Mídia, Consumo e Infância



A mídia televisiva vem ocupando um lugar de destaque na sociedade ocidental a partir da segunda metade do século XX e no Brasil, desde a década de 1960. A televisão brasileira se tornou uma das instituições de grande relevância na sociedade, assim como a escola, a religião, a família, exercendo grande influência sobre os espectadores. O objetivo deste trabalho é analisar quais são as representações sociais das professoras de ensino fundamental de uma escola de Curitiba sobre as implicações da mídia televisiva na construção da cultura do consumo da infância e qual é o papel da escola diante da influência da TV sobre o consumo infantil. A pesquisa foi desenvolvida com base na metodologia das representações sociais, que procura explicar os fenômenos sociais construídos coletivamente e como estes processos são incorporados e representados pelos indivíduos na sociedade. Foi priorizada no trabalho a abordagem qualitativa e utilizou-se entrevistas semi-estruturadas com cinco professoras e uma pedagoga de uma escola pública municipal de ensino fundamental de Curitiba com o objetivo de verificar se a televisão é utilizada como recurso pedagógico e se há algum trabalho em relação a sua programação e a incitação ao consumo infantil. Para o desenvolvimento desta pesquisa considerou-se indispensável à contextualização histórica do desenvolvimento dos meios de comunicação, seu impacto social e seu papel no desenvolvimento do consumo na sociedade contemporânea. A partir das entrevistas com as professoras, observou-se que a mídia televisiva é o meio de comunicação mais utilizado, tanto como entretenimento, como fonte de informação e que exerce influência na construção da cultura do consumo infantil, porém o seu conteúdo ainda não é discutido adequadamente na escola para o desenvolvimento de uma reflexão crítica dos alunos e alunas diante de sua programação.

É importante enfatizar que o consumo existe em qualquer sociedade, mas o mesmo pode ser diferenciado entre necessário e supérfluo. Para se compreender uma sociedade de consumo é necessário compreender alguns pontos: as origens da sociedade de consumo; a identificação entre a sociedade de consumo e período de produção de massa; o papel do marketing na sociedade do consumo.

A Revolução Industrial (século XVIII) foi um marco para a sociedade onde as novas invenções tecnológicas criaram condições para o consumo. No século XIX pode-se dizer que foi estabelecida uma sociedade de consumo. Com essa transformação histórica do consumo o capitalismo se expandiu e novos produtos passaram a ocupar espaços nas famílias, estabelecendo o valor de troca e a expansão permanente do capitalismo. Considerando que neste sistema econômico produtos têm a finalidade de acúmulo de lucros houve a substituição do valor de uso para o valor de troca.

A partir da década de 1920 a publicidade se amplia nos meios de comunicação de massa e se associa a incitação e ao consumo de mercadorias onde produtos industrializados mecanizam a vida e tornam o cotidiano mais fácil. Com o avanço do capitalismo surgiram novas técnicas que ampliaram seu processo de racionalização, o taylorismo e o fordismo.

Após as duas Guerras Mundiais o papel da publicidade e das mídias de massa passou a ser de lazer com o objetivo de persuadir novos consumidores. Com o consumo relacionado ao comercial surge o marketing que não objetivava apenas a produção de bens, mas a venda dos mesmos a qualquer custo.

O indivíduo não consome apenas pelo simples ato, mas pelo significado de cada produto e o benefício que o mesmo trás (status) sendo os meios de comunicação de massa o maior reprodutor e manipulador do consumo. A partir do século XX os meios de comunicação de massa tiveram grande influência nos novos estilos de vida, hábitos, valores dando origem a sociedade de consumo atual.

No Brasil, o crescimento do consumo se deu aproximadamente na década de 1940 também com a industrialização, com isso houve o desenvolvimento dos meios de comunicação e sua influência. Em 1950 faltava infra-estrutura para a consolidação dos meios de comunicação de massa, começando a se estabelecer a partir do desenvolvimento da televisão que no fim da década tornou-se o maior veiculo de publicidade consolidando a sociedade brasileira em uma sociedade de massa.

Há uma contradição da televisão que, embora tenha um potencial democrático está amparada pela lógica capitalista. Os recordes de vendas de aparelhos televisivos marcam a sua disseminação no Brasil, onde há uma inclusão e exclusão social, pois ao mesmo tempo em que apresenta infinitas informações também incita o consumo valorizando as classes dominantes. Através do estudo de alguns autores pode-se afirmar que a televisão está inserida em 100% dos lares e em 80% deles é a principal fonte de informação e entretenimento, mostrando que a comunicação brasileira é feita através da mesma.

A partir destes dados, pode-se perceber como é importante a análise crítica sobre os meios de comunicação de massa, principalmente a televisão, para o desenvolvimento de ações para ampliar seu papel social e democrático na sociedade, pois ensinam sobre o mundo, informam e formam opiniões, veiculam uma visão da realidade, podendo, portanto, ser um importante e indispensável instrumento pedagógico, que deve ser utilizado a partir de uma perspectiva reflexiva no espaço escolar.

A televisão exerce impactos no desenvolvimento da criança, pois tem papel na socialização dos sujeitos, além de reprodutora social e dos mecanismos de controle. A escola é um espaço de socialização, mas ainda não se adaptou as mudanças tecnológicas como a televisão, que faz parte da realidade das crianças. Com a mídia, houve algumas perdas de importância de instituições como família, escola e religião. Mas isso deve ser trabalhado no interior do espaço escolar, onde não se deve excluir a programação televisiva, mas transformar os currículos a incluindo.

Atualmente as crianças tem uma visão de mundo mais ampla do que a cinqüenta anos atrás, quando a mídia estava em desenvolvimento. Estão expostas a informações a todo o tempo, além do consumo.

Frente ao exposto espera-se que pais, pedagogos e professores entendam a importância da reflexão crítica sobre as programações televisivas, formando indivíduos críticos a realidade da sociedade em que estão inseridos.

Indicações bibliográficas:

BARBOSA, Lívia. Sociedade de Consumo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.

FERRÉS, Joan. Televisão e Educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.


Autor: Suellen Arruda


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