DESCULPEM, MAS NÃO CONSEGUI ESCREVER NADA



 

Acordei cedo, como sempre, à exceção dos finais de semana regados a uns chopes gelados, cuja ressaca é inevitável. Tirando esses dias, que ocorrem geralmente das sextas para os sábados, nos demais acordo cedo mesmo, até porque meu trabalho fica distante de casa e acordar tarde é sinônimo de pegar atrasado no batente. Só que hoje é feriado, no meio da semana, e pulei da cama às cinco da manhã, pelo hábito adquirido da rotina do dia-a-dia. Pensei em pegar uma praia com a família, idéia logo afastada por um temporal que se aproxima. Temporalzinho mais fora de hora, sô! Semana toda enxuta e logo no feriado cai esse pé d`água. Tudo bem, nesse caso, vou escrever alguma coisa, mas tem que ser algo que valha a pena, algo profundo, bonito, que toque todo mundo e não simples crônicas que nada acrescentam às pessoas. Sento-me ao computador e penso no tema que vai ser notícia, aliás, já penso até nos elogios sobre a obra-prima que está para nascer. Que se cuidem os Ubaldos e Veríssimos da vida...

 

Bem, enquanto o tema não sai, confesso aos meus botões que passei o dia anterior pensando no acarajé da Dona Maria, na beira da praia, curtindo aquele sol com água de coco (cerveja não daria. Feriado de meio de semana, lembra?), vendo meus filhos brincarem nas piscinas naturais de nossa praia preferida, ao lado da digníssima, claro. E ai de mim se sair sem ela. Estou brincando; quando saio só, em raras oportunidades, sinto falta de minha mulher. Além do mais, ela pode ler meu pensamento e se digo que não sinto sua falta, o bicho pega. Brincadeira, de novo; se ela pode ler meu pensamento, como eu me atreveria a pensar, seriamente, tamanho absurdo? Gosto de sair com ela, sim, e ponto final.  Como é? Claro que me faz umas raivazinhas, mas, qual a mulher que não faz? Calma, feministas, vocês não me deixam molhar o bico. Também ia dizer que a recíproca é verdadeira; qual homem também não faz umas raivazinhas à patroa? Faz parte do relacionamento ou até mais que isso. Briguinhas (e não brigonas) são o tempero do casamento. Tem coisa melhor que a reconciliação?

 

Peraí, onde eu estava mesmo, antes de dar uma de Freud? Ah, estava pensando em escrever algo maravilhoso, uma obra revolucionária, um verdadeiro achado literário. Mas, e o tema? Penso mais meia hora e nada. Nada de tema. Talvez seja a chuva que esteja esfriando minha veia literária. Falar em chuva, que chuvinha estraga-prazer. Depois do acarajé da Dona Maria, mais à frente, ainda ia passar na barraca do Tião. Os meninos adoram. Eu e a patroa, não menos. Há um chuveirão instalado ao lado da barraca, para tirar o sal da praia e a fadiga do sol. Após o banho, um peixe na telha de dar água na boca, precedida de uma casquinha de siri que é uma delícia e tudo isso ouvindo MPB ao vivo. Artista da terra, sim e toca e canta muito bem. Santo de casa também faz milagre, basta acreditar.

 

Mais meia hora e o tema não sai da toca, ou melhor, da cuca. Ah, chuvinha, chuvinha... Totalmente culpada pela minha falta de inspiração, em prejuízo da humanidade, que se privará de conhecer a melhor crônica de todos os tempos. Mas qual é mesmo minha música preferida na barraca do Tião? Humm... Lembrei. Sonhos, de Peninha. Tudo era apenas uma brincadeira e foi crescendo, crescendo, me absorvendo..., lembraram também? Que música, que letra, que melodia. Ouvir essa música, ao sabor da casquinha de siri e do peixe na telha, é um sonho, não o do Peninha, sonho meu, mesmo. Eu falei sonho meu? Ah, não. Outra maravilha cantada na barraca do Tião: sonho meu, sonho meu, vai buscar quem mora longe, sonho meu...

 

Meu deus, dessa vez passou uma hora do intervalo anterior e nada do tema. Chuva desgraçada, já ia dizendo, mas lembrei que é pecado dizer palavrão contra os fenômenos naturais, pelo menos, foi assim que aprendi em casa, quando menino e ainda respeito, tá certo, mas que essa chuvinha é culpada pelo meu hiato literário, isso é. Espere, parece que a chuva está indo embora. Está, sim e o sol já ameaça a aparecer. Amoooô, vista o biquíni e ponha a sunga nos meninos. Vamos comer o acarajé da Dona Maria e saborear os petiscos da barraca do Tião e se tocarem sonhos, de Peninha, ou sonho meu, juro que tomo uma cervejinha e não tô nem aí que o feriado é de meio de semana.  Ah, pessoal, fico devendo o prodígio literário; não consegui escrever nada. Culpa da Chuva...


Autor: sander dantas cavalcante


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