AMAR, AMAR !
AMAR
AMAR é a palavra mais mal usada do mundo.
Qualquer outra palavra tem um significado claro, definido, exato.
Andar, quer dizer pôr os pés um à frente do outro, dirigindo-se para algum lugar.
Subir é ir para cima; descer, é ir para baixo. Correr é andar depressa.
Comer é alimentar-se, pôr na boca alguma coisa que será mastigada e digerida.
Pensar é um pouco mais complicado. Lida com o abstrato, o imponderável.
Mas é um verbo que pretende um complemento e assim funciona bem: eu penso algo, em algo, a respeito de algo: com o “pensar” posso inventar, meditar, comparar, estudar, definir, decidir, concluir.
Mas Amar! Amar é um verbo tão amplo, que escapa de qualquer definição.
É uma palavra explosiva, que deveria ser usada com os mesmos cuidados com que se manuseia a nitroglicerina, por alguém que não tem outro caminho; é um último, desesperado recurso.
Em primeiro lugar acostumamo-nos a usar o verbo impropriamente; por isso, banalizamos sua aplicação.
Deveríamos limitar-nos conter-nos, controlar-nos, em nossas declarações de amor:
O amor a Deus, por exemplo, não deveria ter similar.
Mas “amo” o uma pizza; “amo” as flores, “amo” a cor dos seus cabelos, “amo” o
gosto do sorvete de morango; “amo” até o meu cachorro.
Além da apropriação indébita deste verbo, durante o ato sexual.
Viu, como estamos errados?
Não tem comparação. Não se pode usar o mesmo verbo, nossa mãe!
E mesmo assim, apesar de dispormos de trezentas mil palavras para definir o mundo e de dez mil verbos, para todas as aplicaçoes e todas as ocasiões, continuamos usando, da maneira mais inadequada, o batido, cansativo e inexpressivo AMAR, sem conseguir encontrar substitutos.
Se eu disser à minha esposa que a “aprecio” em lugar de dizer que a “amo”, sou capaz de levar uma lista telefônica na cabeça.
Nem adianta, tampouco, estabelecer graduatórias: amar mais, amar menos, amar demais; todos paliativos, mais perigosos que úteis.
Mesmo se quiséssemos criar uma classificação, seria inútil; por covardia, o seu amor pela esposa subiria imediatamente do sete ao dez; enquanto o seu amor pelo futebol aos domingos desceria do dez ao cinco – e ninguém acreditaria, nem mesmo você.
E vamos ser francos: banalizar o verbo traz certas indubitáveis vantagens;
assim, ele se torna fácil, comum, corriqueiro; posso dizer que “amo” minha vizinha - dependendo da vizinha, é claro - sem deixar ninguém entender se estou apostando, ou blefando; se estou sendo hipócrita ou apenas polido.
Enfim, o verbo não revela se tenho segundas intenções ou não.
Mas quando seu sentimento envolver alguma outra pessoa, não brinque;
Não use este verbo quando não tiver absoluta e impelente necessidade;
Evite confusões, mal entendidos, não pense que o efêmero seja eterno;
ninguém brinca com fogo sem se queimar; e pode haver consequências sérias.
Para facilitar sua vida, preparei uma simples caixa de primeiros socorros; é uma escala - aproximada e provisória – de doze sentimentos, emoções e impulsos,
em ordem crescente, que uma pessoa (“aquela” pessoa, no caso) lhe inspira.
Passe o nome da pessoa “amada” ao lado de cada palavra, e verifique, uma a uma, a medicação adequada.
Se prometer jogar direito, sem trapacear, garanto-lhe que, em onze entre doze situações, ela lhe evitará o uso impróprio, inconveniente e perigoso, da mais explosiva palavra da face da Terra: AMAR!
1 |
Simpatia |
Dê um sorriso, um abraço e ponto final |
2 |
Pena |
Cabe um suporte, até monetário, se for o caso |
3 |
Solidariedade |
Manifeste-a com um forte aperto de mão |
4 |
Amizade |
Use o n.2 + n. 3. E pare. Evite mal entendidos |
5 |
Consideração |
Respeitoso aperto de mão. É só |
6 |
Respeito |
Incline a cabeça. Abraço só se tem familiaridade |
7 |
Carinho |
Um sorridente abraço, pancadinha nas costas |
8 |
Afeto |
Use o n. 7 + um ligeiro, rápido beijo na face |
9 |
Atração |
Olhar excitado, abraço mais apertado do normal |
10 |
Desejo |
Olhos,nos olhos, mãos nas mãos, looongo abraço |
11 |
Paixão |
n.10 + aproximação decidida. Evite ajoelhar-se |
12 |
Amor |
Caso nenhuma das anteriores tenha funcionado, Você está mesmo perdido. Vá em frente ! Vou rezar por você!..... |
Mas eu juro: eu AMO meus leitores !!!!
Autor: Romano Dazzi
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