Nos Abandonamos em Algum Lugar no Passado
Em algum lugar dentro da alma deixamos para trás tantas coisas, alegrias, tantas belezas que os nossos olhos presenciaram, tantas pessoas que amamos e tantos que nos amaram.
Deixamos para trás o simples desejo de ter um “carrinho ou uma boneca de plástico” para hoje entregarmos nossos sonhos e até nossa felicidade em carros importados que poucos podem comprar.
Guardamos em um passado distante o carinho afetuoso de um olhar, das mãos dadas, de contemplar o céu e as estrelas, de nos sentirmos plenos somente pelo fato de estarmos ao lado que quem amamos para trocarmos pelo muito trabalho que nos dá o dinheiro.
Deixamos de amar as pessoas simples que nos rodeavam para admirar os hipócritas de terno e gravata e que penduram seus corações lá fora ao entrarem em uma reunião de negócios.
Deixamos de olhar uma criança brincar para acompanharmos as várias telas frias de um computador.
Perdemos a pureza para nos encontrarmos com a falsidade e dizermos coisas que não sentimos porque a etiqueta assim exige.
Deixamos de sermos simples seres que erram, choram, comovem-se, sentem a dor do outro, compadece-se, sente ternura por alguém frio, que nunca chora porque seria considerado um fraco ou covarde.
Abandonamos os sentimentos e as palavras de amor e carinho para um simples cumprimento por obrigação.
Perdemos não somente a pureza de alma, mas com ela a felicidade.
Abrimos nossos corações para um psiquiatra mas o fechamos para quem amamos.
Estendemos nossas mãos para os nobres e fechamos para os que um dia não somente nos ofereceram suas mãos mas também seu consolo e apoio.
Paramos de ouvir os pássaros para ouvirmos os marqueteiros, os políticos, os que têm mel na voz mas fel na alma.
Acomodamos-nos nas palavras ensaiadas, nas atitudes planejadas, nas mascaras, no que nos dá status e deixamos para trás simplesmente o que somos.
O amor virou um sentimento de fraqueza.
A dor um sinônimo de falta de coragem.
Calamos a voz do coração para falarmos a linguagem dos falsos mega stars.
Paramos de chorar, porque o choro nos envergonha perante o outro.
Deixamos de ser apenas seres humanos para sermos apenas covardes.
Autor: Sandra Regina da Luz Inácio
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