Uma Revisão de Literatura sobre o Aborto Provocado e o Aborto Espontâneo



Caroline Silva Andrade Reis

RESUMO

O presente artigo objetivou analisar a produção cientifica brasileira sobre o Aborto Provocado e o Aborto Espontâneo. Para tanto procedeu-se a busca bibliográfica nas bases de dados eletrônicas do SciELO e Pepsic, e o período de tempo para inclusão dos artigos foi de 2004 á 2009. Foram identificados 18 artigos, entre revisão teórica e relato de pesquisa, sendo este último maioria. Observou-se que a maior incidência foi de artigos referentes ao aborto provocado, principalmente em revistas de Saúde. Só foi encontrado apenas um artigo publicado em revistas de Psicologia. Os resultados obtidos versam sobre a questão do aborto vista como um problema de Saúde Publica que atinge milhares de mulheres, principalmente as de níveis sociais mais baixos. Os serviços de saúde também apresentam uma carência na assistência prestada às mulheres e seus companheiros quando estes necessitam de atendimento. As mulheres que vivenciaram o abortamento, muitas vezes são mal tratadas e estigmatizadas pelos profissionais, acentuando os sentimentos de culpa, raiva frustração e etc., decorrentes do abortamento.Não foram encontrados muitos dados na literatura sobre a rede de apoio social e efetiva das mulheres e sua devida importância para o enfrentamento dessas mulheres diante da experiência do aborto. Averiguou-se também, uma escassez de publicações de psicólogos abordando a temática aqui apresentada, o que provoca um alarme, devido à importância destes produzirem conhecimento a respeito das questões psicológicas relacionadas ao aborto. Desta forma, é de fundamental importância que profissionais de psicologia abordem este tema com mais freqüência, para que sejam realizadas mudanças no serviço de saúde, bem como na assistência prestada às mulheres e seus companheiros que vivenciam o abortamento.

Palavras-Chaves: Aborto Espontâneo, Aborto Provocado, Aborto Induzido, Maternidade, Perda Gestacional.

ABSTRACT

This present study analyzed research Brazilian scientific about spontaneous abortion and intentional abortion. The research had been done on SciELO and Pepsic´ sdata collection, included articles at 2004 á 2009. Were found 18 articles, between at systematic reviews and clinical studies, although, predominated the last one. There was seen that the most of incidence was about intentional abort studies published in health magazine. There was found only one article published in Psychology magazine. The results are about abortion as public health problem that attain thousand women, leading poor social class. Health service also show need for assistance to women and them husband when it's necessary. The greater number of women that aborted aren't be assisted e respected by professional health, its increase the feelings of guilt, angry, frustration because the abortion. There were found little evidence about effective group social support to help women to face this experience. It was also inquired the need for further clinical studies published by Psychologist that investigate this topic. Which is a signal about the importance of this theme bring knowledge related psychological questions.Therefore, it's important that Psychologies inquire this topic to be done change on the health service, beside the assistance to women and them husbands that experience the abort.

Key- words:Spontaneous abortion, intentional abortion, induced abortion, maternity, damage gestation.

INTRODUÇÃO

O presente artigo refere-se a uma revisão de literatura sobre o aborto espontâneo e o Aborto Provocado. Entende-se por Aborto espontâneo a perda espontânea de uma gravidez com menos de vinte semanas de gestação, ocorrendo em cerca de 20% das gestações, podendo oscilar entre 12% e 24% (MARKHAM,2004).

Existem muitos fatores que são determinantes para o abortamento espontâneo, no entanto o mais comum é um defeito cromossômico no embrião ou feto que impede seu desenvolvimento natural. Este defeito pode ser hereditário, causado pela exposição da gestante a certas medicações ou resultar de doenças infecciosas (MARKHAM, 2004).

O primeiro sintoma de um aborto espontâneo é sangramento vaginal. Um feto nascido após cerca de vinte semanas de gestação é chamado natimorto (se nascido morto) ou prematuro (se nascido vivo).

O segundo sintoma são cólicas abdominais, seguidas de contrações uterinas com grande freqüência e dores fortes, e depois de ter ocorrido todos esses sintomas a genitora sente vontade forte de urinar e defecar e assim acontece a eliminação do feto (ou embrião). Porém, muitas vezes, a gestante necessita sofrer uma curetagem (MARKHAM,2004).

Antigamente o sofrimento provocado por uma perda gestacional não era tão intenso, e a morte de uma criança era tratada com um total descaso, pois esta não era valorizada, era vista como um ser sem personalidade (CARVALHO E MEYER,2007). Segundo Aries (1981), a arte medieval, até por volta do século XII, desconhecia a infância ou não tentava representá-la, não havia lugar para ela nesse mundo. Os homens do século XI não se detinham diante da imagem da criança, pois esta não tinha interesse para eles, nem mesmo realidade. Esse período da infância era de transição, logo ultrapassado, cuja lembrança também era logo perdida.

Por volta do século XIII, surgiram algumas representações sobre a infância um pouco mais próxima do sentimento moderno. Surgiu o anjo, representado sob a aparência de um rapaz muito jovem, com idade das crianças maiores.

O segundo tipo de criança seria o modelo e o ancestral de todas as crianças pequenas da história da arte: o menino Jesus, ou Nossa Senhora menina, pois a infância aqui se ligava ao mistério da maternidade da virgem e ao culto de Maria.

No início Jesus era como as outras crianças, uma redução do adulto. O terceiro tipo de criança apareceu na fase gótica, à criança nua (ARIES, 1981)

Não se pensava como normalmente acredita-se hoje, que a criança já contivesse a personalidade de um homem. Elas morriam em grande número. As pessoas não se apegavam muito a algo que era considerado uma perda eventual. Esse sentimento de indiferença com relação a uma infância demasiadamente frágil, em que a possibilidade de perda é muito grande, no fundo não está muito longe da insensibilidade das sociedades romanas ou chinesas, que praticavam o abandono das crianças recém-nascidas (ARIES, 1981)

Segundo Aries (1981), o aparecimento do retrato da criança morta no século XVI marcou um momento muito importante na história dos sentimentos. Este retrato indicava que as crianças começavam a sair do anonimato. Embora a mortalidade infantil ainda fosse elevada, uma nova sensibilidade atribuiu a esses seres frágeis e ameaçados uma particularidade que antes ninguém se importava em reconhecer, como se a consciência comum só então descobrisse que a alma da criança também era imortal.

Portanto, a descoberta da infância começou no século XIII, e sua evolução pode ser acompanhada nos séculos XV e XVI, sobretudo, os sinais de desenvolvimento tornaram-se numerosos e significativos a partir do fim do século XVI e durante o século XVII (ARIES, 1981)

Desta forma a morte da criança começou a ser algo importante e ter efeitos devastadores sobre a família. Perder um filho tornou-se algo de profunda tristeza (CARVALHO E MEYER,2007).

No aborto espontâneo o sentimento de perda para a mãe também é profundo, pois esta já tinha a experiência da existência do feto. O aborto representa, para muitas mulheres, a perda de um sonho, o corte nas expectativas (BROMBERG,2000).

Segundo Olinto e Moreira-Filho (2006), a organização Mundial de Saúde estima que, no mundo todo, cerca de 500 mil mulheres morrem a cada ano de causas relacionadas ao aborto, seja ele espontâneo ou provocado, sendo que 98% dessas ocorrem nos países em desenvolvimento. Nesses locais, complicações de aborto são responsáveis por 15% do total das mortes maternas a cada ano, em alguns casos, atinge cerca de 50% dessa mortalidade.

Entende-se por aborto provocado a expulsão ou retirada do feto que pese menos de 500g, com a idade gestacional aproximadamente em torno de 20 a 22 semanas completas, ou de 140 a 154 dias completos. Para realizá-lo, a mulher utiliza de qualquer processo abortivo externo, químico ou mecânico (GESTEIRA; BARBOSA; ENDO, 2006).

As complicações resultantes para a mulher são diversas, incluindo perfuração do útero, retenção de restos de placenta, seguida de infecção. As seqüelas ginecológicas incluem a esterilidade e também inflamações das trompas uterinas, podendo levar à morte e afetar as futuras gestações, aumentando o risco de um aborto espontâneo (HARDY; ALVES, 1992)

Independente de o abortamento ser espontâneo ou provocado é fato que as conseqüências psicológicas e sociais se fazem presente na mulher que o vivencia. O processo de enlutamento é bastante freqüente nestas mulheres e este luto é muitas vezes misturado com raiva e culpa (BROMBERG,2000).

Segundo Bromberg (2000) o luto pode ser considerado como uma resposta a perda de um objeto valorizado, seja uma pessoa amada, um objeto material, emprego, status, parte do corpo. A fase inicial do luto é o choque e descrença, na qual a pessoa tenta negar a perda e se isolar contra o choque da realidade. A fase seguinte é de uma crescente consciência da perda, marcada por efeitos dolorosos de tristeza, culpa, vergonha, impotência e desesperança bem como o choro e uma sensação de vazio, distúrbios de alimentação e de sono. Por fim, há a fase de recuperação, na qual se dá a elaboração do luto, o trauma da perda é superado e é restabelecido um estado de saúde.

De acordo com Bowlby (1985/2004), a expressão luto pode ser usada de uma maneira ampla para cobrir uma série de reações a perda, ou seja, todos os processos psicológicos conscientes e inconscientes provocados por esta, inclusive as que levam a um resultado patológico. Os processos envolvidos no luto provocam pelo menos em parte, uma retirada do investimento emocional na pessoa perdida, ou seja, a elaboração do luto ajuda a preparar para uma relação com uma nova pessoa. A forma pelo qual se concebe a realização dessa mudança por esses processos, depende de como são conceituados os laços afetivos.

Bowlby (2004) discorda dos trabalhos psicanalíticos que ressaltam a identificação com o objeto perdido como o principal processo envolvido no luto, sendo essa identificação considerada como compensação pela perda sofrida, Portanto o autor afirma que a identificação não é o único processo, nem mesmo o principal, envolvido no luto.

Existem duas hipóteses que explicam o caráter doloroso do luto, a primeira refere-se à persistente e insaciável natureza da angústia pela figura perdida sendo que a dor, neste caso, é inevitável. A segunda, diz que a dor que se segue à perda é o resultado de um sentimento de culpa e de um medo de retaliação. A dor do anseio é de grande importância em si mesma, e ela pode ou não ser exacerbada e complicada por um sentimento de culpa ou medo de retaliação.

Quando se acredita que a figura amada está temporariamente ausente, a reação é de ansiedade, porém quando se acredita que ela está permanentemente ausente, a reação é de dor e luto (BOWLBY, 2004)

Segundo Carvalho e Meyer (2007) a ocorrência destes sintomas relacionados ao luto em mulheres pós –aborto, é quatro vezes maior do que na população em geral. Com o passar dos meses, esses sintomas tendem a diminuir, sendo que, ao final de um ano, podem reincidir.

Vivenciar o luto após o aborto é um desafio importante para as mulheres, levando em conta que a perda de um filho é uma das perdas mais difíceis de serem elaboradas. As redes de apoio da mulher neste momento são de fundamental importância. Porém, existe uma grande dificuldade da sociedade em lidar com a morte, principalmente quando se trata de bebês. Desta forma, o apoio nem sempre se dá de forma adequada (CARVALHO E MEYER,2007),

As mulheres que induziram o aborto, geralmente enfrentam este problema da falta de rede de apoio com mais freqüência, pois na maioria das vezes elas são estigmatizadas pela sociedade, bem como, pelas pessoas que estão envolvidas no seu ciclo social.

Rede de apoio social pode ser definida como conjunto de sistemas e de pessoas significativas que compõem os elos de relacionamento recebidos e percebidos do indivíduo (BRITO & KOLLER,1999 apud HABIGZANG,2006). O apoio social é considerado uma importante dimensão do desenvolvimento, constituindo uma interface entre o sujeito e o sistema social do qual ele faz parte. O apoio afetivo é igualmente fundamental por ser responsável por imprimir qualidade às relações e contribuir para a manutenção dos vínculos.

Assim, o apoio social e afetivo está relacionado à percepção que a pessoa tem de seu mundo social, como se orienta nele, suas estratégias e competências para estabelecer vínculos, e com os recursos que esse lhe oferece, como proteção e força, frente a situações de risco que se apresentam (BRITO & KOLLER,1999 apud HABIGZANG,2006)

A rede de apoio social está associada à saúde e ao bem estar dos indivíduos sendo um fator fundamental para o processo de adaptação a situações de estresse e de suscetibilidade a distúrbios físicos e emocionais. Todas as relações que o indivíduo estabelece com as outras pessoas, advindas dos diversos microssistemas nos quais transita,como família, amigos, escola, abrigo, entre outros, podem assumir o papel de fornecer apoio (HABIGZANG,2006)

Outra característica é que a rede de apoio social é também dinâmica, construída e reconstruída em todas as fases da vida. O efeito de proteção que o apoio social oferece está relacionado ao desenvolvimento da capacidade de enfrentamento das adversidades, promovendo processos de resiliência e desenvolvimento adaptativo (BRITO & KOLLER,1999 apud HABIGZANG,2006).

Juntamente com a família, os amigos desempenham o papel de fonte de apoio, que está relacionado à manutenção do bem estar ao longo do desenvolvimento. Eventos estressantes vivenciados com o apoio emocional dos amigos capacitam o indivíduo a desenvolver estratégias mais adaptativas. Essas relações afetivas, desenvolvidas com pares, são capazes de torná-lo mais eficaz, pois trazem consigo um conjunto de recursos pessoais e sociais que diluem os efeitos negativos das situações adversas (BRITO & KOLLER,1999 apud HABIGZANG,2006).

As instituições e os profissionais que trabalham nestas, também podem ser considerados como rede de apoio para essas mulheres, pois a relação existente entre paciente e profissional pode ser essencial, e muitas vezes ela cria um bom vínculo com os funcionários que estão sempre presentes no período de permanência da mulher no local em que recorreu.

Desta forma, uma mulher que enfrenta uma experiência de um aborto espontâneo e provocado, necessita de uma rede de apoio bastante efetiva, no sentido de ajudar essas mulheres a superarem a experiência vivida com tanto sofrimento, pois os sentimentos que elas experienciam são muito dolorosos.

Segundo uma pesquisa realizada por Santos; Rosenburg; Buralli (2004), à medida que a mulher toma consciência da perda do bebê, vão surgindo muitos sentimentos que podem ser revelados de forma verbal ou não-verbal, assim como a frustração, decepção, revolta, culpa, tristeza e choro, sendo em alguns casos percebida sensação de alucinação e desejo de morrer.

Portanto o presente artigo pretende possibilitar uma maior reflexão sobre o tema abordado, visto que existe uma grande escassez de dados sobre o tema na literatura e serve também como fonte para pesquisas futuras mais aprofundadas, almejando a garantia da saúde psíquica dessas mulheres que vivenciam a experiência do aborto provocado e espontâneo.

MÉTODO

Este artigo diz respeito a uma revisão de literatura expositiva sobre o aborto espontâneo e provocado. A escolha do objeto de estudo se justifica pela pouca literatura encontrada, o que dificulta o acesso ao tema entre pesquisadores interessados.

Para coleta de dados foi feito um levantamento de artigos sobre tal assunto e realizadas buscas bibliográficas utilizando-se o banco de dados das bibliotecas virtuais do SciELO e Pepsic, que se referem ao aborto espontâneo e provocado.

Como critério de inclusão, foi definido a necessidade de os artigos possuírem o período de publicação compreendido entre os anos de 2004 até 2009. Foram localizados 18 (dezoito) artigos referentes à temática pesquisada. Na busca bibliográfica, os descritores utilizados foram: Aborto espontâneo, Aborto provocado, Aborto induzido, Maternidade e Perda gestacional.

O presente artigo toma como referência a analise documental da produção bibliográfica sobre a temática "aborto". Segundo Miranda (1997), este modelo de revisão de literatura expõe o tema em questão através da análise e síntese de pesquisas. No que diz respeito a sua classificação, foi escolhido a classificação de abrangência. Desta forma, estipula-se um período de tempo especifico para a cobertura do tema, considerando o progresso da pesquisa atual. Sendo assim, torna-se claro o problema, além de ser possível uma melhor definição e esclarecimento do mesmo (MIRANDA, 1997).

Ainda segundo Miranda (1997), este modelo de revisão tem como objetivo informar ao leitor a situação atual da pesquisa acerca de um tema específico, identificando relações entre os assuntos abordados. Para torná-lo mais didático, este texto foi dividido em temas centrais, tais como, aborto espontâneo, aborto provocado e a legalização do aborto numa perspectiva religiosa e feminista, ressaltando que a todo o momento serão feitas relações entre os mesmos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A busca na base de dados permitiu recuperar 20 artigos com as palavras chaves descritas no método. No entanto, após uma análise mais precisa do conteúdo dos artigos, foram excluídos 2 destes, pois não se adequavam ao tema em estudo. Assim o total da produção foi de 18 artigos, sendo a maior parte de relato de pesquisa, como pode ser descrito na Tabela I abaixo:


Autor: Caroline Silva


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