A MORTE NA VISÃO COLETIVA DO OCIDENTE



A morrer é uma certeza irrefutável, umas verdades universais, comuns a toda a humanidade. O ciclo da existência acaba por igualar todos na morte, seja qual for o sexo ou condição social. O finito é irremediável para todos, como foi indispensável o nascimento.

A inquietude á respeito da morte foi sempre objeto de grande reflexão do homem, na incerteza do que haveria para além dela. Esta herança milenar sofreu um rude golpe com a modernidade. A sociedade ocidental atual, cada vez mais tentada a prolongar a vida, vai distanciando da morte, não pensando nela, e procura esquecê-la. Com o acentuar do laicismo, afirma-se cada vez mais que após a morte nada há mais, o que modifica o comportamento humano e incentiva cada vez mais a viver a vida, a gozar os prazeres dos sentidos corporais. A postura do homem perante a morte nem sempre foi assim, muito em especial na Idade Média. Com o advento da religião cristã, ao princípio influenciado pelo neoplatonismo de Santo Agostinho, o mundo sensível era apenas considerado uma sombra, um caminho para se passar do sensível ao inteligível, da sombra para a luz. Em vez de procurarem na Natureza o seu próprio fundamento, afirmavam que o mundo foi criado num ato de amor, e que esse amor deveria orientar os espíritos de volta para Deus, salvando-os do Inferno. Passava a ser dogmático que o Inferno e o Paraíso existiam e eram inseparáveis e eternos. Como tal, nesse período, o Mundo era considerado um local de batalha constante contra o Diabo, pela salvação da alma. A religião interfere nos elementos mentais, nas ações materiais e nos aspectos culturais, alterando e modificando o comportamento social do homem ocidental. No período medieval a morte era o grande momento de transição, das coisas passageiras para as eternas. A morte era um rito de passagem. Era aguardada no leito em casa, onde o homem deveria ficar deitado de costas, para o seu rosto estar voltado para o céu. A morte era uma cerimônia pública, um ritual compartilhado por toda a família e amigos. Os medievais pressentiam as suas chegada, e assim tinham tempo de prepara o seu ritual coletivo. Ninguém morria só. A morte era uma festa, momento social da maior importância. Todos deveriam acompanhar a passagem do homem para o além, incluindo as crianças. O pranto era executado exclusivamente pelas mulheres; elas deveriam ficar perto do corpo, arrancando os cabelos e rasgando as vestes. Elas eram os agentes essenciais no rito funerário, pois representavam o prelúdio da mudança para um estado superior. A preocupação não era com a morte, mas sim com a salvação da alma. Essa era a morte lenta no leito daqueles que haviam sobrevivido das doenças, da fome e das guerras. Mas havia também a morte na guerra, a morte antecipada, momento supremo do cavaleiro, que alegremente se dirigia na sua direção. Como o mundo dos vivos estava ligado ao dos mortos, o papel dos mosteiros era exatamente o de interlocutor junto do Além pela sociedade terrestre. Na Idade Média a morte foi assimilada nos corações. Desejada pelos guerreiros, aguardada pelos religiosos, a morte foi sentida como um rito de passagem para um outro mundo, o Além. Os medievais entendiam o Além como uma realidade. Foi o tempo do Além, e a preocupação com a morte, algo constante nas suas vidas. O Além é o espaço espelho da sociedade que o imagina e recria constantemente esta realidade.

No final da Idade Média novas formas de compreensão da morte tomaram conta dos espíritos, como, por exemplo, o macabro esqueleto com a foice, que exprimiu a profunda angústia dos tempos da Peste Negra. Para tanto, contribuíram para essa nova espiritualidade e concepção do Além, os pregadores franciscanos e dominicanos, lembrando às pessoas a corruptibilidade de todas as coisas, sendo o cadáver putrefato a imagem preferida nos sermões.

O Além deixou de ser a razão última da própria existência, para passar a ser a chantagem para a imposição das regras e dos dogmas religiosos.

                              

BIBLIOGRAFIA

ÁRIES, Phillippe. História da Morte no Ocidente ­­– Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977


Autor: DHIOGO JOSÉ CAETANO


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