nossa sociedade.

No entanto, a atividade de uso do computador pode ser feita tanto para continuar transmitindo a informação para o aluno e, portanto, para reforçar o processo instrucionista, quanto para criar condições do aluno construir seu conhecimento.

Quando o computador transmite informação para o aluno, o computador assume o papel de máquina de ensinar e a abordagem pedagógica é a instrução auxiliada por ele. Essa abordagem tem suas raízes nos métodos tradicionais de ensino, porém ao invés da folha de instrução ou do livro de instrução, é usado o computador. Os software que implementam essa abordagem são os tutoriais e os de exercício-e-prática.

No Brasil, como em outros países, o uso do computador na educação teve início com algumas experiências em universidades, no princípio da década de 70. Em 1971, foi realizado na Universidade Federal de São Carlos um seminário intensivo sobre o uso de computadores no ensino de Física, ministrado por E. Huggins, especialista da Universidade de Dartmouth, E.U.A. (Souza, 1983). Nesse mesmo ano, o Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras promoveu, no Rio de Janeiro, a Primeira Conferência Nacional de Tecnologia em Educação Aplicada ao Ensino Superior (I CONTECE). Durante essa Conferência, um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), acoplou, via modem, um terminal no Rio de Janeiro a um computador localizado no campus da USP (Souza, 1983).

Na UFRJ, em 1973, o Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde e o Centro Latino-Americano de Tecnologia Educacional (NUTES/CLATES) usou software de simulação no ensino de Química. Na UFRGS, nesse mesmo ano, realizaram-se algumas experiências, usando simulação de fenômenos de Física com alunos de graduação. O Centro de Processamento de Dados desenvolveu o software SISCAI para avaliação de alunos de pós-graduação em Educação. Em 1982, o SISCAI foi traduzido para os microcomputadores de 8 bits como CAIMI, funcionando como um sistema CAI e foi utilizado no ensino do 2º grau pelo grupo de pesquisa da Faculdade de Educação (FACED), liderado pela Profa. Lucila Santarosa.

4 CONCLUSÃO

As experiências mostram que o computador não substitui e jamais substituirá o professor. O mercado de softwares educacionais, está cheio de programas que refletem uma concepção tradicional de aprendizagem, vendendo uma idéia de que podemos revolucionar a educação substituindo o professor por um software. A experiência mostra exatamente o contrário. Com a visão de professor e o conhecimento do potencial do software podemos elaborar uma atividade que propicie a aprendizagem através da discussão entre o trio: aluno, professor e computador. Imaginem o que um bom professor, com alunos interessados, pode fazer com um bom software educacional.

Portanto, ao mesmo tempo que a globalização tecnológica nos proporciona acesso a vários softwares, de maneira simples e rápida, ainda assim, podemos personalizar o trabalho do professor, de maneira a adaptá-lo de forma técnica e eficaz, a usar a máquina a seu favor, pensando sempre no alcance do objetivo comum: uma boa educação.


Autor: Osmir A. Cruz


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