Pais ausentes, filhos descrentes e uma família desestruturada.



Sentado no sofá daquele pensionato, abro-me ao diálogo com aquelas duas senhoras. Eram irmãs. Acompanhavam filha e sobrinha (a mesma pessoa), que se lançara no vestibular almejando a faculdade de medicina. Não era muita pretensão já que a garota estudava num dos mais importantes colégios da cidade de São Paulo, o "Dante Alighieri".

Em todos os vestibulares que a jovem resolvia prestar lá estavam as duas, as vezes uma, apenas a mãe, mas a companhia a filha tinha que levar. Partir sozinha apenas depois dos dezoito anos, caso encontrasse um namorado. Mas liberdade sem assistência, depois dos vinte e um.

Brinco com a cena, mas a conversa foi muito séria e nesses anos perambulando pelo magistério, às vezes coordenando algumas escolas pelo Sul do País, como fiz no Rio Grande do Sul, o caso do Colégio Anchieta e Fundação Fé e Alegria do Brasil, e agora no Colégio Objetivo, noto que é de suma importância o cuidado dado pelos pais aos seus filhos. Tem sim que se preocupar: saber com quem seu filho está se relacionando, quem são aqueles que ele considera como amigos, sua turma no "orkut", suas conversas no "MSN", os lugares que freqüenta quando sai, ditar horas para que eles cheguem em casa, fiscalizar se andam ingerindo bebidas alcoólicas ou mesmo utilizando outras drogas. Os pais precisam ser sensores. Essa conversa de que não pode mais com a vida do pupilo não serve mais como desculpa. Como diz o dito popular: "pariu, tem que balançar".

O caminho é nadar contra a corrente, ou seja, ir contra o curso do rio. Se Fulano faz errado, você não pode fazer errado. Assim não pode ficar. E é por isso que o nosso País a cada dia acorda mais preso à lama. Pelo nosso descaso e falta de preocupação.

Durante o dia são poucos os pais que retornam ao lar para almoçar. Já com o entardecer e o chegar do luar, a televisão é o atrativo, o calmante para o estresse. Muitas vezes o filho quer demonstrar o que realizou, desabafar e contar os seus problemas, partir em busca de soluções, mas os pais não possuem tempo, viram a página e lá está o filho jogado ao relento, abandonado emocionalmente. Há muitos nesse estado, sofrendo pelo descaso emocional. A família esfacelou-se, foi destruída pelo descaso de seus patriarcas. Aspectos biológicos, psicológicos e sociais acabam influenciando, mas nada justifica a ausência, o descaso, a desclassificação precipitada e a qualificação desajustada dada aos filhos pelos pais. De nada adianta a compra desenfreada de presentes, bens materiais, se o gesto de amor desapareceu. Filhos são comprados com afeto, carinho, preocupação. Os pais hoje nutrem os estômagos de seus filhos, estimulam sua ganância pelo capital, mas se esquecem de alimentar suas almas, seus corações.

Educação é dada em casa, no seio familiar. Não esperem mandar seu filho para a escola e lá obter a educação que você não ofereceu. Não pensem em se livrarem daquilo que chamam de problema, transferindo-o à unidade escolar. Pois para os reais educadores, o caos educacional chegou a esse ponto pela ineficiência familiar.

Que bom existirem pais como esta mãe encontrada por mim, lá no Paraná e outros pais que tenho o prazer de receber em minha sala no Colégio Objetivo todos os dias.


Autor: Sergio Sant'Anna


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