O Problema do Mal



Num mundo que durante toda a sua história, e especialmente no último século, tem sido marcado pela dor, o conflito, e as guerras, resulta natural refletirmos sobre a existência, a natureza, e a origem do mal. A Religião, a Filosofia, as Ciências e até a Tecnologia têm tentado dar uma resposta e uma solução ao problema do mal, sem atingir uma resposta satisfatória.

Ao tomarmos como ponto de partida o princípio integrador do Uno, não a diversidade mutável da realidade, podemos enunciar afirmativamente que o mal, em si, não existe. Disso podemos inferir que não há no Uno mal nem carência. “A escuridão é só ausência de luz; na presença da luz a escuridão simplesmente não é”. Isso não significa que a escuridão não é escura... Infelizmente, esta ingenuidade tem feito mais dano que bem.

Primeiro devemos considerar a unidade essencial no Uno. Na integralidade total não há erro nem desarmonia, tudo flui com um propósito perfeito, em perfeita ordem e perfeito ritmo. À vista do princípio integrador, o bem reside no propósito do Uno. Ou seja, se tudo contribui para a harmonia do todo, então, é bom. Só pode existir o mal, a carência, na realidade fragmentada.

Segundo, é preciso observar atentamente os dados da experiência sensível para fazermos uma avaliação equilibrada do mal, de qualquer espécie, e o seu efeito. É no campo da realidade que o mal aparece e pode ser observado. Na dimensão das “coisas”, onde os propósitos são parciais, na maioria das vezes sem ordem nem harmonia, o mal aparece como inevitável. Do ponto de vista do sensível e temporal, tudo passa e decai.

O terceiro e último fator a ser considerado é que, racionalmente, essa fragmentação da realidade é uma experiência exclusivamente humana. Até onde podemos saber, a percepção fenomênica está limitada ao gênero humano e não pode ser comunicada às outras espécies da terra, nem forma parte da natureza Divina ou Angélica. Em outras palavras, a percepção do mal é uma criação dos seres humanos.

Podemos concluir que não há “mal em si”, uma natureza do mal, algo total e radicalmente mau, senão uma percepção de conflito ou carência por parte do ser humano.

Desde a visão da totalidade unificada e integrada no Uno, não pode existir o mal porque todas as coisas contribuem para o propósito último. No Uno não há acaso, por isso mesmo não pode existir conflito. No Uno tudo está completo, razão pela qual não pode haver carência. Se o mal é percebido, basicamente, como conflito, carência, ou ambos, então afirmamos que no Uno não existe o mal.

A fragmentação e divisão dos dados e seres percebidos por meio do sentido de separação. Isso é algo que acontece no interior do indivíduo humano. Percebemos a nós mesmos e aos outros seres como diferentes, separados. É essa a raiz do sofrimento, e o sofrimento é a consciência do mal. A superação dessa separação acontece quando deixamos de perceber “nós e outros”, e começamos a experimentar “nós nos outros”. Não pode haver mal onde há amor.


Autor: Andrés Ayala


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