Monografia: A graduação em Educação Física e os portadores de HIV- uma questão curricular.



1. INTRODUÇÃO

Grande parte da ciência brasileira é produzida nos cursos de graduação e pós-graduação. Pode-se afirmar que o mesmo ocorre com a produção científica na educação, o que tem impulsionado o avanço de seu saber.
Partimos da premissa foucaultiana de que a produção do saber não é neutra nem desinteressada, pois todo saber é político, visto que é fruto das relações de poder (FOUCAULT, 1988).
Assim, julgamos ser imprescindível apresentar e discutir alguns pressupostos paradigmáticos utilizados na construção de um programa de ensino destinado a alunos de graduação em Educação Física que visa capacitar futuros professores de Educação Física, compreender de forma mais ampla as dificuldades dos soropositivos, planejar formas de atuação frente a diferenças relacionadas ao processo de aquisição e desenvolvimento das capacidades de motoras. Para que o professor possa trabalhar de forma correta, com atividades selecionadas e com orientação adequada para acompanhar o desenvolvimento biopsíquico, social e sexual do aluno soropositivo.
O curso deve capacitar o professor de Educação Física, responder às dúvidas em relação à Síndrome da Imunodeficiência Adquirida/ Vírus da Imunodeficiência Humana (SIDA/HIV), orientar a prevenção de disseminação quanto aos aspectos da doença e ajudar o aluno soropositivo a tomar decisões corretas em relação à saúde e atividade física.
Desde 1981, quando vírus foi isolado, criou-se uma política de discriminação sexual, iniciando-se, a idéia de grupo de risco e o HIV recebeu cognome de “mal do século” (BRANCO, 1996).

Duas décadas já se passaram desde o início da doença, vivemos em um período de maior conscientização da população sobre a realidade mundial (ARAÚJO, 1998).
Mas percebemos que a única forma de precaver a população da doença, é fornecer informação correta por meio de educação em saúde que deve visar uma mudança de atitudes e comportamentos como fórmula salvadora dessa sociedade atingida pelo mal.
Para TRAGTENBERG (1982, p.12): “A universidade reproduz o modo de produção capitalista dominante não apenas pela ideologia que transmite, mas pelos servos que ela forma”.
Desse modo, percebemos o papel relevante que a universidade exerce na sociedade , não só pelas idéias que transmite, mas também como formadora de mentes humanas. Compete aos pesquisadores , no caso particular da educação, definirem o caminho que desejam construir no campo do saber, estabelecendo ou não , novas relações de poder.
Mas os paradigmas produtivos vêm obrigando muitas faculdades a abandonarem a fórmula ensino-pesquisa-extensão pela visão mercantil preço-qualidade-localização. Não só as universidades privadas como também muitas universidades públicas vêm sendo obrigadas pela lógica neoliberal a direcionar seus esforços no sentido de opções mais lucrativas.
O mercado e sua incansável luta pelo lucro sem limites impõe aos profissionais, professores e acadêmicos o dever da sobrevivência. Não há mais espaço para o cientista que lança questionamentos éticos sobre a finalidade da pesquisa que desenvolve.
A preocupação atual com as atividades motoras para pessoas consideradas como portadoras de cuidados especiais, demonstrando que houve uma mudança significativa, embora não tenha alcançado ainda a dimensão capaz de influenciar e transformar sua prática em todos os níveis.
Observamos que cada professor fundamenta suas decisões quanto aos objetivos, métodos e conteúdos em certa bagagem adquirida, sobretudo, nos cursos de graduação. Infelizmente no que se refere à Educação Física voltada para alunos soropositivo, raras são as instituições que a oferecem e, portanto, poucos os profissionais que têm acesso às informações veiculadas nessa disciplina voltada ao soropositivo.
Assim, devemos promover na graduação de Educação Física condições para orientar o professor trabalhar com pessoas portadoras de HIV/SIDA.
Nessa linha aparece a importância da ciência que cada vez mais tem buscado novos métodos para tratar o HIV/SIDA e dentre eles aparece a Ciência da Motricidade Humana como uma das novas propostas voltadas à pessoas que necessitam de cuidados especiais.
Para cada estágio da doença, o trabalho com a atividade física também deve ser modificado para que obtenhamos um resultado positivo no funcionamento imunológico da pessoa (ARAÚJO, 1998).
Os resultados conferidos na bibliografia referente aos efeitos da atividade física nos pacientes imunodeprimidos constataram, na maioria dos casos, uma grande melhora nos estados psíquicos e imunológicos dos soropositivos.
A trajetória deste trabalho, encontra-se assim estruturada:
Na introdução descreve-se como a ciência brasileira é produzida nos cursos de graduação, partindo-se da premissa foucaultiana de que a produção do saber não é neutra, nem desinteressada, pois todo saber é político. A partir desse relato é justificado o tema da pesquisa, descrevendo seu objeto, seus objetivos e procedimentos, como se segue abaixo:
 Capitulo I: são apresentados o objetivo geral e os objetivos específicos como propor a criação de uma disciplina voltada ao HIV/SIDA
 No segundo capítulo aborda-se um resgate da revisão da literatura sobre o HIV/SIDA, sua história, tratamento, propagação, transmissão e prevenção.
 No terceiro capítulo, descreve-se os desafios do ensino superior na atualidade na formação do professor de Educação Física para capacitá-lo a trabalhar com alunos soropositivos.
 No quarto capítulo, apresenta-se a metodologia adotada durante o desenrolar do estudo.
 No quinto capítulo, são propostas as análises dos dados e sua respectiva interpretação.
 No sexto capítulo, inseri-se a discussão da tese.
 No sétimo capítulo, apresentam-se as conclusões do estudo.
 No nono capítulo após apontar os principais pontos deste estudo, tecem-se as considerações finais que, longe de colocar um ponto final nas discussões iniciadas nesta pesquisa, pretendem fornecer subsídios para críticas e aprimoramento deste trabalho e de outros que possam lançar-se no instigante desafio de legitimar o atendimento ao ser humano.






1. OBJETIVOS
1.1 Objetivo Geral

O objetivo geral deste estudo foi propor a criação de uma disciplina referente ao HIV/SIDA na grade curricular do curso de Educação Física na graduação, visando a capacitar o futuro profissional de Educação Física a trabalhar com o aluno soropositivo.

1.2 Objetivos Específicos:

• Proporcionar ao professor de Educação Física conhecimento científico sobre o HIV/SIDA;
• Oferecer condições para o professor atuar frente a ciência da motricidade humana para melhor proporcionar qualidade de vida ao aluno soropositivo.






3. REVISÃO DA LITERATURA
3.1. O HIV/AIDS: SUA HISTÓRIA, TRATAMENTO, PROPAGAÇÃO E PREVENÇÃO.

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) é uma enfermidade produzida por um vírus , o HIV, que altera as defesas e a capacidade do organismo de se defender das doenças ocasionadas por outros vírus, bactérias, parasitas e fungos (BRANCO, 1996).
A Sida tem tomado proporções assustadoras em nossa sociedade, com elevado número de casos, chegando a 36 milhões de pessoas acometidos em todos os continentes, de ambos os sexos e com idade predominante entre os 25 e 40 anos de idade(UNAIDS,2000).
O vírus do HIV entra no corpo através do sangue; deste modo, o sistema imunológico do indivíduo fica deteriorado é, então, que os agentes exteriores aproveitam-se para proliferar .
A pessoa infectada apresenta dificuldades para combater certas enfermidades.
Os sintomas da doença manifestam-se por meio de infecções como a pneumonia por Pneumocystis carinni, tumores como o Sarcoma de Kaposi (câncer nas células dos vasos sangüíneos e linfáticos), linfonodos e doenças cerebrais. Estes últimos causam danos irreversíveis, que vão desde a perda de memória ao estado de atordoamento, desde a falta de coordenação e paralisia parcial, até o estado de demência(TEMPORINI,1997).

Assim, é uma das doenças que entre as entidades mórbidas apresenta um dos maiores desafios em relação ao processo de cura, embora seja uma das que tenha apresentado grande explosão na obtenção de novos conhecimentos em tempo tão restrito (PEREIRA, 1993).
Inicialmente, foi considerada como doença sexualmente transmissível (DST) que contaminava somente os homossexuais, afirmativa que persistiu até o início dos anos 80, hoje com comprovação médica e científica atinge a todos indistintamente, não respeitando : idade, sexo, raça ou religião, mostrando que,
se medidas drásticas não forem adotadas, o planeta poderá ter um contingente de mais de cem milhões de contaminados nos próximos dez anos, conforme previsões da Organização Mundial da Saúde (OMS). (MERSON, 1992).


O HIV/AIDS e sua história

O vírus do HIV foi isolado em 1983 por Luc Montagnier, cientista do Instituto Pasteur-Paris e, posteriormente, Robert Gallo identificou e o classificou .
Em 1986, um comitê de taxionomia internacional decidiu que a denominação oficial seria vírus da imunodeficiência adquirida humana (HIV), pois os agentes identificados na França e nos Estados Unidos eram idênticos e pertenciam a uma nova espécie de retrovírus humano (COFFIN et al.,1986).
A AIDS originou-se na África, onde outros retrovírus de seres humanos e símios eram endêmicos. Atingiu os Estados Unidos, Europa, Austrália e Oceania via Haiti por intermédio de turistas imigrantes contaminados nos países de origem (FAUCI et al., 1985).

A epidemia criou graves problemas no setor de saúde pública mundial, pelo caráter inicial da transmissão por via sexual predominantemente em homossexuais, o que levou a grande preconceito e fobia na população.
A imprensa leiga a classificou como “Peste Gay”, criando, assim, um caráter estigmatizante na sociedade, contribuindo para isso também a falta de conhecimento dos meios de transmissão e disseminação do HIV (BRANCO, 1996).
O vírus HIV é um retrovírus envolto por diversos comandos externos de revestimento protéico capaz de mutações constantes, transforma seu RNA em DNA, graças a ação da enzima transcriptase reversa (CIMERMAN & LEWI, 1998).
O retrovírus pode se alojar em um cromossomo e permanecer dormente por várias gerações celulares. A variabilidade química do vírus tem dificultado as pesquisas em busca de uma vacina e medicamento eficazes, em razão de seu alto poder mutagênico (BRANCO, 1996).


A transmissão do vírus HIV

A transmissão pode acontecer em todos os tipos de relações sexuais: homossexuais, bissexuais, heterossexuais e em todas as suas variações; também pode ocorrer pela mulher infectada para o feto via placenta, aleitamento e no parto; por meio de reutilização de agulhas e seringas contaminadas por usuários de drogas injetáveis e nas transfusões de sangue por recepção e também pelo uso de hemoderivados; além de acidentes hospitalares como: punções acidentais, e instrumental sem a devida desinfecção.
Vale ressaltar ainda a problemática de tratamentos odontológicos, via instrumental, além de contatos físicos como: lesões com secreções e fluídos orgânicos de portadores do HIV (SOARES, 2001).



A ação do vírus no organismo


Conforme descreve BARRÉ et al. (1983), o linfócito CD4 é uma das principais células que protegem o organismo, impede que bactérias, fungos e a maioria dos vírus se multipliquem. Os linfócitos, no entanto, não possuem em suas células anticorpos específicos contra o vírus da SIDA. O vírus quando atinge o linfócito CD4 adere à sua superfície e a membrana protéica rompe-se e seu conteúdo penetra no linfócito.
O RNA funciona como modelo, sob a ação da transcriptase e sintetiza o DNA (ácido desorribonucléico). O DNA formado possa a comandar a síntese de novas moléculas de RNA e, por conseguinte, novos vírus , enquanto isso a célula se reproduz em duas, e o vírus multiplica-se milhares de vezes, até esgotar o material celular, causando a morte da célula (BARRÉ-SINOUSSI et al., 1983).
Assim, depois de produzidos os vírus abandonam a célula, introduzem-se em outras células (linfócitos) e espalham-se no organismo.
Com a destruição dos linfócitos, o sistema imunológico do doente acaba sendo destruído. Sem defesa, o organismo do indivíduo portador do vírus fica sujeito a adquirir infecções comuns, as chamadas infecções oportunistas que se desenvolvem graças à vulnerabilidade do sistema imunológico. Essas infecções acabam determinando a morte do paciente (FAUCI et al., 1985).
O sistema linfático é atacado por essas infecções que se alojam nos gânglios, provocando inchamento (ínguas) e também atingem o sistema nervoso central(SNC) infectando as neuróglias e causam encefalopatia. Reproduzem-se lentamente nas células cerebrais, destruindo-as e levando os portadores assintomáticos à demência (BARRÉ-SINOUSSI et al., 1983).



Sinais e Sintomas

A perda de peso superior a 10% em 30 dias, sem causa aparente constitui-se em um dos sinais evidentes da doença, como também febres intensas, variando de 38 a 38,5ºC, suores noturnos, gânglios linfáticos aumentados (ínguas), dispnéias, falta de apetite, diarréias constantes, dores musculares, perda de massa muscular, tosse persistente, dermatites, herpes, dentre outros .


Relação dos diagnósticos que devem ser considerados

Pneumonia por Pneumocytis carinii ; toxoplasmose, provocando pneumonia ou infecção do SNC; esofagite por candida; criptococose do SNC ou disseminada; aspergilose pulmonar; micobacterioses atípicas; tuberculose disseminada; infecções por citomegalovírus; infecções prolongadas ou disseminadas por herpes simples; sarcoma de Kaposi; linfoma limitado ao cérebro; linfoma de Burkitt; deficiência imunitária .


Prevenção da transmissão sexual do HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis.

Segundo o Ministério da Saúde (1995), apesar dos grandes avanços com relação ao tratamento, a prevenção ainda se apresenta como o principal fator no processo de reduzir os números de casos. Mas a mera constatação da necessidade de prevenção não é suficiente para resolver as dificuldades envolvidas neste processo e o grande desafio que este representa.
Algumas medidas básicas precisam ser consideradas, para que ocorra uma prevenção que realmente cumpra seu objetivo, igualmente não bastam unicamente uma metodologia correta, um grupo-alvo bem definido ou educadores bem treinados.
Desse modo, para que as iniciativas de prevenção surtam efeito é necessário que elementos como informação e educação, serviços sociais e de saúde e um ambiente social adequado estejam interligados. Pois, quando alguns deles estão ausentes, diminuem as chances de sucesso da prevenção.
Conforme publicação da Organização Mundial da Saúde(OMS,1992) a informação e a educação são necessários, mas não têm sido suficientes para evitar a disseminação do HIV e outras DST; que os grupos-alvo também participem não somente da elaboração desse trabalho, mas também de sua implantação, respeitando os contextos regionais e realidades de cada grupo.
Consideramos que além desses fatores apresentados é fundamental que os indivíduos e seus parceiros estejam motivados e envolvidos neste trabalho.
Alguns princípios básicos devem ser adotados na prevenção HIV/SIDA e outras DST. É importante salientar que eles não são domagmáticos e podem mudar a qualquer momento, segundo a necessidade e a própria dinâmica dos processos preventivos (Ministério da Saúde, 1995).
Assim, podemos destacar a: integração, a evitabilidade, a autonomia, o respeito a alteridade e conteúdo das mensagens.
Quanto à integração: é preciso destacar que nenhuma estratégia de prevenção será significativamente eficaz se for desenvolvida de forma isolada. Nesse sentido, é de extrema importância que suas estratégias sejam desenvolvidas com base em uma abordagem integrada dos fatores componentes informação/educação, serviços sociais e de saúde e em um ambiente social adequado, interligado e em constante interação. “A informação e seus mecanismos educativos de introdução, manutenção e reforço pressupõem a criação de uma demanda que deve ser suprida pelos serviços sociais e de saúde” (Ministério da Saúde, 1995, p. 8). Também percebemos que as mensagens preventivas pressupõem um ambiente social que favoreça a adoção de determinadas práticas e ampare as mudanças necessárias.
Outra medida de prevenção é a evitabilidade que deve partir do princípio básico de que a transmissão do HIV/SIDA e outras DST é evitável. Deve basear-se na idéia de que como o HIV é transmitido por práticas e comportamentos específicos, a transmissão também pode ser evitada por práticas e comportamentos específicos .
A autonomia refere-se às decisões quanto a mudanças de comportamento que deverão ser tomadas por indivíduos que se sintam capazes de tomar tais decisões. As políticas de prevenção devem assegurar condições para que estas venham a ser tomadas e mantidas. Para melhor eficácia essas políticas preventivas devem promover a autonomia dos grupos e indivíduos-alvo .
O respeito as políticas, conforme procedimentos adotados pelos órgãos de saúde do país (Ministério da Saúde, 1995), afirmam as políticas de prevenção que incorporam mensagens moralistas, tendem a obter pouca eficácia, como as que veiculam mensagens de conteúdo dogmático, julgando e condenando práticas ou indivíduos.
E “os princípios moralistas tendem a alimentar julgamento dos comportamentos, considerados “condenáveis”, imprimindo uma característica de punição aos atingidos pelo HIV, promovendo ainda uma dicotomia entre “vilões e vítimas” (Ministério da Saúde, 1995, p. 10).
Quanto ao conteúdo das mensagens educativas e informações a serem veiculadas: devem ser claras e exatas, o que acaba representando um grande desafio. É preciso cuidado para que não sejam contraditórias, por isso para seu bom entendimento necessitam de clareza e exatidão. Devem ser honestas e confiáveis para promover no público-alvo um alto nível de confiança com mensagens que tratem honestamente as questões abordadas. E não devem ser ofensivas, pois não podem possuir conteúdo que julguem ou responsabilizem determinados setores ou acusem as pessoas infectadas ou doentes.
Não devem ser alarmistas, não devem gerar medo, culpa ou desespero. Acima de tudo devem ser relevantes e realistas quanto às necessidades pessoais e às situações individuais, além de ser antidiscriminatórias, desprovidas de preconceitos sexuais esterotipantes e devem ser estimuladoras da confiança e da auto-estima (Ministério da Saúde, 1995).


3.2. HIV/SIDA: A EPIDEMIA NO BRASIL

A coordenação Nacional de DST/AIDS, pela necessidade de promover uma compreensão atualizada da realidade do HIV/SIDA, após 15 anos da instalação da doença em nosso país, convocou profissionais das mais distintas áreas do conhecimento para contribuir com uma descrição mais abrangente dos diversos aspectos envolvidos na epidemia.
Conforme dados do Ministério da Saúde(2000), há no Brasil 190.949 casos notificados até 3 de junho de 2000 (BRASIL, 2000), e o país encontra-se entre os primeiros países do mundo com maior número de casos registrados, quando são consideradas as incidências relativas (caso x população), localizamo-nos entre o 40º e o 50º pontos do “ranking” mundial.
A doença foi identificada, em 1982, pela primeira vez no Brasil, quando sete pacientes de prática homo/bissexual foram diagnosticados (RODRIGUES & CHEQUER, 1998). Um caso foi reconhecido, retrospectivamente, no Estado de São Paulo, como ocorrência de 1980. Considerando o período de incubação do HIV, a introdução do vírus no país ocorreu na década de 70; e sua difusão, seguida de disseminação entre as diversas macrorregiões, já na primeira metade de 80.
Apesar do registro da epidemia de HIV/SIDA em todas as unidades da federação, a doença não se distribuiu de forma homogênea; a grande maioria das ocorrências ainda se concentra na região Sudeste (89% das notificações no período de 80-85, e 69% nos casos informados ao Ministério da Saúde(1995) no período de 94-96) : nas regiões mais ao Centro/Norte, os casos de SIDA têm-se concentrado, sobretudo, nas capitais.
A disseminação do HIV/SIDA com base nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro não permite apontar para uma intensa interiorização da infecção pelo HIV/SIDA, até o momento. E muito menos para uma ruralização.
O processo da entrada do vírus no interior do país já se faz evidente: 2.509 municípios já apresentam um ou mais casos de HIV/SIDA registrados no sistema oficial, embora os municípios com cinco ou mais casos estejam restritos a apenas 852 (32,9% dos que notificaram pelo menos um caso de doença) (Ministério da Saúde, 1999).
Conforme dados provenientes da autoridades regentes da saúde em nosso território(Ministério da Saúde, 1997) a epidemia da infecção pelo HIV/SIDA no Brasil, nos últimos anos, vem mostrando importantes mudanças no seu perfil e, sobretudo, revelando padrões distintos nos diversos níveis de agregação geográfica.
Grande parte das notificações, até 1984, referem homo/bissexuais masculinos (74%) como subcategoria de exposição para o País como um todo. Progressivamente, a sua participação vem-se reduzindo, tendo atingido em 1996/97, apenas 24%. Esta mesma verificação pode ser feita para todas as regiões do país. O aumento dos casos entre heterossexuais, além de interiorizar a epidemia, faz-se acompanhar de uma inserção expressiva das mulheres no quadro de exposição, de 23 homens, 1 mulher (1984) para 3 homens, 1 mulher (Ministério da Saúde, 1997).
Em todo o mundo, a transmissão sangüínea do HIV vem apresentando importante declínio ao longo do período, em razão das ações de intervenção, por meio de seleção e testagem do sangue; processo adotado quase que mundialmente; e também pelos processos de inativação viral nos derivados de sangue utilizado. Na grande maioria dos países em desenvolvimento, até mesmo no Brasil, a transmissão em razão do uso de sangue ou componentes vem apresentando declínio. Assim, os casos que contraíram o HIV pela transfusão sangüínea reduziram-se de 27% das ocorrências de transmissão sangüínea, em 1984, para menos de 10% dos casos em 1994 (Ministério da Saúde, 1999).
A alteração de perfil observado deve-se à inclusão de um número cada vez maior de indivíduos que adquiriram o HIV através do compartilhamento de seringas e agulhas por usuários de drogas injetáveis.
Os primeiros registros de usuários de drogas injetáveis deram-se a partir de 1983, com o diagnóstico de pacientes do sexo masculino; em 1985, foram constatadas as primeiras ocorrências em mulheres. Em 1984, 7% dos casos de HIV/SIDA por transmissão sangüínea eram atribuídos ao uso de drogas injetáveis por meio do compartilhamento de seringas. Em 1994, este mesmo componente já representava 88% das ocorrências de transmissão sangüínea.
O aumento da ocorrência de casos do sexo feminino, em idade reprodutiva, vem acontecendo, o grupo de 25-39 anos tem sido o mais atingido; e a epidemia de HIV/SIDA nas mulheres deve-se à transmissão heterossexual. E uma das conseqüências diretas da infecção pelo HIV no sexo feminino é a transmissão do vírus ao concepto; a transmissão perinatal pode-se dar em três períodos distintos: durante a gravidez, intra-útero; durante o parto; ou após o parto, pelo aleitamento materno.
A escolaridade tem sido usada como uma variável indireta, na tentativa de expressar o perfil socioeconômico dos casos notificados, embora ainda seja elevado o porcentual de escolaridade ignorada. A totalidade dos casos notificados com escolaridade conhecida, até 1982, era de nível superior, ou de segundo grau. E, em 1994, constata-se que 69% dos casos eram analfabetos ou tinham cursado até o primeiro grau; e apenas 31% tinham cursado até o segundo grau ou eram de nível superior.
A luta contra as doenças sexualmente transmissíveis (DST), em nosso país, remonta ao início da década de 80, com a criação de um programa de controle de doenças junto à Divisão de Dermatologia Sanitária do Ministério da Saúde.
Em 1985, por ocasião do impacto epidemiológico e social que a epidemia provocou, seu enfrentamento passou a ter abrangência nacional, antes limitava-se à atuação das secretarias de saúde das unidades federadas mais afetadas, como São Paulo. A partir daí, as ações de prevenção e controle foram atribuídas à Divisão de Dermatologia Sanitária da Secretaria Nacional de Programas Especiais de Saúde (Ministério da Saúde, 1995).
O Programa Nacional de DST/AIDS com tripla missão institucional de coordenação, elaboração de normas técnicas e formulação de políticas públicas na sua área de abrangência foi criado em 1988.
Em 1994, foi celebrado um acordo de empréstimo com o Banco Mundial pelo governo brasileiro, permitindo um avanço considerável na implementação de ações de prevenção e tratamento e de uma rede de alternativas assistenciais; e ampliação das ações de prevenção e tratamento, e de uma rede de alternativas assistenciais além da participação da sociedade civil, por meio de organizações não-governamentais e comunitárias, vistas como parcerias efetivas e imprescindíveis no combate à epidemia e na assistência a portadores de HIV e doentes de SIDA.
Hoje, a epidemia encontra-se em processo de estabilização e declínio, em alguns segmentos populacionais. O Ministério da Saúde pode-se orgulhar do trabalho realizado. O controle de DST e da SIDA, no âmbito da Política Nacional de Saúde, é um objetivo buscado por todas as secretarias de saúde das unidades federadas e dos municípios mais atingidos (Ministério da Saúde, 1997).
Segundo MERSON (1992) o fator mais inquietante é que a SIDA concentra-se entre adolescentes que estão apenas iniciando sua vida sexual, e a faixa da doença está aumentando consideravelmente em razão da vulnerabilidade deles diante dos riscos de contaminação seja por sexo ou drogas.
E o mais grave é que a descoberta da vacina para a AIDS ainda está muito longe de ser realidade.
Também as novas tendências da doença indicam seu crescimento nos países asiáticos como o maior desafio para o seu controle, considerando que mais da metade da população mundial vive nessa região (BRANCO, 1996).
Alguns países latino-americanos, particularmente, o Brasil em que se combinam múltiplos fatores de risco, certamente, verão os números da epidemia aumentarem, a menos que se tomem mediadas efetivas para seu controle.
Sabemos que o maior número da epidemia está no grupo etário de 15 – 19 anos no Brasil e duas parecem ser as principais rotas de transmissão do HIV entre os jovens: o uso de drogas injetáveis e as relações sexuais sem proteção; o uso de drogas injetáveis supera a transmissão sexual.
E o governo brasileiro espera que intervenções preventivas nesse grupo da população sejam mais eficientes do ponto de vista de mudança comportamental e de incorporação de repertórios sexuais seguros, uma vez que os hábitos sexuais definem-se durante esse período da vida (BRANCO, 1996).


Componentes do programa de SIDA

Um plano efetivo de ação inicia-se pela formação de uma comissão estadual incluindo representantes da secretaria de saúde, INAMPS, hospitais universitários, Pró-Sangue e outros serviços relacionados. A função dessa comissão é coordenar as atividades de controle do HIV/SIDA, coletar dados, selecionar e avaliar o programa local, em consonância com as diretrizes do Programa Nacional de Controle de Doenças Sexualmente Transmissíveis e AIDS do Ministério da Saúde (Ministério da Saúde, 1995).
Para iniciar o programa, necessário se faz a revisão e análise de dados epidemiológicos, clínicos e laboratoriais já existentes. Quanto ao início da vigilância epidemiológica será necessário : dispor de no mínimo uma pessoa treinada para investigar e acompanhar os casos, preferencialmente, um médico; haja vista que a confirmação do caso é essencialmente clínica.
Também será necessário identificar os sistemas de referência e contra-referência vigentes; distribuir informações sobre a infecção do vírus do HIV aos profissionais de saúde. Incluir médicos por meio de Conselhos Regionais de Medicina e das Associações Médicas sobre a importância da notificação obrigatória, assim, os casos positivos devem ser confirmados ao Ministério da Saúde até o 5º dia de cada mês.
O apoio laboratorial será necessário para o desenvolvimento das atividades epidemiológicas, clínicas e preventivas. Para a implantação de um sistema eficiente de controle, é necessário indicar o laboratório que sirva de referência; deve-se treinar o pessoal nas atividades de controle de síndrome e viabilizar o fluxo das amostras para exames laboratoriais.
O programa estadual deverá ter profissionais aptos a reconhecer, diagnosticar, tratar, acompanhar e manejar os pacientes e a doença.
Faz-se necessário que cada unidade federada tenha: hospital de referência para internação de pacientes; que o ambulatório seja destinado para acompanhante de suspeitos e pacientes confirmados, que a equipe multiprofissional seja treinada (médicos, dentistas, assistentes sociais, psicólogos, profissionais de Educação Física, enfermeiros e psicólogos); também há necessidade de que o pessoal auxiliar receba um treinamento adequado para um relacionamento adequado.
O principal objetivo de um programa de saúde é prevenir a transmissão do vírus HIV às pessoas saudáveis da comunidade. As atividades educativas devem ser dirigidas ao público em geral, aos grupos de risco, aos profissionais de saúde e aos adolescentes.
Para um bom êxito do programa, deve-se incrementar o desenvolvimento tecnológico nacional, coordenar e executar as pesquisas clínicas, epidemiológicas, operacionais e comportamentais.
As medidas de controle e prevenção da SIDA consistem na execução de uma conjunto de ações sobre os casos confirmados, casos suspeitos, comunicantes grupos de risco e profissionais da área de saúde.
Os casos confirmados devem ter notificação obrigatória; os casos suspeitos devem ser submetidos à investigação epidemiológica e clínica e educação sanitária.
A investigação epidemiológica consiste na identificação de grupos de risco, meios de transmissão e identificação dos comunicantes.
A investigação clínica consiste na confirmação do diagnóstico previamente estabelecido.
A educação sanitária consiste na informação e orientação sobre os meios de diminuir a transmissibilidade da doença; deverá cobrir, pelo menos, os seguintes tópicos: a SIDA como doença transmitida através da prática sexual; a transmissão através de instrumentos injetáveis contaminados; a SIDA transfusional; a transmissão materno-infantil; a possibilidade da transmissão heterossexual; a transmissão através de doação de órgãos e esperma; medidas preventivas individuais.
Para os profissionais da área de saúde diretamente envolvidos com a assistência dos casos suspeitos ou confirmados, recomenda-se a observância das normas clássicas de precaução no manejo do sangue, fluido, secreções e excreções tais como as estabelecidas no manual "SIDA/AIDS da SS-SP (2000): recomendações para hospitais, ambulatórios médicos, odontológicos e laboratórios".
Critérios para assistência de pacientes, indicação e precauções e isolamento: os pacientes com HIV deverão ser assistidos, de preferência, em uma rede que integre serviços ambulatoriais e hospitalares; as internações deverão ser realizadas em hospitais de referência, de nível secundário ou terciário, disponíveis nas várias regiões, que, obrigatoriamente, contenham os seguintes serviços: unidade de tratamento intensivo, central de esterilização, farmácia de manipulação, laboratório de microbiologia, quartos de isolamento, comissão de controle de infecção hospitalar e serviços próprios de limpeza e lavanderia. Os pacientes internados deverão ficar sob regime de isolamento em quarto privativo, mantido com porta fechada e adotadas as precauções e isolamento adequados ao quadro clínico, segundo as recomendações constantes no manual já citado. Dois ou mais pacientes de HIV/AIDS não podem compartilhar o mesmo quarto de isolamento, pelo risco de transmissão de infecção oportunista; toda e qualquer internação de caso confirmado de AIDS deve ser imediatamente notificada à Comissão de Controle de Infecção Hospitalar; para os procedimentos de limpeza, desinfecção e esterilização relacionados ao HIV, devem ser adotadas as recomendações constantes no manual AIDS (SS-SP, 2000).
No Brasil, o controle da SIDA será realizado pela execução das seguintes medidas operacionais: coordenação e execução, acompanhamento e, combate e maneiras de prevenção ao vírus HIV.
O Programa Nacional de Controle de Doenças Sexualmente Transmissíveis e AIDS do Ministério da Saúde (1997), da Secretaria Nacional de Ações Básicas de Saúde (SNABS), coordenará as ações de controle da SIDA, com as seguintes atribuições: consolidação do mecanismo de obtenção, análise e difusão das informações técnicas, particularmente, as epidemiológicas; fomento ao desenvolvimento de ciência e tecnologia e de recursos humanos para a área; produção de materiais educativos e normativos; apoio de recursos humanos, técnicos e logísticos ao nível executor; definição com as secretarias de estado da saúde, das instituições de saúde que darão suporte ao programa; definição das instituições públicas que atuarão como centros de referência para o programa.
De igual, o nível executor será assumido pelas secretarias de estado da saúde, que designarão o órgão ou instituição responsável pela coordenação do programa.
A notificação dos casos é obrigatória e deverá ser realizada diretamente das secretarias estaduais de saúde para o órgão coordenador nacional (Ministério da Saúde (1997). Cabe à coordenação estadual do programa das unidades federadas coletar os dados clínicos e epidemiológicos em todas as suas fontes de jurisdição. As fichas epidemiológicas de casos confirmados deverão ser remetidas PNC-DST/AIDS até o quinto dia útil do mês seguinte ao que corresponder a informação.
O Programa Nacional de Controle de Doenças Sexualmente Transmissíveis e AIDS do Ministério da Saúde remeterá, com periodicidade mensal, às instituições oficiais de saúde do país e, seletivamente, às instituições privadas e órgãos internacionais de saúde, um relatório acerca da evolução e da situação epidemiológica da doença no Brasil.
Todo óbito em cujo atestado médico (parte IV da declaração de óbito) constar um dos diagnósticos relacionados deverá ser informado - pelo setor da secretaria que manipula inicialmente os dados de mortalidade - ao setor que coordena as ações referentes à SIDA, com vistas às seguintes medidas: verificar se o caso já era conhecido, investigando-o se necessário e a confirmação ou alteração do(s) diagnóstico definitivo Da mesma forma, o setor que coordena as ações referentes à SIDA deverá informar ao setor de mortalidade todos os óbitos causados por esta síndrome para que seja identificada a respectiva declaração de óbito com vistas às seguintes medidas: verificar o preenchimento da declaração de óbito, completando-o, se for o caso; verificar o(s) diagnóstico(s), corrigindo-o(s) se for o caso.
A pessoa infectada apresenta dificuldades para combater certas enfermidades.
A luta contra a SIDA requer um compromisso mantido a longo prazo; a doença aparece rapidamente, mas não se afasta com a mesma rapidez.
A prevenção e a luta contra o HIV devem atuar como reforço aos sistemas nacionais de saúde; e requerem, por sua vez, a criação de programas nacionais específicos e um sério trabalho internacional de direção, coordenação e cooperação (OMS,1992).
As pessoas que por diversas razões necessitem tomar medicamento injetável devem usar seringas descartáveis; as pessoas infectadas não devem doar sangue ou órgãos. As transfusões de sangue devem ser feitas em lugares que obedecem ao controle e à prevenção conforme as leis vigentes. A população tem direito de certificar-se de que isso é feito corretamente.
Diante de uma suspeita de infecção, as mulheres devem consultar o médico antes de enfrentar uma gravidez.
O plano mundial de SIDA possui três objetivos: prevenir a transmissão do vírus; assistir as pessoas afetadas pelo vírus; unificar as atividades nacionais e internacionais contra a SIDA.
Mais importante é estar informado para ter uma conduta responsável e preventiva.
Os programas específicos de prevenção terão as seguintes finalidades: prevenir a transmissão sexual por meio de informações e educação; prevenir a transmissão pelo sangue, velando pela inocuidade deste, e dos produtos sangüíneos, combatendo o uso intravenoso das drogas, educando e tratando os usuários e garantindo a esterilidade do material, de injeções e demais instrumentos pontiagudos; prevenir a propagação da mãe para o filho; por último, um programa nacional completo deve dar assistência às pessoas já infectadas pelo vírus e aos doentes de SIDA, ajudando-os para que assumam sua responsabilidade de proteger os demais (Anônimo,1990)
Conforme a Política Nacional de DST/AIDS(BRASIL, 1997), as diretrizes que devem ser consideradas são:
As mudanças de comportamento pelo acesso à informação qualificada sobre os meios de transmissão e prevenção, para percepção de risco; estabelecimento de modelos de intervenção que permitam considerar os diversos grupos populacionais, quanto à tomada de consciência em relação a sua situação de vulnerabilidade e risco, considerando-se os aspectos culturais, os contextos sociais e os valores relativos aos grupos envolvidos; desenvolvimento de trabalhos de intervenção baseados em “peer education e outreach work” (trabalho em pares e agentes comunitários de saúde), relevando as mudanças de práticas, atitudes, valores e crenças em relação às DST/SIDA; fortalecimento de redes sociais, com objetivo de atingir as ações de promoção e prevenção à saúde que dêem suporte social aos grupos envolvidos, criando alternativas para o enfrentamento da epidemia; desenvolvimento de parcerias com organizações não-governamentais, associações comunitárias e de classe, ampliando-se as ações de prevenção e a resposta ampliada à infecção pelo HIV; a criação de mecanismos institucionais para ampliar a participação do setor empresarial e de outros agentes sociais na luta contra a SIDA.
Quanto às estratégias
As campanhas de massa, por intermédio da mídia impressa e eletrônica, e intervenções educativas trabalhando atitudes e valores relacionados à auto-estima – e à conscientização sobre o risco – da população. Esses trabalhos de intervenção consideram aspectos culturais, situações particulares do cotidiano da população e características regionais, além de se articularem internamente com as atividades-meio do componente de promoção à saúde; apoio e projetos de intervenção comportamental e elaboração de materiais educativos e informativos, buscando atingir os diferentes grupos sociais, estimulando-os a adotar práticas mais seguras que reduzam a transmissão do HIV/SIDA; apoio às iniciativas comunitárias na criação e manutenção de ambientes favoráveis à redução da vulnerabilidade e do risco de infecção pelo HIV; desenvolvimento de parcerias com o setor empresarial, estimulando ações integradas com os órgãos governamentais conveniados, nas três esferas de governo: federal, estadual e municipal; estímulo à demanda e promoção ao acesso a dispositivos de prevenção, como os preservativos e seringas descartáveis; capacitação de recursos humanos para formação de agentes multiplicadores de informações sobre as DST e o HIV/SIDA.
Quanto ao Centro de Testagem e Aconselhamento(CTA):
Os serviços de testagem e aconselhamento são de fundamental importância para ações de promoção à saúde e constituem espaços que garantem o acesso da população à realização do diagnóstico precoce, ao mesmo tempo em que possibilitam o contato com grupos que se encontram em situação de risco e vulnerabilidade. O teste é acompanhado de atividades de educação, aconselhamento e de intervenção. Os CTA têm como objetivos: promover o acesso ao diagnóstico da infecção pelo HIV, de forma confidencial e gratuita, acompanhado de ações de aconselhamento; capacitar e atualizar. De forma continuada, os profissionais que atuam na rede de CTA implantada – e em implantação – no país; promover uma maior integração dos CTA com os outros programas da rede pública de saúde.
A implantação desse tipo de serviço pressupõe as seguintes linhas estratégicas para sua viabilização: apoio a projetos de implantação e implementação de CTA nas regiões de maior incidência e/ou maior vulnerabilidade, priorizando-se municípios de pequeno e médio porte abaixo de 500 mil habitantes e incentivando-se consórcios entre municípios; veiculação de campanhas regionais de informação e divulgação dos serviços de testagem e aconselhamento; capacitação de equipe técnica para supervisão, avaliação da qualidade do serviço prestado à população e capacitação dos profissionais que atuam com testagem e aconselhamento; criação de comitê-assessor, nos níveis estadual/regional/federal, para subsidiar os programas no monitoramento e normalização dos serviços de testagem e das ações de aconselhamento; apoio técnico à realização de estudos e pesquisas desenvolvidas por equipes dos CTA e apoio à participação de equipes em fóruns técnico-científicos, de âmbito nacional ou internacional.
Existe um serviço telefônico gratuito, de atendimento disponível ao público em geral, por meio de linha 0800, desde 1996 no âmbito do Ministério da Saúde, com funcionamento de 24 horas por dia, com o objetivo tornar disponíveis informações gerais sobre a transmissão e a prevenção das DST/HIV e drogas, além das referências de serviços de assistência nesse campo.
Após 1997, este serviço passou a abranger outros agravos à saúde, informando sobre os programas de atenção básica, de agentes comunitários de saúde, e de saúde da família, sobre farmácia básica, planos e seguros de saúde, transplantes e doação de órgãos, conselhos de saúde, ações do Ministério da Saúde e as formas de encaminhamento de denúncias de violências contra crianças e adolescentes.
O preservativo constitui o principal insumo de prevenção para a redução das taxas de infecção pelo HIV. Estudos realizados com diferentes segmentos populacionais têm demonstrado a necessidade de se aumentarem a demanda e a adesão da população, consideradas a importância do controle da transmissão sexual do HIV e a necessidade de fomentar o uso do preservativo nas relações sexuais com penetração, sobretudo nas relações eventuais. Nesse sentido, a estratégia adotada pela CN-DST/AIDS para promoção ao uso do preservativo prevê: oferta gratuita, distribuição e gerenciamento logístico do preservativo masculino; oferta gratuita, disponibilidade e gerenciamento logístico do preservativo feminino para segmentos específicos da população feminina; marketing social e campanhas de promoção ao uso do preservativo; desenvolvimento de redes de distribuição apoiadas em base comunitária; realização de testes, controle de qualidade e avaliação do preservativo.
Em agosto de 1998, surgiu o Projeto Viva Vida: educação e treinamento em SIDA em sistemas municipais de ensino público. Durante os anos compreendidos entre agosto de 1993 a julho de 1995, a organização "Save the Children" forneceu recursos financeiros para execução das atividades previstas na proposta, a fim de garantir o suporte técnico para a equipe de coordenação do projeto, e auxiliar a entidade a sistematizar a proposta, procurando acompanhar a elaboração de relatórios do projeto e atuando como intermediária entre "Save the Children" e o parceiro brasileiro.
Foram realizados seminários de revisão geral, que além de permitir a troca de experiências entre os municípios, cumpriram o papel de discutir alcances, dificuldades e necessidades de redirecionamento e correção das ações (BRANCO, 1996).

Quanto à população-alvo:
O projeto foi desenvolvido em quatro municípios brasileiros: Florianópolis (região sul), Friburgo e Itajaí (região sudeste) e Palmas (região norte), foram estruturados e treinadas as equipes constituídas em média por três pessoas para assumirem a coordenação do projeto em cada um dos municípios. Estas equipes conseguiram formar 295 multiplicadores de informações, envolvendo um total de 114 escolas com impacto direto em um público de aproximadamente 22 mil alunos.
Esses impactos ocorreram em cadeia de multiplicação com efeitos mais visíveis no público mais diretamente acompanhado pelas ações do projeto: equipes de coordenadoras e professores treinados. Quanto ao público adolescente, os efeitos foram sentidos quanto à aquisição de questionários de sondagem, numa amostra envolvendo 602 estudantes dos quatro municípios.
O projeto dentre vários resultados conseguiu promover a sensibilização para a dimensão da epidemia, incentivou a prática educativa nas escolas atingidas, criou condições para inserir a temática do HIV/SIDA nas disciplinas e atividades escolares, contribuiu para integração entre escolas e comunidades: com um acentuado envolvimento das mulheres, sobretudo, porque as equipes coordenadoras eram formadas de mulheres, que têm presença significativa da população entre profissionais do ensino.
Adolescentes, aqueles que vivem no centro da epidemia, constituem grupos crescentes expostos à infecção. De acordo com experiências de outros países, comportamentos de risco para a transmissão do HIV são mais comuns entre jovens vivendo em situações sociais de desvantagem.
O Projeto Viva a Vida surgiu do caso Sheila, uma menina do Estado de São Paulo, impedida de freqüentar uma escola particular por ser portadora do vírus HIV. Em abril de 1992, os pais de Sheila foram à Justiça para garantir seu direito de estudar. O sindicato das Escolas Particulares de São Paulo e o diretor da Faculdade de Medicina da USP apoiaram a decisão da escola.
A Secretaria Municipal de Educação de São Paulo criou um projeto-piloto que, com as adaptações locais, poderia ser implantado em outras cidades.
A intenção da ABIA (Associação Brasileira Interdisciplinar a Aids) era verificar a viabilidade de adaptar a experiência paulista em diferentes contextos.
O projeto Viva a Vida conseguiu evidenciar a conscientização de um grupo de profissionais sobre a gravidade da epidemia; o grande interesse e motivação dos alunos e o potencial da escola para sensibilizar a população, e sua expansão e continuidade esteve relacionada à melhoria das condições do trabalho dos profissionais de ensino. E a presença de, no mínimo, dois multiplicadores por escola facilitou e potencializou o desenvolvimento das atividades.






4. OS DESAFIOS DO ENSINO SUPERIOR NA ATUALIDADE
NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA
PARA CAPACITÁ-LO A TRABALHAR COM ALUNOS
SOROPOSITIVOS.
Estamos diante de uma sociedade em transformação. As mudanças que atingem a sociedade neste fim de século passam por marcantes alterações no processo tecnológico, permitindo novos avanços na eletrônica, na informática e nas telecomunicações. Estas mudanças geram a possibilidade de trocar e armazenar informações em escolas globais, resultando numa corrida para melhor adequação à realidade, isto é, mais conhecimento e, conseqüentemente, necessidade de uma sociedade mais preparada para utilizá-lo, reforçando a urbanização e a polarização de classes.
Não podemos ignorar o progresso tecnológico, a globalização e a urbanização, resultados de um êxodo rural contínuo do acentuado privilégio de recursos econômicos a uma minoria da população e do novo papel do estado que produz uma sociedade marcada por uma maior complexidade, diversidade e desigualdade, com um ritmo de transformação extremamente rápido, exigindo respostas mais flexíveis e mecanismo participativos que envolvam todos os membros da sociedade.
Às vésperas do próximo milênio, a sociedade brasileira vive, em diversos níveis, o desenvolvimento tecnológico das áreas de informática e de telecomunicações, que, por sua vez, vêm causando verdadeira revolução na produção e na comunicação do conhecimento, na criação e na exploração de novos espaços de conhecimento. Estamos vivendo a “sociedade do conhecimento”, no dizer de Peter Drucker (MASSETTO, 1998, p.16).

O processo de globalização é resultado desses avanços e gera a necessidade de buscar respostas à questão: como trabalhar o conhecimento na era do espaço global? Como este assunto vem sendo tratado no ensino superior? O papel desempenhado pelo professor é marcado pela concepção que se tem do ensino superior?
Não cabe mais a passividade do aluno em um sistema de ensino que lhe negue a auto-expressão e o diálogo crítico com professores e outros alunos, em que “o aluno não é estimulado ao uso dos processos cognitivos mais complicados na análise e síntese (...) nem a descoberta de sua criatividade ou de suas qualidades pessoais (MASSETO, 1998, p.25).
A resposta para esse impasse, conforme nos aponta Doxsey em publicação de MASSETTO (1998) é reconsiderar nossa forma de trabalho neste último século que será o século da sociedade do conhecimento. Para isso é preciso democratizar o acesso à informação como condição necessária ao desenvolvimento de um Estado democrático; reposicionar a educação diante dos novos padrões de produtividade, de competitividade e de cooperação decorrente dos avanços científicos e tecnológicos e a compreensão de que o conhecimento é a matéria-prima das economias modernas; das possibilidades da educação continuada; da combinação dos diversos processos de desenvolvimento físico e psíquico da humanidade e da nova ética desse desenvolvimento; formando os indivíduos para uma nova cidadania e preparados para viver na era das relações.
O desafio do ensino superior na atualidade é o de permitir o desenvolvimento humano, dentro das potencialidades das inovações tecnológicas e da criação de uma nova psicologia cognitiva, em que a ênfase deverá estar na aprendizagem, ou melhor, na dinâmica ensino-aprendizagem, que permita uma apropriação ativa de informações pelo indivíduo e não na transmissão de informação e nos processos de memorização.

... o grande desafio do professor é garantir o movimento, o fluxo de energia, a riqueza do processo. Isso significa a manutenção do diálogo permanente, de acordo com o que acontece em cada momento, propondo situações-problema, desafios, reflexões, estabelecendo conexões entre conhecimento adquirido e o pretendido” (Moraes, 1998, p.10).

Será necessária uma educação que desafie a pedagogia tradicional quanto ao seu enfoque centralizador, na figura do professor e na exposição oral das pretensas “verdades”, pois, diante dessa realidade, muda o perfil do profissional que vai atuar nessa sociedade, e, conseqüentemente, muda também sua formação. Os profissionais do próximo milênio precisarão ter adaptabilidade ao novo, criatividade, autonomia, comunicação, iniciativa, cooperação, capacidade de buscar novas informações, saber trabalhar com elas, produzir conhecimento, saber trabalhar em equipe, com profissionais da sua área e de outras áreas (MASSETTO, 1998).
Para a formação desse novo profissional, preparado para atuar nessa sociedade de conhecimento é preciso mudar as linhas de ação na graduação e, sobretudo, a atuação do docente do ensino superior.


4.1- A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA VOLTADA ÀS PESSOAS COM CUIDADOS ESPECIAIS

A Educação Física, ano após ano, vem assumindo cada vez mais importância face às exigências de uma sociedade em expansão. Percebe-se sua relevância no momento atual quando ganham espaços a defesa dos direitos humanos e o direto à cidadania.
Pelo exposto na portaria ministerial, observamos que o aluno com cuidados especiais possui os mesmos direitos dos considerados normais. Nesse caso, encaixamos o aluno soropositivo que não pode ser excluído dessas reivindicações, mas para isso é necessário que se abram caminhos para sua integração social, pois deverá ser incluído no grupo de pessoas com cuidados especiais.
Acompanhar e contribuir para que essas mudanças ocorram na interação do soropositivo na sociedade é tarefa de instituições e de profissionais. Torna-se necessário que as pessoas portadoras de cuidados especiais, no caso, o soropositivo tenha acesso à educação, saúde, ação e lazer para sua integração na sociedade. Assim, as necessidades psicossociais podem ser identificadas como uma prioridade que exige uma resposta de saúde. O professor deve procurar oferecer apoio psicológico aos alunos soropositivos, para mantê-los na sociedade e reforçar sua integração nas estruturas sociais (LIPP, 1996).
Para WOLCOTT (1986), o trabalho com portadores de HIV envolve identificar e trabalhar os estress psicossociais experimentados por eles/ demonstrar a aula e atender as necessidades assistenciais no decorrer da enfermidade, fornecer informações seguras sobre a doença, à medida que o aluno solicite.
No caso do aluno portador do HIV, o professor de Educação Física deve enfatizar “a qualidade de vida do mesmo e transformar a doença em um desafio para o crescimento e desenvolvimento contínuos na busca de um melhor enfrentamento dos agentes estress que acompanham esse indivíduo”. (ANTONI et al. 1990 p.49).
Pela legislação vigente no país, ninguém pode ser excluído da escola. A SIDA/HIV “atinge todas as castas sociais, religiões e crenças. Devido a isso, os dirigentes esportivos e atletas começam a ter cuidados mais exacerbados” (CIMERMAN & CIMERMAN, 1998).
Assim, podemos citar o caso do astro do basquete Magic Johnson a respeito de sua condição de soropositivo. O comitê de medicina esportiva da Academia Americana de Pediatria (1991) normatiza as atividades esportivas em relação à infeccção pelo HIV e faz recomendações para a prevenção de acidentes com sangue ou secreções na prática esportiva ” (CIMERMAN & CIMERMAN, 1998).
Evidências demonstram que o exercício físico tem influência sobre o mecanismo do sistema imunológico e neuroendócrino, resultando em potencial benéfico, quando se trata da imunodeficiência em geral (CALABRESE& LAPERRIERE, 1993).
Para tal, o professor deve estar preparado para reconhecer qual didática deve ser aplicada com seu aluno soropositivo a fim de proporcionar-lhe bem-estar e melhora de sua imagem corporal, por meio de promoção da boa qualidade de vida que deve ser vista como um empreendimento de caráter sociocultural (NERI, 1993).
O planejamento eficaz na Educação Física não deve desprezar um em relação ao outro, pois cada técnica tem seu valor, se utilizada na pessoa certa e no momento adequado a atividade física beneficia o sistema orgânico, visando as melhorias específicas e localizadas, mas, sempre deve respeitar os critérios de individualidade que são próprios de cada pessoa (CIMERMAN & CIMERMAN, 1998).
Na prática do esporte percebemos que quanto mais em forma estivermos, maior disposição teremos nos planos físico e psíquico.
O reforço pode ser traduzido por um elogio, comentário positivo, atenção, dedicação por parte do professor, mas é preciso que seja aplicado no momento adequado.
É importante que o professor acione todos os estímulos necessários correspondentes à idade do aluno para que as etapas não vencidas, não provoquem novos problemas.
O exercício para o soropositivo tem importância em nível psicológico, faz com que o estresse e a ansiedade habituais pela própria doença diminuam, promovendo auto-estima, bem estar e melhora da imagem corporal e influenciado na qualidade de vida (CALABRESE & LAPERRIERE, 1993).
Espera-se que os dirigentes esportivos sejam grandes estimuladores deste tipo de atleta e que promovam programas educativos especializados consistindo na utilização de métodos, técnicas, recursos e procedimentos didáticos desenvolvidos nas diferentes modalidades de atendimento pessoal qualificado.
O soropositivo depara-se com mudanças repentinas no corpo que se projeta em sua imagem corporal (FECCHIO et al., 1998).
Neste caso, torna-se importante a atuação desse aluno em atividades físicas como forma de melhorar a auto-imagem prejudicada trazendo benefícios à auto-estima e estado emocional em geral, desse modo, proporcionando-lhe uma melhor qualidade de vida.
O perfil do professor para trabalhar com o soropositivo é de grande responsabilidade na construção de um ambiente favorável ao desenvolvimento das capacidades cognitivas de seus alunos, talvez maior ainda para este tipo de aluno.
O professor que tenha habilidade, imaginação e sensibilidade para organizar as atividades e manipular as diversas variáveis do processo de aprendizagem possivelmente, obterá melhores resultados com seus alunos.
Segundo AUSUBEL (citado por OLIVEIRA, 1975), as características do professor que influenciam na aprendizagem são: seu conhecimento, organização da matéria com a explicação clara, lúcida e incisiva, diálogo, ser consciente e estar comprometido com a aprendizagem.
As habilidades de comunicação e de estímulo para dirigir a aprendizagem também são importantes. Para o autor citado, quanto à personalidade o professor deve ser subjetivamente orientador, compreensivo e amigo;
Para AUSUBEL (In Oliveira), (1975) os alunos com tendências afiliativas tendem a imitar e adotar mais comumente as atitudes e valores do professor.
O professor precisa apresentar a matéria de modo desafiante, significativo e estimulador para produzir efeitos no aproveitamento do aluno.
Conforme BRUNER (In Oliveira), (1975), o aluno deve descobrir por si mesmo o que é relevante para se desenvolver um problema, até mesmo que informações buscar ou de que habilidades se munir. E o professor, deve captar a atenção e o interesse do aluno e conduzí-lo a atividades que resultarão em realizações reforçadoras.
Para haver aprendizagem, há necessidade de dois tipos de condições: os eventos internos do aluno (atenção, motivação, grau de desenvolvimento intelectual, etc.) e as condições de eventos externos (a instrução que consiste no arranjo da situação estimuladora para envolver e guiar o estudante durante a aprendizagem (GAGNÉ, In Oliveira, 1975)).
Assim, o trabalho do professor frente ao aluno soropositivo além de importante é desafiador, pois é preciso alimentar a autoconfiança desse indivíduo fragilizado pela doença e manter a turma como um todo, capacitada, informada sobre seus avanços e recuos e, sobretudo, solidária.
A preocupação em motivar esses alunos para a aprendizagem deve ser um ponto em comum entre os professores. É um processo em que o despertar do interesse para aprender reverte-se de forte conotação afetiva, expressa em clima de cumplicidade. Para manter o interesse dos alunos, o professor deve lançar perguntas às quais eles respondam ora baseados na experiência pessoal, ora em conhecimentos anteriores, ora no pensamento lógico. Isto irá contribuir para despertar seu interesse.
A aprendizagem deve criar um clima de constante desafio, numa relação normal, sem bloqueios e a interação professor será bastante saudável.
O professor deve levar o aluno à aprendizagem, no sentido de conduzir passo a passo , utilizando a zona do desenvolvimento proximal. O professor sabe que pergunta deve ser formulada para fazer o aluno encontrar a resposta certa. Não se trata de pistas, mas de levá-lo a reorganizar sua estrutura cognitiva no sentido de reelaborá-la em níveis mais consistentes.
Quanto maior a diversidade dos grupos que a pessoa participar, mais numerosos serão seus parâmetros de relações sociais, o que tende a enriquecer sua personalidade.
Torna-se importante acrescentar que o indivíduo portador da SIDA seja inserido cada vez mais como um ser capaz de se reintegrar à sociedade.
O professor para poder atender a esse tipo de aluno, deverá durante o curso de graduação receber subsídios para que possa orientar o desenvolvimento psicossocial e sexual de seus alunos e oferecer condições de transformação à pessoa soropositiva para que dentro de suas limitações possa analisar os aspectos adequados à sua doença dentro de seus limites individuais, buscando desse modo melhor qualidade de vida.



5. METODOLOGIA

O presente estudo caracteriza-se como pesquisa qualitativa, com informações detalhadas para se conhecer a situação estudada, além de ser descritiva e bibliográfica.
Fizemos opção por esta abordagem, visto que esse tipo de pesquisa tem o propósito de observar, descrever e explorar os aspectos característicos de uma determinada população (GIL, 1991).
Referindo-se à pesquisa qualitativa, TRIVIÑOS (1987) compartilha com outros autores a opinião de ser a prática desenvolvida pelos antropólogos as raízes desta metodologia, que é adotada também por sociólogos ao estudar a comunidade e, posteriormente, aplicada no campo da educação. O autor ainda delimita em seu trabalho a dificuldade em se definir a pesquisa qualitativa, visualizando dois obstáculos: o primeiro diz respeito a abrangência do conceito, sua generalidade e sua especificidade; o segundo obstáculo emerge suportes teóricos que orientam o pesquisador. Então, uma definição de pesquisa qualitativa estaria mais deficiente aos métodos e teorias empregados pelo pesquisador, reafirmando sua abrangência no campo de investigação, onde podemos verificar métodos diversos sendo empregados, tais como: a fenomenologia, teoria fundamentada nos dados, interacionismo simbólico, pesquisa participante, pesquisa ação, etnografia e outros.
Dentre os métodos da pesquisa qualitativa, minha opção foi utilizar o método pesquisa-ação para alcançar os objetivos almejados neste estudo, e por permitir, segundo THIOLLENT (1998), a participação ativa do pesquisador na própria realidade dos fatos observados, uma vez que me proponho a usar como técnica o grupo operativo como espaço continente da vivência do aluno.

A utilização da pesquisa-ação vem ganhando espaço diante das contestações aos métodos tradicionais que afligem a humanidade. O emprego deste método na América Latina vem ocorrendo desde 1970 e no Brasil tem como pioneiro Paulo Freire no âmbito da educação, na década de 60, ganhando maior força a partir de 1978, com a eclosão de movimentos sociais como movimentos sindicais e o aparecimento de novos partidos políticos de oposição.
Na opinião de TRIVIÑOS(1987), que usa como referência THIOLLENT, a pesquisa participante reveste-se de tentativas valiosas diante dos problemas da pesquisa qualitativa, ao buscar alternativas metodológicas para investigação, avançando em seus aspectos teóricos e práticos.
Com base nos aspectos práticos da pesquisa-ação que THIOLLENT (1998, p.18) ressalta sua distinção em relação à pesquisa:
“supõe uma forma de ação planejada de caráter social, educacional, técnico em outro, que nem sempre se encontra em propostas de pesquisa participante”.
THIOLLENT (1998) resume os principais aspectos da pesquisa-ação assim anunciados:

“a) há uma ampla e explícita interação entre pesquisadores e pessoas implicadas na situação investigada;
b) desta interação resulta a ordem de prioridades dos problemas a serem pesquisados e as soluções a serem encaminhadas sob forma de ação concreta;
c) o objeto de investigação não é constituído pelas pessoas e sim pela situação social e pelos problemas de diferentes naturezas encontradas nesta situação observadas;
d) o objetivo da pesquisa-ação consiste em resolver ou, pelo menos, em esclarecer os problemas da situação observada;
e) há, durante o processo, um acompanhamento das decisões, das ações e de toda atividade intencional dos atores da situação;
f) a pesquisa não se limita a uma forma de ação (risco de ativismo): pretende-se aumentar o conhecimento e o “nível de consciência das pessoas e grupos considerados”.

Diante destes aspectos, a pesquisa-ação conjuga conhecimento e a ação condições favoráveis para a proposta deste estudo, que se limita a descrever a vivência do aluno.
Neste estudo, as pesquisas documental e a bibliográfica foram adotadas como técnica de coleta de dados. Conforme GIL (1991) a pesquisa bibliográfica caracteriza-se pela técnica de coleta de dados e a pesquisa documental pela natureza das fontes; a primeira usa a contribuição de vários autores sobre um determinado assunto, e a segunda vale-se de material que não recebeu tratamento analítico.

 Local
A pesquisa foi desenvolvida com Professores de Educação Física da Cidade de Guarulhos ,Grande São Paulo , Estado de São Paulo.

 População-alvo
A população-alvo da pesquisa atingiu Professores dos Cursos de Educação Física das Faculdades de Guarulhos.

 Coleta de dados
A coleta de dados teve início em JANEIRO de 2004 e término em FEVEREIRO de 2004, conforme cronograma. Os dados foram coletados pelaopróprio autor da pesquisa.

 Instrumento de pesquisa
O instrumento de pesquisa constou de um questionário, elaborado pelo próprio autor do estudo, enviado via internet aos professores de Educação Física da Cidade de Guarulhos,Grande São Paulo , Estado de São Paulo.

Para sua validação interna, foi aplicado o questionário composto de quatro questões abertas sobre a existência na grade curricular da Faculdade de Educação Física de uma disciplina específica para pessoas com cuidados especiais; ou Educação Física adaptada; se havia a disciplina e a partir de quando passou a fazer parte do currículo; se havia alguma disciplina (qual e quando) abordando o conteúdo de atividade física para portadores da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida humana (AIDS), e por último, se existe algum grupo de estudo ou trabalho de extensão nessa área (Anexo 1).
Das escolas de Educação Física selecionadas para o inquérito desta pesquisa, foram enviados 40 questionários e foram respondidos com êxito apenas 11, perfazendo 27,7%. Optou-se como instrumento metodológico por um questionário composto por quatro questões abertas, enviadas pela rede de correio eletrônico, proporcionada pela navegação na internet, procurando encontrar um espaço mais significativo. Em razão da imensidão geográfica e do número elevado de professores e Faculdades de Educação Física pelo Brasil, preferimos avaliar apenas as respostas dos professores de duas Instituições da Cidade de Guarulhos, dentro do Estado de São Paulo.
Para melhor facilitar a leitura e análise do estudo dos casos, as Faculdades de Educação Física receberam número de I e II, assim distribuídos:

1. Universidade Guarulhos ( UnG)
20 professores ( 5 questionários respondidos)
2. Faculdades Integradas de Guarulhos (FIG)
20 professores ( 6 questionários respondidos)




6. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Embora tenhamos solicitado resposta para 40 professores de Educação Física, somente 11 atenderam nosso pedido, mesmo assim as respostas foram bastante superficiais, curtas e diretas.

 No que se refere a primeira questão: O Curso de Educação Física em sua grade curricular contém a disciplina de Educação Física para pessoas com cuidados especiais, ou Educação Física adaptada?

O Professor nº 1 – respondeu possuir a disciplina Educação Física especial, ministrada no 8º semestre do Curso e na disciplina Ginástica Geral II, com 30 horas, desenvolvida no 6º semestre do curso o conteúdo é destinado a pessoas com cuidados especiais como idosos gestantes, diabéticos e hipertensos.
O Professor nº 2 – respondeu possuir 2 disciplinas voltadas aos cuidados especiais: Educação Física e Esportes Adaptados (para pessoas com necessidades especiais) e Atividade Física e Saúde (para grupos especiais, asmáticos, cardiopatas, obesos, gestantes, etc.).
O Professor nº 3 – somente respondeu sim, mas não especificou nada.
O Professor nº 4 – respondeu que a disciplina faz parte da 4ª série do curso, incluída a adaptada e esporte especial.
O Professor nº 5 – possui no curso a disciplina ligada à Educação Física adaptada: teoria e prática da Educação Física Adaptada e Educação Física Escolar Especial.

O Professor nº 6 – respondeu que o curso de Educação Física possui em sua grade curricular a disciplina Ginástica ESP para deficientes e Ginástica Adaptada.
O Professor nº 7 – respondeu que o curso integra a disciplina Educação Física e Esportes adaptados que é ministrado no 4º ano.
O Professor nº 8 – respondeu que possui o curso na disciplina de Educação Física Especial.
O Professor nº 9 – respondeu que não tem em sua grade curricular o curso pesquisado e acrescentou que no estudo da reforma o mesmo também não há contemplado.
O Professor nº 10 – que o de Educação Física possui a disciplina de Educação Física para pessoas com cuidados especiais, porém o curso com a nova grade curricular só foi autorizado para funcionar a partir de 2002, portanto, este é o primeiro ano do curso e a disciplina ainda não foi oferecida.
O Professor nº 11 – respondeu que possui em sua grade curricular o curso de Educação Física para pessoas com cuidados especiais e Educação Física adaptada.

 Quanto à segunda questão: A partir de quando esta disciplina passou a fazer parte do currículo?

O Professor nº 1 – que estas disciplinas estão incluídas no currículo desde 1989.
O Professor nº 2 – desde o início de 1995 a disciplina consta do currículo.
O Professor nº 3 – desde 1993 a disciplina consta do currículo.
O Professor nº 4 – que a disciplina compõe o currículo desde sua implantação em 1992.
O Professor nº 5 – que o curso está entrando na 3ª etapa (semestre); que essas disciplinas constam da proposta inicial do currículo.
O Professor nº 6 – que o curso iniciou-se em 1996 e a disciplina consta desde 1998 do currículo.
O Professor nº 7 – que a disciplina encontra-se na grade curricular desde o início do curso em 1990 (e foi ministrada em 1993).
O Professor nº 8 – respondeu que desde 1996 existe a disciplina.
Os Professores 9 e 10 – não responderam pelas razões expostas na primeira questão.
O Professor 11 – respondeu que o curso existe desde 1992, quando houve alteração de 3 para 4 anos de curso.

 Quanto à resposta da questão nº 3: havia alguma disciplina (qual e quando) que abordava o conteúdo de atividade física para portadores da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida humana:

O Professor nº 1 – respondeu que especificamente este conteúdo não é abordado por nenhuma disciplina, portanto não consta a disciplina do currículo.
O Professor nº 2 - respondeu que a disciplina cita o tema quando fala de vírus.
O Professor nº 4 – que a disciplina compõe o currículo desde 1992.
O Professor nº 6 – respondeu que em nenhuma disciplina há o conteúdo específico, sendo citado como estudo de caso na Ginástica Adaptada neste ano (2003).
O Professor nº 7 – respondeu que não, mas as disciplinas de Primeiros Socorros e Educação para a Saúde trabalham com o tema, porém não abordam a atividade física voltada para a síndrome.
O Professor nº 8 – respondeu que existe o assunto na disciplina Prevenção e Socorros de Urgência.
Os demais professores responderam que não há disciplina abordando esse conteúdo.

 Quanto a quarta questão: Existe algum grupo de estudo/trabalho de extensão nesta área? Em caso de resposta afirmativa favor enviar os dados cadastrais dos mesmos.

O Professor nº 1 – respondeu que não há grupos de extensão que tratem dos portadores da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida Humana. Que no Centro de Qualidade de vida ligado à Faculdade de Educação Física há um grupo que atente, entre outras atividades, a preocupação também a deficiência mental.
O fato da Faculdade não abordar o conteúdo sobre pessoas portadoras de HIV, foi justificado também pela grande quantidade de assuntos pertencentes à clientela especial ser extremamente grande e a opção foi feita para trabalhar mais especificamente pela maioria dos casos que aparecem no contexto escolar, porque o curso dá formação de licenciatura aos alunos.
O Professor nº 5 – respondeu que a disciplina será implantada nas 6ª e 7ª etapas, por esse motivo não há ainda grupos de estudo.
O Professor nº 7 – respondeu que no grupo de estudos Atividade Física e Saúde foi desenvolvida uma pesquisa sobre o tema que foi apresentado na Jornada Científica da Faculdade no ano passado, cujo tema foi Atividade Física Habitual, Saúde e Qualidade de Vida em adultos infectados pelo vírus da imunodeficiência humana.
Os demais Professores responderam que não existem grupos de estudo nem trabalhos de extensão nesta área.



7. DISCUSSÃO
Dada a relevância do assunto levantado no questionário, percebemos que os cursos de Educação Física pesquisados do São Paulo não estão dando a importância merecida ao tema.
O número de casos de indivíduos com a SIDA vem aumentando progressivamente nos últimos anos.
O sistema imunológico é comprometido durante a infecção pelo vírus do HIV, que ao penetrar nas células T provoca a destruição delas, ocorrendo nestas células alterações quantitativas e qualitativas, fazendo com que os indivíduos infectados tornem-se suscetíveis a uma grande variedade de infecções (MACKINSON, 1992).
Assim, se houvesse nas grades curriculares uma disciplina específica para orientar o profissional de Educação Física sobre como ocorre essa infecção seria o ideal, porém na interpretação dos questionários nada consta a respeito.
A síndrome é baseada em três estágios: no primeiro o vírus está latente, o portador não demonstra manifestações clínicas, é saudável; no segundo, começam a aparecer conjuntos de sinais e sintomas como fadiga, diarréia crônica, perda de peso, falta de energia e vigor, a aparência física começa a se modificar, vão surgindo vários problemas relacionados à imagem corporal e, finalmente, o último estágio é o da doença pela presença de infecções oportunistas, responsáveis pelo óbito do doente. 1
Assim, analisando a doença nesse aspecto é importante levar esses conhecimentos científicos ao professor de Educação Física para que ele possa observar, orientar seus alunos quanto aos estágios da doença, mas estes dados não foram coincidentes com nosso estudo, porque as Faculdades de Educação Física pesquisadas não têm essa disciplina específica em suas grades curriculares.
A prática de Educação Física orientada torna-se de grande valia para o soropositivo, pois além de proporcionar uma melhora na resposta física e imunológica contribui para a diminuição da depressão, da baixa auto-estima, do medo, da raiva (FECCHIO et al. 1998).
Mais uma vez é preciso que o professor de Educação Física receba orientação adequada nas Faculdades para que possa compreender e trabalhar com o soropositivo, procurando amenizar sua problemática psicológica, também não encontramos nas respostas do questionário nada que vise ao aspecto emocional do indivíduo soropositivo.
É notório que a prática da atividade física ao soropositivo tem seu efeito benéfico como é demonstrado cientificamente ao proporcionar não somente uma melhora na resposta imunológica, mas também condições especiais para que o soropositivo pratique corretamente o esporte e observe atenção e cuidado com o próximo. Mas observamos pelas respostas que as escolas pesquisadas quando possuem tais disciplinas, estas têm objetivo de atender pessoas com cuidados especiais como grupos de asmáticos, diabéticos, cardiopatas, gestantes.
Uma dos professores respondeu não possuir eu sua grade curricular a disciplina, pelo fato da mesma não constar das propostas da Reforma Universitária. Ao passo que outros professores alegaram que pela complexidade do assunto, resolveram voltar-se ao trabalho pela maioria dos casos que aparecem no contexto escolar, pois o curso oferece formação de Licenciatura.
Outros responderam que o assunto do soropositivo consta de suas aulas, mas não entraram em detalhes, como é ministrada a disciplina como prepara o professor para a problemática da pandemia.
Lendo atentamente as respostas dos questionários, observamos que nossas Faculdades de Educação Física não estão preparadas para enfrentar com orientação científica clara, consciente a problemática do soropositivo nos esportes, também não dão orientação para a formação de pessoal habilitado para entrar no mercado de trabalho que se depara na virada do milênio, ou seja, a exaltação do físico, à prática do esporte, chegam mesmo a ser discriminatórias, para excluem de suas grades curriculares os métodos didático-pedagógicos para orientação do professor frente ao aluno soropositivo.
É comprovado cientificamente que o exercício físico influencia o mecanismo do sistema imunológico e neuroendócrino, resultando em potencial benéfico quando se trata de imunodeficiências em geral (CALABRESE & LAPERRIERE,1993).
De todas as Faculdades que foram questionadas sobre a temática, a nº I, apresentou concordância com este aspecto, pois criou um Centro de Qualidade de Vida (QV) para atender à comunidade.
As Faculdades de Educação Física devem preparar o futuro professor a refletir, na área de saúde, sobre as condições do soropositivo na medida que lhe proporcionem um melhor desenvolvimento motor. Com noções precisas de avaliação física e uso adequado da flexibilidade, coordenação, força muscular e princípios básicos de atividades aeróbicas, buscando acentuar a importância para a saúde em sua prática esportiva (FECCHIO, 1998).
A Faculdade nº II é concordante com esta questão, possui a disciplina de atividade física e AIDS, porém o tema não é abordado profundamente e no futuro será discutido na disciplina Física de Saúde.
Nas respostas dos questionários, apenas a Faculdade nº I foi concordante com nosso estudo, pois foi desenvolvido um trabalho apresentado na Jornada Científica da Faculdade em 2000, que além de outros aspectos preocupou-se com a qualidade de vida e saúde, oferecendo orientação quanto a uma alimentação balanceada e correta destinada ao soropositivo.

Por considerarmos o tema discutido nessa monografia de MBA de grande importância para o meio acadêmico, por coletar dados sobre as grades curriculares das Faculdades de Educação Física e perceber que não há uma abordagem específica dirigida ao professor que trabalha com o aluno soropositivo, acreditamos que o assunto será pesquisado e estudado em futuros trabalhos, para melhor adaptar as grades curriculares de nossas Escolas de Educação e poder proporcionar melhor qualidade de vida ao aluno soropositivo por intermédio de seu professor de Educação Física que deverá estar preparado tanto didaticamente como cientificamente para enfrentar o problema da SIDA.



8. CONCLUSÃO

Após a análise das respostas dos professores dos cursos de Educação Física, ficou evidente a inexistência desta disciplina no curso de graduação e, sobretudo se formos avaliar que existe necessidade de que o professor de Educação Física tenha conhecimentos básicos para desenvolver um trabalho satisfatório com este tipo de população específica.
A pesquisa também revelou que as Faculdades de Educação Física continuam despreparadas quanto à problemática do HIV/SIDA.
Os futuros professores de Educação Física ao receberem conhecimentos sólidos sobre a doença poderão por meio de um trabalho árduo e consistente, participarem de uma equipe multidisciplinar.
Desse modo, quando o professor não recebe a capacitação adequada nos cursos de graduação, ao não conhecerem estratégias e métodos especializados que busquem a melhoria de qualidade de vida para seu aluno soropositivo, não terá condições de exercer a profissão em sua plenitude como exige a sociedade.



9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora tenhamos enviado aos professores das Faculdades de Educação Física um número considerável de questionários para conhecer como o conteúdo programático voltado à formação do profissional de Educação Física para trabalhar com aluno soropositivo, percebemos o descaso da maioria pelo não envio de resposta; embora outras tenham respondido, fizeram de forma superficial, talvez por medo de exposição.
Dada a importância do tema, apesar das limitações que o curso de Educação Física pode oferecer na formação de seus profissionais em razão das condições socioeconômicas e culturais dos candidatos à vida acadêmica, ainda acreditamos da necessidade de um curso baseado em conteúdo e metodologia específica para ser desenvolvido a este setor da sociedade, o soropositivo, será de extrema importância para auxiliar, orientar, dar condições ao futuro professor de Educação Física atuar de forma consciente, criteriosa, solidária com o aluno soropositivo. Auxiliando-o em sua conduta, orientando exercícios que serão realizados de modo sadio e não estressante, dando preferência a um treinamento específico direcionado a quem carece cuidados especiais.
O professor poderá orientar e estimular seu aluno a fazer uso de uma nutrição adequada para o desempenho de seu desenvolvimento motor, respeitando e aceitando suas limitações. Procurando criar um ambiente favorável a seu desenvolvimento, fundamentando em noções de direitos humanos, assim como para poder integrar-se plenamente na sociedade.
Assim, o profissional melhor preparado poderá proporcionar a esse aluno além da melhora imunológica e física, uma maior auto-estima contribuindo como forma de avaliar o bem-estar geral do aluno soropositivo e a possibilidade de melhor qualidade de vida.
Urge que se faça uma reforma universitária para que a disciplina voltada ao HIV/SIDA seja ministrada em nossas Faculdades de Educação Física para que o futuro professor tenha condições de desenvolver um trabalho consciente de cunho científico com pessoas que merecem cuidados especiais, o soropositivo.
Esperamos que este estudo tenha fornecido subsídios para a discussão sobre o soropositivo e o exercício orientado na formação profissional dos alunos de Educação Física e longe de colocar um ponto final nas discussões aqui tratadas, esperamos que outros trabalhos possam dar continuidade a este desafio de legitimar o atendimento de boa qualidade de vida ao soropositivo por meio da inclusão da disciplina específica nas grades curriculares das Faculdades de Educação Física.



10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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11. ANEXO

Anexo 1

 Perguntas:
1. O curso de Educação Física em sua grade curricular contém a disciplina de Educação Física para pessoas com cuidados especiais ou educação física adaptada?
2. A partir de quando esta disciplina passou a fazer parte do currículo?
3. Há alguma disciplina (qual e quando) abordando o conteúdo de atividade física para portadores da síndrome da imunodeficiência adquirida humana?
4. Existe algum grupo de estudo/trabalho de extensão nesta área? Em caso de resposta afirmativa, favor enviar os dados cadastrais dos mesmos?


Autor: EDSON COSTA


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