CAMINHOS DA VIDA



CAMINHOS DA VIDA


Autor: Soélis Sanches


"Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós".

(Mateus: capítulo 7, versículo 2)

Numa sexta-feira, como sempre fazíamos naqueles dias, sentados à mesa do bar, estava eu acompanhado de mais três amigos.

A barulheira ensurdecedora da música, os risos dos embriagados, a cortina de fumaça dos cigarros acesos, o odor do churrasquinho na brasa e as conversas de tantas pessoas simultaneamente que ali se encontravam, onde nada se entendia, era como uma torre de Babel e compunha o ambiente em que me encontrava.

Tudo eram festa e motivo de alegria!

O tempo parecia ter sido parado, estranhos se abraçavam e cumprimentavam como se o mundo resumisse apenas em bebidas, festas, cigarros e ilusões.

As nuvens escuras no céu anunciavam que uma tempestade estava por cair, mas as pessoas que ali se encontram não arredavam os pés de seus lugares.

A noite chegou, trazendo consigo, a sombria escuridão das trevas e a tão anunciada chuva, com rajadas de vento e trovões.

Quando o relógio marcava aproximadamente vinte horas, uma jovem em trajes simples e humildes, toda encharcada pela tempestade, com um sorriso encantador e humilde como suas vestes, aproximou-se da mesa em que eu estava.

Seu semblante demonstrava tratar-se de uma pessoa sofrida pela vida e que trazia muitas decepções e frustrações do dia-a-dia.

Com a mesma humilde que suas vestes e seu sorriso deixavam transparecer, suas palavras também soavam calmamente e cheia de paz, e em tom suave e meigo disse:

"Moço, o senhor pode pagar um salgado? - Pois estou faminta e não comi durante todo o dia".

Meus amigos já envolvidos pela grande quantidade de bebidas começaram a zombar da humilde mulher. Faziam todo tipo de piadas, eles a humilhavam, sem que ela movesse um músculo sequer da face para retrucá-los.

Apesar de haver, também, ingerido vários copos de bebidas, um lampejo de compaixão e piedade me comoveu pelo comportamento da jovem e me entristeceu pelos atos de minhas amizades.

Convidei aquela mulher a sentar-se em uma mesa ao lado, dirigi-me até o balcão do barzinho e pedi que colocassem em um prato de papel alguns salgados e, também, um refrigerante.

Fiquei observando aquela pobre mulher comer aqueles salgados e nem percebi o que meus amigos comentavam entre risadas debochadoras.

Notei que lágrimas escorriam pelos olhos da jovem mulher.

Novamente, sem até hoje entender o meu comportamento, levantei da mesa onde estava com meus amigos e me sentei, fazendo companhia para aquela jovem senhora.

Entre um soluço e outro, enquanto comia, ela me contou que estava o dia todo pela rua, perambulando a procura de emprego para sustentar o filho. Estava cansada de andar, além de faminta, e para piorar ainda, não conseguiu trabalho.

Aquilo me tocou profundamente!

Então, eu a convidei a ir até minha casa no dia seguinte, e ofereci o trabalho de doméstica.

Sua lealdade, seu carinho para comigo era grande, e em agradecimento resolvi investir naquela jovem mulher e ajudá-la a construir uma vida melhor.

Os anos passaram, e após muita dedicação e luta, aquela mulher tornou-se uma grande médica na cidade.

Meus amigos, colegas de trabalho, continuavam pela cidade e vez por outras, ainda encontrávamo-nos no mesmo barzinho.

Num determinado dia, quando chegava eu em casa, o telefone tocou, e uma voz chorando e angustiada, do outro lado da linha, me contava que meus três amigos, bêbados, haviam sofrido um acidente de automóvel e estavam mal no hospital.

Entre lágrimas, cheguei apressado para prestar solidariedade aos meus amigos e familiares, quando uma voz doce e meiga, logo atrás me chamou, era da minha ex-empregada que me abraçou, chorando, me dizia que faria tudo pra salvar a vida de meus colegas.

E ela os salvou!

Muitas vezes, nos caminhos da vida vamos encontrar muitos espinhos que foram jogados por alguém e que se esqueceu que poderá retornar pelo mesmo percurso onde os lançou.
Autor: Soélis Sanches


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