A CONTRIBUIÇÃO DO VI FÓRUM BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O FOMENTO DE NOVAS PRÁTICAS EDUCATIVAS INTERDISCIPLINARES NO ENSINO DE GEOGRAFIA



ANA GIZELLE DA SILVA ¹

Resumo

Este trabalho é resultado da participação no VI Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, realizado no Rio de Janeiro no período de 22 a 25 de Julho de 2009. Durante o evento investiguei como a Educação Ambiental está sendo trabalhada no Brasil, as dificuldades e acertos dos educadores envolvidos com essa questão. Ao final do Fórum, fiz uma análise da contribuição do mesmo para o fomento de novas práticas educativas interdisciplinares no ensino de Geografia, constatando a importância da Ciência Geográfica para minimização dos estragos ambientais causados pela ação humana.

Introdução

O VI Fórum Brasileiro de Educação Ambiental (EA) realizado no Rio de janeiro, de 22 a 25 de Julho de 2009, se constituiu em um grande enfrentamento de dificuldades e superação, seja da Comissão Organizadora ou da grande maioria dos participantes, oriundos dos quatro cantos do país.

Com um propósito grandioso e uma descomunal força de vontade a REBEA (Rede Brasileira de Educação Ambiental) juntamente com o Instituto Baía da Guanabara captaram recursos, contactaram escritores e palestrantes e promoveram momentos de reflexões profícuas, oportunizando manifestações calorosas, que fez bater mais forte cada coração ambientalista ali presente.

Aos participantes e educadores ambientais de regiões mais distantes, coube a difícil tarefa de vencer "barreiras capitalistas" e fronteiras interestaduais para se somarem aos demais, dividindo ideias e multiplicando conhecimentos, podendo assim, melhorar suas práticas cotidianas ao retomarem as atividades. Incluo-me aqui e por tal motivo, me vejo, como uma multiplicadora das inúmeras questões discutidas nesse evento. Como um pássaro que dissemina pólen das flores para que haja frutos, quero através deste trabalho levantar pontos, que a meu ver foram mais significativos e disseminá-los aos que porventura tiverem acesso ao mesmo.

O tema central do Fórum foi o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. Esse Tratado (Rio-92) é documento de referência para EA brasileira e é Carta de Princípios da REBEA e de outras redes interligadas a ela.

Durante as diversas Mesas-redondas do encontro a PNEA (Política Nacional de EA) foi avaliada e questionada, o que contribui para o seu fortalecimento.

Após muitas reflexões constatou-se que um dos grandes desafios é a articulação das políticas de EA em âmbito municipal e estadual. Almeja-se que as ações das cidades e dos estados sejam fortalecidas pelos congressistas, que se sentiram, mais do que nunca, encorajados e contaminados pelo espírito ecológico.

Levando em consideração o número significativo de educadores ambientais que são também professores de geografia no Ensino Médio e Fundamental, posso afirmar que as contribuições do VI Fórum são muito relevantes. Nesse sentido, farei uma breve interlocução com os palestrantes, ressaltando sobre meu ponto de vista – de professora de geografia, as reflexões que permearam o ensino formal, a transdisciplinaridade e as questões ambientais que são conteúdos curriculares dessa disciplina.

A primeira Mesa que teve como tema: EA, Governança Mundial e Justiça Ambiental, foi palco de discussões mais voltadas às Políticas Publicas. A Mesa que tratou da Importância da EA no Enfrentamento da Mudança no Clima contou com a participação de nomes como Antônio Fernandes Guerra, Rubens Born, Taís Corral, Agostinho Guerreiro e André Trigueiro. Nessa discussão ficou evidente a relevância da geografia, como disciplina que trabalha diretamente com os conceitos relativos ao clima. É necessário o entendimento das mudanças climáticas para que a EA tenha sucesso nesse embate.

Outra Mesa com Mauro Guimarães, Isabel Carvalho, Phillippe Pomier Layrargues, Júlio César de Macedo e Luiz Ferraro deu enfoque as Identidades da EA: O Papel das Redes de EA. Isabel Carvalho destacou que o ambiental substantiva a educação. A autora disse que precisamos de sentidos ideológicos para responder as questões ambientais no Brasil, ressaltando alguns aspectos como a modernização ecológica, descontinuidade política e a complexidade da máquina do Estado. Disse também, que o eixo principal da EA é como tratar as diferenças. Todos os palestrantes destacaram a importância das Redes de EA, a exemplo da REBEA.

Mais um debate salutar aconteceu na Mesa: EA no Ensino Formal. Declev R. Dib-Ferreira enfatizou que a discussão de tornar EA uma disciplina está morta, é um retrocesso bater nessa tecla, haja vista, que as disciplinas já existentes não correspondem ao esperado. Afirmou que a EA têm que quebrar a estrutura e adaptar a escola as suas necessidades. A grande questão é como transpor as dificuldades. Foi aplaudido ao dizer que o professor precisa de tempo para atuar na escola fora da sala de aula.

Rachel Trajber sugeriu a Educação Integral em Escolas Sustentáveis. Ressaltou o papel das metodologias novas como as Com-vidas. Afirmou que a escola tem a responsabilidade sobre dois Rs – Refletir e Recusar, evidenciando o papel do professor/educador ambiental. A escola é a interface espaço/currículo/gestão e nessa interação tem que haver sobretudo a valorização da diversidade.

Martha Tristão começou afirmando que nas escolas as denominações são sempre genéricas, existindo uma tendência da reprodução da mesmice. Educação Ambiental não é um tema, isso seria reduzi-la e ignorar que a mesma se refere a uma relação comigo mesma, com o outro, com o planeta. Meio Ambiente também não é um tema. É necessário superar as afirmativas de que a EA não acontece nas escolas. Precisa repensar o que fortalece a EA, o que potencializa a EA. Finalizou dizendo que a EA é contra qualquer homogeneização.

O ápice do VI Fórum aconteceu com a presença do Ministro do Meio Ambiente Carlos Minc. Quem estava presente presenciou um momento emocionante com a apresentação dos povos primitivos Pataxós e com a manifestação inteligente de representantes da juventude, que entregaram ao Ministro uma Carta, fruto das discussões do encontro, com reivindicações e sugestões. A Carta foi lida por dois jovens do movimento.

Os 10 anos de PNEA (Política Nacional de Educação Ambiental) foram lembrados em uma Mesa que demonstrou o quanto os movimentos ambientalistas são importantes para subsidiarem e melhorarem as Leis. A Frente Parlamentar Ambientalista é bem menos articulada que a bancada ruralista, daí a importância de pressionar os deputados para que tenham atitudes coerentes ao discurso na hora de votar as Leis, para que o Código Florestal não sofra um retrocesso no ano de 2009.

Durante os quatro dias do evento, aconteceram oficinas, mini-cursos, roda de conversa, exposições e apresentações artísticas e culturais. Estandes de diversas Redes e órgãos ligados ao meio ambiente estiveram presentes no local. Uma grande quantidade de livros da área geográfica e ambiental foi comercializada.

Depois de apresentar de forma sucinta as atividades desenvolvidas no VI Fórum, se faz necessário, uma correlação direta do evento com o ensino de geografia, como sugere o título.

Pois bem, toda troca de conhecimento, experiência e materiais, ocorrida nesses dias dedicados às questões ambientais, não contribuíram somente com a geografia, mas com todos os componentes curriculares, visto que, a inter/transdisciplinaridade foi o pilar de todos os debates e intercâmbios de idéias.

Para a geografia que trabalha diretamente as relações e questões ambientais, um debate como esse impulsiona a mola mestra da aptidão e vocação dos educadores, resultando na melhoria da qualidade das aulas ministradas.

O trabalho aqui desenvolvido tem por objetivo promover um dialogo entre EA e a Geografia, tornando a interdisplinaridade e posteriormente a transdisciplinaridade uma abordagem constante e uma ferramenta útil no árduo trabalho de construção do conhecimento. Ressaltando sempre, o grande valor da geografia na formação de seres críticos, conscientes e conhecedores dos seus direitos e deveres.

É interessante lembrar, que o VI Fórum Brasileiro de EA, foi organizado numa perspectiva holística, com enorme diversidade de gênero, raças e atores sociais, o que o torna emblemático e efetivo numa nova forma de conceber as relações humanas. Sendo assim, esse trabalho toma uma proporção maior, com objetivos intrínsecos a melhoria da educação, trazendo a tona reflexões de grandes autores e educadores, desconsiderando as disciplinas "engaioladas" e o saber unilateral.

Material e Métodos

Claramente o meu objeto de pesquisa foge do paradigma adotado pelas pesquisas ligadas ao tema: A Geografia na educação brasileira. Propositalmente optei por essa linha, por considerá-la de muita relevância no cenário da educação nacional. E é claro, por estar ainda respirando os ares ecologicamente corretos do evento, que penetraram em meus pulmões, e que, comparados as raízes de uma árvore, possui ramificações profundas da Educação Ambiental.

Ressalto também a minha longa jornada como geógrafa e professora de geografia, que hoje está recebendo combustível e idéias novas para continuar sendo frutífera e prazerosa. Com a intenção de dividir com outros educadores as minhas experiências no Fórum, de proporcionar um debate a cerca das questões ambientais intimamente ligadas a geografia, incentivar e difundir a cultura de redes, contribuir para avaliação da Politica Nacional de EA e oportunizar um espaço para uma reflexão das práticas educacionais é que desenvolvi esse trabalho e envio essa proposta.

O material utilizado para essa pesquisa foi todo adquirido durante o VI Fórum, seja os livros, as revistas, folders ou mesmo, material não impresso como palestras e debates. Também contribuiu sobremaneira a oficina "Memória Social e Transmissão Inter geracional de Conhecimentos" e os míni-cursos "A Relação homem-natureza e a produção social da vida" e " Educação Ambiental, Sustentabilidade e Educação Infantil".

Essa pesquisa é de cunho qualitativo e participante, se definindo através de leituras, revisões bibliográficas, observações e participação ativa.

Resultados e Discussão:

A heterogeneidade do VI Fórum:

1.TRABALHOS ATRAVÉS DE PÔSTERES – esse apresentado por mim.

2.MANIFESTAÇÕES E REIVINDICAÇÕES DURANTE A PRESENÇA DO MINISTRO DO MEIO AMBIENTE.

3.PRESENÇA DE CARLOS FREDERICO B. LOUREIRO AUTOR DE VÁRIOS LIVROS SOBRE EA.

4. PRESENÇA DO MINISTRO DO MEIO AMBIENTE CARLOS MINC E ALGUNS REPRESENTANTES DOS POVOS INDIGENAS.

5.ESTANDE DO COLETIVO JOVEM DE GOIÁS.

6.PRESENÇA DE ALEXANDRE DE GUSMÃO PEDRINI TAMBÉM ESCRITOR DE LIVROS SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL.

Devo acrescentar que os corredores e estandes de um grande evento como esse, é sem dúvida um espaço de muita aprendizagem. É nas conversas informais e trocas de "figurinhas" que grandes contatos são feitos. A exemplo disso, posso citar as conversas com ícones nacionais da Educação Ambiental brasileira como Isabel Carvalho, Mauro Guimarães, Martha tristão e os já mencionados nas fotos.

A grande diversidade brasileira esteve muito bem representada. E a geografia se fez presente com um número muito significativo de professores. O que ajuda essa disciplina a adotar um caráter interdisciplinar, quiçá, transdisciplinar com mais eficiência e eficácia, dada a sua aproximação com as questões ambientais e ao constante aperfeiçoamento dos seus profissionais. Profissionais esses, abertos as novas propostas metodológicas da educação nacional, cumprindo os requisitos da Lei Federal.

Considerações Finais

Minhas considerações aqui estão longe de ser finais, afinal, estou apenas começando minhas leituras sobre esse assunto. Minha dissertação que está em andamento é fruto de uma pesquisa realizada no 4º e 5º anos do Ensino Fundamental com professores e estudantes e também com os formandos do curso de pedagogia. Nessa pesquisa investigo os livros didáticos de geografia para saber como os mesmos tratam as questões ambientais e como a EA está acontecendo nessa fase essencial da educação. Portanto, o VI Fórum brasileiro de EA somou muito para o meu mestrado em Geografia, com linha de pesquisa em Estudos Ambientais.

Pude confirmar com esse evento, a relevância do assunto abordado e a frágil, porém, necessária teia que liga todas as ciências e todos os seres, quando o planeta enfrenta riscos visíveis e confirmados.

A educação ambiental (EA) surgiu em virtude da preocupação humana com a qualidade de vida, no entanto, seu contexto é muito amplo e abrange aspectos sociais, econômicos, políticos, éticos e culturais. Com a Conferência Rio 92, houve uma verdadeira globalização das questões ambientais, despertando uma preocupação sem precedentes em relação à degradação causada pelo desenvolvimento tecnológico/industrial. Tal Conferência foi responsável também, pela propagação da ideia que desenvolvimento e meio ambiente constituem um binômio e são lados de uma mesma moeda devendo, portanto, ter valores e prioridades equivalentes, ou seja, é essencial desenvolver economicamente, mas é vital que os recursos naturais sejam poupados para que não faltem.

Fica evidente, portanto, que a EA, como uma educação holística dos cidadãos, está enfrentando grandes desafios na tentativa de uma substancial transformação. Ressalta-se que o Estado tem papel primordial nesta tarefa árdua de melhoria da qualidade do ensino e da aplicabilidade das leis. É dever da iniciativa pública e privada a abordagem sistêmica das questões ambientais, consequentemente, preparar os cidadãos para o novo paradigma ético e responsável que a humanidade precisa ter diante da sua casa/terra.

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Autor: ana gizelle da silva


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