O Infinito e a Natureza em Schelling



Schelling foi um grande entusiasta das obras e do pensamento de Fichte. Desde seus primeiros escritos, observamos a preocupação em seguir os passos de seu "mentor", além de fazer dos argumentos fichtinianos, base de sua filosofia inicialmente. Passado um certo período, Schelling conhece e se encanta profundamente com as obras de Espinosa, mais até do que seus próprio entusiasmo quanto a Fichte.

Podemos atribuir o interesse de Schelling por ambos filósofos, a questão pensada no sentido do infinito e da natureza. No tocante ao pensamento espinosiano, observamos o interesse na "substância", cujo princípio é o da infinitude objetiva. Quanto a Fichte, muito influenciou, com menor escala em relação a Espinosa, a idéia do "Eu absoluto", que trata da infinitude objetiva.

Schelling pretende unir as duas infinitudes no conceito de um Absoluto que não é redutível nem ao sujeito nem ao objecto, porque deve ser o fundamento de um e de outro. Bem cedo se dá conta de que uma pura actividade subjectiva (o Eu de Fichte) não poderá explicar o aparecimento do mundo cultural, e de que um princípio puramente objectivo (a substância de Espinosa) não poderá explicar a origem da inteligência, da razão e do eu. (ABBAGNANO, 2000, p. 54).

Isto posto, obtemos a conclusão na qual Schelling chega, ou seja, em sua síntese que promove seu pensamento nesta questão do infinito e na natureza. "O princípio supremo deve ser, por conseguinte, um Absoluto que soja ao mesmo tempo objecto e sujeito, razão e natureza; que seja a unidade, a identidade ou a indiferença de ambos". (Idem, p. 54).

Contrapondo a tese de Fichte, que buscava na natureza tão somente um espaço de ações morais, ou então para anulá-la, Schelling não aceita essa negação que sacrifica a natureza e indubitavelmente junto com ela, a arte. O Absoluto de Schelling, participa do meio e justifica a existência do mundo. A partir deste ponto, a filosofia do pensador vai se distânciando do modo de pensar de Fichte. Em resumo, o Absoluto schelligliniano é melhor apresentada desta forma: "O princípio único deve ser conjuntamente sujeito e objecto, actividade racional e actividade insciente, idealidade e realidade. Tal é, com efeito, o Absoluto para Schelling". (ABBAGNANO, 2000, p. 55).

O absoluto como identidade

O Absoluto de Schelling, é o incondicionado da forma de saber. "O incondicionado é o Eu, tudo aquilo que é condicionado é não-eu e como o não-eu é colocado pelo Eu, tudo o que é condicionado é determinado pelo incondicionado. Era esta, segundo Schelling, a forma absoluta de todo o saber." (Idem, p. 55). Pensando assim, afirmamos que além de ser condição de conhecimento, o Absoluto é também o que dá princípio de identidade e de não-contradição, pois torna possível a existência de apenas aspectos pensados como possíveis.

Uma vez mais ocorre o distanciamento entre seu pensamento inicial e o de Fichte. Schelling afirma que tornou-se espinosiano argumentando que um dos motivos era "porque para Espinosa o mundo é tudo, para mim tudo é o Eu". (Ibidem, p.56). Este Absoluto, Infinito, Incodicionado é o Ser, que é tudo. Para concluir, vale ressaltar que a identidade se refere ao pensamento e o objeto pensado, haja vista que o não-eu é um objeto e o eu é a conciência que pensa o objeto e assim o identifica como sendo difrente.

A filosofia da natureza

Dentro da filosofia porposta por Schelling, a natureza tem grande importância, não somente por ser plano de fundo para a arte e outros fundamentos da vida humana. Segundo o autor, a natureza possui grande importânciana construção do mundo, contendo grande inteligência e sendo a manifestação do Absoluto.

Com efeito, todo o fenómeno, natural é efeito de uma força que como tal é limitada e por isso condicionada pela acção de uma força oposta; por conseguinte, todo o produto natural se origina numa acção e numa reacção e a natureza actua através da luta de forças opostas, se estas forças se consideram já existentes nos corpos, a sua acção é condicionada ou pela quantidade (massa) ou pela qualidade dos próprios corpos; no primeiro caso, as forças operam mecanicamente; no segundo, quimicamente; a atracção mecânica é a gravitação, a atracção química é a afinidade. (ABBAGNANO. 2000, p. 58)

Podemos afirmar seguindo sua linha de pensamento, que a natureza é inteligente, porém não sabe disso. Em uma teoria perfeita poderiamos apontar que uma teoria perfeita da natureza, teríamos tudo resolvido em uma inteligência única da natureza. Posto que esta alcança seu mais elevado fim sendo fim de si mesma que nada mais é senão o homem ou, mais cmumente, o que chamamos de razão.

Schelling, de certo modo, é o primeiro a realizar um completo retorno da natureza em si mesma, desta forma fica claro que a natureza originalmente idêntica àquilo que em nós humanos é reconhecido como princípio inteligente e consciente.

A hstória e a arte

A história é organização pura das realizações do homem. Pensar a história é antes de mais nada para Schelling, pensar o caminho realizado pelo homem e que traz consigo toda uma estrutura fundamental que demonstra tudo aquilo que representa o homem e seu estado vivo e organizacional.

A história é para a filosofia prática aquilo que a natureza é para a filosofia, teorética. Existe nela o mesmo desenvolvimento orgânico, o mesmo incessante progresso que Schelling tinha descoberto no mundo natural: desenvolvimento orgânico e progresso que fazem da história um plano providencial que se realiza gradualmente no tempo. (Idem, p. 66).

A arte é a revelação filosófica nos objetos. Em toda obra de arte temos tem um objeto concreto e um produto do espírito. Se faz necessário ter uma organização do real para construir a arte. A arte, basicamente, nasce na perfeita confluência de espírito e matéria, consciente e incosciente, mente e objeto. Mas a arte não s eidstância da natureza, pois o gênio funda a natureza e a inteligência paraobter um produto o qual chmamos de arte.

A filosofia transcendental

Quando Schelling realiza a sua filosofia, ele parte de dois presupostos. O primeiro diz respeito a filosofia da natureza na qual demonstra como a natureza se resolve no espírito, a segunda, a filosofia transecendental, mostra como o espírito se resolve na natureza.

Desta forma, a realidade se resolve dentro de um plano da natureza no qual se insere como atividade subjetiva e assim chega ao transendental com este sendo o puro e absoluto eu no qual pode-se trabalhar a natureza de espírito.

"O eu como sujeito da actividade infinita é dinamicamente (potencialmente) infinito; a própria actividade, enquanto é colocada como actividade do eu, passa a ser finita; mas enquanto se transforma em finita é de novo alargada para além do limite, e enquanto alargada é novamente limitada e esta situação perdura indefinidamente." (ABBAGNANO, 2000, p. 64).

Assim percebemos a relação de identidade na qual o absoluto passa dentro da natureza realizando sua atividade no espírito transcendental.

A orientação rligioso-teosófica

Quando Schelling escreve no ano de 1802 um diálogo chamado Bruno, ou princípio natural e divino das coisas, ele apresenta de maneira popular, porém concisa, seu modo de entender e compreender o absoluto na revelação divina. Neste diálogo fica evidente a preocupação de Schelling pelo problema religioso que vai cominar depois em sua outra obra acerca da religião Filosofia e Religião. A união entre filosofia e religião somente se faz possível se existir um conhecimento imediato do Absoluto. Mas este conhecimento não existirá no caso de encontrar-se fora do Absoluto.

é o próprio absoluto no seu auto-objectivar-se e auto-intuir-se. Tal auto-objectivação do Absoluto é o processo intemporal da sua revelação, "a verdadeira teogonia transcendental" o surgir de um mundo de ideias que é a condição de todo o conhecer. Mas como nasce, através deste mundo puramente espiritual, o mundo da matéria? Se se considerar este mundo como dependente de Deus, não se fará de Deus a causa das imperfeições e do mal que nele existe? No modo como são formadas estas perguntas se revela uma nova orientação da especulação de Schelling. Até então, ele vira na matéria apenas vida, perfeição e beleza e por isso não tinha de forma alguma sentido a exigência de separá-la da vida divina, e sempre repetira a tentativa de deduzi-la da própria natureza de Deus. Mas esta dedução é declarada agora impossível. Schelling admite que o mundo da matéria seja fruto de uma queda, de um afastamento da vida divina; e refere-se explicitamente a Platão. (ABBAGNANO, 2000, p. 69).

Observando este princípio, Schelling coloca Deus nas criaturas que dele se originaram. Surge então através de seu desjo de fazer da vida concreta e articulada a resolução do vazio da indiferenciação posta por Hegel de maneira reprovatória.

Referência bibliográfica

ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia Vol VI. Lisboa: Editorial Presença, 2000.


Autor: Bruno Cardoso


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