Por que os chefes ameaçam e fazem piadas sem graça?
Alguns profissionais que ocupam posições de liderança comportam-se de
forma autoritária para conseguir resultados mais rapidamente diante das
contingências de TI. Ameaças diretas ou
ironias tornam-se corriqueiras na ocorrência de qualquer urgência, importante
ou não. Estas fazem parte do modus operandi do gestor que fica preso
ao hábito da punição para obter um comportamento desejado dos seus subordinados.
Mas ao longo prazo a sua equipe perde performance e se ele vacilar, o seu
emprego.
Os líderes da
tecnologia da informação lidam no dia-a-dia com um ambiente hostil. Devido a
grande dependência de TI, as demandas são sempre superior a capacidade de
entrega. Como consequência, o gestor se vê pressionado pelas áreas de negócio
que cobram mais resultados e falaciam o tempo todo. Quando o seu repertório
acaba, só resta pressionar os colaboradores por resultados imediatos,
repassando na mesma intensidade a pressão das áreas de negócios. Neste momento,
nasce o ditador.
Infelizmente,
a forma mais eficiente de obter resultados no curto prazo é por meio da
liderança autocrática. Nesta, existe apenas uma única opinião e os subordinados
concentra-se em interpretá-la e executá-la. Os que não concordam prontamente e
questionam são ameaçados e entram na lista dos bodes expiatórios. O gestor de TI ao ver o seu pedido atendido,
mantém este modus operandi que vira
um hábito e entende que este método molda mais rapidamente o comportamento da
equipe e gasta menos tempo com a gestão de pessoal, aumentando assim a sua
própria produtividade.
Esta gestão é
com frequência composta de ameaças diretas ou por meio de ironias que sinalizam
punições ou a perda de privilégios. Tudo isso aumenta o clima de tensão da
equipe que não tem para onde extravassar, aumentando o estresse e a
insatisfação de todos. Os colaborados gradativamente perdem a sua motivação
pelo trabalho e em alguns casos, a auto-estima. A equipe que já não pode ser
muito criativa, perde a produtividade e começa a adquirir resiliência às
ameaças do chefe, passando a não responder ao seu estímulo. Assim, a
rotatividade aumenta e instaura-se um clima que pode levar a demissão do
gestor.
Quem já tem
uma certa kilometragem, certamente já trabalhou com alguém que tenha este
perfil - eu já perdi as contas dos chefes autoritários que tive. É realmente um
situação de estresse ininterrupta. Tive um colega meio depressivo cujo chefe
tinha o hábito de querer provar que ele não tinha conhecimento algum, mesmo
sendo um especialista e um ótimo profissional. Um estudo realizado pelo Journal of Epidemiology and Community Health menciona
que empregos com alto nível de exposição a ameaças de colegas, chefes ou
clientes, aumentam em cerca de 50% o risco de depressão e 30% o risco de
distúrbio relacionados ao estresse. Imagine, o impacto na produtividade e
qualidade do trabalho. Em razão da criticidade do tema, foram aprovadas várias
leis a nível municipal, estadual e federal no Brasil que visam coibir esta
prática. A própria CLT já prevê a
indenização por falta grave do empregador, inclusive ações categorizadas como
assédio moral.
Observe que no
dia-a-dia acontecem muitas situações de estresse com o seu chefe e colegas de
trabalho. O que é normal. Muitas vezes, recorrem-se a ironia, por exemplo,
durante as discussões mais acaloradas. Todavia, a situação, é diferente e
pontual. Vocês está tendo um diálogo mesmo que o seu chefe não concorde com
nada que você diga naquela conversa específica. O que não é normal é a
repetição contínua de um mesmo comportanemto do seu chefe contra você. Ameças,
piadas sobre a qualidade do seu trabalho, humilhações são exemplos de assédio
moral que nada contribuem para a melhoria do trabalho e das relações dentro das
empresas.
Um
fato é certo com relação a esse processo: o comportamento do seu chefe é também
moldado pelas suas respostas. Se o seu comportamento for o medo e atendimento cego
as suas demandas sem questionamentos, ele manterá o seu comportamento pois
conseguiu o que queria. A melhor saída é provocar discussões e demonstrar que a
equipe tem conhecimento suficiente para encontrar soluções melhores e que estão
em “sintonia” com a sua proposta. Tudo isso de uma forma amadurecida para fazer
ele pensar que ele provocou este debate e criou um ambiente melhor de trabalho.
Por exemplo, se o seu chefe determinar algo na sua coordenação de projetos de
sistemas sem lhe consultar e de forma ameaçadora, proponha uma mudanda na
metodologia e discuta com todos com base na sua “demanda”. Pois ele está,
provavelmente, tentando fazer as coisas darem certo da maneira errada e cabe a
equipe educá-lo.
Um
alerta sobre chefes ditadores: tenham cuidado para não bater de frente e virar
obstáculo. Estes, muitas vezes, são valorizados dentro da empresa pois são
agente de mudanças e produzem resultados no curto prazo, normalmente não
sustentáveis. Quanto às piadas sem graças, estas fazem parte da estratégia do
seu chefe de assediar ou, provavelmente, usa as piadas sem graça para suavizar
o impacto das ameaças e estragar o dia daqueles que possuem senso de humor.
Autor: Paulo Farias Castro Filho
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