CULTO DE ORAÇÃO: UMA FERRAMENTA DE SOCIABILIZAÇÃO



Aruane Nunes Quiroz*

RESUMO:

O artigo objetiva propor o culto de oração como uma ferramenta de socialização na organização, através de uma discussão de cunho teórico e exemplificação de como acontece em uma instituição universitária da cidade de São Paulo. Aborda oconceito de sociabilização e as ferramentas utilizadas nas organizações. Através de entrevista com o diretor geral da universidade e observação em campo, é realizada a descrição do que é o culto de oração na organização.Após análise, a sugestão do culto de oração na organização como ferramenta de sociabilização destaca a necessidade deste ser apenas parte de todo um projeto organizacional.

PALAVRAS-CHAVE:

Sociabilização, socialização organizacional, culto de oração na organização, ferramenta de sociabilização, espiritualidade na empresa.

*Assistente de Departamento Pessoal. Graduada em Administração de Empresas com ênfase em marketing.

1.INTRODUÇÃO

A concorrência do mercado direciona as empresas a estarem sempre inovando para oferecer produto ou serviço diferenciado. Este algo novo surgirá da mente de algum colaborador da organização. As pessoas passam a ser o diferencial das empresas. O capital humano é discutido e valorizado.

Este cenário revoluciona a administração dos recursos humanos nas empresas. O vocabulário é novo, e mescla significados técnicos e mensuráveis com afetivos e transcendentais: auto-estima, qualidade de vida, satisfação, prevenção de doenças, espiritualidade, liderança, missão, entre outros. As pessoas passam a ser mais exigidas quanto à eficácia, qualificação, proatividade, comprometimento e envolvimento.

As organizações precisam ter o funcionário como um colaborador para alcançar seus objetivos. Com este alvo, procuram criar uma forma de pensar, um estilo de vida, uma mente, todos envolvidos e comprometidos com a missão da empresa. Dave Ulrich (2000, p. 23) endossa esta nova realidade das pessoas na organização: "Apesar dos bons jogadores, o sucesso de uma empresa é resultado do trabalho em grupo, do comprometimento e da adesão a uma meta e a um modelo."

A sociabilização é um dos primeiros passos para este caminho de união no pensar e agir entre empresa e colaborador. Após decisão da direção da empresa, o projeto de envolvimento com os valores e missão é desenvolvido e aplicado aos novos admitidos e constantemente reforçado aos outros colaboradores.

Segundo Jair Moggi[1], em uma entrevista concedida a HSM Management onde aborda a espiritualidade como capital desta era:

"[...] as empresas são entidades coletivas vivas e, portanto, têm natureza espiritual, quer queiram, quer não. [...] O espiritual está naquilo que é imaterial para a empresa, aquilo que não pode ser apropriado pelos donos do capital, porque está inscrito na essência das pessoas, como idéias, valores, símbolos, conhecimento, informações, que circular entre elas e no grupo etc."

O presente artigo procura discutir sobre uma ferramenta de sociabilização que valoriza e desenvolve este lado espiritual na organização. O culto de oração pode ser utilizado como parte do projeto e fortalecer os valores e missão da empresa.

2.DESENVOLVIMENTO

Sociologicamente, as organizações são vistas como órgãos de controle social (Ibidem, p 47) e como "conjunto das relações entre membros de um grupo" (CASTRO, 2008, p 49). Um grupo é caracterizado pelo equilíbrio, estabilidade, regularidade de forma e padronização de comportamento. (Ibidem)O sociólogo (Ibidem, p 47) define o controle social como:

"[...] um conjunto de dispositivos sociais – usos, costumes, leis, instituições, sanções – que objetivam a integração social dos indivíduos, o estabelecimento da ordem, a preservação da estrutura social, alicerçado nos valores e expresso na imposição da vontade dos líderes, da classe dominante ou do consenso grupal."

A vontade dos líderes ou objetivo da organização é traduzido para o grupo através dos seus valores e da missão. Para Chiavenato (2008, p 63):

"A missão funciona como o propósito orientador para as atividades da organização e para aglutinar os esforços dos seus membros. Serve para clarificar e comunicar os objetivos da organização, seus valores básicos e a estratégia organizacional. [...] para que funcione como um lembrete periódico a fim de que os funcionários saibam para onde e como conduzir os negócios. [...] Os valores constituem crenças e atitudes que ajudam a determinar o comportamento individual [...] funcionam como padrões orientadores do comportamento das pessoas."

A missão e os valores são levados aos colaboradores, principalmente aos novos funcionários, através da socialização organizacional ou sociabilização. Ocorre a integração do colaborador ao contexto da empresa, através de cerimônias de iniciação e de aculturamento social. A socialização é a forma como a organização recepciona seus novos funcionários integrando-os à sua cultura. A maneira de pensar e agir da organização é registrada na mente do funcionário que renuncia de certa forma a sua liberdade para estar de acordo com o que a empresa tem como expectativa e necessidade. (CHIAVENATO, 2008, p 180 – 182)

WAGNER III, John A (2000, p. 195) conceitua a socialização como "procedimento pelo qual as pessoas adquirem o conhecimento e habilidades sociais necessárias a assumirem corretamente seus papéis em um grupo ou organização". Para o autor, a socialização ocorre sempre que o indivíduo se move em algumas das três dimensões organizacionais: funcional, hierárquica e inclusiva. A primeira refere-se a mudança de tarefas; a segunda de posição e autoridade no grupo; a dimensão inclusiva é quando a pessoa passa do status de não-membro para o de membro. (Ibidem, p. 195 – 197)

Podemos, portanto concluir que o processo de socialização deve ser constante e não apenas para os recém contratados. Castro (2008, p. 177) reforça esta idéia: "Novas descobertas determinam a necessidade de identificação." Sempre que houver uma mudança na empresa, seja estrutural ou conceitual, um projeto de socialização deve ser iniciado ou reformulado.

Este processo de aprendizado da cultura organizacional ocorre de várias formas: histórias, rituais e cerimônias, símbolos materiais e linguagem. As histórias envolvem os momentos onde ocorrem narrações sobre a vida do fundador da empresa e períodos de dificuldade. Servem para legitimar as práticas atuais. Os rituais são atividades que acontecem em uma seqüência de repetição e reúnem a totalidade dos funcionários para reforçar os principais valores da empresa e reduzir conflitos. Os símbolos materiais compreendem a comunicação não-verbal: arquitetura do edifício, salas e mesas. A linguagem envolve os termos singulares utilizados dentro da organização para falar sobre equipamentos, clientes, fornecedores, filiais, escritórios, produtos e outros assuntos. Funcionam como meio de identificação do membro de um grupo. (CHIAVENATO, 2000, p. 183)

Para este aprendizado as empresas realizam treinamentos, programa de integração, manual do colaborador, comemorações de aniversários e datas festivas, café com presidente, reuniões de planejamento, entre outros.

Como foi citado anteriormente, Chiavenato (2000, p 183) classifica o ritual ou cerimônias como uma forma de socialização. De acordo com observação de campo e entrevista qualitativa com o diretor geral no UNASP – Centro Universitário de São Paulo Campus I, o culto de oração por ser realizado diariamente nos setores e mensalmente com todos os funcionários pode ser classificado como um ritual.

Uma ferramenta de sociabilização com característica espiritual fortalece os valores e missão da empresa? Fazem o funcionário sentir-se parte do todo e pensar como este? Algumas considerações teóricas serão abordadas para responder a estas questões antes da descrição do Culto de Oração e da socialização no UNASP.

A organização, sendo uma estrutura formada por pessoas que possuem natureza espiritual (MOGGI[2] apud GOMES A S, 2008), deve ter a espiritualidade como parte do processo de aprendizado cultural. MOGGI (Ibidem) conceitua espiritualidade como:

"Essa espiritualidade tem que ser compreendida não a partir do misticismo, mas no seu sentido místico lato, que significa aquilo que não vemos, mas intuímos existir, aquilo que todas as tradições e culturas respeitam como sagrado, como amor, respeito à vida, livre-arbítrio, verdade, bondade, beleza, compaixão, integração e assim por diante."

Segundo Fry (Apud REGO, 2007, p. 5):

"as organizações que não fizerem as mudanças necessárias para incorporar a espiritualidade no local de trabalho também fracassarão em fazer a transição para o paradigma da organização que aprende, necessária ao sucesso no século XXI."

A empresa que atua com a espiritualidade está baseada em preceitos éticos e morais elevados. A espiritualidade e a moralidade são sinônimas. (MOGGI[3] apud GOMES A S, 2008)

No artigo sobre Espiritualidade nas Organizações e Comprometimento Organizacional (REGO, 2007, p 19), foi concluído que:

"[...] quando as organizações criam espaços espiritualmente ricos, os seus membros satisfazem as necessidades espirituais, experimentam um sentido de segurança psicológica e emocional, sentem-se valorizados como seres intelectual, emocional e espiritualmente válidos, experimentam sentidos de propósito, de autodeterminação, de alegria, de pertença. Em contrapartida da recepção destes "recursos" espirituais e motivacionais, desenvolvem maior ligação afetiva com a organização e sentem o dever de responder reciprocamente, de serem mais leais e mais produtivos."

Segundo o Grande Dicionário da Língua Portuguesa Larousse Cultural (1999, p. 282):

"CULTO 1. Homenagem, honra prestada a Deus, a seres divinos ou julgados como tais, e a certas criaturas particularmente próximas a Deus. – 2. Conjunto de cerimônias pelas quais se presta essa homenagem. [...]"

Com o objetivo de obter embasamento para identificar o que é o culto de oração na empresa, foi realizada observação de campo e entrevista qualitativa com o diretor geral no UNASP – I. O Centro Universitário Adventista de São Paulo Campus I fica situado na Estrada de Itapecerica da Serra, desde 1915, e oferece o serviço educacional desde a pré-escola até a pós-graduação.

O culto, que ocorre antes de todas as atividades do dia, envolve reflexão espiritual sobre mensagens bíblicas, cânticos religiosos, oração intercessória e momento de recados sobre os acontecimentos do Campus. Os funcionários se reúnem no seu departamento ou em algum auditório do Campus. Quando perguntado sobre a oração intercessória, o entrevistado afirmou: "São feitos todos os dias, nós estamos orando por alguém que trabalha no UNASP. Cada dia é alguém que recebe esta oração."

"Depois de passados pelo processo de admissão, então o novo funcionário é apresentado para o setor onde ele vai exercer sua atividade. E ao ser apresentado ali no setor, imediatamente ele já é integrado ao programa regular de culto daquele setor. [...] Então as pessoas já são integradas com o setor, com os seus colegas de trabalho. E o culto exerce para isso um papel muito importante porque a cada manhã, no início das atividades, eles se encontram e realizam juntos alguma atividade espiritual que os sociabiliza, que os integra, e onde permite que aquela pessoa tenha bem reforçado o senso de pertencimento ao ambiente, ao grupo." (DIRETOR GERAL)

O novos colaboradores são apresentados a toda a organização no culto mensal, que acontece na primeira segunda-feira do mês. Neste momento, todos os setores se reúnem e realizam o culto juntos. Além das atividades regulares dos outros cultos, ocorre a apresentação dos novos funcionários e uma mensagem motivacional vinda do diretor administrativo do Campus.

A socialização no UNASP é um processo contínuo, não ocorre apenas após a admissão. De acordo com o diretor geral da universidade, ela compreende a apresentação do novo funcionário ao seu setor, participação no culto de oração diário, semanal e mensal, e recebimento constante de informações dos eventos e acontecimentos do Campus Universitário através da Intranet e do Jornal do Campus. Esclarecendo a diferença entre os objetivos destas ferramentas de comunicação utilizadas para a constante socialização e o culto de oração, o diretor geral afirmou:

"A veiculação da informação, ela contribui para fortalecimento da nossa filosofia, para firmar valores. Mas ela é fria. Ela não tem o aquecimento, o envolvimento humano presente.[...] Os cultos de cada manhã, setorizadamente, ou estes periódicos que vem mais gente, além de firmar valores e reafirmar nossa filosofia, ele cumpre o papel do encontro, da sociabilização, da percepção de existência do ser humano. E isso é uma coisa insubstituível." (DIRETOR GERAL)

3.CONCLUSÃO

O conteúdo deste artigo faz parte de uma área escassa de estudos. Porém, o levantamento de informações, na entrevista e observação de campo realizadas e nos artigos e livros estudados, direciona a definir a evolução administrativa atual: empresas percebendo o que são as pessoas, filosofando sobre seu maior recurso. Principalmente quando realizam o elo entre o objetivo empresarial do lucro, que envolve todas as organizações, com a espiritualidade existente no ser humano. Esta nova mente, voltada para a espiritualidade, estará presente nas empresas de sucesso.

O importante é não direcionar para o proselitismo religioso ou filosófico. Possibilitando que o espiritual esteja direcionado para os valores universais e as necessidades individuais de todo indivíduo.

O culto de oração, como uma ferramenta de sociabilização, compreende este todo necessário nas empresas. As mensagens apresentadas falam sobre amor, verdade, lealdade, união, humildade... E o convívio diário, junto com a oração intercessória, faz com que o sentimento de grupo, de pertencimento, seja sempre fortalecido. Além do fácil acesso da organização a todos os seus colaboradores durante os cultos fazendo com que a filosofia da empresa seja expandida e arraigada.

Como visto, nas definições e discussões sobre socialização organizacional, o envolvimento do funcionário com a missão, a forma de pensar, de agir, e a cultura da empresa acontece através da utilização de várias ferramentas que buscam interagir as pessoas e espalhar a mensagem da organização. Um projeto de sociabilização de sucesso envolve vários e diversos eventos e meios de comunicação. O culto de oração deve ser um destes por criar um intenso e rico ambiente espiritual, necessário para envolver e comprometer as pessoas.

BIBLIOGRAFIA

BORGES, L. O.; LIMA, A. M. S.; VILELA, E. C.; MORAIS, S. S. G. Comprometimento no trabalho e sua sustentação na cultura e no contexto organizacional. Disponível em http://www.rae.com.br/eletronica/index.cfm?FuseAction=Artigos&Secao= ORGANIZA&Volume=3&Numero=1&Ano=2004 . Acesso em 24 de abril de 2009

CASTRO, C. A. P. Sociologia aplicada à administração. São Paulo: Atlas, 2008

CHIAVENATO, I. Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008

GOMES, A. S. A espiritualidade é o grande capital desta era. Disponível em http://br.hsmglobal.com/notas/41773-a-espiritualidade-e-o-grande-capital-desta-era. Acesso em 24 de abril de 2009.

NOVA CULTURAL. Grande dicionário da Língua Portuguesa Larousse Cultural. São Paulo: 1999. p. 282

REGO, A.; CUNHA, M. P.; SOUTO, S. Espiritualidade nas organizações e comprometimento organizacional. Disponível em http://www.rae.com.br/eletronica/index.cfm?FuseAction&ID=3840&Secao=ARTIGOS&Volume= 6&Numero=2&Ano=2007 . Acesso em 24 de abril de 2009

ULRICH, D. Recursos Humanos Estratégicos: novas perspectivas para os profissionais de RH. São Paulo: Futura, 2000. P. 20 – 24

WAGNER III, J. A.; HOLLENBECK, J. R. Comportamento Organizacional: criando vantage competitiva. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 195 – 205

WHITE, E. Conselhos para a igreja. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2007. P. 299 – 301




Autor: Aruane Quiroz


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