Programa de treinamento para pais



Atualmente o grande foco da crítica e da atribuição de responsabilidade pelos problemas da indisciplina caem sobre o aluno e em particular, sua família que muitas vezes desestruturada e com a categoria de valores invertidas em relação à escola, transfere responsabilidades suas para a a instituição escolar. Assim, percebe-se que, muitas vezes, a família contemporânea não vem cumprindo com sua tarefa de fazer a iniciação da civilização, de estabelecer limites e desenvolver hábitos básicos na educação de seus filhos.

Para isso, além da atuação de maneira articulada e organizada do professor, sugiro aqui que se realize um trabalho com os pais, pois é a família que proporciona o primeiro e mais importante contexto interpessoal para o desenvolvimento humano e, como resultado, as relações familiares têm uma profunda influência sobre a saúde mental das crianças. Ao atuarem como agentes de socialização dos filhos, os pais utilizam diversas estratégias e técnicas para orientar seus comportamentos, denominadas de práticas educativas parentais (Gomide, 2004).

As práticas educativas relativas ao estabelecimento de limites, à comunicação, ao ensino de responsabilidades e à expressão de afeto são apontadas como essenciais à promoção de auto-estima, autonomia e habilidades sociais nos filhos (Silva & Marturano, 2002). Pais que estabelecem regras e zelam para que elas sejam cumpridas, que valorizam a aquisição de responsabilidades gradativas, que encorajam o diálogo e se dispõem a ouvir a criança e se mostram carinhosos, têm mais chance de ensinar a seus filhos que sejam responsáveis, comunicativos e autoconfiantes em suas relações, prevenindo condutas impulsivas, agressivas ou excessivamente inibidas. Por outro lado, uma relação pouca afetuosa com os filhos, o uso de práticas disciplinares coercitivas ou inconsistentes e uma supervisão inadequada do comportamento dos filhos aumentam o risco das crianças desenvolverem problemas comportamentais e emocionais significativos.

Embora as relações familiares sejam importantes, os pais geralmente recebem pouca preparação, além da própria experiência como pais, produzindo-se a maior parte da aprendizagem durante a realização da tarefa por meio do ensaio e erro. O surgimento de problemas comportamentais e emocionais em crianças e adolescentes tem motivado o desenvolvimento de intervenções dirigidas aos pais, tais como o treinamento de pais aqui proposto, tendo fundamentação na premissa de que a falta de habilidades parentais é parcialmente responsável pelo desenvolvimento ou manutenção de padrões de interação familiar perturbadores e, consequentemente, de problemas de comportamento nos filhos.

Nesse caso, torna-se necessário treinar pais ou qualquer outro adulto significativo do contexto familiar para que este possa contribuir para manter o comportamento desadaptativo da criança ou do adolescente. Por essas razões, sendo os pais, usualmente, o principal agente de mudança no processo terapêutico de seus filhos, devem ser auxiliados a atuar como mediadores para essas crianças e jovens.

Como exemplo, trago Marinho (2005), que relata um programa de intervenção comportamental que promoveu em grupo para pais que apresentavam queixas com relação aos comportamentos de seus filhos de idade entre três e onze anos. A intervenção constava de dez sessões, uma por semana, com duração de noventa minutos e teve como objetivo ensinar os pais a observar e descrever o comportamento da criança e a ser agentes mais eficazes de reforço, aumentando a frequência às aulas, a variedade e a extensão de reforços sociais para as crianças e reduzindo a frequência de comportamentos verbais competidores, como críticas, ordens e questionamentos. Os resultados demonstraram que o programa produziu mudanças comportamentais positivas na maioria das famílias submetidas à intervenção.

Baraldi e Silvares (2003) também realizaram um programa de atendimento em grupo de pais e crianças com queixas de agressividade. O grupo era composto por 16 crianças na faixa etária dos seis aos dez anos e suas mães, as quais foram atendidas em um grupo de orientação, com duração de cinquenta minutos, uma vez por semana. O programa foi estruturado para ter 15 sessões, porém foi considerado necessário prolongar o atendimento por mais tempo, sendo adicionadas nove sessões devido a três fatores: as mães relatavam que seus filhos ainda não haviam melhorado, as crianças não mostraram diminuição de integração negativa e foi detectado através de uma avaliação sociométrica que as crianças eram vistas negativamente por seus pares na escola.

As mães recebiam orientações a respeito de dar instruções de forma clara e eficiente para seus filhos, como também foi ensinado como lidar melhor com os filhos através do ensino de princípios básicos do comportamento como reforço diferencial e extinção. Os resultados demonstraram que tanto os comportamentos positivos das mães quanto das crianças aumentaram no decorrer da intervenção, e que os comportamentos negativos de ambos diminuíram, melhorando assim suas relações.

Outro estudo destinado a avaliar os efeitos de uma intervenção para o desenvolvimento de habilidades sociais educativas em pais de crianças com problemas de comportamento foi feito por Pinheiro, Haase, Del Prette, Amarente & Del Prette (2006), do qual participaram 32 famílias, sendo a maioria de mães. A intervenção teve duração de 11 semanas com encontros semanais de aproximadamente uma hora e trinta minutos, e consistiu na apresentação de princípios da análise do comportamento e modelos de habilidades sociais educativas para pais. As avaliações pré e pós-intervenção foram feitas por meio de questionário de auto-relato e entrevistas. Os resultados mostraram redução significativa na frequência e severidade de comportamentos inoportunos e/ou indisciplinados, conforme avaliação dos pais.

A partir desta prévia análise de alguns dos efeitos de um programa de treinamento de pais, iniciarei agora a elaboração de meu próprio programa de treinamento, na expectativa de ajudar na evolução da educação de nossas crianças e jovens. Espero, em breve, relatar tal experiência.


Autor: Fernanda Lapenda Silveira


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