O Canto Orfeônico



A história do canto em conjunto tem suas raízes intimamente associadas à história da música e da própria humanidade. As primeiras melodias foram proferidas durante o canto coletivo de tribos primitivas em rituais religiosos para clemência e agradecimento aos deuses
Para Platão (427-347 a. C.) até à Idade Média, o conhecimento dividia-se em duas grandes áreas: o Trivium (constituído por gramática, dialéctica e retórica), e o Quadrivium, constituído pela música (disciplina da relação do número com o som), pela aritmética (disciplina das quantidades absolutas numeráveis), pela geometria (disciplina da magnitude imóvel das formas) e pela astronomia (disciplina do curso do movimento dos corpos celestes) (JAPIASSÚ, MARCONDES, 2006 p. 271). Era assim natural relacionar a música com a astronomia ou a matemática, olhando para a escala de sete sons como um problema cósmico, ou para a astronomia como uma teoria da música celeste.
Já Pitágoras (572-497 a. C.) distinguia entre três tipos de música, que se mantiveram durante toda a Idade Média. Eram a musica instrumentalis, a música produzida por instrumentos musicais (a música cantada fazia parte desta classe, sendo as cordas vocais consideradas um instrumento musical); a musica humana, a música inaudível produzida por cada ser humano, indicativa da ressonância entre corpo e alma, e ainda a musica mundana, a música produzida pelo cosmos, mais tarde conhecida por música das esferas. (STEFANI, 1987, p. 15)
.Já no período clássico, foram estabelecidos os pilares do canto coral dentro da cultura grega e entre cristãos. O termo choros nasce na Grécia e diz respeito aos grupos de cantores e dançarinos que uniam suas vozes para formar melodias distintas entre si. Com esse povo, o coro ultrapassou os limites religiosos e adentrou as festividades populares.
O cristianismo, por sua vez, utilizou a música com a intenção de transmitir palavras litúrgicas e atrair mais fiéis para sua Igreja em expansão, depois que o imperador romano Constantino I permitiu a liberdade de culto, no ano 313. Dentro de templos cristãos funcionavam verdadeiras escolas de canto, sendo a primeira delas fundada pelo papa Silvestre I, no século IV. (WANDERLEY, 1977).
Com a reforma protestante do século XVI, foi reforçado o uso do canto coral em ambiente religioso, condição que se manteve até meados dos séculos XVIII e XIX. No entanto, as transformações políticas e econômicas desse período provocaram alterações profundas na sociedade. A classe média emergia e também procurava sofisticações culturais. Para satisfazer essa demanda, houve um grande aumento no número de corais desligados das igrejas, nascidos em várias regiões da Europa, especialmente França, Áustria e Alemanha. A tradição até hoje é enorme na Europa, entre pessoas comuns como médicos e advogados praticamente todos participam ou já estiveram em algum grupo de canto coral.
Como já falamos, o canto é uma prática tão velha como a humanidade. Foi sempre em coro que grande parte da música litúrgica e a música de trabalho e romarias também se fazia. Os coros litúrgicos, também chamados Capelas eram constituídos por poucos membros até ao Romantismo, ou ao Pré-Romantismo inglês. No século XIX, o movimento coral organiza-se fortemente na Alemanha Liedertafel e na França, o movimento do Orphéon aparece e se divulga fortemente na primeira metade do mesmo século.
A origem do Orphéon na França no século XIX, ocorreu com o apoio de Napoleão III. O termo “orfeão” (orpheón) – que se referia aos conjuntos de discentes das instituições regulares de ensino que se reuniam para cantar em apresentações e audições públicas.
O Canto Orfeônico tornou-se muito popular na França, pois “o canto coletivo era uma atividade obrigatória nas escolas municipais de Paris e o seu desenvolvimento propiciou o aparecimento de grandes concentrações orfeônicas que provocavam o entusiasmo geral” (GOLDEMBERG, 1995, p. 105). Nesse período, a abrangência desse empreendimento foi tão grande que houve a necessidade até mesmo uma imprensa orfeônica.
Segundo Renato Gilioli (2003), o canto orfeônico procurou “trazer mensagens e tentar incutir comportamentos nos seus praticantes e espectadores” (p. 55), tornando-se um útil instrumento para objetivos sociais e político-ideológicos, atendendo a necessidade do momento político-social que a França vivenciava no século XIX. Nesse contexto, a harmonização social e de unidade da massa veiculada pelo canto orfeônico, proporcionava um efeito emocional pela linguagem musical, vinculada à transmissão de conceitos da educação cívica e de valores morais por meio dos textos das canções, instalando um perfil cívico-patriótico em harmonia os ideais do estado na educação.
A nomenclatura foi utilizada pela primeira vez em 1833 por Bouquillon-Wilhem, professor de canto nas escolas de Paris, o termo seria uma homenagem ao mitológico Orfeu, deus músico na mitologia grega que está vinculado à origem mítica da música e à sua capacidade de gerar comoção naqueles que a ouvem.
Orfeu é, na mitologia grega, poeta e músico. O deus, filho da musa Calíope, era o mais talentoso músico que já viveu. Quando tocava sua lira, os pássaros paravam de voar para escutar e os animais selvagens perdiam o medo. As árvores se curvavam para pegar os sons no vento. Ele ganhou a lira de Apolo; alguns dizem que Apolo era seu pai.também representa o canto acompanhado com a lira, ou a associação música-poesia, essa associação mitológica refere-se também ao objetivo de transmitir valores morais e padrões de pensamento e comportamento por meio das letras das canções.
Essa relação com a mitologia está associada ao objetivo, com o qual o canto orfeônico foi instrumento, de alcançar a parte integrativa e afetiva dos alunos, ao conquistar atenção e emoção.


Autor: Ednardo Monti


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