A BUROCRACIA ESTATAL E A GRIPE SUÍNA



Por Marcelo C. P. Diniz

Em 2004 escrevi em "O Capital Moral ou a Falta Dele" (Ed. Qualitymark) que a burocracia subverte a moral. Subverte porque o burocrata considera o papel mais importante do que a necessidade. E os seus tentáculos alcançam todos os meandros de um país.

Por exemplo, Fernando Henrique alardeava que iria fazer a maior reforma agrária do mundo. Até o Papa elogiou. Foi quando a revista Newsweek denunciou o fiasco, pois, segundo ela, pelo menos um em cada quatro assentados desistia do seu lote em dois anos. "No campo, o transporte é indigno de confiança, a eletricidade um luxo. Doenças como a malária e a dengue são freqüentes; só uma em cada duas famílias chegou a ver um médico. Cerca de 95% não têm água corrente potável..."

Muitas terras de assentados mudaram de donos na Amazônia. E é deles grande parcela da responsabilidade pelas queimadas que ocorrem lá.

E por falar em queimadas, certa vez presenciei uma reunião do Ibama, para discutir a sua prevenção no Estado do Rio de Janeiro. Algumas regionais tinham veículos, mas não tinham motoristas. Outras tinham motoristas, mas não tinham carros. Algumas não tinham gasolina. Ninguém tinha helicópteros, apenas o Exército, mas, no ano anterior, a verba que o Ibama conseguiu para o combustível dos vôos foi usada em manutenção, nenhum helicóptero saiu do chão.

Naquela época, o Brasil estava em 46º lugar dentre 59 países que gastavam mais tempo com a burocracia governamental.Quer outro exemplo? Gastaram mais de 30 dias para abrir uma conta bancária do Fome Zero; na área da seca, passavam meses cadastrando famílias que não viam chuva há dois anos. E, se alguém doasse algum dinheiro, a CPMF era descontada. É assim que a mentalidade burocrática funciona: as ações não são tomadas no espírito do certo e do errado. Na ânsia de controlar, o burocrata segue a lei e os regulamentos, por mais burros que sejam, ou então se recusa a fazer, até encontrar a forma que lhe pareça ideal. No meio do caminho, perde a sensibilidade.

E surge agora a gripe suína. Por não saber como controlar a venda do Tamiflu, fizeram o mais fácil: proibiram a venda. Em Curitiba, por exemplo, onde, devido ao frio, o número de casos já é alarmante, médicos particulares não podem receitar o medicamento. Tratam gripe suína como gripe comum e até que dá certo, quando a doença é branda. Mas, quando o caso é grave, o sujeito acaba morrendo. E, por falta do dignóstico laboratorial que é demorado, e que nem sempre as autoridades deixam fazer, o laudo acaba saindo como pneumonia mesmo. Lembra-se de que, quando surgiu a AIDS, pouca gente aceitava divulgar o diagnóstico e os pacientes morriam de pneumonia? Para não alarmar a população, e também por vergonha da sua própria incompetência, é o que o governo está fazendo agora. Na raiz do problema, apenas a incapacidade de promover um controle realista para a venda do Tamiflu.


Autor: Marcelo Diniz


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