Crônica: Quem esquece o passado...



Como ser realista e, ao mesmo tempo verdadeiro? É tão natural querer mascarar a dura realidade com frases amenas... É sobrenatural contar a realidade, sem amenidades...

Tentando contribuir para composição da grande epopéia que é a vida humana vou relatar uma parte da minha história pessoal. Sou filha de professores. Meus Pais se conheceram na Faculdade de Educação Física da Universidade de São Paulo – USP, em 1950. Desde que iniciei meus estudos, quando alguém me perguntava "o que queria ser quando crescesse", meus pais se antecipavam na resposta dizendo: "qualquer coisa, menos professora!", porque ganhavam pouco, trabalhando muito na Escola Estadual Professor Martinho Byzzuthde Igarapava (SP). Por estar convicta de que professores eram mal remunerados e não reconhecidos como profissionais brilhantes, cursei Direito e atuei durante vinte anos nesta profissão. Aprendi a lecionar monitorando classes, em alguns conteúdos, ainda na universidade e desde então descobri que minha vocação e verdadeiro amor é a Docência, que sigo professando, em banca particular e na Universidade a trinta e dois anos.

Quem esquece o passado, se condena a reincidir nos mesmos erros anteriores. Se professores podem ser considerados indicadores educacionais, passando, muitas vezes, por avaliações de desempenho; se a avaliação desses profissionais é tão importante para direcionar planos e condutas educativas, nada mais natural que fossem bem remunerados. As profissões mais elitizadas e mais bem pagas são, justamente, as que exigem tempo integral e responsabilidade irrestrita. Isso mesmo. Que exigem tudo o que professores, de forma singela, fazem!

A Docência é o berço de todos os demais saberes.A ruptura epistemológica auferida ao aluno é responsabilidade do professor. A avaliação do saber de seus alunos e autoconscientização de desempenho é responsabilidade do professor. O tempo despendido em aulas, geralmente é todo o tempo útil desses profissionais, que lutam desbragadamente para conseguir acompanhar ementas e conteúdos, com o mínimo de ferramentas e instrumentos possíveis, fornecidos pelas autoridades competentes.

Meus Pais eram socráticos, eram clássicos, não sobreviveriam no atual sistema educacional, mas me espelho neles para expor que o exame (de Sócrates) e a avaliação somente provarão algum valor quando houver valor no que se quer provar.

Professores que são obrigados a se pós-graduarem, lato e strictu sensu, sem nenhum respeito ao tempo de que dispõem, sem que se lhes disponibilize este tempo, sem condições de transporte e, sobretudo, sem bolsas, sempre tão complexas e dificultadas aos mais práticos, humildes e desafortunados docentes, não deveriam ser avaliados, antes, deveriam receber galardões e lohas, porque são heróis, de um tempo sem heroísmo, em que todos percebem o erro, mas se escudam e simplificam, impedindo acertos.

A História e a Historiografia já contaram que a Educação é a principal arma de um povo. A violência, a doença, a miséria, a tirania e a ignorância se rendem a ela. É preciso educar o povo brasileiro, fornecendo informação rica e selecionada. É preciso dotar o Brasil de professores que sejam símbolos de salários dignos, atualidades e exemplo. É preciso dar valor e pagar bem aos que têm como incumbência profissional, trazer a luz aos que estão dela necessitados.

Uberaba, 5 de março de 2009.

BARROS, Talma Bastos de: Quem esquece o passado... (crônica). WebArtigos, 23/08/2009.


Autor: Talma Bastos de Barros


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