Ancião Cidadão



“Que adiantam meus cabelos brancos se a minha alma faz pipi na cama?”

Fernando Câncio.
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Por Airton Soares

Um assunto que preocupa
A toda sociedade
E que não precisa lupa
Para enxergar a realidade,
É a questão que se agrupa
Em torno da terceira idade.

O Brasil deixou de ser
O país da juventude,
Precisamos nos convencer
E mudar nossa atitude,
Preparando a sociedade
Para que a coisa mude
Investindo na longevidade
Com garra, consciência e virtude.

É grande a desinformação
Em nosso contexto social,
O pouco que se faz pelo idoso
É de caráter experimental
Ainda sendo muito ocioso
O fazer governamental.

Por isso, me sinto muito feliz
Esparramar neste papel
O que a Lei 10.741 diz,
Através desse simples cordel
Não na linguagem de juiz,
Mas com alma de menestrel.

Sete anos tramitando
No congresso Nacional
O Estatuto do idoso
Foi sancionado afinal
Hoje, li orgulhoso
A manchete no jornal.

Institui pena severa
Prá quem lesar o ancião,
Já é Lei, é de Vera
Pode dar multa e até prisão.
Por isso, respeite o idoso
Evite complicação.

Começo o meu versejado
Propriamente dito
Com um tema calejado
Mas é donde se ouve mais grito
É tal qual fogo cruzado
Ninguém sabe donde vem o “apito”.

Quando a gente adoece
Não se sabe o que fazer
Que hospital reconhece
Nosso direito de viver,
De bom nada acontece
Como é triste adoecer.
Só nos resta a bendita prece
Só tem Deus prá nos socorrer.

É isso mesmo meu amigo!
Você está coberto de razão
Mas, escute bem o que digo
Vou lhe mostrar em primeira mão
Tenha paciência, venha comigo
Agora é outra a situação!

Amigo, agora vou lhe dizer
Na minha simples linguagem
O que você tem de fazer
Em caso de aperriagem
Não precisa se bendizer
Não é conto de fada,nem visagem
É coisa pra ver e pra crer
Confie na minha mensagem.


Se você ficar dodói
Preste bem a atenção
O governo tem remédio
É de graça a distribuição
Servindo prá prótese, diabete
E também hipertensão.

Outra grande preocupação
Que se arrastava dia-a-dia
Era que quanto mais velho ficava
Mais a minha mensalidade subia.
O plano de saúde atrasava
Aumentando a minha azia
Esse critério me aporrinhava
Dia e noite, noite e dia.

Agora a coisa tá mudada
O artigo quinze é ao meu favor.
Mas sei que preciso fazer zoada
Pois esse direito causa terror
É só prestar atenção na negrada
Que não tem ética nem amor
Ao idoso que na madrugada
Precisa de remédio e doutor.

Se você for internado
Ou ficar em observação,
Tem direito a ser acompanhado
Por toda sua famiação
Com tempo determinado
Pelo médico de plantão
Ou por qualquer profissional
Que esteja na ocasião.


Nenhum idoso poderá
Ser objeto de negligência
Descuido, discriminação,
Crueldade e violência.
E para melhor compreensão
No artigo dez tem abrangência.


Quem impedir o idoso
Seu direito à cidadania,
Pode ser condenado
E não pense que é utopia
Podendo ser preso e multado
Por tremenda covardia.


Atendimento preferencial
Em qualquer repartição
Prestar serviço imediato
Não é favor é obrigação.
Trate o idoso com fino trato
E lembre-se que não há exceção:
Um dia todo mundo envelhece
E como precisa de proteção!

E num é só isso não!
A família que abandonar
Seu idoso no hospital,
Pega até três mês de cadeia
A parada agora é federal
Se tiver duvidando leia
O estatuto no geral.

Tem mais de sessenta e cinco?
Tem transporte garantido!
A carteira de identidade
É o comprovante exigido,
Valendo prá toda as cidade
Desse Brasil nosso querido.

Mas...não tenha medo de cara feia,
Ou mesmo se for barrado,
Ao subir num coletivo
Tudo isso já é esperado.
Use seu direito...o corretivo
O Estatuto sancionado.
Paciência e olho vivo
Prá não ser engambelado.

Antigamente o idoso
Não tinha opção de lazer,
Ficava o dia todo ocioso
Sem ter o que fazer.
Falando da vida alheia
Ou no fundo da rede a gemer
Pastorando o pé – de – meia
Pensando na hora de morrer.

Agora tá diferente
Tá na Lei, tá determinado
Sou cidadão, sou decente,
Tenho o Estatuto do meu lado.
Vida nova, prá frente!
Vou me divertir adoidado
Pois direito a abatimento
Tenho em todo buraco!


Atividades de cultura
Praticar esporte e lazer
Se pagar, é só cinqüenta por cento
Perca tempo não,vá se interter.
Viva a vida plenamente
Não nascemos prá semente
A vida é bela pode crê!


Olhe, seu moço, fiquei muito feliz
Quando li o artigo vinte e sete
Ah, Lembranças do aprendiz...
Viajei no tempo... me vi pivete.
Trabalhando na praça da matriz
Tinha lá meus dezessete
Não era dono do meu nariz
Mas já dominava uma ofsete.

E doravante só em pensar
Repetir tudo novamente,
O Estatuto me dá direito
E é por isso que estou contente
Vão me tratar com respeito
Como um cidadão descente.
Agora posso bater nos peito
Sou povão, e sou mais gente!

Sou dinâmico, competente,
Passado na casca do alho
Sinto-me forte, confiante
Pronto outra vez pro trabalho.
Eu tô por dentro da Lei
Não sou carta fora do baralho.

Sou de idade, mas sem grilo
Ela não me impede que eu trabalhe
E ainda penso muito “naquilo”
Em casa e de noite no baile
Se não digo mais porque é sigilo...
Me deixe só com meu detalhe!

Ainda sou bom, seu moço!
E trabalho com perfeição.
Nunca medi esforço
Nem escolhi situação
Não quero mais roer o osso
Da vida com desilusão.
O que eu quero mesmo é viver
Trabalhar com dedicação
Com dignidade e respeito
Sem piedade e humilhação.


Trabalhando posso investir
Naquilo que eu mais queria
Não estou sendo afoito
Não estou falando heresia
Tá lá no artigo trinta oito
Que nos dá essa garantia:
O gozo de prioridade
Na aquisição de moradia.


Vou fazer uma poupança
Em um programa habitacional,
Concretizar minha esperança
De possuir uma casa legal
Eu já penso até na festança
Lá no fundo do quintal.


Nestes versos finais
Quero chamar sua a atenção
A vida não dá nada aos mortais
Se não houver labuta, dedicação
E quando dos seus tristes ais
Só em você está a solução.
Lute, busque seus direitos, seu cais...
Mas com o Estatuto na mão!

Tudo que se exagera enfraquece
Já diz o idoso ditado
Por isso, fico por aqui,
Dizendo: muito obrigado!

E se você gostou do cordel
Ande também com ele de lado.
Com certeza servirá de “farnel”
Caso seja espoliado.
Mas... prá ninguém fazer você de berel
É preciso ler o Estatuto com cuidado
Pois ele será sopa no mel
Mas...só se for bem vigiado!!


Vamos à luta!

Fortaleza, 25 de agosto de 2004
Autor: Airton Soares


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