Viagens 4 - Serviço não incluso



Viagens – 4 - SERVIÇO NÃO INCLUSO

 

Na Suíça sempre foi de praxe deixar uma boa gorjeta ao pessoal de serviço.

Não havia – e creio, conhecendo os suíços,  que não deva haver até hoje   uma norma escrita a respeito.

Ao entregar o pedido, sutilmente o garçom deixa sob o copo um papelzinho bem pequeno, só com o valor da despesa.

A gorjeta – que chamam de “service” -  não está incluída no valor.

Deve ser acrescentada, a discrição do cliente, dependendo do seu grau de satisfação.  E quanto é?  Dez, quinze, até vinte por cento da conta

Mas não está escrito em parte alguma.

Não sei se é por modéstia, respeito ou humildade ou apenas um costume, sem outras implicações...

 

O hábito torna o homem mal educado; foi fácil, assim,  passar da  contribuição voluntária para a cobrança compulsória.

Com inflexões mais ou menos fortes.

Os turistas na maioria ignoram este simpático costume; alguns até fingem que o ignoram; e ao saber dele, em geral não se negam a respeitá-lo.

 

Mas não é raro um garçom – ou mais frequentemente uma garçonete – correr atrás do cliente pela rua, gritando :

 

- Monsieur, monsieur! Le service n’ est pas compris! 

(Serviço não incluso! – subentendendo: você não deixou a gorjeta; está me roubando a minha parte!)

 

Estávamos numa dessas lanchonetes, delícia dos turistas, que podem assim tirar os sapatos e descansar os pés e as costas por quinze minutos.

 

Uma senhora distinta, de bolsa e chapeuzinho, que estava sentada próxima da nossa mesa, verificou o papelzinho da conta, fez rapidamente um cálculo mental, levantou, deixando na mesa apenas uns trocadinhos e se mandou rápido, não sem antes fazer-nos um ligeiro, educadíssimo cumprimento.

 

Mas a garçonete estava alerta e saiu atrás dela, com os pratinhos usados na mão, e lançando  aquele costumeiro grito de guerra:

- Madame, madame!  Le service n’ est pas compris!

 

Chegou perto e aí percebeu que a mulher só  havia deixado o “service”.

-  Oh, merde! – falou aborrecida. 

Não perdeu  um minuto.

Diante dos nossos olhos incrédulos , abriu a grande bolsa da cliente e jogou dentro o conteúdo dos pratinhos – ossinhos, molho, guardanapo  e um copinho plástico com algum resto de refrigerante.

E com um sorriso triunfante, completou:

- “A senhora esqueceu de pegar o troco! Obrigada, volte sempre!” 

A assistência aplaudiu, mas ela não deu bola.

Voltou a fazer o seu serviço, sem uma única palavra. 

A vingança vem a cavalo – e às vezes, a garçonete.

 

 


Autor: Romano Dazzi


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