O Conhecimento das profissionais do Sexo sobre HIV/AIDS



O Vírus HIV continua a espalhar-se por todo o mundo e a maior forma de transmissão é a via sexual. Considerando que mulheres profissionais do sexo têm como matéria prima de seu trabalho o sexo, realizou-se uma pesquisa que buscou investigar o conhecimento destas profissionais sobre as formas de transmissão e prevenção do HIV/AIDS. O tema foi O Conhecimento das Profissionais do Sexo em relação ao HIV/AIDS. Como problema o estudo procurou analisar a dimensão teórico-epidemiológica do HIV/AIDS e o objetivo geral foi identificar o conhecimento das profissionais do sexo sobre o HIV/AIDS. Como específicos: Averiguar o que as profissionais do sexo sabem sobre as formas de transmissão do HIV/AIDS; Constatar quando as profissionais do sexo utilizam o preservativo. A metodologia usada foi um estudo com abordagem qualitativa, utilizando o Método de História Oral, segundo Alberti (2004). A pesquisa foi realizada em um município da região nordeste do Rio Grande do Sul, onde foram entrevistadas nove (9) profissionais do sexo que atuavam nas ruas. A coleta de dados deu-se através de um instrumento com perguntas semi-estruturadas (Apêndice B). A análise dos dados ocorreu através da transcrição de cada resposta e da marcação textual de elementos semânticos, cujo sentido remeta ao objeto da pesquisa. A cada participante foi lido, discutido e entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice A) Os resultados obtidos apontam que as profissionais do sexo têm um saber sobre as formas de transmissão, baseado na própria vivência profissional, porém quando o assunto foi aprofundado percebeu-se a ausência de um conhecimento mais sistematizado sobre o HIV/AIDS. Percebeu-se também que não existe vínculo entre as Unidades Básicas de Saúde e estas profissionais, assim como aparecem contradições em relação ao controle periódico de HIV/AIDS e outras DSTs. O estudo apontou ainda uma intima relação entre o trabalho destas profissionais e o uso de drogas.
Palavras-Chave: Profissionais do sexo. Mulheres. HIV/AIDS. Conhecimento.

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) é uma doença transmitida pelo vírus HIV (sigla originada do inglês Human Immunodeficiency Vírus). Os Principais alvos deste vírus são as células de defesa, principalmente os linfócitos TCD4, deixando então o organismo debilitado e suscetível a outras infecções e doenças oportunistas.

O Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) continua a se disseminar por todo o mundo. Ter conhecimento sobre o HIV não é suficiente para que uma pessoa se proteja contra este vírus, para isto o indivíduo deve transformar este conhecimento em práticas de proteção.

A pesquisa teve como tema O Conhecimento das Profissionais do Sexo em Relação ao HIV/AIDS e como problema o HIV. Este estudo partiu das suspeitas de que as profissionais do sexo que atuam nas ruas de um município da região nordeste do Rio Grande do Sul, não têm conhecimento sobre as formas de transmissão do HIV e de que as mesmas não fazem uso do preservativo em todas as relações sexuais. Sabe-se que a única forma de se prevenir contra a transmissão sexual do HIV/AIDS é fazendo uso constante da camisinha, masculina ou feminina.

Este estudo teve como objetivo geral identificar o conhecimento das profissionais do sexo, que atuam nas ruas em relação às formas de transmissão e prevenção do HIV/AIDS. Esta pesquisa procurou constatar se estas profissionais fazem uso do preservativo em todas as relações sexuais.

O interesse em aprofundar meus conhecimentos sobre HIV/AIDS e mulheres profissionais do sexo, deve-se a dimensão que a doença atinge, pelos estereótipos ou não de que profissionais do sexo que atuam em ruas são portadoras do vírus e também por ter familiares profissionais do sexo e portadores de HIV/AIDS.

A AIDS, segundo o Ministério da Saúde (2005) é uma doença que está prestes a completar três (3) décadas desde seu descobrimento e ainda hoje é uma doença cheia de pré-conceitos e discriminação. Este pré-conceito vem desde os primeiros anos da epidemia de HIV/AIDS, onde os acometidos pela doença eram os gays, usuários de droga injetável e, profissionais do sexo. Estas pessoas passaram a ter uma espécie de marca invisível, um estigma. Marca esta que, perdura até os dias de hoje e talvez esta seja a maior "causadora" do crescente número de infectados, já que algumas pessoas ainda pensam que somente este grupo de indivíduos possa "ter" HIV/AIDS.

A imagem da profissional do sexo como portadora do HIV/AIDS e de outras doenças sexualmente transmissíveis sempre foi muito presente desde o início da epidemia da AIDS, porém existe a necessidade de saber se estas profissionais têm um cuidado frente a maior exposição ao HIV/AIDS em que se encontram.

O perfil da epidemia de Aids no Brasil alterou-se nos últimos anos, contribuindo para um questionamento da noção de "grupo de risco". Logo, o conceito de grupo de risco foi abandonado e passou a ser usado o termo comportamento de risco.

Números divulgados pelo Ministério da Saúde em 2003 indicaram que os homens heterossexuais foram responsáveis por mais de 65% do total de novas notificações no mesmo ano, este aumento foi atribuído a resistência ao uso do preservativo. Com o aumento de casos em homens heterossexuais, aumentou também a participação das mulheres no perfil epidemiológico da doença no Brasil e no mundo.

Nesta pesquisa foram entrevistadas nove (9) profissionais do sexo, que atuam nas ruas, através de um instrumento semi-estruturado. As profissionais do sexo participantes do estudo foram as que se encontravam nas ruas e que aceitaram participar da pesquisa nos dias em que fui a campo.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) é uma doença emergente, que representa um dos maiores problemas de saúde da atualidade em virtude de seu caráter pandêmico e gravidade, segundo o Ministério da Saúde (2005).

Como o nome já indica, trata-se de uma síndrome, ou seja, de um conjunto de sinais e sintomas caracterizada por um grave transtorno do sistema imunológico e adquirida porque é secundária a uma infecção viral e, portanto, não pertence ao grande grupo das imunodeficiências primárias (RUBIO, 2002).

O agente viral causador da AIDS é o HIV (vírus da imunodeficiência humana), conforme Smeltzer e Bare (2002), o HIV pertence a um grupo de vírus conhecido como retrovírus, o que indica que o vírus carrega seu material genético no ácido ribonucléico (RNA) e não no ácido desoxirribonucléico (DNA).

Os retrovírus da AIDS são classificados como HIV 1 e HIV 2 e em todo o mundo a causa mais comum da AIDS é o HIV 1. O HIV 2 possui uma distribuição geográfica mais restrita a países do continente Africano e é menos patogênico do que o HIV 1 (BOUNDY et al, 2004).

O HIV tem uma forte atração celular pelos linfócitos T, que são células de defesa do organismo, principalmente pelas células auxiliadoras T4. O vírus HIV invade estas células, fazendo uma replicação maciça e contínua, tanto das células hospedeiras quando dos vírus, causando a inativação ou morte celular (FIGUEIREDO, 2005).

Ter em seu organismo o vírus HIV não é a mesma coisa que ter AIDS. Conforme Veronesi e Focaccia (2004) a AIDS como doença totalmente manifesta, caracteriza-se pela contagem de linfócitos TCD4 abaixo de 200/mm3. Já segundo o Ministério da Saúde (2005) a contagem de linfócitos TCD4 definidora de imunodeficiência é de acordo com a idade. Inferior a 12 meses de idade: <1.500 células por mm3; 1 a 5 anos: <1 mil células por mm3; 6 a 12 anos: <500 células por mm3.

A AIDS não se manifesta da mesma forma em todas as pessoas, o período entre a infecção pelo HIV e a manifestação dos primeiros sintomas da AIDS irá depender, principalmente, do estado de saúde de cada indivíduo.A história natural da infecção pelo HIV pode ser apresentada em três fases: infecção aguda; fase assintomática e fase sintomática e posteriormente AIDS propriamente dita (MINISTÉRIO DA SAUDE, 2005).

Na fase aguda o indivíduo apresenta sinais e sintomas como: febre, dores de cabeça, perda de peso, náuseas e vômito, porém o diagnóstico desta fase é pouco realizado devido ao baixo índice de suspeitas (FIGUEIREDO, 2005).

O Ministério da Saúde (2005) considera que a partir do reconhecimento dos primeiros sintomas e sinais mencionados acima, os profissionais de saúde podem, ao determinar os riscos da infecção pelo HIV em seus pacientes, ajudá-los a reconhecer esses riscos e aconselhá-los para redução dos mesmos e ainda orienta-los a realizarem o teste anti-HIV.

Segundo Singh et al apud Schaper (2005), a infecção precoce pelo HIV, também conhecida como fase assintomática, é caracterizada pelo aparecimento de alguns sinais de alerta, como por exemplo: perda progressiva de peso, febre intermitente, sudorese noturna, diarréia sem causa aparente e infecções de repetição como otites e sinusites.

Conforme Figueira et al apud Farias (2006), na fase sintomática o portador da infecção pelo HIV, apresenta sinais e sintomas inespecíficos e de intensidade variável, são eles: sudorese noturna, fadiga e emagrecimento.

A última fase de infecção pelo HIV, é chamada de AIDS ou síndrome propriamente dita. O surgimento das chamadas infecções oportunistasé a grande marca deste período, sendo as mais frequentemente encontradas: a candidíase, a citomegalovirose, a tuberculose, a pneumonia por Pneumocyistis carinii, diarréias e neoplasias como oSarcoma de Kaposi, conforme relata Singh et al apud Schaper (2005).

O HIV pode ser transmitido pelo sexo (vaginal, anal e oral sem camisinha), compartilhamento de seringas e agulhas com pessoas contaminadas, transfusão de sangue contaminado, instrumentos que furam ou cortam não esterilizados, mãe infectada pode passar o HIV para o filho durante a gravidez, o parto e a amamentação (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008).

2.1.1 Transmissão e Prevenção Sexual

A principal forma de transmissão do HIV/AIDS no mundo todo é a sexual. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a transmissão heterossexual é considerada atualmente como o modo mais freqüente de disseminação do HIV (UNAIDS apud MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007).

Dentre os principais fatores que aumentam o risco de transmissão do HIV estão: alta viremia, promiscuidade sexual, relação anal passiva, relação sexual durante a menstruação e concomitância com outras Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) (LAGA et al, McFARLAND et al, VOGT et al, PLUMMER et al apud SCHAPER, 2005).

Devido ao maior número de indivíduos com HIV/AIDS, no país apresentarem como principal via de transmissão, a sexual, o Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis/AIDS (PN-DST/AIDS, 2005) tem priorizado ações que enfatizam como principal estratégia de prevenção o uso do preservativo masculino e feminino. O uso do preservativo é recomendado em todas as relações sexuais e deve constituir o principal insumo nas ações de atenção básica, nas ações das organizações da sociedade civil, nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) e nos serviços que atendem pacientes HIV/AIDS.

Como até o momento não existe cura para a AIDS a melhor opção para o controle da epidemia é a prevenção baseada na educação. O uso do preservativo masculino é a forma mais segura de prevenção contra o HIV/AIDS, no que se refere à contaminação pela via sexual. Conforme Fernandes apud Vasconcelos (2005) existe uma necessidade de realizar intervenções com os soropositivos com relação ao uso do preservativo.

Há de se levar em conta que a dominação histórica do sexo masculino sobre o feminino, a submissão da mulher e a aceitação da sexualidade passiva fazem com que a realização do sexo seguro e, portanto a prevenção contra AIDS, se torne uma questão altamente complexa segundo (BARBOSAE VILELA apud REIS, 2008).

2.1.2 Transmissão e Prevenção Vertical

De acordo com o Boletim Epidemiológico de 2007, os índices de infecção do HIV/AIDS em mulheres é motivo de preocupação visto que a contaminação através da transmissão vertical é responsável por mais de 86% dos casos de HIV/AIDS pediátricos (menores de treze anos de idade) registrados no período de 1980-2002.

Segundo Rubio (2002), o mais importante mecanismo de transmissão do HIV na criança é sem duvidas, do tipo vertical ou materno-fetal. Esta transmissão é responsável pela grande maioria das crianças HIV positivo.

De acordo com o Boletim Epidemiológico de DST/AIDS do ano de 2006, vários são os fatores associados para o aumento do risco de transmissão do HIV, da mãe para filho como, por exemplo: a carga viral, estado clínico e imunológico da mãe, presença de DST e outras infecções, o uso de drogas, práticas sexuais desprotegidas, duração de ruptura das membranas amnióticas, via de parto, presença de hemorragia intraparto, prematuridade, baixo peso ao nascer e aleitamento materno.

Alguns estudos sugerem que a maior parte dos casos por transmissão vertical ocorra durante o parto, o que justificaria a adoção de cesariana como forma de reduzir o risco de infecção pelo HIV, muito embora esse não seja um procedimento isento de risco, tanto para a mãe quanto para a criança (VERONESI e FOCACCIA, 2004).

2.1.3 Transmissão e Prevenção Sanguínea

Conforme Nunes e Reichert (2001) recomendações específicas devem ser seguidas, para realização de procedimentos que envolvam manipulação de material perfurocortantes tais como: máxima atenção durante a realização de procedimentos; jamais utilizar os dedos como anteparo e nunca reencapar.

Segundo O Instituto Evandro Chagas apud Ministério da Saúde (2007) ainda é recomendado que todo o doador seja cuidadosamente triado, sendo afastados os que apresentem risco de infecção pelo HIV e todo o sangue aceito para ser transfundido deve ser obrigatoriamente testado para detecção de anticorpos anti-HIV.

Estas medidas aumentam a segurança da transfusão, mas não eliminam totalmente seu risco, em virtude do período de "janela imunológica", que é o período entre a contaminação da pessoa por um determinado agente infeccioso e a sua detecção nos exames laboratoriais. Neste período os exames são negativos, mas mesmo assim o sangue doado é capaz de transmitir o agente infeccioso aos pacientes que o receberem (VERONESI E FOCACCIA, 2004).

2.1.4 Tratamento da AIDS

Até o momento não existe cura para a AIDS. Entretanto, desde a identificação do HIV como sendo o agente causador da doença, os avanços mais expressivos têm ocorrido no desenvolvimento de drogas anti-retrovirais para o tratamento de pessoas infectadas pelo vírus. A primeira droga efetiva contra o HIV foi a Zidovudina, licenciada em 1987 (DOMINGOS, 2006).

Em novembro de 1996, foi promulgada, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a lei que dispõe sobre a obrigatoriedade do acesso gratuito a todos os que necessitarem de medicamentos anti-retrovirais, os mesmos são disponibilizados pelo Ministério da Saúde e as orientações de uso, baseadas em discussões técnicas com especialistas da área, conforme definido pelo PN-DST/AIDS (VICENTINI, 2007).

Existem diversos estudos sobre vacinas para a AIDS em desenvolvimento, entretanto nenhuma esta aprovada para o uso da população (ROUQUAYROL E FILHO, 2003).

Com relação ao tratamento em gestantes, uma das prioridades da Política de Tratamento da Coordenação Nacional de DST/AIDS é o acesso de todas as gestantes HIV+ ao tratamento com o AZT e outros anti-retrovirais. Isso permite o aumento da qualidade de vida dessas mulheres e a diminuição da transmissão materno-infantil do HIV (MARQUES, 2006).

Connor et al apud Duarte et al(2001) constataram que o uso do AZT em mulheres com doenças assintomáticas e sem tratamento com anti-retrovirais durante a gestação reduz o risco de transmissão vertical (na hora do parto) em 67,5%.Para que esta conduta seja estabelecida, é necessário o conhecimento do estado sorológico da mãe, e esta é uma área que hoje recebe especial atenção; estratégias com vistas à ampliação de cobertura têm sido desenvolvidas.

Os anti-retrovirais podem causar alguns efeitos colaterais como diarréia, vômito e náuseas. Algumas pessoas não sentem nenhum desses efeitos e em muitos casos, após o primeiro mês de uso do medicamento, esses efeitos podem desaparecer ou ser atenuados (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003).

2.2 A EPIDEMIA DE HIV AIDS NO BRASIL E NO MUNDO

Os primeiros casos de HIVAIDS foram detectados em 1981, nos Estados Unidos, em homens que tinham em comum o fato de serem homossexuais e apresentarem doenças raras e oportunistas como a pneumonia por Pneumocistis carinii e um tipo raro de câncer, o sarcoma de Kaposi (SCHAPER, 2005).

Esse vínculo inicial da doença com a homossexualidade masculina induziu tanto a comunidade científica quanto a população em geral, a um erro de avaliação sobre as possíveis formas de transmissão, então centrada em determinados comportamentos frequentes nessa população, o que contribuiu em parte para possibilitar a difusão da AIDS para outros segmentos da sociedade (SANCHES, 1999).

Conforme a mesma autora, nessa ocasião, os centros para o Controle e Prevenção de Doenças passaram a utilizar a expressão "grupos de risco" para designar o conjunto de pessoas mais expostas à infecção. Em um curto espaço de tempo, casos de AIDS começaram a ser notificado em usuários de drogas injetáveis e hemofílicos. Logo em seguida, o primeiro caso de AIDS associado à transfusão sangüínea foi diagnosticado.

No Brasil, o primeiro caso fatal notificado, causado pela AIDS ocorreu no ano de 1982, no estado de São Paulo, com a morte de um importante estilista brasileiro (GRANGEIRO apud MILKI, 2006).

Entre jovens do sexo masculino de 17 a 21 anos, em 2002, a taxa de prevalência de HIV foi de 0,08%. Nas mulheres jovens de 15 a 24 anos, em 2004, foi de 0,28%. Em subgrupos mais vulneráveis como em homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo e usuários de drogas injetáveis a taxa e prevalência do HIV estão acima de 5%, mantendo o país entre aqueles com epidemia ascendente segundo critérios da Organização Mundial de Saúde (SZWARCWALD et al MINISTÉRIO DA SAÚDE et al apud SIMÃO 2006)

Segundo o guia de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde (2005) a ocorrência frequente de comportamento de risco e alta vulnerabilidade esta nos seguintes grupos: pessoas presas, usuários de drogas injetáveis, profissionais do sexo, caminhoneiros, garimpeiros e homo/bissexuais masculinos. Vulnerabilidade, para os não infectados, significa ter pouco ou nenhum controle sobre o risco de adquirir o HIV ou outra DST; e para os infectados pela doença, ter pouco ou nenhum acesso a cuidados e suportes apropriados.

Conforme os dados do DATASUS de 2008, o país acumulou cerca de 190 mil óbitos por AIDS até dezembro de 2006, destes, 13.054 foram na região sul e 45 no município onde a pesquisa foi realizada. De janeiro de 1980 a junho de 2007, identificou-se um total de 474.273 casos de AIDS, destes, 46.299 foram na região sul e 232 no município onde o estudo foi desenvolvido. Estima-se que, em 2011, 638.000 pessoas estejam vivendo com HIV/AIDS no País.

Uma das prioridades para 2009 no enfrentamento da epidemia de AIDS é aumentar o número de pessoas testadas. Para isso, conforme anunciado pelo Ministro da Saúde (2007), José Gomes Temporão, no Dia Mundial de Luta contra a AIDS, serão enviados ao longo do ano, 3,3 milhões de testes rápidos aos estados. O esforço pretende mudar uma realidade preocupante: estima-se que 630 mil brasileiros tenham o vírus da AIDS, destes, 255 mil nunca foram testados e, por isso, não conhecem sua condição sorológica. 

Segundo dados das Nações Unidas, existiam em 2005 40,3 milhões de pessoas infectadas pelo HIV no mundo, este mesmo relatório apresentou que um terço das pessoas que vivem com HIV na América Latina, se encontram no Brasil (FAUSTINO, 2006).

2.3 O HIV/AIDS EM MULHERES

O primeiro caso de AIDS registrado em mulher no Brasil ocorreu em 1983, em São Paulo. O crescimento do número de casos em mulheres provocou uma significativa mudança no perfil epidemiológico da AIDS no Brasil. Os casos entre mulheres aumentaram de 0,2% em 1985 para 40% em 1994 (VERONESE e FOCACCIA, 2004).

Conforme Varella (2005) e Freitas et al (2006), nas mulheres contaminadas pelo HIV/AIDS, com idades entre treze (13) e vinte e quatro (24) anos, cerca de quarenta e nove por cento (49%) são infectadas por via heterossexual, sendo a mulher quatro vezes mais suscetível do que o homem a esta forma de contágio. Do ponto de vista anatômico e fisiológico, a mulher é mais suscetível à infecção pelo HIV por vários motivos, tais como: a vagina tem uma superfície de contato mais extensa do que a da mucosa do pênis, as mulheres estão sujeitas a repetidas infecções ginecológicas que abrem fissuras na mucosa, estudos recentes mostraram que o risco de transmissão do HIV do homem para a mulher duplica durante a gravidez e o pós-parto.

O primeiro caso de AIDS do sexo feminino registrado na cidade onde a pesquisa foi realizada ocorreu em 1994. Dados atuais mostram que desde o inicio da epidemia até trinta (30) de junho de 2008, 172.995 mulheres estavam infectadas no Brasil, destas 17.496 foram diagnosticadas no Rio Grande do Sul e 70 no referido município onde o estudo foi realizado (DATASUS, 2008).

Segundo Duarte et al (2001) ao observar a evolução cronológica das taxas de prevalência de AIDS entre as mulheres, verifica-se que os números não são favoráveis a este segmento populacional. No início da epidemia da AIDS a proporção de casos entre homens/mulheres no Brasil era de 40/1, chegando a 2/1 em 1999.

2.4 PROFISSIONAL DO SEXO E VULNERABILIDADE

Esta profissão é uma das mais antigas do mundo, conforme o livro bíblico de Eclesiástico capítulo 19 e versículo 03: "aquele que se une às prostitutas é um homem de nenhuma valia; tornar-se-á pasto da podridão e dos vermes; ficará sendo um grande exemplo, e sua alma será suprimida do número dos vivos" (p.617).

Ainda na bíblia, no livro de levítico capítulo 21 versículo 7 traz a seguinte passagem: "não tomarão mulher prostituta ou desonrada, nem tomarão mulher repudiada de seu marido; pois santo é o seu Deus" (p.88).

As citações bíblicas acima, além de demonstrar o quão antiga é esta profissão, também demonstram que a discriminação sofrida por esta classe de mulheres vem de longa data, que é oriunda dos tempos dos faraós, pois o texto as trata de forma depreciativa e preconceituosa. Segundo Schreiner et al (2004)desde a Grécia Antiga, tem-se relatos da existência da prostituição como uma atividade profissional.

Segundo Silva (2005), existem no mundo três sistemas de prostituição: O Abolicionismo, o Regulamentarismo e o Proibicionismo. No abolicionismo a profissional do sexo só exerce a atividade por coação de uma terceira pessoa, o "explorador" ou "agenciador", que receberia parte dos lucros obtidos pelo profissional do sexo. Já no Regulamentarismo, como diz a palavra, a profissão é reconhecida e regulamentada. No Proibicionismo esta prática é ilegal e tanto a profissional do sexo, quanto o dono de casa de prostituição e até cliente são puníveis pela lei.

De acordo com a legislação brasileira, a prostituição não é caracterizada como um crime, uma vez que a todo cidadão se permite à liberdade de disposição do próprio corpo, sendo passíveis de punição, os casos de exploração da prostituição.

Em 2002 a atividade de profissional do sexo foi reconhecida como profissão, e ganhou um código na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). O Ministério do Trabalho e Emprego catalogou a atividade dos profissionais do sexo sob o código 5198-05. Além do código na CBO o órgão do governo federal também criou uma cartilha para esta classe profissional.

Conforme o Ministério do Trabalho e Emprego (2002) são sinônimos de Garota de programa: garoto de programa, meretriz, messalina, michê, mulher da vida, prostituta e trabalhador do sexo que buscam programas sexuais; atendem e acompanham clientes e ainda participam em ações educativas no campo da sexualidade. As atividades são exercidas seguindo normas e procedimentos que minimizam a vulnerabilidades da profissão.

Em relação às condições gerais de seu exercício, seu trabalho é caracterizado por grande vulnerabilidade, na medida em que as profissionais estão constantemente expostas a riscos de sofrerem diferentes tipos de violência, uso de álcool e drogas, infecção por DSTs, discriminação social, entre outros(SANTOS et al, 2008).

De acordo com Campbell (2005), entre as competências pessoais das profissionais do sexo estão demonstrar: capacidade de persuasão, de comunicação, de realizar fantasias sexuais, de paciência, de planejar o futuro. Estão ainda entre as competências da profissional do sexo: demonstrar capacidade de ouvir, capacidade lúdica, demonstrar sensualidade, reconhecer o potencial do cliente, cuidar da higiene pessoal e manter sigilo profissional. Como recurso de trabalho os profissionais desta categoria utilizam: cartões de visita, acessórios, lenços umedecidos, álcool, agenda, celular, documentação de identificação, gel a base de água, guarda-roupa de trabalho, maquilagem, papel higiênico e preservativo.

Mesmo esta profissão sendo reconhecida pelo Ministério do Trabalho, esta classe de profissionais ainda sofre muito preconceito, segundo a décima quarta (14ª) convenção da Organização Internacional do Trabalho a OIT, o trabalho é um direito de todos, consagrado pela Constituição Federal de 1988, que reflete em várias questões não apenas no sentido econômico-financeiro e de sustento, mas também em relação a questões psicológicas, como auto-estima, capacidade de auto-aceitação, sentimento de pertença (NOGUEIRA, 2008).

A expressão profissional do sexo, segundo Moraes apud Oltramari e Camargo (2004), derivou dos Encontros Nacionais das Prostitutas, o primeiro deles foi realizado em 1987, na cidade do Rio de Janeiro. De acordo com Gabriela Leite (2005) que é a presidente da Rede Brasileira de Prostitutas, no dia 2 de junho é comemorado o dia Internacional das Prostitutas porque neste, dia 150 prostitutas protestaram contra multas e detenções, exigindo que o seu trabalho fosse considerado tão útil como outro qualquer.

Conforme uma pesquisa realizada em 2004, pela Organização Humanitária Francesa "Movimento no Ninho", o perfil dos homens que utilizam o serviço de profissionais do sexo já não é mais o mesmo. Antigamente quem buscava os serviços destas mulheres eram jovens à procura de diversão, hoje são homens mais velhos, casados e com filhos. Independente do país, eles são a maior clientela das profissionais do sexo. Segundo o estudo, isto se deve a facilidade que os mais jovens têm em encontrar sexo nas danceterias à noite.

Em Dezembro de 2004, o PN DST/AIDS apoiou a versão on-line, de um Jornal que já existia impresso desde 1988, o jornal é voltado para as profissionais do sexo, com periodicidade mensal. As publicações trazem reportagens sobre o dia-a-dia das profissionais do sexo e sobre aspectos gerais de saúde, principalmente a prevenção de DSTs e HIV/AIDS. O Jornal é intitulado como O Beijo da Rua (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).

Conforme Azevedo, Saldanha e Silva (2008) o conceito de vulnerabilidade vem sendo utilizado desde o início da década de noventa (90) para elaboração de ações preventivas em HIV/AIDS, cuja interação reduz as possibilidades de uma pessoa se infectar com o HIV. Nessa perspectiva, avalia-se o comportamento individual do sujeito.

Segundo Szwarcwald et al, Lurie et al e Gravato et al apud Malta (2005) as profissionais do sexo estão sob especial risco de contrair o HIV/AIDS e demais DSTs, principalmente em três circunstâncias: consumo aditivo de certas drogas, como o crack; condições socioeconômicas precárias e em decorrência da falta de assistência médica adequada.

Para Gaspar e Moraes apud Oltramari e Camargo (2004) as profissionais do sexo apresentam características específicas como, por exemplo, uma divisão entre o mundo profissional e o mundo privado, desta forma pode-se pensar que suas estratégias de prevenção à AIDS seriam diferentes conforme a natureza do vínculo com o parceiro sexual (cliente ou parceiro fixo não-cliente). Além disso, há, por parte do cliente, uma tentativa contínua, para que a profissional faça sexo sem usar preservativo. Estas características deixam as profissionais do sexo vulneráveis a contaminação pelo vírus HIV.

No Brasil, a lógica do movimento social de luta contra a AIDS, no qual as profissionais do sexo também militam, é justamente a de trabalhar a autonomia do indivíduo diante de suas próprias vulnerabilidades. Esta lógica recupera uma ultrapassada noção de grupo de risco (LEITE, 2005).

O americano John R. Talbott, presidente da Organização não Governamental Africans Against Aids (Africanos contra a Aids), realizou um estudo em 2007 que mostrou a relação entre a proporção de profissionais do sexo na população africana e a presença do HIV no continente.O estudo, publicado na revista científica "Plos One", Talbott, comprovou que a AIDS atingiu proporções alarmantes no continente africano devido a elevada porcentagem de profissionais do sexo nos países da região. Para o autor da pesquisa a única forma de impedir que a doença mate mais pessoas é direcionar fortemente o trabalho de prevenção para a massa de profissionais do sexo do continente, diminuindo a vulnerabilidade destas profissionais.

O risco de exposição do indivíduo à infecção pelo HIV aumenta à medida que ele não apresenta condições de fazer valer sua intenção, devido a fatores mais poderosos do que sua capacidade de agir contra a AIDS, que também é o caso das profissionais do sexo. Barros apud Espósito e Kahhale (2006) salienta que o conceito de vulnerabilidade depende de fatores individuais, sociais e políticos como facilitadores ou dificultadores de exposição de uma pessoa ou população ao HIV, ou seja, o conceito de vulnerabilidade social e coletiva abrange aspectos sociais mais amplos, desencadeando ações governamentais e não-governamentais para fortalecer as populações tidas como mais vulneráveis ao HIV.

Vale salientar que não se trata de um grupo de risco e sim de um comportamento de risco, ou seja, todo e qualquer indivíduo esta suscetível à contaminação pelo HIV/AIDS caso não faça uso dos métodos de prevenção.

Conforme Leite (2005), quando se responsabiliza um determinado grupo pela disseminação da AIDS através da via sexual, está se utilizando da lógica perversa e absurda de que não há outras formas de prevenção, além de se extirpar o sexo. Na realidade, é o sexo desprotegido que contribui para a disseminação da epidemia da AIDS e não a prestação de serviços sexuais.

A mesma autora, observa que há um grande crescimento da infecção entre mulheres casadas, declaradamente monogâmicas. Essa tendência é uma demonstração clara de que o que vem falhando nas ações de luta contra a AIDS, em todo o mundo, é a dificuldade de os indivíduos, assumirem o risco da infecção. Este, sim, seria o passo mais importante para uma mudança de comportamento em direção à prevenção e ao controle da epidemia.

2.6 CONHECIMENTO

O ramo da filosofia que estuda o conhecimento é a gnoseologia, conhecimento é o ato de compreender algo usando o raciocínio. É fundado com base na fé, na razão, na cultura ética e na experimentação. (MATTAR, 2005)

Para Sober apud Mateus (2008), no quotidiano falamos de conhecimento, de crenças que estão fortemente apoiadas por dados, e dizemos que elas têm justificação ou que estão bem fundamentadas. A epistemologia é a parte da filosofia que tenta entender estes conceitos. Os epistemólogos tentam avaliar a ideia, própria do senso comum, de que possuímos realmente conhecimento. Alguns filósofos tentaram apoiar com argumentos esta ideia do senso comum. Outros fizeram o contrário. Os filósofos que defendem que não temos conhecimento, ou que as nossas crenças não têm justificação racional, estão a defender uma versão de cepticismo filosófico.

O mesmo autor diz, que dados que justificam uma crença não precisam ser infalíveis, que podemos ter crenças racionais bem apoiadas mesmo quando não nos empenhamos em estar absolutamente certos de que o que acreditamos é verdadeiro. Assim, concluo que a crença verdadeira justificada não é suficiente para o conhecimento.

A reflexão sobre a natureza do nosso conhecimento dá origem a uma série de desconcertantes problemas filosóficos, que constituem o tema da teoria do conhecimento, ou epistemologia. A maior parte desses problemas foi debatida pelos gregos antigos e, ainda hoje, a concordância é escassa sobre a maneira como devem ser resolvidos ou, no caso de tal não ser possível, abandonados. (CHISHOLM, 1977)

Para Quintela, (2004) a respeito do conhecimento, Sócrates distingue opinião de verdade. Para ele, não somente o conhecimento dos sentidos deve ser levado em conta, mas também o conhecimento intelectual, que vai além das aparências, uma vez que extrai das coisas a sua verdadeira natureza, formando na mente uma noção, um conceito de valor universal, e isto é percebido em Críton. Sócrates afirmava que embora a verdade pudesse ser conhecida, primeiro deveríamos afastar as ilusões dos sentidos e das palavras ou opiniões e alcançar a verdade apenas pelo pensamento.

2.6.1 Os Níveis de Conhecimento

Conforme Mattar (2005) existem quatro níveis de conhecimento que não são claros, portanto esta divisão não deve ser tomada a ferro e fogo, são eles: conhecimento empírico ou popular, conhecimento religioso ou teológico, conhecimento filosófico e conhecimento científico.

O Conhecimento empírico ou popular é aquele que todos os seres humanos têm, também é conhecido como bom senso ou senso comum, não tem características de confiabilidade, seus resultados não são divulgados.

Conhecimento religioso ou teológico: este conhecimento é fundamentado pela fé, são conhecimentos místicos ou espirituais, o conhecimento verdadeiro é revelado pelos deuses ou seres espirituais, através de alguns iluminados como santos ou profetas. Este conhecimento não permite revisões, ou seja, são definitivos.

Conhecimento filosófico: este conhecimento está ligado à construção de idéias e conceitos.Buscando as verdades do mundo por meio de questionamento e debate.

Conhecimento científico: este conhecimento é baseado na constatação. Tem o intuito de explicar de modo racional àquilo que se esta observando.

Saiz (2008) argumenta que o conhecimento científico é produzido pela investigação científica, através de seus métodos. Surge não apenas da necessidade de encontrar soluções para problemas de ordem prática da vida diária, mas do desejo de fornecer explicações sistemáticas que possam ser testadas e criticadas através de provas empíricas.

3 METODOLOGIA

3.1 TIPO DE ESTUDO

Trata-se de um estudo com abordagem qualitativa.

3.2 LOCAL

A pesquisa foi realizada nas ruas de um município da região nordeste do Rio Grande do Sul.

3.3 PARTICIPANTES

Esta pesquisa teve como participantes, profissionais do sexo que atuam nas ruas de um Município da Região Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul

3.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

A coleta de dados foi feita através de um instrumento de entrevista com perguntas semi-estruturadas.

3.5 MÉTODO

Nesta pesquisa foi utilizado o Método de História Oral, segundo Verena Alberti (2004).

3.6 ANÁLISE DE DADOS

A análise de dados foi feita através de protocolo de falas.

3.7 ASPECTOS ÉTICOS

Esta pesquisa respeitou os aspectos éticos da Resolução 196/1996 referente à pesquisa com seres humanos. A cada participante foi entregue, lido e discutido o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS COLETADOS

A fim de avaliar a complexidade sobre o HIV com profissionais do sexo que atuam nas ruas, escolhi o Método de História Oral, segundo Verena Alberti (2004). A História oral para a autora é um método que privilegia a realização de entrevista com pessoas que participam de acontecimentos e, como consequência, este método produz fontes de consulta (entrevistas) para outros estudos. Este método trata de estudar acontecimentos históricos, grupos de pessoas, categorias profissionais, etc.

O método pode tanto acompanhar a trajetória de vida dos entrevistados como também pode concentrar as atenções a apenas um período específico da vida dos informantes, isso depende dos objetivos e do andamento da pesquisa. O trabalho de Historia Oral exige do pesquisador um respeito ao próximo, por suas opiniões e suas atitudes (ALBERTI, 2004).

Para realizar esta pesquisa, primeiramente entrei em contato com a enfermeira do Serviço Especializado do município onde o estudo se desenvolveu para que me fornecesse algum material que seria entregue as participantes, pois não queria apenas questioná-las, mas gostaria lhes fornecer informações sobre o uso correto da camisinha bem como de seus direitos como mulher, cidadã e profissional do sexo.

A enfermeira me disponibilizou uma caixa com cento e quarenta e quatro (144) preservativos masculino, dez (10) preservativos feminino, cinquenta (50) geis e cinquenta (50) folders específicos para profissionais do sexo.Então, para cada entrevistada entreguei dez (10) preservativos masculinos, um (1) preservativo feminino, cinco (5) geis e dois (2) folders, além disso, as profissionais do sexo foram orientadas, referente ao uso constante e correto do preservativo, quanto a importância de exames periódicos, sobre os direitos de trabalhadoras como profissionais do sexo e também sobre seus direitos como cidadãs. Depois de cada entrevista eu as orientei sobre as formas de transmissão do HIV e outras DSTs eesclareci algumas dúvidas.

Antes de começar a coleta efetiva dos dados, tive várias tentativas frustradas de entrevistar as profissionais do sexo. A primeira vez fui acompanhada de meu noivo, à noite, chegando ao local que normalmente se encontram estas profissionais, me deparei com elas visivelmente drogadas e/ou alcoolizadas e então decidi voltar para casa e retornar no outro dia pela manhã, pois na minha percepção a probabilidade de encontrá-las sóbrias seria maior no dia seguinte. No segundo dia fui pela manhã sozinha, e não consegui encontrar nenhuma delas. Saí do local muito chateada, pois além de estar exposta e vulnerável a todos os possíveis clientes que ali passavam, não consegui nenhuma entrevista com as profissionais do sexo.

Na terceira vez, resolvi convidar minha irmã, assim me sentiria ao menos acompanhada, já que segura, na beira do asfalto é difícil de ficar, porém mais uma vez não consegui entrevistar nenhuma profissional. Cansada das tentativas inválidas, resolvi buscar ajuda da Brigada Militar do município. Entrei em contato com o Tenente solicitando que uma viatura me acompanhasse na busca destas mulheres, meu pedido foi atendido e consegui com que uma viatura me escoltasse durante as entrevistas.

Participaram da pesquisa nove (9) mulheres profissionais do sexo que atuam nas ruas, as entrevistadas foram identificadas pela letra E seguida de um numeral arábico. Os dados foram coletados a partir de um roteiro com questões abertas, conforme o Apêndice B. Às entrevistadas, foi lido, discutido, entregue e assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido -TCLE- (Apêndice A). Antes de discutir os dados apresento abaixo o quadro A no qual aparecem informações sobre as entrevistadas.

QUADRO A – Identificação das Entrevistadas

ENTREVISTADA

IDADE

ESCOLARIDADE

NUMERO DE FILHOS

ABORTO

E1

38

1ª série do Ensino Fundamental

1

0

E2

30

1° ano do Ensino Médio

3

0

E3

26

5ª série do Ensino Fundamental

2

0

E4

22

2° série do Ensino Fundamental

1

1

E5

46

8ª série do Ensino Fundamental

1

0

E6

29

8ª série do Ensino Fundamental

1

0

E7

18

2ª sériedo Ensino Fundamental

0

0

E8

33

1° ano do Ensino Médio

6

1

E9

33

5ª série do Ensino Fundamental

1

0

O quadro mostra que as entrevistadas têm idade entre 18 e 46 anos; a escolaridade não ultrapassou o Ensino Médio Completo. Apenas uma das entrevistadas não tem filhos, e duas tem história de aborto.

A partir de agora apresento a análise das informações, coletadas às quais foram gravadas, transcritas e posteriormente feito o rastreamento semântico para que pudesse localizar as "marcações textuais", de acordo com o método de análise proposto.

Ao serem questionadas sobre o uso de álcool e drogas, bem como a frequência com que usavam, as drogas citadas foram maconha e crack, sendo a maconha mencionada uma única vez e o crack é utilizado por quatro entrevistadas. As narrativas abaixo demonstram a freqüência e o uso de drogas e álcool:

Entrevistada 3 [...] sim... maconha e pedra... maconha eu uso todo dia... agora pedra eu uso menos... a cada três quatro dias... até menos [...] .

Entrevistada 4 [...] droga... crack.. todos os dias... por noite, duzentos pila... 20 pedras [...].

Entrevistada 5 [...] álcool sim... de vez em quando... no final de semana.... droga sim... hum... pedra... no final de semana... depende umas 10 [...].

Entrevistada 8 [...] Uso.... pedra... umas 3 por dia... [...].

Entrevistada 9 [...] droga....sem comentários!!!... Bebo, desde os 13 anos.. mas agora to parada. [...].

Desde o início da epidemia de HIV/AIDS, o uso de drogas tem estado associado ao impacto da epidemia em diversas partes do mundo. Na Ucrânia, que é um dos países mais afetados, quatro, de cada cinco indivíduos diagnosticados com HIV no fim dos anos 90, eram usuários de heroína. Nos últimos anos, o número de novos casos de HIV na Ucrânia tem continuado a crescer: 7% em 2000, 13% em 2001 e 25% em 2002, conforme dados de 2004 da UNAIDS e Organização Mundial da Saúde (OMS). (UNAIDS & WHO, apud MALTA, 2005).

O papel das drogas, em especial, o fenômeno da troca de sexo por crack e cocaína, tem aumentado à população de grupos-núcleo de vulnerabilidade de contágio do HIV/AIDS, da mesma forma que também tem agido como facilitador para o comportamento de risco, em virtude de seu grande numero de parceiros. (FERNANDES et al 2000).

Conforme Strathdee & Sherman, Romero-Daza et alapud Malta (2005), alguns usuários de drogas se envolvem com o sexo comercial como forma de financiar sua dependência química, enquanto que outros profissionais do sexo podem utilizar as drogas como uma válvula de escape para situações de trabalho opressivas ou frente à depressão.

Segundo a pesquisa de Mônica Siqueira Malta (2005), um cenário de vulnerabilidade social engloba claramente a realidade das mulheres abordadas por seu estudo. Análises do Ministério da Saúde (2003) corroboram os achados qualitativos apresentados, apontando que entre as mulheres mais vulneráveis à epidemia de HIV/AIDS estão às mulheres usuárias de crack e as profissionais do sexo.

Conforme o Ministério da Saúde apud Malta (2005), além das questões de gênero, estas mulheres teriam uma vulnerabilidade acrescida quando comparadas a mulheres de outros grupos sociais, por viverem em condição de extrema pobreza, frequentemente serem vítimas de violência doméstica e, muitas vezes, serem analfabetas ou semi-analfabetas. Na grande maioria dos casos, estas mulheres dependem economicamente de seu parceiro estável – ou, no caso das profissionais do sexo, de seus clientes e ou de aliciadores.

Para Santos (1997) o uso crônico de maconha também conhecida como cânabis pode levar a deterioração do raciocínio e da memória, além de alteração nas respostas emocionais, irritabilidade e confusão. Conforme Brêtas e Gambá (2006) a maconha já era conhecida desde antes de Cristo, sendo utilizada para fins medicinais e para provocar risos. Seu uso provoca efeitos no Sistema Nervoso Central (SNC), que podem ser divididos em agudos e crônicos.No efeito agudo há uma sensação de bem estar e no uso crônico causa uma interferência na capacidade de aprendizagem e memorização.

Quanto ao álcool, de acordo com Neto, Gauer e Furtado (2003), o Sistema Nervoso Central é o órgão mais afetado pelo álcool, provocando sedação, diminuição da ansiedade, prejuízo da capacidade de julgamento, agressividade entre outras reações. Estas alterações dependem da quantidade ingerida, peso do individuo e tolerância.Ainda para os autores o uso crônico pode levar a complicações orgânicas, essas complicações ocorrem cerca de duas vezes mais nas mulheres, são elas: alterações gastrointestinais, cardiovasculares, hematológicas, neurológicas e obstétricas.

No que se refere ao crack, droga citada por quatro (4) entrevistadas, segundo Tiba (1996) esta droga é queimada e sua fumaça aspirada passa pelos alvéolos pulmonares, cai na circulação e atinge o cérebro. No sistema nervoso central, a droga age diretamente sobre os neurônios. A droga aumenta a pressão arterial e a frequência cardíaca. Há risco de convulsão, infarto e derrame cerebral. O crack é distribuído pelo organismo por meio da circulação sanguínea, metabolizado no fígado e eliminado pela urina. Leva 10 segundos para fazer o efeito, gerando euforia e excitação; acelera a respiração e os batimentos cardíacos, seguido de depressão, delírio e "fissura" por novas doses. As primeiras sensações são de euforia, brilho e bem-estar, descritas como o estalo, um relâmpago, o "tuim", na linguagem dos usuários. Na segunda vez, elas já não aparecem. Logo os neurônios são lesados e o coração entra em descompasso (de 180 a 240 batimentos por minuto).

Ainda para o mesmo autor, há risco de hemorragia cerebral, fissura, alucinações, delírios, convulsão, infarto agudo e morte. Causa complicações pulmonares, problemas respiratórios como congestão nasal, tosse insistente e a expectoração de mucos negros indicam os danos sofridos. Provoca ainda, dores de cabeça, tonturas e desmaios, tremores, magreza, transpiração, palidez e nervosismo. São comuns queimaduras nos lábios, na língua, no rosto e nos dedos pela proximidade da chama do isqueiro no cachimbo, no qual a pedra é fumada.

Quando interrogadas sobre o tempo de profissão como profissional do sexo as respostas variaram entre um (1) mês e dezoito (18) anos de profissão. Seguem abaixo algumas falas:

Entrevistada 1 [...] um ano [...].

Entrevistada 2 [...] faz um dois... três... quatro meses [...].

Entrevistada 4 [...] desde os meus 13 anos [...].

Entrevistada 5 [...] nove anos [...].

Entrevistada 8 [...] faz tempo que eu comecei.... um mês [...].

Entrevistada 9 [...] desde os 15 anos [...].

Botelho (2003) acredita que quando se trata de adolescentes exploradas sexualmente e/ou prostituídas, há uma implicação na deterioração física e psicológica, afetando e rompendo com sua integridade moral e individualidade no processo de crescimento e desenvolvimento natural. Neste contexto, estes adolescentes vão perdendo a autonomia o direito sobre seu corpo e destino. Por tanto, vivenciar neste período uma sequência de situações traumáticas, pode trazer grandes e significativas consequências para a vida adulta.

Com o advento do HIV/AIDS, a exploração sexual em adolescentes e a prostituição passam a ser um alvo bem mais vulnerável à infecção, considerado comoum segmento populacional de risco acrescido tanto por fatores bio-fisiologicos quanto de fatores sociais. O HIV/AIDS passa a ser um risco operacional para quem o sexo se insere como matéria-prima de trabalho, evidenciando-se a necessidade de medidas preventivas. Medidas estas que considerem estas profissionais do sexo como sujeitos ativos de sua saúde, consolidado a adoção de comportamentos protetores, reduzindo as situações de risco e vulnerabilidade. (BOTELHO, 2003).

Para Nunes (2004), desde o inicio da epidemia de HIV/AIDS no Brasil, a faixa etária mais atingida foi de vinte (20) a trinta e nove (39) anos, sabendo que a doença pode manifestar-se entre cinco (5) e quinze (15) anos após a infecção, presume-se que contágio pelo HIV de parte significativa destas pessoas, pode ter ocorrido na adolescência.

Estes dados evidenciam os adolescentes como um grupo vulnerável para as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e HIV/AIDS, levando em consideração que a adolescência é um período de vida perigoso no sentido do descuido, decorrente do sentimento de onipotência e de pensamento mágico: "não vai acontecer comigo". (RIOS et al, AYRES apud NUNES, 2004).

Relacionado ao tempo que as entrevistadas atuam nas ruas, as respostas variaram de um mês a nove anos.

Entrevistada 1 [...]um ano [...].

Entrevistada 2 [...] Ah! Uns quatro meses [...].

Entrevistada 5 [...] nove anos [...].

Entrevistada 7 [...]dois anos [...].

Entrevistada 8 [...] um mês [...].

Entrevistada 9 [...] eu acho que umas três semanas [...].

Conforme Borba e Clapis (2006), a vulnerabilidade feminina está fortemente relacionada ao desejo masculino. Essa vulnerabilidade coloca a mulher em situação de risco em relação as DST e à AIDS. As populações em situação de maior risco são justamente aquelas que estão à margem do institucional como é o caso de profissionais do sexo que atuam em vias públicas, já que são raramente abordadas e têm seu acesso aos serviços formais de saúde, educação e serviço social restringidos.

Alguns fatores como o biológico, o sociocultural e o assistencial fazem com que a mulher se torne mais vulnerável do que o homem a contrair HIV/AIDS. Os fatores socioculturais como a subordinação econômica, física e sexual da mulher a deixa com poucos recursos para controlar sua exposição ao HIV/AIDS, devido à falta de poder de barganha nas relações sexuais e a conseqüente dificuldade de exigir um comportamento sexual seguro de seu parceiro (LOWNDES apud SILVA, 2008).

A determinante mais marcante para a vulnerabilidade para a infecção do HIV/AIDS é o comportamento individual, sendo importante o foco nas ações do individuo. Na vulnerabilidade individual Mann, Tarantolla e Netter apud Silva (2008), propõem uma avaliação onde sejam verificados o conhecimento, o comportamento, o status social e o acesso às informações necessárias para avaliar a transmissão da doença.

Para Ayres apud Santos et al (2008) no conceito de vulnerabilidade, segundo o autor, está contemplada uma síntese entre as dimensões sociais, políticas, institucionais e comportamentais, associadas às diferentes suscetibilidades de indivíduos ou grupos ao adoecimento. Isto é, nessa abordagem, não se trata de distinguir aqueles que têm alguma chance de adoecer, mas de avaliar as diferentes chances que todo indivíduo possui de maior exposição ou menor proteção diante do problema, de acordo com características de seu cotidiano individual e social.

Conforme Pimenta e Souto (2003), o uso de drogas que até pouco tempo era uma iniciativa masculina, têm atraído cada vez mais mulheres, e, na maioria das vezes, pela circunstância em que ocorre, constitui mais um elemento de vulnerabilidade. A prostituição feminina e o estigma que aumenta ainda mais a vulnerabilidade desse grupo são outros pontos importantes a serem considerados.

No que se refere a escolha desta profissão as entrevistadas responderam que o que às levou a escolher esta atividade foram: a falta de escolaridade e consequentemente o desemprego, a falta da família ou da estrutura familiare o uso da droga;uma delas não quis responder a esta pergunta.

Entrevistada 1 [...] A falta de emprego e falta de escolaridade né... porque eu estudei só até a 5° série [...].

Entrevistada 2 [...] Se não tem serviço que eu tenho um filho pra criar e eu tenho também aluguel pra paga e tenho a mãe que tem câncer, aí eu tenho que fazer isso, né [...].

Entrevistada 3 [...] olha... falta de dinheiro, não te ninguém da família aqui [...].

Entrevistada 4 [...] a droga [...].

Entrevistada 5[...] Essa pergunta eu não vou te responde [...].

Entrevistada 7 [...] Ah eu..... não tenho ninguém aqui mãe, pai [...].

Entrevistada 9 [...] necessidade... pra me alimenta... pra tudo [...].

Para Espósito & Kahhale (2006), a atividade de profissional do sexo é vista como um meio de ganhar dinheiro mais rápido do que em outro tipo de trabalho. Contudo, ao mesmo tempo em que o dinheiro é tido como um meio de atingir os objetivos, as profissionais do sexo também o depreciam no sentido de investir em drogas e álcool, levando a um círculo vicioso, do qual dificilmente conseguem sair.

Conforme Peluso & Goldberg apud Torres, Dawin e Costa (1999), o mercado do sexo no Brasil está em ebulição, crescendo a cada dia e encontrando terreno fértil para prosperar os negócios do sexo na era da AIDS, fazendo com que pessoas das mais variadas profissões desistam de suas atividades para tentarem a sorte nesse ramo.

Uma pesquisa realizada em 2006 com profissionais do sexo, demonstrou a existência de mulheres cuidadoras dos seus filhos o que, para algumas, justificava sua entrada em tal atividade. A baixa escolaridade, acrescida da pobreza financeira, apresentou-se como características do perfil de mulheres profissionais do sexo (OLIVEIRA, SOUZA E FERREIRA apud OLIVEIRA SALDANHA E SILVA, 2008).

Há que se considerar que o fator econômico apresenta-se, na maioria dos casos, como contribuinte para o ingresso na profissão, seguido pelo fim do casamento e pelo abandono da família, associados à dificuldade de integração no mercado de trabalho, conforme apontado também em pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde e Coordenação Nacional de DST (ESPÓSITO & KAHHALE apud AZEVEDO, 2008).

No que se refere ao que fazem com o dinheiro que ganham, as entrevistadas responderam que usam para o sustento dos filhos, para pagar aluguel e quatro (4) delas utilizam também ou exclusivamente para comprar droga.

Entrevistada 2 [...] eu... o que eu faço... eu entrego pro meu filho [...].

Entrevistada 3 [...] pago pensão da minha filha, compro roupa, pago aluguel e o que sobra eu fumo [...].

Entrevistada 4 [...] compro tudo em droga [...].

Entrevistada 5 [...] ajudo em casa... e quando sobra... fumo [...].

Entrevistada 8 [...] compro tudo em pedra... eu ganho uns 20 pila por dia [...].

O investimento financeiro pelo 'salário' que as profissionais recebem, na verdade e de início é aplicado para o sustento próprio ou dos filhos, mas também para a manutenção do vício.

À necessidade de prover ou complementar o sustento do lar, são fatores que estão sempre presentes nas decisões das mulheres de ingressar ou permanecer no mercado de trabalho, inclusive como profissional do sexo.Mas, verificando as falas, quase metade das entrevistadas utiliza o dinheiro que ganham para comprar droga.O que implica em um alto risco e maior vulnerabilidade para contaminação pelo HIV/AIDS.

Conforme Caetano (2001), as alterações comportamentais associadas ao alcoolismo e à utilização de substâncias ilícitas, facilitam comportamentos de risco, entre eles relações sexuais desprotegidas, relações com múltiplos parceiras/os, bem como a troca de seringas e agulhas pelos toxicodependentes por via intravenosa.

Segundo Klee apud Araújo (2005) os consumidores de drogas, homens e mulheres, raramente utilizam preservativo nas relações sexuais e não se consideram em risco para o HIV, desde que não troquem material como agulha.Nesta população, a percepção do risco para a infecção pelo HIV, está associada ao compartilhamento de agulhas e raramente aos comportamentos sexuais de risco.

Quando questionadas sobre as formas de transmissão do HIV/AIDS, a maioria das entrevistadas tem um saber sobre a principal forma de se infectar com o HIV, que é o sexo desprotegido (apenas uma refere não saber as formas de transmissão), porém uma, também, menciona a transmissão por compartilhamento de agulhas com pessoas contaminadas e nenhuma relata a contaminação por transmissão vertical e contato com secreções:

Entrevistada 1 [...] sei... através do sexo [...].

Entrevistada 2 [...] Pelo beijo, é... a ...cárie do dente que sangra e coisas que não... como é... que nãousa, né... e pelo sangue, né....ah! mas lá atrás eu não faço [...].

Entrevistada 3 [...] fazendo sexo....Acho que todos os sexo [...].

Entrevistada 4 [...] eu sei... pelo sexo [...].

Entrevistada 5 [...] sei... eu uso camisinha pra tudo [...].

Entrevistada 6 [...] tudo... no beijo acho que não [...].

Entrevistada 7 [...] tipo eu não faço nada sem camisinha e programa sem camisinha eu não faço... faço todos com camisinha [...].

Entrevistada 8 [...] não [...].

Em relação ao conhecimento sobre HIV/AIDS, embora exista referência à forma de transmissão sexual, quando o conteúdo sobre a transmissão é aprofundado verifica-se que não há uma apropriação dos conceitos.Algumas formas de contágio não são citadas e é descrita uma forma incorreta de contágio (como cárie).

A falta de conhecimentos a respeito das formas de transmissão do HIV/AIDS são questões problematizadoras como se pode perceber pelas respostas.Apenas uma entrevistada, a nove (9), parece estar mais consciente dos riscos que a profissão impõe. A mesma entrevistada é a que mais tempo tem de profissão: dezoito (18) anos.A respeito da questão anterior esta profissional argumenta que o HIV/AIDS, ao contrário de outras respostas pode ser transmitido por outras vias:

Entrevistada 9 [...] Sexo oral.... transa sem camisinha... injeta... mas isso eu não faço [...].

Diversos estudos confirmam a eficiência do preservativo na prevenção do HIV/AIDS e de outras (DSTs). Para o Ministério da Saúde (2006) o uso correto e sistemático de preservativo masculino em todas as relações sexuais apresenta uma eficácia estimada em 90-95% na prevenção da transmissão do HIV.

Sabendo que o Ministério do Trabalho reconhece esta atividade como profissão desde 2002 e, inclusive criou uma cartilha para estas profissionais, entende-se que as mesmas deveriam ser instruídas, de alguma maneira, sobre alguns aspectos como, por exemplo, a forma correta de utilizar o preservativo, as formas de contaminação DSTs e HIV/AIDS, instruções estas que constam na cartilha. Porém, pelo que se percebe, infelizmente permanecem no papel.

O Ministério do Trabalho (2002) traz ainda na cartilha citada acima as "ferramentas de trabalho" destas profissionais: camisinhas, géis, acessórios. Porém, o Ministério do Trabalho não consegue fazer com que estes insumos cheguem às mãos das profissionais, a não ser que elas procurem, ou seja não há um açãoarticulada entre Ministério do Trabalho e Ministério da Saúde. Isto faz com que a procura por atendimento por parte destas profissionais seja muito baixa ou, procuram quando a doença já esta instalada.

Sobre como elas se previnem do HIV as respostas mostram que elas fazem uso de preservativo e escolhem seus parceiros:

Entrevistada 1 [...] Com camisinha [...].

Entrevistada 3 [...] usando camisinha e fazendo exames regularmente [...].

Entrevistada 4 [...] eu uso camisinha [...].

Entrevistada 6 [...] uso camisinha e procuro escolhe meus parceiro... uso camisinha sempre e não saio com qualquer um [...].

O uso do preservativo é a única forma de prevenção contra as DSTs e HIV/AIDS. Conforme Campos apud Veronesi e Focaccia (2004), os preservativos masculino e feminino são a única barreira comprovadamente efetiva contra o HIV e o uso correto e consistente deste método pode reduzir substancialmente o risco de transmissão do HIV e das outras DSTs.

O uso regular de preservativos pode levar ao aperfeiçoamento na sua técnica de utilização, reduzindo a freqüência de ruptura e escape e, conseqüentemente, aumentando sua eficácia. Estudos recentes demonstraram que o uso correto e sistemático do preservativo masculino reduz o risco de aquisição do HIV e outras DSTS em até 95% (HARRISON; VERONESI, apud JOÃO, 2003).

Em um estudo realizado em São Lourenço do Sul no Rio Grande do Sul no ano de 2001 por Márcia E. S. Lisboa, referente ao uso e conhecimento do preservativo feminino pelas profissionais do sexo, das quarenta e duas (42) mulheres que participaram da pesquisa, apenas nove (9) conheciam o preservativo feminino enquanto as outras trinta e três (33), não haviam usado/colocado ou mesmo nunca viram um.

Em outra pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde no ano de 2003, foram entrevistadas 1.882 pessoas, das quais 1.298 eram sexualmente ativas. 76% das pessoas sexualmente ativas conheciam ou já tinham ouvido falar do preservativo feminino, porém apenas 3,3% destas já haviam usado este preservativo. Isso mostra que apesar de ter conhecimento pelo preservativo feminino as pessoas optam mais pelo preservativo masculino.Destas constatações e tomando por base a afirmativa das entrevistadas, oportuno pensar outra vez que estas profissionais do sexo fazem uso de preservativo e escolhem seus parceiros a cada programa.

Durante a coleta de dados para esta pesquisa, após as entrevistadas responderem as questões, como referido acima, entreguei-lhes camisinhas masculinas e femininas e das nove (9) entrevistadas apenas uma relatou que já conhecia e usava o preservativo feminino. Mesmo quando fui ao Serviço Especializado da Cidade para que me fornecessem os preservativos para serem entregues às profissionais do sexo, recebi apenas 10 preservativos femininos e 144 masculinos.

Segundo o Ministério da Saúde (2007) o custo da camisinha feminina é mais elevado do que o preservativo masculino. Enquanto se paga sete (7) centavos pela camisinha masculina, paga-se sete (7) reais pela feminina. Isso impossibilitou e ainda impossibilita um investimento na Saúde Pública, nas mesmas proporções do masculino. Entretanto, esta iniciativa é de suma importância, pois vem ao encontro da necessidade de ampliar os insumos de prevenção para as mulheres, na medida em que há claramente uma feminização da epidemia de HIV/AIDS no país. Além do mais, ainda não existe uma cultura em termos de adesão ao uso da camisinha feminina.

A camisinha feminina tem uma vantagem: proporciona certa independência à mulher, que não fica à mercê da decisão do homem de usar ou não um preservativo.

A Educação em Saúde é a ferramenta mais utilizada no controle da epidemia de AIDS no mundo. O ato de ofertar o preservativo é capaz de facilitar o acesso à população alvo e a criação de vínculos entre estas e os agentes de saúde, promovendo maior receptividade às ações de educação para a saúde. Assim, há necessidade dos diferentes setores da sociedade envolvidos no enfrentamento da epidemia, viabilizarem processos de aquisição e distribuição do preservativo (MINISTÉRIO da SAÚDE, 2002).

Vale lembrar que a distribuição do preservativo deve estar sempre acompanhada de informações claras e precisas sobre as vias de transmissão do HIV e outras DSTs, bem como as formas de prevenção e o uso correto do preservativo.

Quando questionadas se utilizavam a camisinha em todas as relações sexuais, as participantes foram unânimes na resposta "sim":

Entrevistada 2 [...] Sim [...].

Entrevistada 4 [...] todas [...].

Entrevistada 5 [...]sempre [...].

Entrevistada 7 [...] todas as relações [...].

Entrevistada 9 [...] eu sempre uso camisinha... só as vezes eu bato uma p.... daí não precisa... daí é diferente [...].

As respostas afirmativas no que se referem ao uso do preservativo a cada relação sexual, já representam um avanço, considerando a realidade socioeconômica das entrevistadas e ainda a utilização de drogas.Sobre esta questão, conclui GOMES apud Torres, Dawin e Costa (1999), que entre achar que o preservativo é uma solução e fazer realmente o uso do mesmo, há uma grande distância, pois entre a consciência e a sobrevivência, a segunda opção fala mais alto, comprometendo a prevenção.

Questiono-me se realmente estas profissionais fazem uso da camisinha em todas as relações sexuais, visto que em uma pesquisa realizada pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia em 2005, revelou que seis (6) em cada dez (10) brasileiros admitem que só usam preservativo eventualmente.A pesquisa ouviu 2.100 brasileiros de todas as regiões do país. Setenta e um por cento (71%) dos homens pesquisados afirmam que perdem a ereção ao vestir a camisinha (CAMPBELL, 2005).

Uma segunda pesquisa, esta realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) constata que, enquanto 96% dos indivíduos sexualmente ativos entre 15 e 54 anos citam o preservativo como principal meio de prevenção contra a AIDS e as doenças sexualmente transmissíveis , somente 25% garantem usá-lo em todas as relações. Os dados fazem parte do Sistema Nacional de Monitoramento em AIDS (BERNARDES, 2007).

Segundo Espósito & kahhale apud Azevedo, Saldanha e Silva (2008) o poder de negociação do uso do preservativo está diminuindo e aumentando a vulnerabilidade das profissionais do sexo. Ainda segundo esses autores, os clientes remuneram com valor acima do estabelecido a profissional do sexo que não utiliza o preservativo, o que, para algumas destas profissionais é uma possibilidade de maior ganho financeiro. Caso não aceitem manter a relação sexual sem o preservativo implica, algumas vezes, a perda do cliente e da remuneração.

A entrevistada oito (8) relatou não saber as formas de transmissão do HIV/AIDS, porém afirmou fazer uso de preservativo a cada programa:

Entrevistada 8 [...] Com camisinha.[...]

Para o Ministério da Saúde (2006a), o sexo sem preservativo é a forma mais frequente de transmissão do HIV. A utilização de preservativos é cada vez mais necessária, sobretudo com a disseminação do HIV/AIDS e outras Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST). Se proteger contra as DSTs não é o único objetivo exato da camisinha, isso vai muito além, pois a utilização deste preservativo previne também a gravidez não-planejada.

Como já relatei acima, as pessoas costumam alegar vários motivos para não usar camisinha: desconforto, confiança na parceira, vergonha, medo, entre outros. No entanto, nenhuma dessas razões é suficiente quando se reconhece o risco que se pode correr. O uso da camisinha não deve causar constrangimentos, mas mostrar cuidado com a parceira ou parceiro sexual e consigo mesmo.

Conforme o Instituto Nacional do Câncer (2006) o uso do preservativo na relação sexual também pode prevenir outras Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) além do HIV/AIDS, entre elas, o câncer de colo do útero. Preveni-las depende muito da conscientização de cada um.

Ao serem perguntadas sobre a eventualidade de não usar a camisinha, do que elas teriam medo, as entrevistadas responderam que teriam medo de contrair o HIV e outras doenças e uma delas mencionou o medo da gravidez:

Entrevistada 1 [...] claro... do HIV [...].

Entrevistada 3 [...]? de pegar AIDS... de pegar qualquer coisa [...].

Entrevistada 4 [... ] de eu... pegue uma doença [... ].

Entrevistada 5 [...] eu penso no meu filho... tenho medo de tudo [...].

Entrevistada 7 [...] de fica doente... ou grávida também [...].

As respostas traduzem o receio que as profissionais do sexo têm de contrair o HIV/AIDS e outras DSTs. Isto sugere que de fato as entrevistadas parecem apresentar certo grau de consciência em termos de prevenção e cuidados que devem ter no momento em que estão realizando um programa. De outra forma e implicitamente, as afirmações deixam margem para se pensar se de fato o uso do preservativo é freqüente e correto, já que elas também fazem uso de álcool e drogas.

Conforme Costa (2001), não é surpreende que no âmbito de um trabalho como o das profissionais do sexo, que segundo o autor, é duro em termos físicos e emocionais, as profissionais do sexo façam uso de drogas.

Na pesquisa realizada pelo mesmo autor evidenciou-se que uma profissional do sexo que atua nas ruas atende em média mil (1.000) clientes por ano e que apenas cinco por cento (5%) delas fazem uso de preservativo em todas as relações sexuais devido ao uso de drogas. Costa constatou ainda que uma profissional do sexo contaminada pelo HIV/AIDS contamina 15% de seus clientes. Sendo assim, uma profissional do sexo infectada por HIV/AIDS, pode contaminar 150 clientes por ano.

Sobre os testes para detecção de HIV, frequência e onde realizavam os mesmos, algumas entrevistadas se contradisseram, pois relataram que faziam testes na Unidade Básica do Bairro, porém no município onde o estudo se desenvolveu, os testes para detecção do HIV são feitos no setor de atendimento especializado, bem como no hospital da cidade e laboratórios particulares; uma das entrevistadas nunca realizou o teste. Relacionado à frequência, a maioria delas parece saber que o teste deve ser feito semestralmente. Através das respostas também é possível observar o nomadismo geográfico de algumas entrevistadas, situação que pode complicar ainda mais a freqüência de testes:

Entrevistada 1 [...] sim... de seisem seis meses... lá no posto... no posto onde que eu morro no bairro [...].

Entrevistada 2 [...] ali no hospital ..... eu fiz faz um mês.... eu faço acho... cada seis mês [...].

Entrevistada 3 [...] Tanto que anteontem eu saí do hospital, que eu tinha baixado o hospital, me fizeram, eles sempre fazem quando nós da rua "chegamo" lá todos os exame, eles nem perguntam... eles já fazem..se não faço de dois em dois meses, lá no .... e Perto do..., no laboratório da parte de cima [...].

Entrevistada 4 [...] eu fiz esse ano.. por causa que eu tava numa Comunidade Terapêutica... daí eu recaí e voltei pra rua... eu faço normalmente porque minha família vem atrás de mim e daí eles me levam... a cada quatro cinco meses [...].

Entrevistada 5 [...] sim.. uma vez por ano... no postinho [...].

Entrevistada 6 [...]a cada meio ano... seis oito meses... eu faço no laboratório, no posto de saúde [...].

Entrevistada 7 [...] fiz um a semana passada que eu fiquei ruim e baixei o hospital... eu caí aqui... aí como a gente é da rua na hora eles fazem... nem me perguntaram... aí teu HIV deu negativo.... nem me perguntaram... eu fiz o ano passado em São Paulo faz uns 8 meses [...].

Entrevistada 8 [...] Não [...].

Entrevistada 9 [...] Faço... em... Gravataí... faz um mês que eu fiz... faço todos os meses [...].

As respostas mostram certa regularidade na realização de teste pelas profissionais do sexo, evidenciando que a frequência do controle é um dos aspectos fundamentais na prevenção HIV/AIDS.

O diagnóstico da infecção pelo HIV é feito por meio de testes, realizados a partir da coleta de uma amostra de sangue.Esses testes podem ser realizados nos laboratórios de Saúde Pública, em Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) e em laboratórios particulares.Lembrando que nos Centros de Testagem e Aconselhamento, o teste pode ser feito de forma anônima e gratuita.

Para o Ministério da Saúde (2003) o exame do HIV/AIDS é indispensável para todos. No caso de um diagnóstico precoce, é possível evitar que o paciente desenvolva a AIDS. Para isso, existe um fluxograma para detecção de anticorpos anti HIV em indivíduos com idade acima de dois (2) anos, que funciona da seguinte maneira: o usuário faz a coleta de sangue, caso o resultado seja negativo para HIV, não é necessário repetir o exame, salvo nos casos onde há investigação de soroconversão. Se o teste der positivo para HIV é obrigatória uma nova coleta para confirmar a positividade, preferencialmente trinta (30) dias após o resultado da primeira amostra.

Conforme o Ministério da Saúde (2005) existe um período entre a infecção pelo vírus da AIDS e a detecção de anticorpos anti-HIV no sangue, este intervalo é chamado de "janela imunológica", neste período as provas sorológicas podem dar um resultado falso-negativo, caso a pessoa esteja infectada pelo vírus. O intervalo da janela imunológica normalmente é de duas (2) a oito (8) semanas, mas em alguns casos pode ser mais prolongado. Por este motivo os CTAs orientam os usuários que refaçam o teste a cada seis (6) meses.

Além dos testes, os CTA disponibilizam insumos de prevenção, como camisinhas masculinas e femininas para a população geral, gel lubrificante para os profissionais do sexo e homens que fazem sexo com homens e, kits de redução de danos para pessoas que fazem uso de drogas (MINISTÉRIO DA SAUDE, 2005).

Muitos outros serviços de saúde, como Unidades Básicas de Saúde, Unidades de Saúde da Família, Serviços de Atenção Especializada em AIDS (SAE), além de laboratórios particulares, também podem oferecer diagnóstico de HIV (MINISTÉRIO DA SAUDE, 2003).

Em duas das respostas aparecem formas de discriminações contra estas profissionais, oriundas de setores da saúde que deveriam ser o exemplo em termos de respeito, ética e acolhimento. As entrevistadas três (3) e sete (7) relatam:

Entrevistada 3 [...] Tanto que anteontem eu saí do hospital, que eu tinha baixado o hospital, me fizeram, eles sempre fazem quando nós da rua "chegamo" lá todos os exame, eles nem perguntam... eles já fazem..se não faço de dois em dois meses, lá no .... e Perto do..., no laboratório da parte de cima [...].

Entrevistada 7 [...] fiz um a semana passada que eu fiquei ruim e baixei o hospital... eu caí aqui... aí como a gente é da rua na hora eles fazem... nem me perguntaram... aí teu HIV deu negativo.... nem me perguntaram... eu fiz o ano passado em São Paulo faz uns 8 meses [...].

Conforme Mann apud Garcia e Koyama (2008), a discriminação da AIDS acompanhou o surgimento dos primeiros casos da doença na década de 80, pela sua associação a grupos populacionais específicos mais afetados em seu início (homens homossexuais, usuários de drogas e profissionais do sexo), e pela sua associação com doença fatal e aterrorizante, imagem esta construída com o apoio da mídia.

Segundo Vlassoff apud Guzmán (2007), no Boletim da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), publicado em 2003 deve-se trabalhar a discriminação de pacientes com HIV/AIDS por parte dos profissionais da saúde, existem muitas razões pelas quais os trabalhadores do serviço de saúde reagem negativamente ante as pessoas que vivem com o vírus do HIV. Estas reações estariam carregadas de preconceito devido aos profissionais acreditarem que estão atendendo pessoas promíscuas ou usuárias de drogas

Registram-se hoje, uma vasta literatura tanto nacional quanto estrangeira, sobre questões ligadas ao vírus HIV e prostituição. Contudo, o enfoque dado às profissionais do sexo é, na maioria das vezes, de transmissoras em potencial de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), não sendo estas mulheres vistas em sua integralidade (VERMELHO, BARBOSA & NOGUEIRA apud ESPOSITO & KAHHALE, 2006).

Muitos estudos têm demonstrado a existência de atitudes negativas em relação a AIDS, por profissionais da saúde, alguns profissionais da saúde resistem em prestar assistência a pacientes com HIV/AIDS, devido ao preconceito. Talvez, em razão da cultura preconceituosa das sociedades, que excluem os 'diferentes', os profissionais de saúde contribuam para a discriminação contra os portadores de HIV/AIDS, embora tal atitude não se justifique. Horsman e Sheeran evidenciaram em 1995 que dentre os profissionais de enfermagem os que tinham atitudes negativas e/ou restritivas, foram aqueles com formação básica, em relação aos graduados e pós-graduados (HORSMAN E SHEERAN apud FRAUCHES, 2001).

Em pesquisa realizada por Figueiredo e Souza em 1991 foram avaliadas atitudes de médicos e profissionais de Enfermagem, laboratório e apoio operacional em relação a vários aspectos referentes à AIDS, ao paciente e ao atendimento deste paciente. De acordo com os resultados desta pesquisa todas as categorias estudadas expressaram-se negativamente quanto à doença e o paciente. No entanto em relação ao atendimento os médicos apresentaram atitudes mais negativas que as demais categorias (FRAUCHES, 2001).

As entrevistadas foram questionadas na eventualidade de se descobrissem que haviam contraído o HIV/AIDS, para quem contariam e porque a essa pessoa. As respostas demonstram que nenhuma delas citou um profissional da saúde, e a grande maioria contaria para um familiar (mãe, filha e irmã).As justificativas de contar a essa pessoa têm a ver com processos de interação, afetividade e confiança e de não serem discriminadas.Duas delas disseram que se 'matariam' se descobrissem que eram portadoras do HIV/AIDS:

Entrevistada 1 [...] com certeza... primeiramente pra minha filha [...].

Entrevistada 2 [...] o que é que eu faço tu disse...eu me mataria [...].

Entrevistada 3 [...] eu me mataria...verdade... acho que sim... pra pedir ajuda, sei lá... pra minha irmã... é a única que eu tenho confiança [...].

Entrevistada 4 [...] eu contaria para minha família... porque eles não iriam me discriminar [...].

Entrevistada 5 [...]pra minha mãe... porque eu confio na minha mãe [...].

Entrevistada 6 [...] pra minha filha... porque eu acho que ela que seria a pessoa que... eu devo satisfação pra ela, né... tanto ela como minha mãe. Eu acho assim... que né [...]..

Entrevistada 7 [...] pra minha melhor amiga... ou pra minha irmã.. porque eu confio [...].

Segundo Frade, Lopes e Fialho (2001) o preconceito e a discriminação surgiram ainda na antiguidade. O Direito Brasileiro cresceu no que diz respeito à proteção às minorias para integrá-las na sociedade e banir o preconceito ou a discriminação, seja qual for.

A preocupação em manter segredo sobre a contaminação pelo HIV/AIDS, segundo Galvão apud Abdalla (2007) às vezes é auto-imposta, pelo medo que o portador tem de ficar sujeito a preconceitos e estigmatização.Não revelar seu diagnóstico muitas vezes é a forma de evitar sofrimento.

As pessoas quando comunicadas sobre sua condição de soropositividade reagem expressando não aceitação e inconformismo com sua nova condição. Sobre a atividade sexual, os portadores relatam que manter segredo dá uma idéia de "normalidade de vida" (LOPES E FRAGA apud ABDALLA, 2007).

Pelas respostas é possível inferir que estas profissionais confiam em alguém da família. Moos & Moos apud Vianna, Silva e Formigoni (2007), definem ambiente familiar como sendo a percepção que cada pessoa possui de sua família, ou seja, o clima sociofamiliar decorrente dos relacionamentos, do crescimento pessoal e da organização e controle do sistema familiar.

Conforme Houaiss apud Novelli, Fischer e Mazzon (2006) a palavra confiança é definida como crença na probidade moral, na sinceridade afetiva, nas qualidades profissionais de outrem, que torna incompatível imaginar um deslize, uma traição uma demonstração de incompetência de sua parte.

A última pergunta feita às entrevistadas era se elas continuariam trabalhando como profissional do sexo, da mesma forma que antes do resultado (resultado positivo para HIV/AIDS), e que elas justificassem suas respostas.Oito (8) das entrevistadas responderam que não mais continuariam sendo profissionais do sexo e uma delas respondeu que continuaria sim com suas atividades:

Entrevista 1 [...]Não [...].

Entrevistada 2 [...] nunca mais fazia com ninguém... eu penso assim, né [...].

Entrevistada 6 [...] eu pararia, pra não infectar mais ninguém... pra não passa pra alguém não [...].

Entrevistada 7 [...]acho que não... eu não sei. .. se estora uma camisinha e tu passa pra alguém, bah é um perigo... tenho medo de passar pra alguém claro [...].

Entrevistada 9 [...]Com certeza..só usando camisinha sónão transmitindo pros outro, né.... os cara aí que agente saí, aí...ô.. também podem quere fazer alguma maldade, né."é a mesma coisa... vai sabe quantos caras que agente sai, né [...].

Alves apud Espósito & Kahhale (2006) conclui que o profissional do sexo soropositivo pode continuar exercendo suas atividades enquanto estiver em condições físicas e psicológicas para tal, desde que utilize os equipamentos de biossegurança. Para a autora, o abandono da atividade profissional pode representar um comprometimento na saúde mental, sem falar na questão financeira e suas consequências no indivíduo.Essa explicação serve também para as entrevistadas, pois embora tenham respondido em sua maioria que largariam a profissão, ao responderem por alguma razão, não consideraram seus processos de vida socioeconômico, de escolaridade e de dependência das drogas e álcool.

O impacto de ser portador do HIV ou de desenvolver a AIDS ainda é muito grande em sociedades como o Brasil, por exemplo, que tem uma historia de discriminar pessoas e grupos, quer pela condição socioeconômica, quer em razão de raça/etnia, quer por motivo de ter uma doença infecto contagiosa.

Conforme João (2004), não é a doença em si que é maligna, é muito mais a forma como as pessoas tratam o doente. Isso é o que realmente mata, razão pela qual boa parte das pessoas infectadas não se pronuncia e mantém a sua profissão mesmo sabendo que se encontra infectada com o vírus HIV/AIDS.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao término desta pesquisa, percebeu-se que as profissionais do sexo não têm um real conhecimento sobre as formas de transmissão do HIV/AIDS. Elas apenas detêm um pequeno saber sobre as formas sexuais da contaminação, deixando de lado as outras vias de contágio, como por exemplo, o contato com secreções corporais, que também é muito importante devido ao trabalho que estas profissionais exercem.

Ao relatarem que fazem uso da camisinha em todas as relações sexuais, pode-se questionar a veracidade destas respostas, levando em consideração que estudos apontados nesta pesquisa, revelam que a minoria das pessoas heterossexuais faz uso do preservativo.

Isso nos alerta, enquanto profissionais da saúde, a desenvolver ações voltadas a estas mulheres profissionais do sexo e à população em geral, sobre as formas de contágio e prevenção do HIV/AIDS. No meu ponto de vista precisamos "colocar a mão na massa", nos desencastelarmos; irmos ao encontro dos problemas e criar alternativas para resolvermos. Tenho plena consciência de que isto é um trabalho árduo, mas também é possível ser realizado.

Em relação às suspeitas do estudo sobre o não conhecimento destas profissionais, a respeito do HIV/AIDS, a análise dos dados mostrou que de fato falta o conhecimento sistematizado quanto ao uso constante do preservativo. A respeito da afirmação, pelas entrevistadas, do uso do preservativo a cada programa a literatura aponta o contrário, ou seja, profissionais do sexo que atuam em ruas geralmente ficam desprotegidas porque os clientes negam-se a usar o preservativo. Além do mais o uso de droga agrava a exposição ao risco quando as mulheres aceitam transar sem a proteção.

No que se refere aos objetivos do estudo o conhecimento identificado nas profissionais do sexo sobre HIV/AIDS é bastante precário, já que os saberes que elas expressaram ficam na dimensão cognitiva informal. A respeito dos saberes, estes aparecem verbalizados, mas não há como afirmar que eles são colocados em prática na forma de uso correto e frequente do preservativo.

No caso do município onde a pesquisa foi desenvolvida, existe uma unidade móvel, que poderia ser utilizada para um trabalho de empoderamento e de conhecimento para estas mulheres, ou seja, esta unidade móvel poderia levar a elas informações sobre as DSTs e sobre o HIV/AIDS. Este empoderamento, para dar certo, tem que ter em contrapartida, a construção pelas próprias profissionais do sexo, de conhecimento sistematizado, militando naquilo que Leite (2005) preconiza como trabalhar a autonomia do indivíduo diante de suas próprias vulnerabilidades.

Ao longo da pesquisa foi possível observar que não existe um vínculo entre as profissionais do sexo e os profissionais da área da saúde e, isso é lamentável, visto que enquanto profissional enfermeiro temos um papel importantíssimo na educação, na prevenção e na promoção à saúde.Não podemos impor que estas mulheres se protejam fazendo uso do preservativo, mas podemos empoderá-las de conhecimentos e deixa-las decidir que atitudes devem tomar frente à exposição e vulnerabilidade que se encontram devido sua "escolha" profissional.

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APÊNDICE A

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE

Pelo presente Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, eu Vanessa de Barros Evangelista, portadora de RG número 0000000000, expedido pela XXX – RS , acadêmica do sétimo semestre do curso de Bacharelado em Enfermagem da Faculdade Cenecista de Bento Gonçalves – FACEBG, estou desenvolvendo um Projeto de Pesquisa, Intitulado O Conhecimento das profissionais do sexo sobre HIV sob orientação de Professora MSc Roseana Maria Medeiros. Através do presente documento legal, baseado na Resolução No.196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde, solicito sua colaboração como entrevistado/pesquisado, respondendo as questões registradas em roteiro. A Justificativa é de que: o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) continua a se disseminar por todo o mundo. Ter conhecimento sobre o Hiv não é suficiente para que uma pessoa se proteja contra este vírus, para isto o indivíduo deve transformar este conhecimento em práticas de proteção. No intuito de identificar de que forma estas mulheres, profissionais do sexo, se previnem do HIV e se as mesmas têm a preocupação em não transmitir a doença para seus clientes. O problema/objeto de Projeto de Pesquisa é o HIV e tem como objetivo geral Identificar o conhecimento das profissionais do sexo sobre HIV, esclareço que o Projeto de Pesquisa não gerará ao entrevistado/pesquisado custos, nem riscos de qualquer ordem, além de garantir seu anonimato. As informações coletadas têm caráter científico. A discussão dos resultados será divulgada em meio científico com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento sócio-científico da Enfermagem. O presente Consentimento Livre e Esclarecido dá a garantia ao entrevistado/pesquisado de aceitar ou não participar voluntariamente, assim como o direito de abandonar o estudo em qualquer momento da investigação.

Ao entrevistado/pesquisado:

Eu ....................................................................................... declaro que fui informada(o) de forma clara e detalhada, livre de qualquer forma de constrangimento e coerção, dos objetivos, da justificativa, dos procedimentos a que serei submetido(a), riscos, desconfortos e possíveis benefícios. Fui igualmente informada(o): 1. da garantia de receber esclarecimento a qualquer pergunta ou dúvida a cerca dos procedimentos, riscos, benefícios e outros assuntos relacionados com o Projeto Pesquisa/Pesquisa/Estudo; 2.da liberdade de retirar meu consentimento a qualquer momento e deixar de participar,sem que isso traga prejuízo à continuidade do Projeto/Pesquisa/Estudo; 3. da segurança de que não serei identificada(o) e que se manterá o caráter confidencial das informações relacionadas à minha privacidade; 4. de que se existirem gastos adicionais, estes serão absorvidos pelo orçamento do Projeto/Pesquisa/Estudo.

Obs.: O(a) Projeto de Pesquisa/Pesquisa/Estudo foi revisado (a) e aprovado (a) pelo Comitê de Ética em Pesquisa desta Instituição de Saúde em ____/_____/_______.

_______________________________________________________________

Nome do entrevistado/pesquisado(a)RG entrevistado/pesquisadoassinatura

_____________________________________________________________

Nome do acadêmicoRG acadêmicoassinatura

________________________________________________________________

Nome professor(a) orientador(a)RG professor(a) orientador(a)assinatura

APÊNDICE B

Instrumento aplicado às profissionais do sexo.

Idade____________________________ Escolaridade__________________________

Tem filhos?__________________teve algum aborto?_________________________

Faz uso de álcool ou drogas, se sim, quais e com que freqüência?

Há quanto tempo você está nesta profissão?

O que você faz com o dinheiro que ganha?

Há quanto tempo atua nas ruas?

O que te levou a escolher esta profissão?

Como você se previne contra o HIV?

Você sabe como se transmite o HIV?

Você utiliza a camisinha em todas as relações sexuais?

Na eventualidade de não usar a camisinha, você tem medo de que?

Você faz testes para detectar o HIV? Com que freqüência? Onde?

Caso fizesse exame e fosse confirmado que tem AIDS, falaria a alguém? Quem? Por que a esta pessoa?

Mesmo assim continuaria trabalhando como profissional de sexo da mesma forma que antes do resultado do exame? Justifique.


Autor: Vanessa de Barros Evangelista


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