Como? (...) o homem contemporâneo busca a Deus!



Como? (...) o homem contemporâneo busca a Deus!

Joacir S. d’Abadia

 

É inata no homem a busca de Deus. Ele é um ser que tem sua origem na divindade: foi criado por Deus. Desse modo, Deus é o princípio e o fim do homem (para onde o homem tende), o qual em diferentes épocas, vive, de maneiras múltiplas sua realização em Deus. É certo e bem verdade, que, o homem contemporâneo busca a Deus, ou seja, não O ignora em sua vida, porém, a atuação Dele na vida humana teve, ao longo dos séculos, algumas nuanças, as quais vamos vê-las no dialogo entre o Selvagem e Mustafá Mond, o Administrador, (personagens da obra “Admirável mundo novo” do filósofo Aldous Huxley (1894-1963) no capítulo décimo sétimo).

- Mas se não ignora Deus, porque lhes não fala d'Ele? - inquiriu o Selvagem, indignado.

- Por que... Tratam de Deus tal como era há centenas de anos, não de Deus tal como é presentemente. - Mas Deus não muda. – Insiste o Selvagem.

- Mas mudam os homens. – contesta o Administrador. - E que diferença faz isso? – filosofa o Selvagem.

Um mundo inteiro de diferença - disse Mustafá Mond. - Houve um homem, que se chamou cardeal Newman (John Henry). Uma espécie de Arquichante. Ouça-o: “Nós não pertencemos a nós próprios mais do que nos pertence aquilo que possuímos. Não fomos nós que nos fizemos, não podemos ter a jurisdição suprema sobre nós mesmos. Não somos senhores de nós. Pertencemos a Deus. Não é para nós uma felicidade encararmos as coisas desta maneira? Será, por qualquer razão, uma felicidade, um conforto, considerarmos que pertencemos a nós mesmos? Aqueles que são jovens e os que estão em estado de prosperidade podem acreditá-lo... Mas à medida que o tempo se escoa apercebem-se, como todos os homens, de que a independência não foi feita para o homem, que ela é um estado antinatural, que pode satisfazer por um momento, mas que não nos leva em segurança até ao fim...”.

Mustafá Mond deteve-se: “Diz-se que o sentimento religioso se pode desenvolver à medida que avançamos em idade... Então Deus, Supremo Bem, sai como das nuvens, e a nossa alma sente-O, vê-O, voltando-se para Ele, fonte de toda a luz... Porque, enfim, este sentimento religioso, tão puro, tão doce de sentir, pode compensar todas as outras perdas...”

Mustafá Mond fechou o livro e recostou-se na sua poltrona. - Uma das numerosas coisas do Céu e da Terra com que os filósofos não sonharam é isto - e brandiu a mão -, somos nós, é o mundo moderno [ou contemporâneo]. "Não se pode prescindir de Deus, a não ser durante a juventude e a prosperidade. "Pois bem, eis que temos juventude e prosperidade até ao último dia de vida. Que resulta daí? É manifesto que não podemos ser independentes de Deus.

- Então acredita que não há Deus?

- Não. Acredito que há, muito provavelmente, um.

- Então, por que... ? Mustafá Mond interrompeu-o. - Mas ele manifesta-se de maneira diferente aos diferentes homens. Nos tempos pré-modernos [ou contemporâneo], manifestava-se como o ser descrito nestes livros.

Como se manifesta Ele agora? - perguntou o Selvagem. Pois bem, fez o Administrador, manifesta-se como ausência, como se em absoluto não existisse.

 - Mas não é uma coisa natural sentir que há um Deus? – quer saber o Selvagem. - Crê-se em Deus porque se foi condicionado para crer em Deus.

- No entanto, apesar de tudo - insistiu o Selvagem -, “é natural acreditar-se em Deus quando se está só, sozinho, à noite, quando se pensa na morte...” Em síntese, o homem contemporâneo busca a Deus, não porque tem medo da morte, senão que esta procura seja natural em todos os homens.


Autor: Joacir Soares d'Abadia


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