Coisa de Louco



Já passei em tudo que é tipo de profissional do ramo de medicina: garganta, pulmões, olhos, língua, coração, e etc... O preconceito, o machismo e a resignação em morrer virgem, ainda não me levaram a fazer o exame de próstata, feito por oncologistas (!?). Nem eu mesmo sei se é esse o cara responsável por meter o dedo indicador onde não deve; onde o homem que é homem jamais teve o pesadelo de ver alguém fuçando. Dá para se ter uma noção do tamanho do desejo e vontade de morrer cabaço, invicto! Sou campeão!!!

Mais entre essas é outras vias médicas, deu de um dia eu precisar ir a um psiquiatra. Não estava batendo os pinos, mas os estresses da vida, síndrome do pânico, mania de perseguição e outras do reinado de Nero, já estavam me pondo a meio fio entre o real e o imaginário com os dois se fundindo num só, e eu no meio dessa parafernália psíquica não vi outra alternativa, a não ser marcar uma consulta com o "médico de cabeça". A veia literária até me serviu de consolo quando ditava que de poeta, médico e louco todos temos um pouco. Fico no segundo plano, me considero poeta. Gosto do último; sou um pouco louco.

Tudo bem, e vamos ao grande dia – José marquei consulta com um psiquiatra –, disse ao amigo de todas as horas que já foi retrucando – Tava mais que na hora de ver o que tem nessa cabeça de "girico". Não sei o que existe na cabeça de jornalistas. Só andam pensando em concertar o mundo, em denunciar e fazer o diabo a quatro com a corrupção e, quando não conseguem se frustram e começam a ver cobras subindo pelas paredes.

– Pega leve Zé, to te expondo uma intimidade e você me vem com essa cachoeira de bronca. Não bastasse essa dúvida desgraçada que ta comendo o meu cérebro –, supliquei.

– Desculpa é que hoje eu to igual a você. Não sai da cama nem com o pé direito, nem com o esquerdo. Tomei um tombo ferrado. Acordei com minha sogra gritando que não tinha ninguém pra levar o Juninho pra escola. Além da sogra gritando, lembrei do meu finado pai rasgando a garganta para me tirar da cama pra ir pra escola. Fui sair da cama, me enrolei todo no cobertor e espalhei no chão, fiquei igual a uma dobradinha –, narrou o companheiro das horas mais duras e mais difíceis da minha vida. Inclusive aquela posta quando ele me pôs todo o drama de acordar ouvindo a doce voz da mãe de sua esposa. Ê doçura amarga!!!

– Que "cê" tem cara?

– Sei lá. Se soubesse não ia a um médico. Principalmente um médico de doido!

– Ta rasgando nota de cem reais?

– Não?

– Ta vendo disco voador?

– Não!

– Extraterrestres?

– Não!

– Começou a acreditar em duendes?

– Não!

– Papai Noel?

– Não!

– Mula-sem-cabeça?

– Em políticos?

– Piorou!!! Zé é claro que não, é não brincadeira cara. É sério!!!

– Então qual é a sua dúvida cruel? –, indagou ele sentindo a gravidade da situação já corria para as vias de fato.

– A situação é a seguinte. Já vai pra uma semana que não consigo dormir. O cérebro ta a milhão. Quando chego na redação, e pra não ficar ouvindo "babaquices" de jornalista metido a intelectualque sabe e tem respostas pra concertar todos os erros que acontecem no país – com direito à aulas de política de internacional para dar pitaco no problema de outros países, já me enfio no carro de reportagem e me mando pra ruas. Ô lugar lindo. É uma floresta com toda a espécie de bicho: puta, mendingo, patricinhas(os), cafetão, traficante, policiais corruptos, bêbados, moradores de rua, engravatados pensando em dar algum tipo de golpe, homicidas e toda a fauna digna do inferno de Dante, por onde passo eu, meu gravador e minha máquina fotográfica (pra congelar essa porra toda; que por minha vontade lançava maldição de mil anos de congelamento – por mais mil anos prorrogáveis – até que Deus bolasse um jeito melhor de perder o tempo para a construção de uma humanidade humana) – resumindo Zé, é isso ai tudo ealgo maior que a torcida do Corinthians e do Flamengo que está fundindo a minha cabeça.

– Caraca!!! a coisa ta mal mesmo. Eu heim!!! Meus pêsames, amigão. O que eu coloco na lápide. "Aqui jaz um idealista, que de tanto pensar agora se alimenta igual a um burro, come o mato pela raiz", tripudiou o irreverente José.

– Carajo!!! Zé você não se compadece da dor do teu amigo. Porra!!! Eu to ficando "doidaço" e você é só piada!!! Dá um mole, que caceta!!!

– Calma "véio"! Ta pirando mesmo. Antes o rei do tripúdio era tu. Agora ta parecendo um leão com um espinho na pata. Vai manso que o Santo é de barro, meninão!!! –, esquivou o amigo já consciente que ia tomar uns sopapos.

– Vai! Que conselho você quer –, disse voltando à normalidade do tema, que no momento era a minha suposta anormalidade.

– Ô Zé, desculpa pela explosão. É que eu ando um vulcão em plena atividade. Vamos lá. Nunca tive nessa situação. Falar com um psiquiatra. Nem sei o que vou dizer. Chego lá, o cara vai ficar me olhando, eu olhando pra ele. E pensando: pronto dois loucos, um querendo saber quem é o mais doido. Êh derrota –, falei.

– Bom, se você já tem todo esse quadro analítico então nem precisa ir. Aliás, está muito bom da cabeça. Pensa até como vai ser todo o andamento da consulta. "Ce" tem nada cara, é só descansar e ta pronto pra outra –, disse me acalmando o velho, bom e irreverente amigo Zé.

Mais aliviado, voltei ao auxílio – Zé, valeu pela força. Você é um amigão mesmo. E mais um favor! Como nunca fui a esse tipo de médico nem sei o que vestir. O que você sugere?

Ele me olhou bem nos fundos dos olhos. Fez aquela cara de super-hiper-mega entendedor numa boa roupa para esses momentos e mandou. – Vai com vestido com uma camisa-de-força.


Autor: Valmir Barros


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