POESIAS: Cuidados com as palavras
POESIA
Fiquei assustado: em um único site, 2.450 poetas, com 65.600 poesias, usando 4.680.000 palavras.
É um volume arrebatador.
Nunca pensei que chegássemos a tanto.
Imagine o desgaste de matéria cinzenta, o esforço concentrado, para enfileirar todas estas palavras.
Imagine-se examinando, pesando e escolhendo uma a uma, conduzindo uma batalha surda contra o dicionário, comparando o que elas significam com o que você quer dizer de verdade.
Imagine-se traduzindo o véu impalpável, invisível do seu pensamento, para a assustadora solidez de um texto; suas pausas para vírgulas, as suspensões para pontos e vírgula, aqueles sentimentos profundos para meros pontos de exclamação; e enfim, uma insustentável dúvida existencial, para aquela estúpida foice, suspensa em cima de um pontinho.
E a tudo isso, junte o ajuste ao ritmo, escaneado, balanceado, que deve metabolizar no mesmo som a sua duração, a sua melodia e o seu significado!
A poesia é mesmo necessária?
É este o melhor meio de se expressar, de comunicar aos outros nossas idéias, sensações, sentimentos, paixões?
Quando aprendi os primeiros rudimentos de música, pensei ter descoberto a maneira ideal de dizer aos outros o que penso, o que provo, o que sofro, o que me entristece e me alegra, me encanta e me desespera.
Por algum tempo não consegui mais escrever, tudo vinha em temas musicais.
Depois, a música virou matemática.
Tempos, divisões, compassos; cromas, breves, mínimas; bemóis, sustenidos, pausas; contagens, contagens, contagens: um, dois, três, quatro – um, dois, três, quatro – um dois, três, quatro.
Nada mais enfadonho, pensava. Matemática. E voltei às palavras.
Só palavras: afiadas, doces, ácidas, prudentes, violentas; amigas e inimigas, fieis e traiçoeiras.
Mudam de sentido, como a brisa da primavera. Crucificam os pensamentos.
Continuam repetindo, dez anos depois, aquilo que você sentiu, sem pensar, num momento de enlevo ou de felicidade.
E este é o perigo. A música que você compôs para a sua amada envelhece; só revive quando você a repete, depois de muitas insistências, no desafinado piano de casa; depois adormece de novo.
Mas as palavras, o texto que você escreveu, as verdades que depositou nas rimas – e que hoje podem não ser mais verdades - permanecem e são lidas e julgadas por qualquer um, a qualquer momento.
São apenas palavras. Mas testemunham o que você foi; comparam o jovem de ontem com o velho de hoje, e você só tem a perder...
Guarde-se, então, das palavras soltas, semeadas à beira da estrada; não são papoulas alegres, brilhando no meio de um campo de trigo; são imorredouras, perenes, intocáveis. São a sua história, quer você goste ou não.
Autor: Romano Dazzi
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