As Minhas Memórias Doidivanas



Seu nome era Dalila. Os seus cabelos eram claros e esbeltos, o seu corpo era tão belo, tão bem delineado... Era uma mulher perfeita! Ah, se Deus fosse tão bom a ponto de presentear-me com a singeleza e encanto de Dalila! Ela então caminhava serena e esbelta por dentre a passarela, a fitá-la, a sonhar com as suas mãos tão delicadas e tenras, a... Mas são quimeras, e, deste modo, complicar-me-ei em minha própria narração em que sou eu o escritor-presenciador de minhas próprias utopias.

Narrar-te-ei em poucas linhas a mágica e o horror da paixão desenfreada, rico leitor, a ponto de colocar-me como um ser absolutamente feliz apenas por poder ter a chance de tocá-la nem que fosse uma só vez. E aqui estou a narrá-la, a enredá-la, a cogitá-la em minhas memórias doidivanas.

As minhas memórias têm início num cenário típico de primavera, pois ela era a rosa e eu o espinho, ou eu o mar e ela o oceano azulado de nossos corações. Mas deixemos de citações românticas. Todavia fora-me um momento de apreciação e alacridade, em que só eu o crie, em que só eu seja capaz de defini-la. Porém, faltava-me respostas quanto ao porém; pois o meu raciocínio parou e a única apreciação fora-me descuidada da percepção sua. Fitando-a, acabei por ser atropelado por um carro que não me lembro a composição, só sei que era mesmo um automóvel, um veículo que andava... são mesmo feitos para andar e atropelar (os carros)! Não, na verdade não me lembro se era um carro; mas o que me importa o que fosse? É sobre Dalila que escrevo em minhas memórias doidivanas.

Partemos do caso inicial. Pois fui acidentado, e parei num hospital e só perguntava pela donzela que havia fitado outrora. Não foram desejos, pois não me lembro o que são desejos, foram, eu acho, mistérios — não me recordo o que são mistérios. Mistérios pelo que cogito são alvos submersos, ocultos, elípticos, mas que formam algumas indagações precisas, como que são essas coisas?.

Calme... calme, já navegarás em minhas memórias doidivanas!

O caso segundo, creio eu, foram as rosas que me fizeram recordar da sua face, do seu corpo, do seu suspiro — eu nunca havia sentido o seu suspiro —, do seu hálito — que não senti, nunca senti o seu hálito (lágrimas). Eu quis saber o seu nome, mas esqueceria se o dissessem. E era provável deveras que eu me deleitasse com as rosas... Não, não haviam rosas!!!

Lembrei-me a custo. Foram os pássaros que me fizeram recordar dos seus beijos — este já senti, pois imaginei como poderiam ser —, da sua pele — ah, este sim, eu me lembro! (sorrisos), do seu sabor e do seu cheiro — são quimeras, eu sei. Mas recordava insuficientemente das suas mãos tão delicadas. Há, sim, recordava veementemente delas! Eram mãos delicadas, tenras e carinhosas — acho que já disse das suas mãos; todavia vale um lembrete, rico leitor.

O caso quarto... Não, não; digo, o caso terceiro... fora-me perturbável, pois não me lembrava onde a havia visto. Nego qualquer caso amoroso.

Ah, sim, eu contei que acabo, ou havia acabado de conhecê-la — indiretamente. Pensais que sou louco, eu sei, pelos seus olhos, pela sua forma de menear a cabeça. Sabeis que se trata de minhas loucas memórias. Não costumo agir assim diante de tantos leitores; sabe-se, todavia, não sou meramente um louco recém-formado — saiba-o, porém —, mas sim um homem preso em suas memórias doidivanas.

Ah, sim! Eu estava ainda na emergência do hospital, quando me lembrei que já havia visto anteriormente muitas vezes aquela figura tão angelical, tão perfeita! Ela havia sido minha noiva! Meu Deus... A minha noiva! Não, não mais repetirei "minha noiva", pois ela não fora a minha noiva, fora apenas a minha colega de classe. Ó infortúnio, ó memória, és tu, louca!

Sou homem verdadeiro, conto senão veracidades, acordos temerosos de minhas memórias, hoje pouco falhas, como percebeste; mas muito pouco falhas, pois me recordo daquele momento como se fosse hoje... Espera aí! Foi hoje! Ah, sim, foi hoje, há pouco. Mas mesmo assim, recordo sombriamente, ou o que signifique essa palavra.

De todo, não me recordo do que faço, ou o que fazia antes de fitá-la. Só me recordo das lembranças recordáveis: do meu nome, da minha cor, dos meus olhos, do meu gosto, do meu sexo e da minha dignidade — sou digno de confiança, rico leitor. Estou a escrever, pois, não me recordo o porquê; fica para depois que me espairecer a mente. Agora, contudo, após este prefácio, começarei a contar a minha vida desde o seu princípio, de tempos remotos, mas ainda um pouco vivos em minha psique.

Observação:

Abra aspas...

Ficou ótima a minha introdução!

Fecha parênteses, ou melhor, aspas!


Autor: Ronyvaldo Barros dos Santos


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