A memória coletiva



Como iniciei um estudo sobre imaginário e mentalidades, decidi continuar a comentar obras sobre estes caminhos. Desta vez, discuto o livro do sociólogo francês Maurice Halbwachs – A memória coletiva.

            O autor enveredou primeiro pela filosofia, até conhecer Émile Durkheim e se especializar nos estudos sociais, seguindo o pensamento do colega.

            Nesta sua obra mais famosa, Halbwachs inicia seu discurso argumentando que para a memória se tornar “ativa” é preciso que se estabeleça “traços”, fazendo o papel de um elo. Isso é algo muito comum em cursos de memorização ou até mesmo quando estudamos algo na escola – fazemos ligações para que o que queremos lembrar faça sentido. A memória coletiva só é ativada se as memórias individuais estabelecerem os traços necessários. A memória individual é capaz de absorver da memória coletiva coisas que lhe parecem suas lembranças, mais ou menos como se cada memória individual fosse um ponto de vista sobre a memória coletiva, e este ponto de vista mudasse conforme o lugar que a pessoa ocupa, E este lugar muda segundo as relações que ela mantêm com outros meios.

            Mais adiante, o autor diz que todos nós possuímos memórias coletivas e individuais. Estas se inter-relacionam, porém não se misturam. O primeiro tipo de memória (interior, pessoal e autobiográfica) se apoia na segunda (exterior, social e histórica), pois a história da nossa vida se insere na história em geral. Mas a segunda seria, naturalmente, bem mais ampla do que a primeira.

            Sobre a memória histórica, Maurice afirma que ela assemelha-se a um cemitério, onde o espaço é medido, e é preciso, a cada instante, achar lugar para novas sepulturas. De modo genérico, a memória é algo em permanente processo de transformação; aglutina-se, retira-se; confrontam-se lembranças de acordo com as transformações do indivíduo e de seu meio social.

            A história, muitas vezes, pode ser vendida e apresentada como a memória universal do gênero humano. Mas não existe memória universal. Toda memória coletiva tem suporte num grupo limitado, no espaço e no tempo.

            Continuando este debate, Halbwachs argumenta que o tempo somente é real na medida em que tem um conteúdo, isto é, quando oferece uma gama de acontecimentos ao pensamento. É limitado e relativo, porém tem uma realidade plena. É muito amplo, aliás, para oferecer às consciências individuais um quadro suficientemente respaldado para que elas possam nele dispor e encontrar suas lembranças.

            Por fim, o autor encerra fazendo a relação entre memória coletiva e espaço. Para ele, não há este tipo de memória sem que se desenvolva num quadro espacial. É sobre o nosso espaço que devemos voltar para que reapareça esta ou aquela categoria de lembranças.

            Inevitavelmente, chega-se a conclusão que para compreender o universo mental de um povo é preciso mergulhar no seu mundo, viver sua vida, no tempo e no espaço.

            Para que a leitura da obra de Halbwachs torne-se prazerosa, é necessário se prevenir para encontrar um texto difícil e cheio de “memórias” para todos os lados. Para quem se interessa pelo tema, vale a pena.


Autor: Luiz Eduardo Farias


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