De Que Forma O Desenvolvimento Tecnológico Vem Provocando Uma Dicotomia: Exclusão Social E Inclusão Digital ?



Com o advento da Globalização, são evidentes as mudanças ocorridas na sociedade, tanto no campo social como no econômico e político. Na base de toda estas modificações está a tecnologia, que reverte até mesmo o papel do conhecimento no processo de produção.

O desenvolvimento tecnológico, proliferado em escala planetária, causou uma verdadeira mutação na vida das sociedades, pois, estas vivem norteadas pelo “mundo das informações” acelerando e aumentando em sentido dicotômico a criação de novas classes sociais. Desta forma, a grande busca é tentar conciliar o desenvolvimento tecnológico com o desenvolvimento humano, partindo do pressuposto de que estes podem ser excludentes, complementares ou antagônicos, tudo depende do posicionamento tomado pelas sociedades. O binômio capital/trabalho é substituído pela tríade capital/trabalho/conhecimento, destacando e enfatizando um novo e particular conceito de conhecimento.

Marx resumiu este movimento da sociedade na sua mais famosa citação no prefácio de "Contribuição para uma crítica da economia política":

"No curso da produção social dos meios de existência, os homens contraem entre si relações determinadas, necessárias, independentes da própria vontade, relações de produção que correspondem a um determinado grau de desenvolvimento das forças materiais de produção. O conjunto das relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, base verdadeira sobre a qual se edifica a superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de pensamento social. (...) Em certo grau de desenvolvimento, as forças materiais de produção da sociedade entram em conflito com as relações de produção existentes, ou - dizendo o mesmo em linguagem jurídica - com as relações de propriedade, no seio das quais essas forças produtivas se haviam até então desenvolvido. De formas de desenvolvimento das forças produtivas estas relações tornam-se então nos seus grilhões. Inicia-se então um período de revolução social."

"Num certo estágio do seu desenvolvimento, as forças materiais de produção da sociedade entram em conflito ... com as relações de propriedade ..., em resultado do desenvolvimento tecnológico e da emergência de novas forças sociais...".

Verifica-se que o desenvolvimento tecnológico é um dos principais fatores causadores da exclusão social, pois, uma sociedade totalmente antagônica no que se refere ao poder aquisitivo de sua população, faz com que a grande maioria desprovida de meios para tornar-se “tecnologicamente incluída”, torne-se cada vez mais excluída no mercado de trabalho, uma vez que este exige conhecimentos tecnológicos, com algumas exceções para funções totalmente braçais. É esta revolução tecnológica que transformou uma massa industrial de reserva de desempregados numa massa proletária incapaz de vender a sua força de trabalho no mercado mundial. Assim que novas tecnologias são introduzidas, o processo de separação, é objetivo e automático.

“Um dos principais receios relacionados a computadores e sistemas de informação é que os seres humanos sejam substituídos por computadores, causando a perda de milhões de empregos. As políticas corporativas, como a reengenharia e o aperfeiçoamento contínuo, trazem consigo a preocupação de que, à medida que (...) os sistemas de informação são integrados a eles, as pessoas envolvidas nesses processos sejam dispensadas.

A utilização de sistemas de informação baseados em computador modificou a composição da mão-de-obra”.(...) (STAIR, 2000, p. 374)

Desta forma ratifica-se que, quanto menor o poder aquisitivo de uma sociedade, maior será sua exclusão social.

Por outro lado, vale ressaltar que o desenvolvimento tecnológico também possibilita a troca de conhecimento, experiências, dentre outros, entre pessoas de sociedades diferentes, possibilitando difundir conhecimentos de forma global, uma vez que basta ter acesso a Internet para ter acesso a informações de todo o mundo. “Os aspectos internacionais (...) também são ampliados pela tecnologia, que favorece o fluxo livre e rápido da informação além dos limites.”(...) (STAIR, 2000, p.36)

Outro ponto que merece destaque, segundo Norberto J. Etges, é enfatizar a inclusão digital:

“(...) o trabalhador passou a ser o guardião da máquina e que o processo de produção deixou de ser processo de trabalho. A atividade do homem se apresenta apenas como "órgão consciente" do sistema de máquinas, disperso sob a forma de diversos indivíduos vivos presentes em muitos pontos do sistema mecânico, subsumida no processo total da própria maquinaria; os indivíduos vivos aparecem apenas como membros, cuja unidade não está neles, mas naquele organismo poderoso, ante o qual sua atividade individual é insignificante. Quem produz é a máquina”.

Na verdade, o que pode-se verificar é uma grande inversão de valores: a tecnologia não deve escravizar, quem está no controle é o homem, não a máquina. É interessante recordar que num passado bem próximo, as primeiras máquinas foram construídas pelo homem para substituir a força humana, principalmente para as atividades de rotina e para a execução de tarefas que dependiam basicamente de força física. Já existem discussões no mundo tecnocêntrico entre os pensadores, filósofos e intelectuais, onde são feitas comparações do homem com a máquina, pois eles acham que a máquina já superou o homem em muitas das suas atividades, além de poderem tornar-se mais perfeitas do que eles.

“Partem do princípio de que o modo de pensar humano é baseado numa lógica identificável e que a partir de seu conhecimento, os robôs poderão apropriar-se deste procedimento e assim ultrapassar com vantagem o homem (...).” (MARCONDES, 1994, p.109).

Hoje, no ambiente funcional, os trabalhadores são exigidos em obter uma nova especialização funcional: a tecnológica. Existe uma dualidade causada pelo avanço tecnológico:

“O mercado de trabalho modifica-se vertiginosamente em virtude da globalização e da revolução informatizada. Antigas profissões desaparecem e as que permanecem, mesmo aquelas mais tradicionais e conhecidas, têm seu perfil modificado, exigindo novas habilidades e conhecimentos. A revolução tecnológica torna as tarefas cada vez mais abstratas, obrigando o jovem trabalhador a utilizar cada vez mais o raciocínio e criatividade em vez de atitudes convencionais e retóricas”.(...) (COSTA, 2003, p. 48-49).

Desta forma, nota-se que ao mesmo tempo que este avanço propicia o surgimento de novas profissões, muitas vezes com formato mais abstrato, causa também a extinção ou junção de função pelo uso da tecnologia. É a pretensão humana de substituir a inteligência natural pela inteligência artificial. O êxito alcançado na fabricação de máquinas e equipamentos que são capazes de desenvolver tarefas cada vez mais complexas, têm proporcionado a disseminação da idéia de que o futuro da humanidade é apenas um: a criação de uma realidade cibernética, de um mundo digital. Mesmo que este mundo não esteja ao alcance de todos.

Porém deve-se ficar alerta sobre os possíveis perigos da inclusão digital na vida cotidiana em relação aos aspectos sociais, morais e políticos que regem a sociedade, pelo simples fato de favorecerem a apenas a uns poucos. O impacto provocado por este avanço tecnológico, não fica resumido a apenas à comunicação e a informação, pois com o encurtamento ou inexistência das fronteiras, provocado pela globalização dos meios de comunicação, leva a um novo conceito de tempo real, onde os ganhos e perdas são quase que instantâneos. Além das conseqüências prejudiciais de exclusão na vida dos indivíduos, contribuem também para agravar o conflito entre povos. As potências ficam mais ricas e os países pobres ficam cada vez mais pobres. O controle sobre os avanços tecnológicos não ficam acessíveis aos países mais atrasados, aprofundando as diferenças.

“Nem todas as sociedades industrializadas são tão obcecadas pela tecnologia (...)” (DAVENPORT, 2000, p.40)

Conclui-se que a substituição do trabalho manual pelas máquinas mais sofisticadas com um simples apertar de um botão, transformou-se em novos fatos que provocaram uma crise de mudança de referenciais, e que constitui-se numa crise ainda não superada. Não se sabe ainda se o que vai prevalecer no futuro da humanidade será um modelo de vida guiado pelo avanço tecnológico, um mundo onde não haverá espaço para a interação social, ou novos referenciais poderão ser adotados, tendo como elemento predominante a racionalidade da sobrevivência de todos da melhor forma possível, onde as técnicas de comunicação e informação, possam ser usadas em benefício de um maior número de pessoas.

Autor: Andre Luiz Santana Barbosa


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