PESQUISA EM MODELOS DE GESTÃO PARA A AGRICULTURA



Afonso Peche Filho*

INTRODUÇÃO

A cada ano fica mais claro que as empresas agrícolas não podem mais planejar e controlar suas atividades da forma tradicional. A globalização impõe aos mercados mudanças aceleradas comprometendo dois dos pontos mais importantes do negócio, a sobrevivência e o lucro. A sobrevivência em função das necessidades de transformação e as instabilidades que, nos dias de hoje, provocam efeitos cada vez mais intensos em todos os sistemas de produção. O lucro em função de que as empresas agrícolas, independentemente do porte, enfrentam dificuldades diante das condições oferecidas pelo mercado caracterizado pelo aumento considerável da competição, seja pela quantidade de competidores, seja pela qualidade e intensidade da competição. Os modelos e demais ferramentas de gestão são desenvolvidos para auxiliar as organizações a enfrentar as transformações organizacionais principalmente no que se refere à inovação em otimizar tecnologias, reduzir custos e despesas, combater a perda e o desperdício, promover a segurança e saúde, sensibilizar, conscientizar e capacitar colaboradores, gerentes e administrativos. Esse trabalho tem como objetivo subsidiar uma proposta para criar oportunidades para desenvolver modelos de gestão mais eficientes a partir da experiência prática do agricultor.

CONCEITOS FUNDAMENTAIS

O Modelo de Gestão pode ser definido como um conjunto formal e informal de práticas, princípios e ferramentas que sustentam a operação de uma empresa ou mesmo parte dela. O modelo de gestão está consubstanciado na missão, crença e valores da organização. Santos & Ponte, 1998, citados por Oliveira et al.2009; afirmam que "o modelo de gestão determina o processo de gestão da organização, definindo a forma de como este deve ser operacionalizado nas suas fases de planejamento, execução e controle". Para Gomes, 2004, os modelos de gestão são desenhados para atender ao modelo de negócios do empreendimento, isto é, seus princípios de funcionamento operacional e comercial.

A Pesquisa-Ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e na qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. A pesquisa-ação é um método de condução de pesquisa aplicada, orientada para elaboração de diagnósticos, identificação de problemas e busca de soluções.

O Sistema Planta Forte é um sistema tecnológico desenvolvido pela IHARA em parceria com o IAC para aprimoramento de modelos de gestão da produção agrícola com base na experiência administrativa e competência do agricultor.

A PESQUISA EM MODELOS DE GESTÃO

A pesquisa com modelos de gestão busca adequar as atividades das organizações a uma realidade mais eficiente, proporcionando melhores condições para investimento em motivação, treinamento, tecnologia e tomada de decisões. O objetivo central é avaliar o resultado de atividades utilizando à experiência de quem as executou ou de um especialista no assunto, O primeiro passo é determinar o resultado das atividades realizadas utilizando o julgamento crítico de quem faz e relacionando os dados com as decisões administrativas, gerenciais e operacionais. Nesta fase o modelo busca no tradicional ato de "executar" a transformação para um "centro de informações" ou um "centro de investimentos" conforme abordagem de Catelli et.al. citado por Oliveira et.al. 2009.

A proposta metodológica utiliza uma adaptação das diretrizes de pesquisa-ação sugeridas por Thiollent, 2007, sendo os trabalhos são realizados de preferência com grupos de colaboradores envolvidos nas operações agrícolas durante a safra. As atividades são realizadas em três etapas seqüenciadas de forma atender as seguintes premissas: 1 – Levantar os principais problemas operacionais ocorridos nas operações realizadas e identificar os possíveis efeitos na lavoura; 2 – Realizar uma amostragem na lavoura buscando entender as características da variabilidade ocorrente; levantar o potencial de problemas operacionais com atividades humanas; levantar pontos para caracterizar as condições ambientais frente aos impactos do manejo; 3 – Avaliar os dados obtidos no campo; 4 – Sistematizar os resultados de forma definir um plano de enfrentamento do risco de com a sensibilização, conscientização e capacitação de recursos humanos.

Lopes & Tibério, 1999, apresentam um modelo de gestão adotado pela empresa Citrosantos - SP, que foi desenvolvido na reestruturação da empresa. Entre várias ferramentas citadas podemos destacar o modelo PPP (Programa de Padronização da Performance) e o modelo PAR (Problema, Ação e Resultados) Esses autores concluíram que o modelo de gestão adotado já mostrou sua funcionabilidade, viabilidade e resultados que seriam difíceis de atingir com o modelo anterior, onde os processos não seguiam padrões, faltava senso de direção,as pessoas eram desqualificadas, as informações desencontradas, as decisões incoerentes e inconsistentes. Ainda segundo os autores outro desafio reside na transformação do perfil do quadro funcional tanto na educação quanto nos aspectos comportamentais e conceituais.

Mora & Arteaga, 2005, apresentam interessante metodologia participativa para transferência de tecnologia para cotonicultores da Colômbia cujo processo metodológico busca ampliar a participação dos produtores e funcionários no planejamento, execução, desenvolvimento, avaliação e interação de diferentes atores e cenários no processo produtivo.

Com base numa fundamentação teórica da dinâmica de grupos, Rocha & Padilha, 2004; apresentam um texto para apoiar trabalhos de desenvolvimento interpessoal, de equipe e organizacional focados em organizações de produtores rurais de base familiar.

A BASE FILOSOFICA DO SISTEMA PLANTA FORTE.

Nacata et al, 2005, apresenta uma proposta de um sistema tecnológico, denominado Planta Forte voltado para o aprimoramento da gestão a partir da experiência prática do agricultor e de auditorias técnicas em lavouras ou serviços a fim de levantar ações com potencial de alavancagem de uma proposta de um novo modelo de gestão mais eficiente e mais competitivo.

A base filosófica do sistema Planta Forte é o cumprimento na prática da VISÃO E MISSÃO da Iharabras:Visão: Com criatividade e espírito pioneiro, faremos do Brasil o maior país agrícola do mundo. Sempre unidos e lutando pelos mesmos objetivos, façamos da Iharabras uma empresa de primeira linha. Com confiança e cooperação, ajudemo-nos mutuamente para melhorar e tornar estável a vida de cada um. Missão:contribuir para o progresso e competitividade da agricultura brasileira

A tecnologia desempenha um papel fundamental em qualquer modelo de gestão. Atualmente, não se pode falar em gestão sem falar em tecnologia. Nesse processo, entretanto, é imprescindível mudar a cultura de toda a organização diante do conhecimento. Um dos grandes desafios da nova era é a mudança comportamental e a proposta central do Sistema Planta Forte é propor ao usuário da tecnologia Ihara a oportunidade de compartilhar o conhecimento em gestão moderna e competitiva.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As diretrizes para desenvolvimento de modelos de gestão é uma tecnologia consolidada e em franco desenvolvimento na indústria.

Hoje, é muito claro que à medida que as empresas crescem tem-se a necessidade de modelos de gestão mais eficientes e focados na inovação. Na agricultura não é diferente, mas uma transição vagarosa coloca o nosso negócio em risco.

Atualmente a pesquisa e extensão em modelos de gestão na agricultura são modestas, mas nunca é tarde para começar.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Gomes, J.F., A terceira competência: um convite a revisão do seu modelo de gestão. Qualitymark Editora Ltda. Rio de Janeiro, 2004, 246p.

Lopes, F.F.; Tibério, M.A.; Citrosantos: modelo de gestão na produção de citros, como estratégia à competitividade. In: Anais do II Workshop Brasileiro de gestão e Sistemas Agroalimentares. Pensa/FEA/USP. Ribeirão Preto, 1999, 294 – 305p

Oliveira, A.F. de; Teodoro, J.C.; Azevedo, R.E.A.; Ribeiro Filho, J.F.; Medição de desempenho em organizações não governamentais utilizando o modelo de gestão econômica. Disponível em: http://www.simpep.feb.unesp.br/anais/anais_13/artigos/860.pdf. acesso em 3 /07/2009.

Mora, J.E.P., Artega, M.B.A.; Metodologia participativa de transferência de tecnologia en el cultivo del algodón em Colômbia. Anais do IV Congresso Brasileiro do Algodão. Disponível em: http://www.cnpa.embrapa.br/produtos/algodao/publicacoes/trabalhos_cba4/index.html. Acesso: 15/junho/2009.

Nacata, R., Salvador, R.N., Peche Filho, A. Sistema Planta 4Forte: gestão com ênfase na produção integrada de frutas. In: VII Seminário Brasileiro de Produção Integrada de Frutas– Programação e Resumos. Embrapa, Fortaleza, 2005, 264p

Rocha, F.E.C.; Padilha; G.de C., Agricultura familiar: dinâmica de grupo aplicada às organizações de produtores rurais. Embrapa Cerrados, Planaltina – DF, 2004, 170p.

Thiollent, M. Metodologia da pesquisa – ação. Cortez Editora44. São Paulo – SP. 2007. 132p.

* Engenheiro Agrônomo - Pesquisador científico VI

Centro de Engenharia e Automação – Instituto Agronômico de Campinas. CEA/IAC

Rodovia Dom Gabriel Paulino Bueno Couto, Km 65 – Jundiaí – SP

CEP. 13201-970 – fone 1145828155 – e-mail: [email protected]


Autor: Afonso Peche Filho


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