A ÉTICA DO GÊNERO HUMANO COMO SABER NECESSÁRIO A EDUCAÇÃO DO FUTURO



RESUMO

Para uma atualização do processo educativo que quer acompanhar a espiral histórico-social faz-se necessário estabelecer novos paradigmas, a ética do gênero humano é sem dúvida uma guinada copérnica, numa tentativa de responder aos novos desafios colocados pela sociedade que traz de sua vivência variados conflitos até então não trabalhados pela educação “tradicional”. O resgate da essência humana com seus desdobramentos deve levar ao cerne da educação que é gerar uma sociedade onde os partícipes tenham condições de assegurar dignidade aos seus pares. O artigo apresenta o resultado de uma pesquisa qualitativa, do tipo bibliográfico e fundamenta-se nas teorias de STEIN e MORIN dentre outros.
PALAVRAS CHAVE: Valoramento, Ética, Gênero humano, Educação.

ABSTRACT

For an update of the educative process that wants to follow the description-social spiral becomes necessary to establish new paradigms, the ethics of the human sort is without a doubt a copérnica yaw, in an attempt to answer to the new challenges placed for the society that brings of its experience varied conflicts until then not worked by “the traditional” education. The rescue of the essence human being with its unfoldings must lead to cerne of the education that is to generate a society where the participants have conditions to assure dignity to its pairs. The article presents the result of a qualitative research, the bibliographical type and is based on the theories of STEIN and MORIN amongst others.
KEY WORDS: Valorization, Ethical, Mankind, Education.

INTRODUÇÃO

Numa realidade de crise globalizada, como a nossa, que perpassa culturas diversas, estruturas sociais, entre outros aspectos que poderíamos elencar, e que não se restringem às questões econômicas, estes na verdade são indicadores de uma crise maior que marca o homem hodierno, nos referimos à questão ética. As reflexões que chegaram a nós como herança do séc. XX do distanciamento da essência humana, de uma compartimentalização não só do conhecimento, bem como, daquilo que o homem tem por constitutivo, sua consciência existente, nos coloca questões de como enfrentar tal problemática existencial para que a espécie humana tenha condição de preservar-se.

As reflexões de Edgar Morin são de uma vitalidade que enriqueceram e abriu em meio à crise uma possibilidade de construção capaz de respondermos as questões a nós e por nós impostas. A base de sua reflexão, que pode até parecer por demais simples, está na redescoberta da antropologia não mais cartesiana, agora o homem será visto como sempre foi, um todo. Foi preciso chegar ao séc. XXI para torná-la explícita e assim gerar certa revolução em toda educação e consequentemente em nossa sociedade.

Trata-se de refundamentar todo o sistema educacional existente em bases como o valoramento do ser humano, redescobrir o que de fato é ser da espécie humana quais implicações este fato nos coloca, bem como possibilitar a construção de uma ética voltada para o ser vivente, empático e todas estas realidades devem ser desenvolvidas na e pela educação.

Daí o conteúdo do presente artigo restringir-se ao fundamento da essência humana e de suas ações, a ética, para um possível despertar do ser humano. Por meio dele compreenderemos que estamos na aurora de um novo tempo capaz de vivenciarmos de tal maneira e de irradiarmos nosso ente para além de nossa existência biológica, terrena, e de fazer acontecer à história da humanidade como aqueles que viveram em plenitude seu ser humano.

1. VALORAMENTO DO SER HUMANO

1.1 O que de fato é ser humano?

Não poucas vezes nos deparamos com comportamentos de pessoas que não são nada humanos, para contatar basta uma rápida parada em frente ao televisor que nos possibilitará visualizar a realidade atual. Mas, o que nos diferencia dos animais? Para podermos fazer esta reconstrução devemos analisar a estrutura que constitui o ser humano, que é diferente de tudo o que existe. O que de fato é ser humano? Hoje tornou-se uma pergunta sufocada, latente. O ser humano enquanto constituição ao nível antropológico filosófico possui uma tríplice estrutura corpo-alma-espírito e sua auto-realização consiste na harmonização destes três elementos, por isso devemos resgatar conceitos deixados no esquecimento sobre o que de fato é o homem e de que forma ele é constituído pessoa humana, ser vivente.

1.1 O corpo.

Como parte integrante da estrutura tríplice o corpo é de fundamental importância para a existência da pessoa humana; é preciso que haja uma metanóia em relação a significação do corpo, “eu não tenho corpo” mas, “eu sou meu corpo” tudo que se passa com essa estrutura é sentido pelo ser vivente, por isso não pode ser descartado como mero objeto. A realização interpessoal se dá por meio do corpo, a matéria é por sua vez revestida de humanidade e é o que possibilita expressar-se, ter uma relação com o mundo exterior. Quando um sujeito sorrir não é simplesmente a musculatura facial que se movimenta, é um ser humano que expressa seu sentimento através do seu corpo.

Há uma profunda unidade entre o corpo e a parte interior, de fácil observação também é a multiplicidade de doenças psicossomáticas que nada mais são que patologias corpóreas iniciadas pelo interior da pessoa, interior entenda-se parte psíquica.

A categoria da corporalidade passa a ser, assim, o primeiro momento do movimento dialético que leva adiante o discurso da Antropologia Filosófica. Nele a realidade do corpo enquanto humano é afirmada como constitutiva da essência do homem, isto é, como afirmável do seu ser, de modo a que possa estabelecer uma correspondência conceptual entre ser-homem e ser-corpo.

Portanto o corpo representa a transição de um sujeito para o mundo, condição de apropriação do mundo potencialização de transformá-lo, garantindo um ponto de vista do mundo, efetivando os orgãos do sentido. Eu, através do corpo, posso abre-me em direção ao mundo constituindo meu espaço minha realização como ser vivente.

1.2 A alma.

É preciso, pois, observar que

O corpo do homem não é simplesmente corpo, massa corporal, é corpo animado... O homem tem alma e esta se manifesta, não só nos atos vitais, que exerce a semelhança dos animais, mas também nesse mundo interior como o centro vivente para onde tudo tende e do qual tudo parte.

A diferenciação homem-animal, que não nega certos paralelismos encontrados se dá pela correta compreensão da alma sensitiva e da alma espiritual:

É possível, portanto, detectar na esfera vital dois níveis, um sensível (sinnlich) e outro espiritual (geistig). Por um lado eles estão conexos de forma tal que a força espiritual é condicionada por aquela sensível – normalmente, de fato, a vivacidade do espírito desaparece com o cansaço do corpo – por outro lado, podemos constatar também a independência dos dois momentos – por exemplo, reconheço o valor de uma obra de arte, mas sou incapaz de sentir entusiasmo.

O ser humano vive aqui a liberdade; essa é a essência de sua pessoa, aquilo que os caracteriza como seres intelectivos, capazes e humanos no sentido mais genuíno. Dessa maneira, a alma é o princípio de unidade do corpo humano. Ela e o corpo não são dois seres distintos; mas princípios distintos do mesmo ser. A alma constitui um “espaço interior no qual o eu se move livremente”. Segundo Stein o interior é o ‘lugar’ onde a alma é a possessão de si mesmo tornando o eu consciente e livre para decidir suas ações isto quer dizer que, a ação humana tem responsabilidade no seu autor daí a importância de uma formação integral fazer do ser humano consciente de suas potencialidades, de suas obrigações como pessoa humana.

1.3 O espírito.

O espírito sendo constitutivo das categorias antropológicas “revela uma estrutura ontológica não mais ligada à contingência e ao finito (como o somático e o psíquico)” . O ser humano transcende sua própria estrutura material e psíquica, uma vez descobridor de sua potencialidade o ser humano está em contínuo vir-a-ser, ele vai além de sua estrutura material participando da infinitude que constitui o espírito, o ser humano é e estar em constante desenvolvimento interior e exterior, uma vez na caverna, ontem na lua, amanhã quem poderá segurá-lo?

Apesar de todo esse desenvolvimento não só tecnológico é preciso que a humanidade não perca de vista seu fim último que é sua plenificação quanto ser humano não só formado de capacidades intelectivas, mas não menos importante seus sentimentos devem fazer parte desse desenvolvimento. Existe uma articulação entre a sensação possibilitada pela alma e a intelecção que codifica a sensação. Um animal ele pode sentir medo, mas jamais saberá que sentiu medo, o homem sente medo e sabe que está sentindo medo, sabe o que é o medo e sabe identificar quando um animal está com medo.

Só o espírito que possibilita tal compreensão fazendo do ato humano um ato espiritual, que tem por base sua presença no mundo exterior e a presença do mundo interior é essa síntese que unifica a estrutura antropológica do homem.

Caracteriza-se a presença do homem segundo o espírito como presença espiritual, ou seja, estruturalmente uma presença reflexiva. Esta reflexividade é própria do espírito e não tem lugar nem no somático, nem no psíquico. (...) A presença espiritual como presença reflexiva confere à linguagem sua forma especificamente humana de manifestação. .

1.4 O ser humano.

Depois de tratarmos de sua estrutura podemos agora falar do ser humano como um todo, o ser humano quanto pessoa é o ser que se plenifica ele é, e se faz. Possuidor de uma interioridade que anseia pela transcendência, capaz de um autoconhecimento, marcado pela liberdade, possuidor do seu eu, que busca a felicidade, felicidade que é anseio de todo ser humano e que comumente confundido com a sensação de alegria, a alegria é um momento de liberações de emoções produzidas por mecanismos psíquicos que em sua essência não coincidem com a felicidade esta por sua vez “vinculada à procura do bem supremo e da virtude” .

O fato de ser pessoa é o que constitui sua dignidade mesmo que esta, por diversos motivos utilizando mal sua liberdade, não queira sua plenificação ou sua humanização. Em sua essência ele está aberto ao que é nobre, a atos heróicos, criativos, à construção de relações intersubjetivas, capaz de doar-se por uma causa. O ser humano comporta em si um mistério, um enigma de luzes e sombras, complexo não só em sua unicidade bem como em sua universalidade. Como nos diz Edgar Morin:

O ser humano é um ser racional e irracional, capaz de medida e desmedida; sujeito de afetividade intensa e instável. Sorri, ri, chora, mas sabe também conhecer com objetividade; é sério e calculista, mas também ansioso, angustiado, gozador, ébrio, estático; é um ser de violência e de ternura, de amor e de ódio; é consciente da morte, mas que não pode crer nela; que secreta o mito e a magia, mas também a ciência e a filosofia ; que é possuído pelos deuses e pelas Idéias, mas que duvida dos deuses e critica as Idéias; nutre-se dos conhecimentos comprovados, mas também de ilusões e de quimeras.’

2. IMPLICAÇÕES DA CONDIÇÃO HUMANA

2.1Triádica humana: indivíduo / sociedade / espécie.

Após termos analisado a estrutura constitutiva do ser humano passemos a refletir sobre as implicações provenientes do fato de ser humano. Utilizando o esquema triádico, Morin, tenta restabelecer a consciência da interação entre indivíduo/sociedade/espécie numa complementariedade, que visa salvaguardar a espécie humana. “No nível antropológico, a sociedade vive para o indivíduo, o qual vive para a sociedade; a sociedade e o indivíduo vivem para a espécie, que vive para o indivíduo e para a sociedade (...) e são as interações entre indivíduos que permitem a perpetuação da cultura e a auto-organização da sociedade.” Como vimos o ser humano é constituído um ser de relação consigo mesmo, com o outro, e com a totalidade de sua significação.

Analisar o ser humano em sua complexidade, em seus diversos atos de existência nos possibilita caracterizar suas ações, bem como, projetar sob bases sólidas uma prospectiva que possibilitem uma formação capaz de corresponder de maneira satisfatória essa gama de diferenças que a princípio possa parecer um fator negativo, mas é o que justamente faz o ser humano. Partiremos para um mergulho mais denso nessa tentativa de estabelecer a pessoa humana numa antropo-ética que visa à educação do futuro.

2.1.1 Ser humano enquanto indivíduo

Em sua análise, Edgar Morin percebe que “todo desenvolvimento verdadeiramente humano significa o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e do sentimento de pertencer à espécie humana.” Ora, percebendo que o ser humano possui diferenças nítidas em relação ao seu par faz-se então necessário à salvaguarda da unicidade, pois, todo e qualquer ser humano é único, importante, sua essência humana depositada em sua existência tem as mesmas características básicas que o eu mesmo, portanto, daquilo que a mim difere deve ser visto como enriquecimento da espécie a qual o ser humano pertence.

Autonomia, nesse novo paradigma, é compreendida como conscientização de minha pertença não só a mim mesmo, mas a um grupo maior do qual também sou co-responsável, sendo assim, a efetivação da liberdade sempre estará em vista de um bem coletivo. Não há perca de autonomia, de liberdade, da individuação, há sim um desenvolvimento de tudo aquilo que compõe o ser humano suas capacidades, sua própria essência que faz um apelo ao outro “O individuo humano sozinho é uma abstração. Sua existência é existência no mundo, sua vida é vida em comum.”

2.1.2 Ser humano enquanto sociedade.

Nesta necessidade de sair de si para o outro, se cria às relações intersubjetivas célula da sociedade, já dizia Aristóteles: “o homem é por natureza um animal político” , podemos dizer, um ser social. A sociedade é organizada a partir dos indivíduos, sociedade como tal é abstrata, quem é a sociedade? Qual o perfil da sociedade? Como a sociedade esta organizada? Tantas e tantas outras questões poderíamos levantar, contudo a resposta só será dada se nos voltarmos para o indivíduo.

Quando por algum fator detectamos que a sociedade não vai bem, o que queremos dizer é que há indivíduos que não estão bem, é lamentável a distinção simplista que com muita naturalidade fazemos da sociedade e do eu, do individuo igual a mim, ser humano como eu, de igual dignidade, porém, nem sempre de iguais condições de desenvolvimento, conseguimos nos distanciar daquilo que nos é intrínseco.

O ser humano traz em si a necessidade de organiza-se, toda ação humana requer uma estrutura, seja no campo familiar, profissional, amistosa, somos levados a uma estruturação em alguns casos simples, em outros complexas, mas sempre ela se faz presente. É preciso que se diga que toda ação individual trás um ônus e um bônus social, Morin deixa claro a necessidade da conscientização dessa interligação.

(...) É apropriado conceber a unidade que assegure e favoreça a diversidade, a diversidade que se inscreve na unidade. (...) O ser humano é ao mesmo tempo singular e múltiplo. Dissemos que todo ser humano, tal como o ponto de um holograma, traz em si o cosmo. Devemos ver também que todo ser, mesmo aquele fechado na mais banal das vidas, constitui ele próprio um cosmo.

2.1.3 Ser humano enquanto espécie

A grande novidade que Edgar Morin trás para o ser humano quanto espécie é permitir que suas incapacidades e ou irracionalidade passe agora a ser vista de forma conjunta com a racionalidade e as capacidades, o ser humano do séc. XX era pensado nos parâmetros de uma visão unilateral racionalista, tecnicista, utilitarista.

Com certeza o homem é todas essas classificações, contudo, ele é muito mais, ele consegue ir além, a espécie humana comporta dualidades opostas dentro de suas possibilidades de concretizar sua existência. O homem racional é também afetuoso, sua projeção humorística trás em si uma timidez, seu afinco de auto-realização no labor é o mesmo quando se entrega ao lúdico.

Essa conscientização nos aproxima do que realmente consiste a espécie humana, Morin com sua teorização possibilitar um melhor conhecimento do que é de fato a espécie humana formada por indivíduos complexos “somos seres infantis, neuróticos, delirantes e também racionais. Tudo isso constitui o estofo propriamente humano.”

Sob este prisma o erro, tão temido pelos humanos tem seu lugar com a maior naturalidade, não como algo a ser buscado desejado, mas como condição da espécie humana que em sua existência não é absoluta. Por mais absurda que possa parecer para nossa mentalidade atual à tomada de consciência da possibilidade que podemos errar nos humaniza, essa conscientização tem o poder de nos igualar quanto seres humanos. Quantas tragédias históricas entre países ou até mesmo familiares pela falta de sensatez em reconhecer sua condição de ser humano e por isso falho.

Acredito que essa mentalidade traz certa tranqüilidade ao homem moderno stressado em querer sempre está certo e com a razão em tudo, não se permitindo como ser humano ser passível a falhas, é um emsoberbamento da razão em detrimento a sua constituição intrínseca de ser humano.

3. ÉTICA DO GÊNERO HUMANO.

Analisado as implicações condicionais ao ser humano, indivíduo/sociedade/espécie, chegamos ao núcleo de nosso propósito, a questão ética. Ora, os elementos acima trabalhados desembocam na necessidade de uma estruturação ética entendida como ciência do ethos, mas, que vem a ser o ethos?

Na acepção do termo, ethos exprime algo duradouro que regula os atos do ser humano, não se trata de uma lei imposta de fora ou de cima, antes, é algo que atua dentro do ser humano, uma forma interna, uma atitude de alma constante, aquilo que a escolástica chama de hábito. Tais atitudes constantes da alma conferem à variedade de comportamentos uma determinada marca homogênia, e é através dessa marca que eles se manifestam externamente.

Desde a filosofia clássica havia uma preocupação com o agir humano, com a ética, até então travou-se várias lutas teóricas para construção de uma ética universal, já que para sua efetivação faz-se necessário uma base comum universal . Para Edgar Morin a ética do séc. XXI está alicerçada na compreensão “a ética da compreensão é a arte de viver que nos demanda, em primeiro lugar, compreender de modo desinteresado. Demanda grande esforço, pois não pode esperar nenhuma reciprocidade” .

Essa percepção, só poderá existir munida de uma mudança de mentalidade, criar no ser humano uma prática de introspecção do auto-exame; uma conscientização da complexidade humana, numa abertura subjetiva empática e na interiorização da tolerância. “Desde então, a ética propriamente humana, ou seja, a antropo-ética deve ser considerada como a ética da cadeia de três termos: indivíduo/sociedade/espécie, de onde emerge nossa consciência e nosso espírito propriamente humano.”

O que Morin propõe é na verdade uma revolução paradigmática em toda a esfera do ser humano, sua proposta estabelece a revolução antropológica pós-moderna. O homem, agora consciente de seu todo, aberto ao diferente, passa a assumir o trabalho de humanização da humanidade, alcançando a unidade na diversidade por meio da solidariedade da compreensão respeitando no outro a diferença e a identidade. Conforme Morin,

A antropo-ética compreende, assim, a esperança na completude da humanidade, como consciência e cidadania planetária. Compreende, por conseguinte, como toda ética, aspiração e verdade, mas também aposta no incerto. Ela é consciência individual além da individualidade.

Todo esse processo culminará na democracia que para ele não é um simples regime político, “é a regeneração contínua de uma cadeia complexa e retroativa: os cidadãos produzem a democracia que produz cidadãos.”

4. A EDUCAÇÃO DO FUTURO

No sistema cartesiano na sociedade o relevante era a capacidade racional que marcou de forma indelével a sociedade moderna com suas especialidades, que a princípio não há nada que seja contra, contudo, esqueceu o todo complexo que é o ser humano. A educação que anda atrelada ao momento histórico acompanhou esse movimento fragmentário, compartimentalizando o conhecimento e a forma de transmissão, naquele momento o importante para o ensino era tudo aquilo que dizia respeito à razão, claro que temos ai um tipo de compreensão antropológica positivista, unilateral.

A educação que Edgar Morin delineia restabelece o conhecimento de forma integral vendo na educação a possibilidade de plenificação do ser humano em sua complexidade. A transdisciplinariedade como ferramenta eficiente para esse processo, passa agora a ser cada vez mais teorizada permeando, assim, o antigo e fadado sistema educacional.

O centro da ensinagem agora é o próprio ser humano “desse modo, a condição humana deveria ser o objeto essencial de todo o ensino” . Capacitando o ser humano a vivenciar aquilo que temos de mais real que é a incerteza, sair do determinismo, é preciso esperar o inesperado , torna-se função do educador está na vanguarda desse processo, de estar à frente das incertezas. Por ser inovador requer ousadia, destemor, coragem de acreditar na educação e no ser humano, e em suas capacidades.

É preciso criar novos meios de transmissão do ensinamento sem polarização entre responsabilidade do professor, como era antes e nem responsabilidade do aluno, como é hoje. Percebe-se uma rixa nesse comportamento que só vem a prejudicar como já vimos acima, os dois tanto aluno como professor querem estar com a razão nessa intriga quem perde é a educação.

Em meio às crises econômicas, culturais, de valores e de tantas outras, desponta como um alvorecer em meio às trevas, a educação, sem devaneios, muito menos arroubos de professor no início de carreira, Edgar Morin descreve uma reestruturação no sistema educacional, ele esclarece que é um labor a ser desenvolvido, árduo, um processo lento. O Morin, em sua obra “Os sete saberes necessários à educação do futuro” traça um plano educacional, o passo a passo para construção de uma sociedade mais humana, “cabe à educação do futuro cuidar para que a idéia de unidade da espécie humana não apague a idéia de diversidade e que a da diversidade não apague a da unidade.”

A educação para o séc. XXI deve está orientada para a antropo-ética paradigma fundante de uma nova sociedade, onde Homens conhecedores de suas identidades humanas optam pelo que é humano, pela solidariedade empática que estabelece ligação com o outro igual e diferente a mim. Por isso,

Todo trabalho educativo é oferecer em tempo e lugar adequado os meios necessários para incentivar o formando à atividade, preveni-la, prepará-la, sem violentar a liberdade. O educador humano precisa esforçar-se, ter métodos, técnicas, recursos vários, pois sua missão é desperta no outro, o desejo de aperfeiçoamento.

Esse é o espírito que vivificará o educador do futuro. É do conhecimento de todos que a educação esta sendo vilipendiada de tantas formas em nosso país, carecemos de políticas públicas que viabilize condições dignas, contudo ainda mais sério é o descrédito por parte de inúmeros professores com relação à educação.

É preciso apostar na educação, acreditar que um jeito novo é possível, esses seres humanos em formação que passa por minhas aulas precisam encontrar essa luz do novo, eles precisam saber e sentir que são valorizados por sua condição humana e mesmo que por diversos motivos não tenham as mesmas condições econômicas, mas antes de tudo são portadores de transcendência, podem ir além, são capazes de reescrever sua própria história.

Para uma nova sociedade humanizada, como ansiamos não nos é mais permitido um sistema educacional que não tenha por base a empatia, fundamento constitutivo da relação aluno versos professor, é preciso que se estabeleça uma relação amistosa que vá além da minha sala de aula, bem como em sala de aula é necessário que todo preconceito seja trabalhado que sejam formadas pequenas células sociais que tenham condições de trabalharem em conjunto onde haja respeito recíproco, não pelo simples fato de ser professor, mas por que sou um ser humano, pessoa humana, tão pessoa humana como aquele para o qual contribuo com a sua formação para a plenificação de sua pessoa humana.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo, pois apresentado a base para uma revolução antropológica-educacional, algumas considerações finais se fazem necessárias. Cremos ter abordado de maneira suficientemente clara a proposta de Edgar Morin para a compreensão de uma ética do gênero humano como saber necessário para educação do futuro.

Em sua essência o ser humano é complexo e complementar, com características diferentes, mas de igual dignidade. Por isso, a atitude mais condizente não é certamente a de uma luta que perpassa culturas, gerações. O ser humano capaz de uma antropo-ética é um ser maravilhoso do qual dependem a harmonia e a humanização da sociedade. Assim, este artigo vem ser também, uma forma de encorajar a todos da espécie humana de maneira especial aos marcados pela missão educacional a viverem aquilo que têm por essência, sua humanização.

A humanidade precisa de homens e mulheres que optem por sua plenificação e o caminho está na educação, pela educação nesta prospectiva esperamos os efeitos da mais genuína caracterização humana: o amor maduro e incondicional, a capacidade afetiva e a empatia traços peculiares que nos diferencia de tudo aquilo que não é humano.

A marca indelével dos seres humanos é a busca por uma sociedade mais humana, e a força das verdades encontradas pode animar não somente a nossa, mas também gerações futuras. Deixemos, pois que o sopro vivificante da verdade, inspirado pela educação com a reflexão da antropo-ética pensada por Edgar Morin, possa nos aquecer, animar nossa existência de educadores que busca juntamente com ele um meio de nos plenificarmos como pessoa humana.

Tornemo-nos fachos, que por onde passam, aquecem o gélido quinhão a nossa sociedade herdada. A vivacidade de nossa humanidade, sejamos homens ou mulheres, está como brasas escondidas, ela existe, pois é obra do Espírito que está vivo e não morre.

REFERÊNCIAS

BELLO, Angela Ales. A fenomenologia do ser humano. Tradução de Antonio Angonese. Bauru, SP: EDUSC, 2000.

GARCIA, Jacinta Turolo. Edith Stein e a formação da pessoa humana. São Paulo, SP: Loyola.

JAPIASSU, Hilton. MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar editor, 1991.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro, tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. 10.ed. – São Paulo: Cortez; Brasília, DF:UNESCO,2005.

MOTTA, Lauro. Apontamentos de aulas de antropologia filosófica, Fortaleza 2004.

STEIN, Edith. A mulher: sua missão segundo a natureza e a graça. Tradução Alfred J. Keller. Bauru, SP: EDUSC, 1999.

STEIN, Edith. La Estuctura de la persona humana. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1998.

VAZ, Henrique C. Lima, Escritos de filosofia IV: Introdução à ética filosófica I. São Paulo: Loyola 1999.

ARISTÓTELES - Política Livro I Capítulo 1, Tradução de José Oscar de Almeida Marques disponível em Acesso em 25 mar. 2009

LEITE,Gisele. História da ética. Disponível em http://recantodasletras.uol.com.br/textosjuridicos /504357> Acesso em 26 mar. 2009.
Autor: Moisés Rocha Farias


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