Suplementação Com Ácido Linoléico Conjugado



INTRODUÇÃO

O ácido linoléico conjugado (CLA) é um termo coletivo utilizado para descrever um grupo de isômeros geométricos e posicionais do ácido linoléico(Banni, 2002). É um ingrediente, utilizado em muitos suplementos alimentares, que tem sido estudado intensamente nos últimos dez anos e, com a promessa de que ajuda a reduzir a gordura corporal e a aumentar a massa muscular. O ácido linoléico conjugado (CLA) é uma substância naturalmente presente nos produtos de origem animal derivado principalmente de ruminantes como o leite e mesmo as carnes de vaca,  esta substância tem um efeito positivo sobre a mobilização da gordura corporal. A concentração de CLA varia nos alimentos, dependendo da espécie animal, do tecido e da dieta. Nos queijos, o teor de CLA varia de 3,6 a 8,0 mg/g de lipídio; no leite, de 3,4 a 6,4 mg; e na carne, de 2,7 a 5,6 mg. A manteiga contem cerca de 6,1 mg/g de lipídio, o que corresponde a 720 mg/100 g do produto. Diversos efeitos tem sido atribuídos ao CLA, como o anticarcinogênico, o de antiaterogênico, o de estimulador do sistema imune, o de estimulador do crescimento, o de moderador do peso corporal e da deposição de gordura no tecido adiposo e o do estimulador da massa magra. Além disso, o ácido linoléico apresenta propriedades antidiabética e antiobesidade. Para que as preparações comerciais contendo CLA possam ser comercializadas no Brasil como alimento, é necessário que as empresas apresentem documentação científica comprovando a segurança de uso e eficácia das alegações dos produtos, uma vez que essas substâncias serão utilizadas em níveis superiores aos atualmente observados na alimentação da população brasileira. Existem ainda, evidências científicas obtidas em animais de experimentação e em humanos demonstrando que a suplementação com CLA pode causar efeitos adversos.

O ÁCIDO LINOLÉICO CONJUGADO (CLA)

"As pessoas movidas pela crença de que a saúde possa ser comprada recorrem aos "suplementos dietéticos", fortalecendo cada vez mais este mercado.Estes produtos são vendidos mesmo sem haver comprovação científica sobre sua eficácia e sobre os riscos e benefícios causados a saúde dos consumidores a curto e longo prazo"

(PEREIRA; LAJOLO; HIRSCHBRUCH, 2003 apud KURTZWELL, 1998).

Efeitos sobre o peso corporal e obesidade:

Estima-se que cerca de trezentos e quinze milhões de pessoas em todo o mundo tenham um índice de massa corporal igual ou superior a trinta, o que de acordo com a Organização Mundial de Saúde já são classificadas como obesas. Estudos mostram que o CLA pode ser utilizado como uma ferramenta excelente para o controle da obesidade pela sua capacidade de reduzir a gordura corporal e ao mesmo tempo manter a massa muscular magra. O CLA atua sobre o metabolismo das gorduras reduzindo o tamanho das células adiposas, possuindo propriedades únicas no combate a obesidade e na redução do excesso de gordura armazenada, assim como na prevenção do aumento do colesterol ruim. A lipogênese é reduzida em usuários, pois este ácido insaturado inibe o incremento do tecido adiposo, ou seja, de gordura localizada. Também possui propriedades anticancerígenas, sendo particularmente eficiente em inibir o tumor de mama e de próstata, assim como o do cólon, estômago e de pele. É considerado como alimento ou componente funcional, na composição de leite e derivados, barras nutritivas, e outros alimentos com objetivo de auxiliar a perda de peso e a redução dos níveis de colesterol.O CLA está naturalmente presente na dieta humana, mas em níveis relativamente baixos. Ensaios clínicos demonstraram que é possível reduzir o peso e melhorar a composição corporal simplesmente aumentando a ingestão de CLA na dieta.

O Informe Técnico nº 23, de 17 de abril de 2007 da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) relata que foram realizadas sete avaliações sobre CLA em um período de três anos. A primeira ocorreu em outubro de 2003 e a última foi concluída em outubro de 2006. De acordo com as avaliações, os mecanismos bioquímicos de ação dos diferentes isômeros e sua interação ainda não foram adequadamente elucidados e comprovados, sendo que a maioria desses dados é oriunda de estudos experimentais em camundongos e de estudos in vitro.

Estudos estes, como o realizado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) da Universidade de São Paulo (USP) analisou a eficácia do ácido linoléico conjugado, utilizado como suplemento alimentar em humanos devido ao seu efeito no emagrecimento e aumento de massa magra (músculo). A pesquisa avaliou o efeito da suplementação com o CLA sobre a composição corporal, especialmente no acúmulo de tecido adiposo e de massa muscular, e sobre parâmetros sanguíneos em ratos. Foram avaliados os efeitos de uma dieta contendo 0,5% de ácido linoléico conjugado em 64 ratos, sendo 32 fêmeas e 32 machos, divididos em grupos com atividades físicas e sedentários. Foram analisadas variáveis como eficiência alimentar, ganho de peso, teor de gorduras, composição corpórea e biomarcadores sanguíneos como colesterol e triglicerídeos. Também foram feitos exames bioquímicos das fezes dos animais e a pesagem de órgãos como pulmão, coração e fígado. A análise comparou ainda as diferenças e possíveis interações entre "sexo", "dieta" e "situação", sendo esta última condição empregada para distinguir os animais sedentários dos que praticaram exercício. Os ratos "atletas" foram submetidos a 40 minutos diários de atividade física em uma roda de exercícios automática, com velocidades de 10 a 15 metros por segundo. Ao final do experimento, que teve 30 dias de duração, os animais sofreram eutanásia e foram congelados para posterior necrópsia. A suplementação de 0,5% de ácido linoléico conjugado auxiliou na diminuição de gordura corporal e apresentou aumento da massa magra apenas nas fêmeas submetidas às atividades físicas. Em um estudo feito com humanos, indivíduos obesos receberam dieta hipocalórica contendo ou não CLA (2,7g/dia) e praticaram exercício físico durante 6 meses. O grupo tratado com CLA demonstrou maior disposição ao ganho de massa magra e diminuição de tecido adiposo, entretanto ao final do experimento não foi detectada diferença na perda de peso e tecido adiposo entre os grupos.O que é mostrado e relatado nos estudos, é que em relação à redução de peso corporal e ganho de massa magra, o exercício físico foi o fator determinante, já que os grupos tratados com o CLA e submetidos à atividade física obtiveram resultados.

Efeitos no Diabetes:

Suplementar a dieta com certos ácidos graxos pode levar a um melhor controle de peso e do diabetes. Pessoas diabéticas que acrescentem CLA às suas dietas possuem menor massa corpórea bem como níveis de açúcar mais baixo. Pesquisadores também descobriram que níveis mais altos desse ácido graxo no sangue significam níveis mais baixos de leptina, um hormônio que se acredita regular os níveis de gordura. Os cientistas acreditam que altos níveis de leptina podem contribuir para obesidade, um dos fatores de riscos mais sério para a diabete no adulto. Um estudo realizado em 2002 pelo Diabetes Prevention Program Research Group descobriu que uma redução modesta na massa corpórea resultou em uma redução de 58% na incidência de diabetes num grupo de pessoas com alto risco de desenvolver a doença. Em um recente estudo realizado em humanos por pesquisadores da Universidade de Wisconsin-Madison, o CLA mostrou ajudar as pessoas a perderem peso e manter a boa forma, assim como controlar a diabetes da idade adulta, esta pesquisa foi apresentada ao Encontro Nacional da Sociedade Americana de Química, em Washington, por um de seus membros, Michael W. Pariza.

Outros efeitos:

O CLA em alguns estudos demonstrou diminuir os níveis plasmáticos e colesterol. Foi constatado sua eficiência em prevenir o câncer de mama. Estudos em ratos que ingeriam 1% de CLA, mostraram uma diminuição de 73% do tumor mamário implantado para testes (Visonneau S., Cesano A., Tepper S.A., Scimeca J.A., Santoli D., and Kritchevsky D. Conjugated linoleic Acid suppresses the growth of human breast adenocarcinoma cells in SCID Mice. Anticancer Res. 1997; 17: 969-973). A informação sobre o efeito antioxidante atribuído ao CLA é menos clara e mais controversa.

Ainda, segundo a ANVISA, existem evidências científicas obtidas em animais de experimentação e em humanos demonstrando que a suplementação com CLA pode causar efeitos adversos. Estudos experimentais conduzidos em animais e estudos de revisão demonstraram que a suplementação de CLA pode levar ao aumento do fígado, esteatose hepática e hiperinsulinemia (West et al., 1998; DeLany et al., 1999; West et al., 2000; Tsuboyama-Kasaoka et al., 2000; Kelly, 2001; Clement et al., 2002;

Takahashi et al., 2002; Roche et al., 2002; Yamasaki et al., 2003; Poirier et al, 2005).


  CONSIDERAÇÕES FINAIS

           
São necessárias mais pesquisas relacionadas aos efeitos da suplementação com CLA, pois os benefícios e a eficácia ainda não são conclusivos. Também são necessários mais estudos bem controlados que elucidem adequadamente os mecanismos de ação dos diferentes isômeros e sua interação em seres humanos que comprovem seus efeitos. Uma alimentação balanceada associada à prática de exercício físico continua sendo a fórmula mais eficiente no combate à obesidade, ao diabetes e outros fatores. Tanto a dieta quanto o exercício devem ser realizados com orientação médica, destacando a importância da equipe multidisciplinar, na qual o nutricionista tem papel fundamental.

REFERÊNCIAS

ANTONELLO, Marja Mariane; TORRES, José Ricardo, Paintner. O efeito do ácido linoléico conjugado sobre a massa magra e o peso de ratos wistar. Artigo Disponível em:

<http://www.fag.edu.br/tcc/2006/Nutricao/(O%20EFEITO%20DO%20ACIDO%20LINOL_311ICO%20CONJUGADO%20SOBRE%20A%20MASSA%20MAGR.pdf>

BELURY, Martha. The Conjugated Linoleic Acid (CLA) Isomer, t10c12-CLA, Is Inversely Associated with Changes in Body Weight and Serum Leptin in Subjects with Type 2 Diabetes Mellitus. Artigo Disponível em: <http://jn.nutrition.org/cgi/content/full/133/1/257S>

BOTELHO, Adriana Prais; SANTOS-ZAGO, Lilia Ferreira; REIS, Soely Maria Pissini Machado; OLIVEIRA, Admar Costa de. A suplementação com ácido linoléico conjugado reduziu a gordura corporal em ratos Wistar. Rev. Nutr.,Campinas, 18 (4):561-565, jul./ago., 2005.

CLA impact on diabetes control. Disponível em: <http://www.foodnavigator.com/Science-Nutrition/CLA-impact-on-diabetes-control>

COSTA, Neuza Maria Brunoro. Biotecnologia e Nutrição: saiba como o DNA pode enriquecer os alimentos. 1ª edição. São Paulo. Nobel, 2003, p.42.

CUPPARI, L. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar UNIFESP/Escola

Paulista de Medicina - Nutrição: nutrição clínica no adulto. São Paulo: Manole, 2002, p.131.

Emagrecimento seletivo. Disponível em:

<http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=63387>

Esclarecimentos sobre as avaliações de segurança e eficácia do Ácido Linoléico Conjugado – CLA. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/alimentos/informes/23_190407.htm>

SANHUEZA, Julio; NIETO K, Susana; VALENZUELA B, Alfonso. Acido Linoleico Conjugado: um acido graso com isomeria trans potencialmente beneficioso. Artigo disponível em: <http://www.scielo.cl/scielo.php?pid=s0717-75182002000200004&script=sci_arttext>


Autor: Nathália Ferrer


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