Jôncias, Nérvias e Zeré: o episódio da senhora KWZ...



JÔNCIAS E A FAMÍLIA DA UNIDADE PRODUTIVA

*

- Olha a barata!

- Ai!!! Seu Jôncias, não brinque com essas coisas, tenho muito medo dessas baratas!

Estava ele sobre os últimos degraus de uma escada procurando por teias de aranha e pó a ver se a senhora da limpeza precisava ali praticar o seu ofício quando vira-se e quase cai ao ouvir dois membros daquela família falando-se alto:

- Zeré, já procurei no sistema e nada do nome desta senhora, ela diz que deixou uns documentos, perguntei se agendou algo ou se trouxe algum protocolo e ela diz que não sabe, e também não sabe se tinha hora marcada!...

- E quem é esta senhora, qual o nome dela, o que ela quer?!...

- Ela não sabe!... Seu nome é KWZ... Tem um nome, um envelope, e nada sabe além... E se ela não sabe a que veio eu também não sei, como posso adivinhar!?... Ah, ela disse que telefonaram para ela e o nome é o mesmo da substituta do super!...

- Está bem, vou telefonar lá para cima e saber se ela sabe de alguma coisa, se telefonou para essa senhora!

- Agora vou dar umas senhas, tem gente precisando subir lá para cima e esse embaraço está aumentando a fila!

O super por cima da escada observava.... Na atendimância Nérvias olhava o nome dos agendados, pedia o documento e dava senha, outra senha, mais senha...

- Senhora, espere um pouco que já estão a saber como resolver o seu caso... O Zeré vai procurar quem telefonou para a senhora... Olá, senhor, qual é o seu nome? Que hora está marcado?... Ah, sim, aqui está, é um cadastro de senha online, é lá em cima, suba aquela escada e será atendido...

- Mas, e se eu não subir a escada agora e ficar aqui embaixo, também serei atendido?

- Creio que não, porque já estão quase em chamar e o senhor nem pisou o primeiro degrau ao primeiro andar...

- Então o que faço?

- Nem pense, já vão chamá-lo, siga esse corredor e suba a escada... Próximo!

- Sou eu, estou agendado para as nove e quinze. Aqui está a identidade.

- Muito bem, o senhor é um acerto de dados, do mesmo modo é só seguir o corredor e subir a escada... Ops, que vejo, senhora! (sorriu alegre com a descoberta) Aqui está o seu nome, e já passou do horário, e da tolerância! Acho que quem mandou a senhora vir agendou para dar entrada em um benefício... Deixa eu falar com o Zeré para ver se posso dar a senha, pois já passou da tolerância do horário...

- Zeré, encontrei o nome da mulher, acho que agendaram um benefício para ela, talvez algum parente, e mandaram-na aqui sem avisar para que era... Ou talvez ela tenha esquecido a que veio, parece cansada, talvez devido à idade... Posso dar a senha?...

- Pode; vou avisar a nega Legal se pode descer e atendê-la...

- Então é isso, senhora, aqui está a senha, do mesmo modo que os outros a senhora segue esse corredor e espera... Logo a nega Legal vai chamá-la.

E continuou o Nérvias atendendo e dando as senhas... Tudo em harmonia e maravilhosa serenidade e fluência... Nega Legal desceu e chamou o número...

- Número x-tal pode vir!... Numéro x-tal!? Pode vir x-tal! Senhora KWZ!... Ei, Zeré, não disse que a senhora estava aqui embaixo para ser atendida?

- Já foi dada a senha... Vou perguntar ao Nérvias, o tempo corre, e urge... Nérvias, onde está a mulher!?...

- Não é essa que está aí atrás sentada?!

- Não, essa tem outro nome! Você não lembra a fisionomia dela?!

- Depois que dei a senha já vários passaram aqui, não me lembro, só sei que ela parecia cansada... Será talvez que ela não foi ao banheiro?

- Não, a senhora da limpeza diz que o banheiro está vazio, e a nega Legal precisa continuar o serviço dela lá em cima! Você não sabe para onde ela foi, será que saiu?!

- Não sei, Zeré, acho que te coloquei em apuros, né, dentro de um olho de furacão, mas não esquenta, ela aparece..., e se o tempo corre trazendo-te tensão de momento, não desabafe alto a insatisfação com palavras que possam ser mal interpretadas fora de contexto!...

- Fora de contexto?! Que está dizendo?! Esse sumiço dela está atrasando tudo, o reloginho do bom andamento dos serviços desregulou-se, será que essa senhora é uma deficiente mental, uma retardada!!??

- Ih, Zeré, já disse o que não devia, tá todo mundo olhando estranho!...

- Tá mesmo! Será que disse algo demais?! A mulher deve ser uma deficiente mental para ter sumido assim!

O caso é que vez ou outra aparecem mesmo pessoas fora do ar e do senso, por ex., uma alguém que entra a gritar ódios de uma irmã sabe-se lá quando a ofendeu, e promete vingança e tudo mais por não conseguir um empréstimo que deseja, depois acalma-se, diz tchau, e vai embora. Outras vezes, deficientes mentais acompanhados ou não, lentos em traduzir o que desejam de modo a testar a paciência dos atendâncios e a digestão da pressão do tempo com serviços horariados a cumprir...

Todavia, voltando ao caso da mulher que sumiu e ninguém viu... Quando Zeré acabava de falar "aquela deficiente mental", aparece a sumida descendo a escada devagarmente já mostrando irritação pelo que ouvira...

- Quem é deficiente mental?! Que desaforo é esse para comigo que sou uma velha!? Foi aquele rapaz que mandou subir esta escada com a senha que me dera!! (apontou; e o fato é que os outros foram pelo corredor e subindo e ela os seguiu entendo que devia subir também, e aí..., daí toda a confusão...)

A senhora visivelmente irritada ao passar pela escada onde estava o Jôncias tropeçou e se apoiou na dita escada que tombou com quem estava em cima. Assustou-se. Jôncias no susto saltou de cima abaixo e caiu em pé. A senhora ressentindo ainda por ter sido chamada de deficiente mental parou e desabafou resmungando "Chamam eu de desaparecida e débio mental, e esse que aparece com essa escada, onde estava esse sumido? Jôncias tentou acalmá-la:

- Calma, senhora, foi apenas um susto de nada, já passou, vá naquela mesa que já a estão chamando, a nega Legal já a espera a algum tempo. Tudo dará certo. Toda essa confusão é bom que se termine por aqui...

- Termine nada, ainda dou é parte dessas coisas tudo errada!

- Está certo. Mas por agora sente lá e termine o que hoje veio aqui fazer.

Muitos ali observavam a situação e cada um pensando e julgando do seu jeito. Um lá matutava e sem querer expressou "Que abacaxi...". Outra, ouvindo, retrucou "Abacaxi, só!? É sim um abacaxizeiro grande!".

Enfim, aquela conturbada manhã era apenas e tão somente grande mal-entendido... Ali de fato apareciam pessoas deficientes mentais, outras um tanto atoleimadas, outras desnorteadas, outras em ponto de explodir de estresse ou frustrações... Por finalmente, todo tipo de pessoa da diversidade humana, embora menos que nas filas de auxílios-doenças, mas dizer "Onde está aquela deficiente mental, sumiu!?" não significa que a quisesse ofender mas em soltar sem querer no desespero da pressão do horário e calor do momento o que realmente pensava-se: - Essa deve ser mais uma desnorteada, sem senso, lenta ou um tanto atoleimada por alguma deficiência alimentar, talvez com alguma deficiência mental por falta de nutrientes ou resultado de sofrimentos da sua realidade acerba e experiências traumáticas de vida, uma alma em expiação, com uma máquina humana sem poder manifestar toda a sua potencialidade inteligente-emocional, embora tenha toda potencialidade e seja digna como qualquer outra alma provinda de Deus...

- Tome um café, senhora..., vai lhe fazer bem...

- Café?! Não posso, café cafeinado me dá falta de ar, senhor super! Meu coração se aperta e sente dor, até dispara...

- Falta de ar nada, dor de jeito nenhum... Como pode ser?, café não faz mal... Mas, se a senhora acredita assim..., pode até fazer...

- E faz! Pois o meu estômago se aflige, e arde, minha úlcera certamente se encomoda com esse líquido!...

- Então aceita um chá?...

- Se tiver camomila ou capim santo, aceito...


Autor: sergio carneiro de andrade


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