Viagens 6 - Um passeio no lago Leman



Viagens 6 - UM PASSEIO NO LAGO LEMAN

 

 

O passeio duraria uns quarenta minutos.

Era uma tarde quente de domingo,em meados de setembro.

Os suíços armazenavam sol para os seis, oito meses seguintes de neve, chuva a umidade.

Andavam de shorts, chinelos e chapéus de palha, panamás mexicanos, bonés coloridos; respiravam o calor com avidez, bêbados de luz.

Pegamos o barco, o “General Guisan”, que fazia a cabotagem no lago inteiro.

Thonon, Évians, Montreux, Vevey, Pully .....

Reduzia a velocidade ao passar diante das mansões dos famosos.

Com um pouco de sorte, daria para ver a cozinheira; ou, com um pouquinho mais e dependendo do dia, o leiteiro.

Mas era sempre uma aprendizado. 

Aquela era a casa do Carlitos. Qual era? Aquela verde escuro... Não vi, não....Que pena, já passou....

Turistas de todo tipo  espalhavam-se na coberta .

Havia diversos bancos; eram  duros, mas sentar numa tábua é sempre melhor que ficar em pé, com o barco balançando. 

Acomodamo-nos num, eu e minha esposa, enquanto o nosso amigo de sempre sentava à nossa frente, virado para nós.

Não passam cinco minutos que um tonel de cerveja senta-se ao lado dele. Como qualquer tonel que se preze, tinha mais cerveja dentro do que fora.

Com o balanço do barco, foi indo para frente e para trás, com uma perigosa falta de equilíbrio.

Logo começou a vacilar de um lado para o outro, empurrando o vizinho.

Meu amigo, seco, duro, imperturbável, segurou a barra.

E o outro vinha, e ia e voltava; meu amigo reconquistando a cada balançada par, os centímetros que perdia na balançada ímpar.

Meu amigo ficou na ponta do banco, e quase cai dele.

Mas recuperou o espaço no quinto ou sexto round.

Era todo um trabalho de ombros, de cotovelos, de amuradas.

Era uma luta de vida ou de morte, como se estivessem dançando um lentíssimo paso doble.

Empurravam-se como dois buldogues, empenhados em segurar o espaço vital.  Depois de algum tempo, entraram em ação as...peço perdão por usar uma expressão chula, mas é a única que cabe,  as bundas; sim, as bundas.

 

Davam bordoadas uma contra a outra de jeito tal que,  não fossem de carne, teriam desmontado ambas.

O bêbado que já falava um “patois” incompreensível da Basiléia, enrolava a língua e se arriscava a mastigar alguma xingação velada.

Acho que nem ele entendia o que estava querendo dizer.

Mas o meu amigo revelando a verdadeira fibra dos calabreses, ficou lá, firme, resistindo aos ataques  contínuos, até que o bêbado levantou e foi embora.

O barco estava atracando. Não vimos quase nenhuma cozinheira; mas a tourada foi sensacional. 

 

 


Autor: Romano Dazzi


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