Formiga Morta



Ele tinha apenas três aninhos, mas quando viu aquele bichinho ainda desconhecido andando apressadinho no chão de cimento do quintal de sua casa, não hesitou: cresceu o pé sobre a formiguinha e esmagou-a de uma pisada só.

A mãe observou o gesto de Paulinho e estranhou sua ação. Com quem este menino aprendeu a fazer isso? A família era de boa índole e não havia espaço entre os Figueiredos para violência ou agressividade. Mas o fato ocorreu, e foi mais simbólico do que realmente uma desconcertante investida do pequerrucho na senda do crime.

Havia, porém, toda uma carga de emoção naquela atitude, e isto não passou em branco na história de vida de nosso Paulinho. Mais tarde, vamos verificar em sua trajetória, reações que se fundam neste gesto aparentemente inocente de esmagar uma formiga sob os pés.

E a trajetória de Paulinho é a de muita gente. Aprende-se muito cedo a arte de matar. E neste aprendizado, formigas e abelhas; baratas e moscas; dentre outros insetos, se prestam muito bem a este instinto selvagem que domina o coração humano.

Não vou fazer deste relato uma descrição teológica sobre a natureza pecaminosa humana tal como Agostinho o fizera. Mas, quero salientar que a simplicidade de triturar uma formiguinha sobre a sola do sapato - formiguinha esta que teve a triste sina de se interpor em nosso caminhar trôpego nas sendas da vida -, é emblemática da facilidade como matamos ou morremos em nossos sentimentos.

Dizem que a morte faz parte da vida. Difícil de entender! Mas é a pura realidade. Toda vida tem uma morte em seu caminho, nem que seja a de si mesmo ao fim de uma lida que pode ter sido boa ou ruim.

Mas, as mortes que provocamos são muito duras de serem assimiladas. No princípio era uma formiguinha. Depois de nossos pés, já era! Uma pisoteada. Duas. Três. E, em poucos minutos deixaram a existência milhares de formiguinhas que só queriam tomar emprestado o nosso açúcar e tornar suas vidas mais doces. Quão bom é quando se tem açúcar para adoçar a vida dos outros!

Na vida, sentimentos são agregados à nossa história com uma facilidade de fazer gosto! Assim como amamos, gostamos, sorrimos e nos regozijamos, em seguida, como num piscar de olhos, odiamos, nos afastamos de alguém, fechamos à cara e mergulhamos em depressão profunda.

Sentimentos são como formiguinhas que vivem vida intensa, num labor febril em prol da comunidade que somos nós mesmos. O formigueiro humano não pode prescindir de sentimentos. As emoções dão cor e sabor à existência e trazem o brilho fulgente da alegria para a nossa caminhada.

Mas não é raro quando, por conta da dureza da vida, das dificuldades da caminhada, dos atropelos da existência, matamos os sentimentos. E estas formiguinhas já não mais respiram amor. Jazem mortas no chão da vida. Tornam feia e árida a existência.

O que às vezes esquecemos, é que as formiguinhas nunca desaparecerão da nossa jornada. Quem se dedicar à arte de matar formigas sob os pés, levará toda uma vida e nunca cumprirá sua missão. Como por milagre, por encanto, as formigas, morrendo, ressuscitam. Reaparecem em nosso caminho, brotadas sabe-se lá de onde. Quem não se fez esta pergunta: De onde ou como estas formigas apareceram aqui?

Assim são os sentimentos. Há um milagre em sua existência. Sentimentos brotam do nada e nos envolvem sem que percebamos. Você pode ter um coração duro. Você pode gostar masoquistamente de matar formigas interiores, mas saiba que elas ressurgirão, nem que seja para você matá-las novamente.

Matar sentimentos é um duro ofício. Se você está envolvido nisto, aproveite a volta cíclica das formiguinhas dos sentimentos na sua vida para, desta feita, fazer diferente: saber conviver com as emoções e sentimentos e amar ao próximo como a si mesmo.

Autor: Josué Ebenézer de Sousa Soares


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