A BLITZ POLICIAL



A BLITZ POLICIAL

Os soldados chegaram de supetão. Na cidadezinha ninguém esperava a gang e o povão levou um choque enorme com todo aquele aparato. Cidade pequena, todo mundo conhece todo mundo, nunca acontece nada de extraordinário, não tem rádio, nem TV. Os jornais são apenas os fofoqueiros que têm às pampas. Eles, além de levarem as notícias, ainda aumentam o volume com o que der e vier em suas cabeças. O fato é que a soldadama lá chegou por ordem do governador. Vieram direto da capital. Precisavam dar uma geral naquela cidade. Ninguém sabia os motivos.

A notícia ocorreu mais rápida que temporal no deserto. Todos davam opiniões, as mais esdrúxulas.

- Deve ter caído um avião do Irã aqui. - Diziam uns.

- Foram expulsos da China. – responderam outros.

- É preciso ficar de olho no outro lado, se vier algum exército de lá a gente fica no meio. Estamos perdidos.

- Só pode ser pra pegá uns ladrão qui tem aqui.

- Aqui, nesta cidadezinha? Aí tem mais soldado que gente.

A gangue porém não veio para farrear. Entraram logo no primeiro bar que encontraram e foram dando as ordens.

- Todo mundo aí com as mãos pra cima: todos virados para a parede com documentos na mão.

Os peões pegaram os documentos, viraram-se para as paredes e puseram as mãos para cima, menos um velhinho.

- O senhor aí, por que não põe as mãos para cima?

- Quem? Eu? O senhor não me pediu.

- Não mandei? Não falei: todo mundo com as mãos para cima?

- Ah! Isto falou, sim senhor!

- Por que não obedeceu?

- Quem? Eu? É porque meu nome não é todo mundo. Meu nome é José.

- E os documentos, onde estão os documentos?

- Dicumento? O senhor quiria qui eu fosse pro mato com dicumentos? Tão lá em minha casa. Su sinhô quisé, nóis vái lá pegá.

- Está bom, não precisa. E este facão? O senhor não sabe que é proibido andar na cidade com facão?

- Sabia não, senhor.

- Vamos ter que tomar este facão do senhor e levá-lo para averiguação.

- Esti facão? Ah! Podi levá, sim sinhô. Eu ia memo jogá ele nu mato. Num presta mais, ta muito veio.

- Engraçadinho. O senhor está querendo brincar comigo, é?

- Quem dera, seu pulícia. Cabô meu tempo de brincá.

Acabaram as investigações neste bar. Ninguém foi preso, nem o velhinho. Partiram para outros lugares.

Assim que os policiais saíram, os repórteres(os fofoqueiros) comentavam a blitz:
- Quase que eles pegam o Zé Pirigoso.

- Milagre o Nestor não estar aqui.

- E o Terêncio? Não falou nem "a".

Os comentários ali vararam a noite. Enquanto isto os policiais varreram a cidade até chegar no cabaré "Fecha nunca". De longe ouviram as músicas de 1930 tocando na vitrola. A risadinha era geral. Uma luz negra atrapalhava a visão do transsunte. Os policiais fizeram uma geral na casa de modo que era impossível sair dali. Tudo pronto, invadiram o bordel pela frente e pelos fundos. Acenderam os grandes faróis que carregavam. Finalmente ali se encontrava a mercadoria procurada. Era um bando de ladrões e criminosos de alta periculosidade que eles procuravam. Eles havia fugido da prisão com a ajuda de um fazendeiro também criminoso, que não tinha sido preso antes.

Estão, todos aqui, cambada de tortos. Estão todos presos. Há dias estamos nos seus encalços.

Os homens não tiveram tempo pra nada. Foram chamados um por um:

- Quebra-vento – joguem no camburão.

- João Bagulho – joguem no camburão.

Assim foi até completar os treze marginais. Lá ficaram só as mulheres do cabaré: "Fecha nunca" que, aliás, fechou cedo.


Autor: Henrique Araújo


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