PERFIL DOS CUIDADORES INFORMAIS DE IDOSOS COM DÉFICIT DE AUTOCUIDADO ATENDIDOS PELO SERVIÇO DE SAÚDE HOME CARE



Com esse estudo identificou-se as condições sócio-econômico-culturais de alguns cuidadores informais de idosos com déficit de autocuidado, atendidos pelo Serviço de Saúde Home Care (Saúde Home Care) em Santos, região Sudeste de São Paulo. A população estudada foi constituída de dez cuidadores de idosos, inseridas no Serviço de Saúde Home Care. Os resultados mostram que os cuidadores são pessoas do gênero feminino (esposas, filhas, e neta), entre 18 a 67 anos, com renda mensal oscilando entre três a sete salários mínimos e com escolaridade entre o Ensino Médio Incompleto e Superior Incompleto. O conhecimento deste perfil favorece aos profissionais da área, para planejar e implantar ações voltadas à realidade do idoso e seus cuidadores. Palavras-chave: Cuidador; Idoso; Home Care; Equipe Multidisciplinar

INTRODUÇÃO

A longevidade é sem dúvida um triunfo, pois idoso é todo indivíduo com sessenta anos ou mais; o que representa, atualmente, no Brasil, mais de 19,6 milhões de pessoas (10,2% da população) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Estudos realizados sobre a terceira idade demonstram mudanças significativas na pirâmide populacional. Atribui-se a isso a baixa fecundidade e baixa mortalidade. Para o ano de 2050, a expectativa no Brasil, bem como em todo mundo, é de que existirão mais idosos que crianças abaixo de 15 anos, fenômeno nunca esse observado. Juntamente com esta mudança, ocorrem alterações na incidência e prevalência das doenças. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).

Dentre as principais causas de morbi-mortalidades passam a ser as patologias crônico-degenerativas que, segundo o Ministério da Saúde, vão perdurar em média por quinze a vinte anos na vida do idoso. Tais doenças requerem várias internações institucionais, afastando o mesmo de o seu ambiente domiciliar, o que acarreta transtornos na sua vida e de sua família (BRASIL, 1999a).

Uma variedade de cuidados prestados a estes pacientes podem ser realizados no domicílio, indo ao encontro à tendência atual das instituições hospitalares de conceder alta precoce ao geronte, para diminuir os custos e acelerar sua recuperação num ambiente familiar. O idoso um papel importante na manutenção da sua própria identidade, podendo favorecer sua autonomia e independência, proporcionando-lhe melhorias para sua recuperação e qualidade de vida.No entanto, o sucesso da recuperação do idoso no domicílio depende de pessoas preparadas para prestar-lhes os cuidados. Cabe à equipe multiprofissional avaliar criteriosamente essas pessoas antes de conceder-lhes assistência Domiciliar, considerando o nível de conhecimento em relação aos cuidados gerais e à capacidade de aprendizagem dos cuidados específicos à recuperação dos idosos. É necessário, também, que a equipe de saúde proceda ao acompanhamento domiciliar para avaliar o cuidado prestado e o suporte necessário (SMELTZER et al., 1998).

Home Care é uma modalidade "sui-generis" de oferta de serviços de saúde. A empresa provê cuidados, tratamentos, produtos, equipamentos, serviços especializados e específicos para cada paciente, num ambiente extra-institucional de saúde mais especificamente, porém não tão somente, nas suas residências.

Em Home Care a condição clínica ou enfermidade do paciente torna-se parte de um plano de tratamento global integrado, cuja finalidade é a ação preventiva, curativa, reabilitadora e/ou paliativa especializada. Poucos serviços de saúde têm estas características. A singularidade desses serviços se fundamenta no método de operação. A metodologia integrada envolve todos os fatores que contribuem para a saúde física, social, espiritual e psicológica do paciente e do cuidador. O Home Care explora todos esses fatores e utiliza uma metodologia adequada de questionamento, avaliação, planejamento, implementação, acompanhamento e finalização, de um conjunto de ações diretamente relacionadas com metas bem estabelecidas por uma equipe multidisciplinar. Aquele que presta cuidados ao idoso, chamado cuidador, pode ou não ter vínculo familiar. Há dois tipos de cuidadores: o formal e o informal (BRASIL, 1999b). O cuidador formal é um profissional preparado em uma instituição de ensino para prestar cuidados em domicílio, segundo as necessidades específicas do cliente (REJANE & CARLETTE, 1996).

O cuidador informal, no entanto, é um membro da família ou da comunidade, que presta cuidado de forma parcial ou integral aos idosos com déficit de autocuidado. Tal indivíduo deve ser alfabetizado e possuir noções básicas sobre o cuidado do idoso e compreensão mínima do processo de envelhecimento humano. São indivíduos que terão a função de auxiliar e ou realizar a atenção adequada às pessoas idosas que apresentam limitações para as atividades básicas e instrumentais da vida diária, estimulando a independência e respeitando a autonomia destas (BRASIL, 1999b).

Nas várias alterações decorrentes do envelhecimento, tais como, perdas celulares, enfraquecimento do sistema músculo-esquelético e diminuição da capacidade funcional de muitos sistemas bioquímicos, levam o idoso a um prejuízo que só é amenizado se o cuidador conseguir identificar este processo (LUDERS & STORANI, 1996). SILVA & NERI (1993) mostram que os cuidadores oriundos de redes informais de apoio, como filhos, parentes e amigos, constituem a mais importante fonte de suporte de idosos e, afirma que 80% a 90% dos serviços e cuidados recebidos por estes, são dispensados pelos familiares.

Assim, a qualidade e a manutenção dos cuidados com os idosos, e conseqüente prevenção de sua institucionalização, relacionam-se com o suporte dado a estes cuidadores, através de programa de treinamento, supervisão e assessoria. Diante da emergência de idosos dependentes em decorrência das doenças crônico-degenerativas e das dificuldades vivenciadas pelos familiares, a diante do exposto, a falta de preparo dos cuidadores informais é uma realidade de difícil solução a um curto prazo, tornando importante conhecer o perfil destas pessoas, nas diferentes áreas geográficas, pois, os problemas vivenciados pelos mesmos são distintos, dependendo das condições sócio-econômico-culturais das famílias. Os resultados deste trabalho, com a identificação dessas variáveis, podem auxiliar a equipe multiprofissional na capacitação futura de cuidadores informais, proporcionando assim uma assistência de qualidade ao geronte.

METODOLOGIA

Para o alcance dos objetivos optou-se pela pesquisa descritivo-exploratório. A pesquisa foi desenvolvida na Região Sudeste, no município de Santos - SP, com o Serviço de Saúde Home Care, sendo os sujeitos estudados, os cuidadores informais de idosos com déficit de autocuidado. Foram identificados 10 idosos com déficit de autocuidado que possuíam cuidadores informais. O estudo foi realizado nos meses de Agosto e Setembro de 2008, obedecendo aos aspectos éticos, conforme Resolução 196 que trata de pesquisa em seres humanos (BRASIL, 1996). Os dados foram obtidos através da aplicação de um questionário (Anexo I) preenchido pelos próprios cuidadores. No caso de uma cuidadora analfabeta, teve o seu questionário preenchido pela pesquisadora. Os dados foram, posteriormente, tabulados e analisados nos moldes da estatística descritiva.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A população estudada, inserida no Programa de Saúde Home Care (região sudeste) do município de Santos – SP foi analisada quanto à idade, sexo, estado civil, ocupação, grau de parentesco, escolaridade, renda mensal familiar e dependentes.

Tabela 1 – Distribuição dos cuidadores informais segundo a faixa etária.

Faixa Etária

N

%

18-20

2

20

21-40

3

30

41-60

3

30

61-70

2

20

TOTAL

10

100

Os dados da Tabela I revelam predomínio de cuidadoras informais na faixa etária compreendida entre 21 a 60 anos (seis cuidadoras, ou seja, 66% da população estudada), com média de 38,7 anos. Na faixa de até 20 anos foram encontradas apenas duas e uma na faixa de 61 a 70 anos, uma cuidadora. Segundo MARQUES (2000), é comum em nossa sociedade, cuidadores idosos, apesar de este ser um trabalho muito desgastante. Na análise dos resultados, chama atenção o fato de que uma das cuidadoras informais tem 67 anos, sendo, portanto, uma idosa cuidando de outro idoso.

O papel de cuidador informal é cansativo, somando-se os problemas vivenciais ao processo de envelhecimento normal como depressão, desgaste fisiológico e problemas crônico-degenerativos. Diante destas características é necessário, por parte do Home Care, uma atenção redobrada para atender às necessidades desses idosos, que cuidam de outros idosos. O estudo demonstrou predomínio total do gênero feminino (100%), sendo que sete (70%) exercem funções do lar, duas são estudantes e uma é professora. O fato de este estudo apontar para uma totalidade de cuidadores do gênero feminino mostra que a sociedade, através de sua cultura, imputa o papel de cuidar à mulher, seja ela a cônjuge, a filha ou a neta do idoso.

Essa atividade consiste em algo cultural e socialmente definido para o Ser mulher, que normalmente tem filhos, marido, atividades domésticas além de, muitas vezes, trabalhar fora do lar. Essa sobrecarga de papéis dificulta a prática do cuidado com o idoso, pois precisam dividir o tempo entre todas as suas atividades, gerando um estresse físico e psicológico, não permitindo que essas mulheres se cuidem e se valorizem enquanto ser humano.

Segundo MARQUES (2000), as cuidadoras informais são acometidas por problemas de saúde, como: doenças da coluna (75%); varizes (50%); artrite (37,5%), obesidade (25%), obstipação intestinal (25%); osteoporose (25%); rinite alérgica (25%); asma ou bronquite (25%) e hipertensão arterial (12,5%). A autora sugere que a alta porcentagem de problemas de coluna pode estar relacionada às atividades diárias de cuidados com os idosos, que envolvem o uso da força muscular e postura incorreta.

Diante do exposto, é necessário que a equipe do Serviço de Saúde Home Care atente para as cuidadoras, identificando suas necessidades individuais em nível domiciliar, com finalidade de promover a saúde, prevenir as doenças ocupacionais e os agravos de doenças preexistentes. Devem, ainda, incluir na educação em saúde as noções de ergonomia com o intuito de minimizar os problemas de coluna em decorrência de posturas inadequadas, mobiliários impróprios e desconhecimento de técnica correta, para executar o cuidado ao idoso.

Quanto ao estado civil, observa-se, na tabela 2, que duas cuidadoras são solteiras; sete casadas e uma divorciada.

Tabela 2 – Distribuição das Cuidadores Informais segundo o estado civil.

Estado Civil

N

%

Solteira

2

20

Casada

7

70

Divorciada

1

10

TOTAL

10

100

Das dez cuidadoras estudadas, todas possuem vínculo familiar com idoso. O grau de parentesco foi o seguinte: seis esposas, três filhas e uma neta. As solteiras costumam desempenhar, com maior freqüência, o papel de cuidadora informal, principalmente, por não possuírem uma família constituída, o que as tornam mais disponíveis para cuidar dos pais e avós. As mulheres solteiras parecem ser, além de mais disponíveis, mais pressionadas pelos familiares para essa função.

De acordo com estudo de MARQUES (2000) a ocupação exercida por 50% das cuidadoras informais é a do lar. Os resultados encontrados nesta pesquisa reforçam esses dados, pois seis cuidadoras (60%) exercem essa função, duas são estudantes e uma é professora. As cuidadoras que exercem outras funções prestam cuidados a idosos com grau de dependência parcial e, nas suas ausências, são substituídas pelos irmãos, sobrinhos ou filhos (MARQUES, 2000).

Relação a cuidadora, exercer outras atividades fora de casa pode ser benéfico, pois a possibilidade desta alternância geralmente proporciona oportunidades de descanso da tarefa de cuidador, além de favorecer a interação social, minimizando problemas como isolamento, angústia ou depressão. Sob o ponto de vista do idoso, a alternância do cuidador pode ser tanto benéfica quanto prejudicial. Benéfica, porque há oportunidade de outros contatos sociais, aumento de auto-estima por ter outra pessoa cuidando de si e por receber outras formas de atenção.

Prejudicial, quando o cuidador secundário não tiver habilidade satisfatória para essa atividade, podendo provocar de pequeno até um grande agravo à saúde do idoso. O cuidado muitas vezes é realizado como uma questão de obrigatoriedade. Assim é que, LEITE (2000) verificou que, quando se trata de filhos cuidando de pais idosos, há um entendimento de obrigação em retribuir algo que lhes foi dado no passado, além do sentimento de responsabilidade pelos mais velhos e doentes, que estão em situação de dependência parcial/total. Dentro desta linha de pensamento, a atual legislação contém uma série de Artigos, Decretos e Programas que visam amparar/proteger de alguma forma as pessoas idosas.

A Constituição Federal de 1988, em seu Art. 229, dispõe que: os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidades. Complementando o que estabelece o Artigo citado, a Constituição Federal, artigo 230, determina que a família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida (BRASIL, 1988).

Fica claro que a Constituição atribui à família a obrigação de amparar o idoso, com o objetivo de proteção da pessoa na velhice, cabendo aos filhos ampararem os pais frente às suas necessidades.

Verifica-se, na tabela 3, que sete cuidadoras têm entre o ensino fundamental e médio completo, uma é analfabeta e duas não completaram o curso superior.

Tabela 3 - Distribuição das Cuidadoras Informais segundo o grau e escolaridade.

Grau de Escolaridade

N

%

Analfabeta

1

10

Ensino Médio Incompleto

2

20

Ensino Médio Completo

5

50

Superior Incompleto

2

20

TOTAL

10

100

A falta de escolaridade interfere, direta ou indiretamente, na prestação de cuidados aos idosos. Há uma queda na qualidade do serviço prestado, pois o cuidador necessita seguir dietas, prescrições e manusear medicamentos (ler receitas médicas, entender a dosagem e via de administração etc). Esta dificuldade é evidenciada pelo relato da cuidadora informal analfabeta:

conheço as medicações pela cor e formato

da embalagem (...) E cor dos comprimidos.

Esse conhecimento é insuficiente, não produz segurança, podendo ocorrer troca de medicação, que trará prejuízos ao idoso. Para minimizar essa situação, é necessária uma atenção redobrada dos profissionais às cuidadoras, a fim de ensiná-los a prevenir possíveis enganos, existindo, portanto maneiras de orientar àquelas que não sabem ler. A equipe multidisciplinar de saúde deve estar checando, continuamente, a execução dos cuidados para identificar as dificuldades individuais apresentadas pelos cuidadores. Para isso, é necessário que a equipe estabeleça vínculos com todos os membros da família do idoso, em especial, com os cuidadores.

A tabela 4 mostra a renda familiar mensal das cuidadoras informais baseada em salários mínimos.

Tabela 4 - Distribuição dos cuidadores informais segundo a renda familiar mensal.

Renda familiar em SM*

N

%

3-5

1

10

5-6

5

50

6-7

4

40

TOTAL

10

100

* Salário Mínimo vigente no país em setembro de 2008 = R$ 415,00

Na faixa de três a cinco salários há uma cuidadora; de cinco a seis há cinco cuidadoras, de seis a sete há quatro cuidadoras. Considerando-se que o salário mínimo atual vigente no Brasil, é de R$ 415,00, a renda dos cuidadores, é insuficiente para manutenção da família, com média de 3,45 dependentes, além do idoso.

A população também foi analisada quanto a participação financeira atual do idoso no orçamento familiar: Dos entrevistados, 100%, disseram que a aposentadoria são destinadas ao custeio doméstico e despesas com medicamentos, consultas médicas e suprimentos alimentares. Os idosos desta amostra são aposentados, mesmo com renda própria não conseguem suprir suas despesas básicas, necessitando de uma complementação, como se verifica no depoimento de uma cuidadora:

(...) ajuda nas despesas domésticas com aposentadoria. E quando o dinheiro não dá, meus irmãos complementam.

A participação financeira do idoso no orçamento familiar, após sua dependência, não apresentou grandes alterações, pois a maioria já era aposentada (cinco idosas):

Antes da dependência, o idoso era o chefe da casa e o salário era semelhante ao atual; a esposa nunca trabalhou fora (...)

Verificou-se, outrossim, dependência financeira dos familiares em relação ao salário do idoso.

O envelhecimento, enquanto fenômeno biológico apresenta-se em cada ser humano idoso de modo singular e único. Se quantificássemos o envelhecimento através dos decréscimos da capacidade de cada órgão, a velhice poderia ser interpretada como uma etapa de falência e incapacidades na vida. No entanto, enquanto processo natural e previsto na evolução dos seres vivos percebe-se que a pessoa não fica incapacitada porque envelhece. Ou seja, a pessoa não necessita da totalidade de sua reserva funcional para viver bem e com qualidade. Desse modo, velhice não deve ser considerada como doença, pois as doenças mais comuns nessa etapa da vida são preveníveis, diagnosticáveis e tratáveis.

O envelhecimento populacional brasileiro é um fato demográfico recente na história, apesar de a velhice estar presente desde os primórdios da humanidade. O avanço tecnológico possibilitou o "envelhecimento artificial da população, produzido por técnicas médicas e não pelo investimento de políticas públicas"(AUGUSTINI, 2003).

Em todos os países do mundo é fato concreto a modificação do perfil etário, pois historicamente o homem nunca teve tanta chance de alcançar a terceira idade. Os fatores determinantes deste fenômeno são cada vez mais estudados e conhecidos, e nos permitem entendê-lo em sua complexidade e magnitude, merecendo ainda maior atenção daqueles que dedicam suas atividades profissionais em prol da promoção, proteção e recuperação da saúde do idoso. O número crescente de pessoas idosas resultou em problemas de ordem social, econômica e de saúde, os quais exigiram determinações legais e políticas públicas capazes de oferecer suporte ao processo de envelhecimento no Brasil, buscando atender às necessidades desse estrato populacional (DUARTE E DIOGO, 2000).

No Brasil, o desafio para o século XXI é oferecer suporte de qualidade de vida para uma população com mais de 32 milhões de idosos, na sua maioria de nível socioeconômico e educacional baixo e com alta prevalência de doenças crônicas e incapacitantes. Contudo, para atenção adequada ao idoso, juntamente com a magnitude e a severidade dos seus problemas funcionais, é imperativo o desenvolvimento de políticas sociais e de saúde factíveis e condizentes com as reais necessidades das pessoas nessa fase da vida (RAMOS, 2000).

Gordillho et al (p.138) enfatizam que "é importante considerar que as necessidades de saúde dos idosos requerem uma atenção específica que pode evitar altos custos para o Sistema de Saúde e, sobretudo, proporcionar melhores condições de saúde a essas pessoas". No entanto, estas mesmas necessidades precisam ser adequadamente identificadas e incorporadas em novas práticas de saúde, para além do modelo biomédico essencialmente curativo e centrado no profissional, e não no cliente. Tais práticas requerem a voz e a participação ativa do idoso no movimento de construção e efetivação das leis e políticas sociais e de saúde que viabilizem o viver e envelhecer com qualidade.

O Estatuto do Idoso (2003), em seu Artigo 18, no Capítulo IV do direito à saúde, diz: "As instituições de saúde devem atender aos critérios mínimos para o atendimento às necessidades do idoso, promovendo o treinamento e a capacitação dos profissionais, assim como orientação a cuidadores familiares e grupos de auto-ajuda".

Algumas inquietações acerca das atuais políticas dirigidas ao idoso nos levam a indagar quais são as reais necessidades dos idosos, que critérios são utilizados para defini-las e como satisfazê-las adequadamente. De que modo os profissionais da saúde estão se preparando/capacitando para cuidar dos idosos, e, principalmente, se tem sido oportunizado aos idosos desenvolver autonomia e independência.

Tais inquietações requerem a busca por mudanças estruturais e por políticas possíveis e factíveis, as quais responderão pela melhoria da qualidade de vida dos idosos. Há necessidade de desmistificar e elaborar novos conceitos acerca da velhice, ancorados na moderna ciência do envelhecimento para a construção de condições socioculturais propícias para uma velhice digna e prazerosa.

Como num círculo, no qual não se pode identificar seu começo e seu fim, a demanda expressiva e crescente do contingente idoso e as necessidades de toda ordem deflagradas a partir desse fenômeno populacional geraram a necessidade de estudos, práticas e políticas que dessem conta desta realidade. Em contrapartida, tais necessidades e ações despertaram idosos conscientes e atuantes que não aceitam passivamente a relação de submissão à sorte e abandono do Estado, da sociedade e da família. São pessoas atuantes na comunidade, em grupos de convivência, associações, universidades da terceira idade, conselhos de saúde e outros modos de inserção e participação, forçando a sociedade a rever essa relação até então de anomia.

Bosi (1998), em Memória e Sociedade - Lembranças de Velhos, afirma que "ser velho é lutar para continuar sendo homem", num esforço incansável para a manutenção da própria identidade e conquista de cidadania. Para os profissionais da saúde que cuidam do idoso e de sua família cuidadora, o ato de cuidar é também um momento de refletir acerca do próprio processo de envelhecimento, do processo de construção do ser e agir em saúde, de modo integral, integrado e cidadão.

Neste sentido, este estudo tem o objetivo de refletir acerca do agir em saúde, a partir da articulação do Artigo 18 do Estatuto do Idoso com as atuais políticas públicas dirigidas à pessoa que envelhece em nosso país. Ressaltamos que o foco norteador da discussão está centralizado na capacitação dos profissionais da saúde para o cuidado gerontogeriátrico, uma vez que estes são responsáveis, direta e indiretamente, pela realização de um cuidado em saúde seguro, ético e com qualidade, sendo, portanto agentes viabilizadores da efetivação das Políticas Públicas de Saúde dirigidas às pessoas idosas (ESTATUTO DO IDOSO, 2003).

CONCLUSÃO

Com o aumento expressivo da população idosa, cresce o contingente de pessoas com déficit de autocuidado. Esta situação vai além de um problema de saúde em si mesmo, pois envolve os familiares e, particularmente, os cuidadores informais, acarretando uma situação complexa. As equipes multidisciplinar de saúde precisam conhecer o perfil dos sujeitos envolvidos nestas circunstâncias. Identificamos o seguinte perfil dos cuidadores informais de idosos com déficit de autocuidado atendidos pelo Serviço de Saúde Home Care estudado:

- 100% são cuidadoras, sendo que a faixa média de idade é de 38,7 anos, sendo que uma tem de 61 a 70 anos;

-(60%) são esposas, (30%) filhas e (10%) neta;

- o indicie de escolaridade é de 70% que possui entre o ensino médio incompleto e médio completo, 20% superior incompleto e, identificou-se que 10% não têm escolaridade;

- a renda mensal é de três salários a cinco salários mínimos é de 60% e entre cinco a sete salários mínimos, 40%, para uma média de quatro a cinco dependentes.

As variáveis identificadas podem ser fatores dificultadores para a implantação de programas que envolvem os idosos e suas famílias. A pretensão deste estudo foi contribuir com registros de algumas importantes variáveis, desta população, da região sudeste da Cidade de Santos em São Paulo, no sentido de facilitar às equipe multidisciplinar de saúde do home Care numa uma atuação mais eficaz e direcionada.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – CONEPE. Resolução no 196/96 Sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília-DF. 1996.

_______. Ministério da Previdência e Assistência Social - MPAS. Secretaria de Assistência Social. Política Nacional do Idoso: Lei nº 8.842 de 04 de janeiro de 1994. Brasília, DF, 1997.

_______. Ministério da Saúde. Programa Saúde do Idoso. Brasília, DF, 2006a. Capturado em 21/08/2008, no site: http://www.saude.gov.br/programas/idosos.htm.

_______. Ministério da Previdência e Assistência Social - MPAS. Secretaria de Assistência Social. Idosos problemas e cuidados básicos. Brasília, DF, 1999b.

________. Ministério da Saúde – MS. A implantação da Unidade de Saúde da Família – PSF: Manual de Implantação. Brasília, DF, 2000.

CONSTITUIÇÃO FEDERAL DO BRASIL – 1988

LEITE, M. T. Cuidando do idoso hospitalizado: a experiência do familiar. Rio de Janeiro: Ed. UNIJUÍ, 2000.

LUDERS, S. L. A.; STORANI, M. S. B. Demência impacto para família e sociedade. In: NETTO-PAPALÉO,M. Gerontologia. São Paulo: Ed. Atheneu, 1996, p.146-159.

MARQUES, S. Cuidadores familiares de idosos: relatos de histórias. 186f. Dissertação (Mestrado) – Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2000.

REJANE, M. I.; CARLETI, S. M. da M. Atenção domiciliaria ao paciente idoso. In: NETTO-PAPALÉO, M. Gerontologia. São Paulo: Ed. Atheneu, 1996, p.415-438.

SILVA, E. P. do Nascimento; NERI, A. L. Questões geradas pela convivência com idosos: indicações para Enfermeira do Programa de Saúde da Família;

20 programas de suporte familiar. In: NERI, A. L. (org.).

Qualidade de vida e idade madura. Campinas: Ed. Papirus, 1993. p 213 - 236.

SMELTZER, S. C.; BARE, B. G. e Col. Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. 8.ed. Rio de Janeiro, Ed. Guanabara Koogan. 2007. Vol.1


Autor: JEANE VIDEIRA


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