CYRANO DE BERGERAC



Cyrano de Bergerac, uma comédia heróica composta por cinco atos, foi encomendada pelo grande ator francês Constant Coquelin (1841-1909) ao dramaturgo Edmond Rostand (1868-1918). Rostand empenhou seus esforços durante nove meses, de abril de 1896 a janeiro de 1897, para escrever a peça que revolucionou o teatro francês, mergulhado em uma fase tediosa e repetitiva. Até a estréia do espetáculo, em 27 de dezembro de 1897, o autor estava angustiado, temeroso de um fracasso; somente descansou ao final do primeiro ato, aplaudido com veemência pelo público.

O primeiro ato, uma bela introdução ao enredo da história, passa-se no teatro, repleto de pessoas ansiosas para assistir à peça de Montfleury. Enquanto Cristiano esperava sua amada Roxana para indicá-la aos seus amigos, muitos comentavam as destrezas de Cyrano, artista e espadachim valente, mas grosso e feio. Quando a peça há de começar, Cyrano briga com Montfleury, a quem lhe havia imposto silêncio. Ao ser caçoado por Valvert, propõe-lhe um duelo e vence-o com singular astúcia, tempo em que profere uma ousada balada. Torna-se, então, famoso e respeitado. Em uma conversa com Le Bret, Cyrano confia seu segredo: é perdidamente apaixonada por sua prima Roxana, mas não tem coragem de declarar-se, temendo represálias à sua aparência.

De fato, estava certo em manter-se às sombras: no ato seguinte, Roxana pergunta-lhe por Cristiano, o belo rapaz que a admirava e mexia com seus sentimentos. Cyrano promete protegê-lo e tornar-se seu amigo, e assim o faz: mesmo sendo alvo de piadas do jovem, admira sua coragem e propõe lhe ajudar a conquistar sua prima, escrevendo por ele cartas de amor em versos admiráveis.

O terceiro ato é o mais movimentado, pois condensa em catorze cenas desde o encantamento inicial de Roxana com as cartas de Cristiano ao casamento dos dois. Entre esses dois fatos, porém, há uma surpresa: Cristiano declara-se sozinho a Roxana e, apesar de seu sentimento ser sincero, as palavras simples e as frases curtas provocam o desinteresse da moça. Cyrano, mais uma vez, intervém com seu dom para arrebatar o coração da prima. Ao terminar a cerimônia, Cyrano vê-se triste, mas envaidecido: seus dotes artísticos foram suficientes para fazer sua amada feliz, ainda que por meio de outro alguém. De Guiche, então, chega com a notícia de que ambos cadetes serão enviados para as trincheiras da guerra, deixando Roxana aos prantos.

O quarto ato trata do desenrolar da guerra: a fome dos soldados, a expectativa dos ataques e a saudade de casa. Saudade essa tão profunda que Cyrano passa a escrever a Roxana sem avisar a Cristiano, avisando-lhe apenas quando ela já se encontra com eles, enlouquecida de paixão. Ao ver que ela estava se arriscando pelo homem que escrevera aquelas cartas e não por sua beleza, Cristiano tenta convencer Cyrano a contar a verdade a Roxana, mas Cyrano se nega. Em um ataque surpresa, os dois são feridos e Cristiano morre.

O último ato, o epílogo, passa-se quinze anos depois, com Cyrano bastante debilitado pelos ferimentos e aparentemente fora de si, segundo as religiosas que cuidam dele. Roxana o visita e, ao mostrar-lhe uma das cartas que recebera, nota que Cyrano sabia decorado o conteúdo; não poderia ler, devido às trevas que o envolviam. Percebe, pois, que fora Cyrano quem escrevera, recebendo um beijo na fronte como recompensa embora ele morra em seus braços negando tudo.

Embora seja em Paris onde toda a ação ocorra, não há correlação entre os lugares descritos na obra e um local exato na cidade real. As descrições do cenário são bastante ricas, detalhadas, e levam ao leitor a imaginar perfeitamente as cenas, assim como ajuda ao diretor a organizar a encenação. Os versos da peça são limpos e melódicos, com destaque aos românticos. Rimas ricas e vocabulário rebuscado não dificultam a leitura, mas embelezam o texto e deixam-no fluente; não é a toa que seduziu os ouvidos e as mentes da sociedade parisiense de 1897.

Cyrano mostra-se um homem bastante altruísta, disposto a tudo para fazer sua amada feliz, ainda que tenha que vê-la com outro homem, conquistada a suas custas. Sente-se lisonjeado quando, no início do segundo ato, Roxana dedica ao autor das cartas tamanho apreço e reconhecimento. Tão belo e raro é o seu amor que não ousa revelar a verdade mesmo no leito de morte, sendo Roxana já viúva. È uma obra livre de críticas ou intenções mais profundas que a beleza do amor em si; nem por isso torna-se menos valiosa.

Cristiano, apesar do desespero para conquistar a jovem e tê-la consigo, revela-se convincentemente apaixonado ao tentar recusar a ajuda de Cyrano e ao incentivá-lo a contar a verdade, mesmo sabendo que perderia Roxana. Esta, ao descobrir a verdade, não toma rancor de nenhum dos dois, pois sabe que ambos foram fiéis a ela, ainda que não tenham sido totalmente leais.

Uma parte da história serviu como inspiração para a teledramaturgia brasileira: Walcir Carrasco colocou na novela "O Cravo e a Rosa", passada no horário das 18h de 26 de junho de 2000 a 10 de março de 2001, os personagens Bianca, Heitor e o professor Edmundo, respectivamente interpretados por Leandra Leal, Rodrigo Faro e Ângelo Antônio. Na trama global, o professor apaixona-se pela aluna, mas por não achar-se digno de conquistá-la, escreve cartas em nome do namorado da moça (Heitor) para agradá-la. Tão logo a jovem descobre, no entanto, briga com os dois, decepcionada pela por terem mentido tão gravemente.

A questão estética abordada no texto é válida ainda nos tempos de hoje; afinal, o amor é desencadeado pela beleza ou pela inteligência? Não há quem nunca tenha se atormentado com essas perguntas, e passado horas a fio na frente do espelho ensaiando um modo de se aproximar do amado. Em Cyrano de Bergerac, o autor propõe enfrentar esse desafio, mostrando que, para o coração puro, o conteúdo e o sentimento verdadeiro valem muito mais que beleza.


Autor: Mariana Ferraz


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