Literatura Brasileira: ESCRITOR E LEITOR NO MESMO CENÁRIO





Se a história porta elementos ficcionais, as narrativas ficcionais também portam concepções de história que acabam orientando a construção literária. Essa é a proposta do escritor J Rodrigues Vieira em CERRO EM CHAMAS ENCANTADAS (ISBN: 978-85-7716-389-2) que conta uma tragédia premeditada num lugarejo entre os vales do Centro Sul Baiano nos primeiros anos da década de trinta do século XX.

 

Após expor o romance na Assembléia Legislativa e no Espaço Cultural Pelourinho Dia e Noite em Salvador, J Rodrigues Vieira vem apresentando o trabalho nas cidades que serviram de cenário para CERRO EM CHAMAS ENCANTADAS: Ilhéus, Itabuna, Vitória da Conquista, Canavieiras, Encruzilhada, Pau Brasil, Camacã, Caravelas, Itambé e Macarani são visitados nas primeiras décadas do século vinte.

 

O Romance expressa a expansão e mapeamento da região agropastoril em empreendimentos aventureiro e mercantil numa Bahia desconhecida. O romance narra uma das muitas histórias perdidas sem o progresso cultural e material dos centros metropolitanos, realçando a colonização baiana e ocupação progressiva do território baseado na grande propriedade. Aqui em questão, o romance conta a trágica saga de homens simples que acompanharam o Coronel Delcides Paranhos após abandonar a efervescência do cacau para se aventurar na abertura de pastagens numa extensão de terras quase inexploradas.

 

[...] Quando ali chegaram, a mata dormia silenciosa, guardando o tempo que passava devagar naquele imenso terreno gracioso e cheio de encantos. Suas árvores altas e centenárias cobriam as nuanças e protegiam doces olhos-d’água e longos leitos de rios caldosos e serpenteados abrindo caminhos entre as montanhas e desaguando em belas quedas-d'água, enquanto seus animais passeavam íntimos na imensidade daquele chão úmido.

 

O romance traz em seu texto, uma mescla de drama e tragédia expondo as distorções na estrutura fundiária brasileira, abordando exploração dos mais fracos num cenário de conflitos sociais, submetendo as personagens em contornos contraditórios como a pobreza e a riqueza, a alegria e a dor numa terra rica em encantos virgens. A trama se desenvolve após a morte da esposa do coronel Delcides Paranhos que resolve doar aos camaradas uma área de terra estimada em vinte alqueires. Assim surgiu um lugarejo de casinholas toscas num terreno irregular numa fazenda coletiva num comunismo primitivo. Incomodados com o possível surgimento de uma vila naquelas brenhas, um grupo de fazendeiros sob a orientação de um jovem e sagaz advogado, decidiram tramar uma audaciosa manobra numa insídia que dali expulsaria aquela gente simples.

 

[...] Os vinte alqueires de terra era uma propriedade coletiva; nas baixadas planas e alagadiças plantavam arroz, o gado ocupava a parte do fundo, onde estava o curral, e as roças eram plantadas nos terrenos acidentados às margens do córrego. Nos fundos do lugarejo foram montadas: a farinheira, o laticínio, o forno e construído um varal entre a fornalha e o telhado, onde se defumava a carne.

 [...] No processo, o advogado acusava os de pouca instrução, de convívio e de modos rústicos de ter ocupado ilegalmente a propriedade. E numa outra peça, dizia que o proprietário tentou sem sucesso negociar de forma pacífica a saída dos ocupantes. Sem defesa, uma ordem de desocupação por força de decisão judicial foi expedida ordenando que os ingênuos trabalhadores desocupassem a propriedade imediatamente.

 [...] O flagelo terrível baixou na Barra do Córrego do Coroa. Cerca de trinta homens invadiram e cercaram o terreno acidentado onde estava o lugarejo que abrigava casebres de paredes feitas com varas entrecruzadas revestidas com barro e cobertas de palhas numa insaciável vontade de devastação sem piedade.

 

Vale a pena conferir as chamas encantadas dessa epopéia ficcional que se espalharam por entre os vales daquela região, deixando no tempo as essências que desafiam o existir naquelas brenhas de ricas pastagens no Centro Sul Baiano.

 

CERRO EM CHAMAS ENCANTADAS – Ficção Brasileira – Colonização Agrária, de J Rodrigues Vieira, 150 pp, Livro Rápido – Elógica, 2008; R$ 30,00 - ISBN: 978-85-7716-389-2.

 

*Parma Direc é Artista Plástica e Poeta.


Autor: Parma Direc


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