Por que estamos sempre pensando no passado?



Por que pensamos sobre o passado?

"O passado é o que foi. É a rosa que murchou, o sol que se apagou, o cadáver que apodreceu. Lágrimas a ele".(Álvares Azevedo)

Quando essa instigante pergunta chegou a mim tive no mesmo instante um insight, era uma frase do escritor e poeta Álvares Azevedo do livro Noite na Taverna. Na estória os personagens são animados por vinho e inspirados pela fumaça mágica dos charutos em uma taverna, local de encontro de poetas que contam histórias de suas vidas filosofando sobre a morte, a vida, o amor e a beleza.

No auge da embriaguez eles relembram o passado, suas desventuras, desilusões amorosas e angústias, e isso é fonte de inspiração para recitarem poesia, foi num destes debates poético-filosóficos que surgiu a frase do início do texto.

Fora do campo da arte, no cotidiano, somos também inclinados a pensar sobre o passado, sobre momentos que tivemos. A primeira professora, o nascimento do filho, a escola em que estudamos e os empregos em que trabalhamos. Mas nem sempre as recordações são boas, lembramos também das experiências negativas; decepções, frustrações e equívocos.

É fato que a pessoa que nos tornamos hoje é resultado das decisões passadas e isso é muito importante porque foi o que nos consolidou através do tempo. De forma prática, um escritor não se tornou profissional sem ler vários livros antes, um advogado não se formou sem conhecer o básico de legislação e assim por diante.

Mas a questão central é por que pensamos no que já aconteceu? Parece ser cômodo pensar sobre o passado porque o que já acorreu é fato consumado, não podendo ser alterado só resta se lamentar ou se vangloriar.

Mais desafiador do que lembrar de algo ocorrido é determinar o futuro, o futuro é incerto e causa medo, e isso também é porta aberta para charlatães e religiões que se aproveitam de momentos de fraqueza alheiro para explorar e tirar dinheiro dos desesperados.

Entretanto o futuro não é tão incerto como pode parecer, o homem pode lançar um míssil e determinar com ótima precisão onde ele irá cair, pode viajar e traçar um itinerário ou se planejar estrategicamente no gerenciamento de uma empresa estimando os lucros com o tempo.

É difícil imaginar o que irá acontecer daqui a alguns instantes ou anos, se planejar estrategicamente, estudar um fenômeno natural, porque as possibilidades são inúmeras conforme a complexidade do que estamos lidando.

Enquanto isso no presente volta e meia os fantasmas do passado retornam, lembram que estamos acorrentados dentro de uma cela da qual não podemos sair. Eles dizem: se no passado você teve desventuras no futuro também terá, se você foi pobre, pobre será, se você foi infeliz no amor continuará sendo, e assim por diante... Eles mentem.

O tempo é como uma árvore, o tronco é o passado, cada galho é um possível destino e de cada galho surgem diversos outros, e este é o caminho que percorremos na vida escolhendo os melhores galhos para subir.

É bem mais cômodo lembrar que subimos no tronco por um galho aqui e ali do que escolher os melhores galhos (destino). Mas o que é mais cômodo nem sempre é melhor.


Autor: Wiliam Jeremias dos Santos


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