TRITÕES, VINTE E OITO ANOS DEPOIS



(EXPLICAÇÃO IMPRESCINDÍVEL AO LEITOR)

Este romance foi escrito ao final de 1981, quando vivíamos, no Brasil, uma grande efervescência política, decorrente, dentre outras, das seguintes circunstâncias:

·os reflexos, na opinião pública, da surrealista solução dada ao Inquérito Policial – Militar (IPM) instaurado para apurar o chamado "Caso Riocentro", que ocorrera em 30 de abril daquele ano;

·os preparativos para as eleições gerais que teriam lugar em 1982 – as primeiras, depois de 17 anos, em que voltaríamos a eleger Governadores pelo voto direto – e para cuja realização estava em curso a reorganização partidária; esta, por sua vez, culminaria com a extinção da ARENA e do MDB e a subseqüente criação do PDS de José Sarney, do PMDB de Ulysses Guimarães, do PDT de Leonel Brizola, do PTB de Yvette Vargas, do PT de Lula e do PP de Tancredo Neves – este último, logo incorporado ao PMDB, ainda bem antes das eleições; e

·as expectativas para a sucessão do Presidente João Figueiredo, a ser consubstanciada em eleição indireta, ao final de 1984, processo esse que, sem dúvida, seria fortemente influenciado pelos resultados de 1982.

À época, como Capitão-de-Corveta (Fuzileiro Naval), servia eu no Gabinete Militar da Presidência da República, como analista do campo político. Dentre as tarefas a mim atribuídas, constava a de acompanhar tudo isso de perto, inclusive freqüentando com bastante assiduidade o Congresso Nacional.

Na mesma ocasião, os movimentos da chamada "esquerda revolucionária", ainda ilegal, preocupavam o Governo. De tanto observá-los e estudá-los, nos setores político, econômico, social, administrativo, sindical, estudantil, religioso e até militar, e instado, por dever de ofício, a visualizar cenários futuros – e os prováveis "métodos de luta" das "esquerdas" nos mesmos -, acabei por imaginar uma situação extrema: às vésperas da eleição do sucessor de Figueiredo, uma organização "subversiva" tentaria criar uma "Zona Liberada" no Brasil, nos moldes do que vinha ocorrendo em outros países, como a Nicarágua, El Salvador e Granada. Dada a "implausibilidade" de tal acontecimento, evidentemente não o apresentei nas apreciações que costumava redigir, mas, influenciado pela leitura costumeira de Tom Clancy, Frederick Forsyth, Ken Follet e outros, cogitei redigir um romance com o tema que assomara a meu espírito. Todavia, os que viveram aqueles tempos hão de se recordar de que essa "implausibilidade" era relativa – pouco antes ocorrera algo parecido, no Araguaia...

Mas para que tal hipótese apresentasse alguma verossimilhança, no romance, seria necessário embasá-la com certas pré-condições, igualmente fictícias, de natureza política, econômica, social, militar e administrativa, advindas dos possíveis resultados das eleições de 1982. Assim, com base nos conhecimentos que armazenara até então, sobre o desenrolar da campanha, projetei alguns resultados, que inseri na obra, integrando o cenário que imaginara. Resumi-os num quadro, ao final desta introdução. E, sem falsa modéstia, posso afirmar que não errei tanto...

A partir daí, pus as mãos à obra, à noite, em casa, servindo-me de uma velha Olivetti Lettera, naqueles tempos pré-Windows...

O enredo envolve três características que muito influenciaram minha carreira:

1.passa-se no Pantanal Matogrossense, onde residi e trabalhei por cinco vezes, e, adicionalmente, casei-me e vi nascer minha filha;

2.trata-se de uma Operação Ribeirinha, ação em que muito me adestrei, nos longos anos em que servi naquela região; e

3.são empregados Blindados Anfíbios, o que normalmente não ocorreria em rios, mas apenas no mar; entretanto, fui levado a isso pelo fato de ter sido o primeiro Comandante, no Brasil, de uma unidade de carros desse tipo (os "Urutus", adquiridos pela Marinha em 1973, que chefiei do "nascedouro" até 1975, e hoje são obsoletos), e também pela intenção de dar ao romance uma "feição" inusitada.

Naturalmente, procurei descrever o cenário nacional que, em minha opinião, decorreria das eleições de 1982. Por exemplo, observará o leitor que descrevo as Forças Armadas enquadradas em um Ministério da Defesa, o que só veio a ocorrer quase dezessete anos depois. Isso não significa que eu fosse, à época, ou seja, agora, partidário dessa estrutura – muito pelo contrário; mas já àquele tempo, via como inevitável essa reorganização.

Inseri também uma "situação internacional" que, hoje, passados quase trinta anos, parecerá risível aos leitores; todavia, à época, eram ainda inimagináveis certos acontecimentos posteriores, como a queda do Muro de Berlim e o esfacelamento da União Soviética – que já se tornaram História...

Enquanto permaneci no serviço ativo da Marinha, até 1996, foi-me inviável publicar a obra, já que minha situação funcional me impedia de divulgar textos de cunho político, ainda que fictícios. Por outro lado, as conjunturas nacional e internacional se modificaram tanto, que o argumento se tornou anacrônico.

Todavia, a partir, aproximadamente, de meados dos anos 90, pareceu-me ter voltado à baila, com certa intensidade, o noticiário sobre fatos e circunstâncias bastante assemelhados aos ocorridos ao final dos anos 70 e início dos 80: a Colômbia tem uma parte considerável de seu território controlada por "narcoguerrilheiros", que de há muito penetram na Amazônia brasileira, onde se homiziam; a iniciativa norte-americana de dar combate a esse misto de traficantes e subversivos traz sempre a suspeita de gerar conseqüências graves para o Brasil – para onde, por certo, podem fugir. Recordemos também o episódio ocorrido em 1991, no Rio Traíra (fronteira Amazonas – Colômbia), que voltou aos jornais em 2000, quando foram levantadas dúvidas sobre a realidade dos combates ali travados supostamente entre guerrilheiros colombianos e tropas do Exército Brasileiro. Acentua-se, cada vez mais, a ação deletéria – e impune - do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem – Terra (MST), que, segundo o noticiário da mídia, não é um movimento social, mas político, de bases marxistas e maoístas, violento, com intenções revolucionárias...

Importante também recordar que, em meados de 1990, poucos meses após a queda do Muro de Berlim (09/11/1989), reuniram-se no Brasil os órfãos latino- americanos de Marx, Engels, Lenin, Trotsky, Gramsci, "Che", Fidel e tantos outros – ou seja, os partidos legais de esquerda e as organizações revolucionárias - para fundarem o chamado Foro de São Paulo, que, em minha opinião, constitui uma "V Internacional" (as outras quatro são descritas no Appendix a este trabalho). Os efeitos dessa iniciativa são inteiramente perceptíveis ao momento em que escrevo (agosto de 2009), e a imprensa livre os noticia à farta: são as ações antidemocráticas, ideológicas, totalitárias, caudilhescas e totalmente esclerosadas de alguns governos latino-americanos: Hugo Chávez na Venezuela, Daniel Ortega (renascendo o sandinismo) na Nicarágua, Tabaré Vasquez no Uruguai, Rafael Corrêa no Equador, Evo Morales na Bolívia, Fernando Lugo no Paraguai e, naturalmente, o morto-vivo Fidel Castro, de Cuba, a liderar esse processo, secundado por seu fiel escudeiro Chávez. Louve-se, nesse particular, a pronta reação do povo hondurenho quando seu presidente Manuel Zelaya, apoiado pelo governo venezuelano, tentou inutilmente orientar seu país para essa senda trágica.

No Brasil, lamentavelmente, o PT que nos governa há oito anos tem sua cúpula dirigente aparelhada por indivíduos irremediavelmente comprometidos há décadas com a causa marxista-leninista – o que não é ilegal, como há trinta anos, mas sem dúvida é um retrocesso imensurável, eis que a História mais que comprovou o fracasso de tal ideologia. Com isso, nossa política externa, propositadamente dúbia, tem servido de apoio a esse processo de esquerdização das Américas, a pretexto de "isolar" os Estados Unidos, numa reedição da guerra fria que o mundo civilizado lançou ao lixo da História, com os restos da demolição do muro de Berlim... e o Brasil não viu !!!

Repetir-se-á a História, agora como farsa, como dizia Karl Marx? Ou, como no dizer de George Santayana, estaremos condenados a repetir nosso passado, por não nos termos empenhado em conhecê-lo? Mas prefiro ficar com Cícero: "Historia Magistra Vitae" ("a História é a mestra da vida"). E, por isso, pareceu-me oportuno tentar, finalmente, lançar os "Tritões".

Mas que caiba ao leitor decidir sobre a "plausibilidade" dos acontecimentos fictícios aqui descritos, tanto quanto sobre a oportunidade de se lançar hoje texto desse teor. Uma boa leitura, é o que desejo a todos.

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Autor: Gil Ferreira


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