Soltando Os Cachorros



- O moço brigou com Murilo!

Cheguei a minha casa e minha filha pequena me saiu com essa. Ela, a Noemi, era mestra em dedurar os irmãos quando alguma coisa não saia em conformidade com a normalidade da vida.

- O que aconteceu?

Murilo tomou a dianteira e foi logo contando o que ocorrera. Ouvi atentamente...

Estivéramos visitando Rio das Ostras, RJ, num sábado, e lá se deu este episódio que motiva esta crônica. Enquanto trabalhávamos, as crianças se divertiam na redondeza da Igreja onde estávamos.

Lá pelas tantas, o Murilo, meu filho do meio, de apenas dez anos - um crianção, sem maldades e muita alegria no coração -, resolveu de brincar com uns cachorros da casa vizinha, imitando o latido deles para ouvir a resposta que davam. Obviamente que a resposta dos cachorros produziu uma tremenda algazarra; o que chateou em muito seu dono.

- E o que o moço falou para você, Murilo?

- Ele disse assim: Menino, quer que solte os cachorros?

- E o que você respondeu?

- Não moço, não faça isso! Aí fui saindo de perto...

Cada pai conhece o filho que tem. Eu conheço os meus. E sei que este, o Murilo, é menino bom. Bem, sou suspeito para falar...

De qualquer maneira, preciso entender o ponto de vista do outro. Do outro lado havia um senhor que não acordara de bem com a vida e se atormentara com a brincadeira de uma criança inocente. Na verdade, quando estamos sendo ameaçados, de alguma forma, não temos condições emocionais de refletir se quem está do outro lado é inocente ou bandido.

É óbvio que meu filho se assustou com a ameaça de ver os cachorros atrás dele. Meu filho não tem a verve de uma criança de rua ou malcriada que teria uma resposta na ponta da língua, do tipo: Solte se o senhor for homem o bastante! Ele se retirou acuado com a ameaça. Para ele, foi demais! Aprendeu que se não agira por maldade; pelo menos fora inconveniente.

Isto me fez refletir que vivemos num mundo onde há muita gente vivendo a soltar cachorros...

Há aqueles que soltam cachorros verbais como este senhor. São palavras duras, maldosas, pesadas, caluniosas, ameaçadoras; que assustam, amedrontam, aniquilam, acabrunham e derrotam. Estas palavras, uma vez soltas ao vento, não podem mais ser recuperadas. Quando muito, podem ser atenuadas, com um gesto de busca, reencontro, perdão e amizade, que promove restauração e conserto.

Há cachorros que nos são impostos em forma de zombaria, escárnio, calúnia, injúria, difamação, e outras formas de violência não física, nem sempre verbal, sub-reptícia, mas que atazanam, incomodam e destroem, mesmo que lentamente...

Há também os que soltam cachorros gestuais, irritando-se com pequenas situações do cotidiano e desferindo expressões chulas, gestos maldosos, agressivos, que ferem, machucam e magoam quem se faz alvo destas destemperanças e se torna vítima de quem acumula um mau humor constante.

Há os que soltam cachorros reais, sejam os próprios, (quando moram em casa com quintal e por alguma razão se sentem ameaçados, invadidos, por uma pipa de criança que cai ou uma bola de futebol mal chutada ou ainda uma criança que se sentiu atraída por alguma fruta e acabou recebendo o assombro de cachorros soltos sobre si); sejam cachorros virtuais, em forma de chutes, agressões, empurrões, violência de toda sorte que torna a vida humana desgastante e as relações sociais ultrajantes.

Vivemos em um mundo onde muitos estão a soltar seus cachorros porque fizeram da sua vida um canil, onde armazenam violências e dissabores e, precisam de vez em quando, soltar um de seus cachorros interiores para aliviarem-se das pressões internas que estes impõem sobre si, não se importando a quem estarão afetando com esta atitude impensada de aliviar suas dores sobre os passantes de suas vidas.

O fato é que é preciso ter muita sabedoria para saber lidar com estes desalmados que vivem a soltar seus cachorros pelos lugares da vida. Antigamente, lá bem antes da década de 70 do século passado, havia as carrocinhas que recolhiam cachorros de rua, soltos, largados na vida. Brincávamos de dizer que cachorros sem dono, sem coleira, seriam levados pela carrocinha para fazer sabão.

Para os pit-bulls ferozes dos corações sem amor não há carrocinhas que dêem jeito. É preciso que cada ser humano domestique seu animal interior e saiba viver em paz e em ordem com o próximo, seu semelhante. Se todos nos policiarmos quanto ao que falamos e ao que fazemos, o mundo será melhor!

Autor: Josué Ebenézer de Sousa Soares


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