Vergonha na cara!



                 As pessoas têm o péssimo hábito de considerar pequenas pedras no caminho, como verdadeiras montanhas. Ao primeiro sinal de dificuldade, sucumbem, lamentam, choram, esbravejam, prostrando-se diante dos problemas, tornando praticamente impossível a superação dessas intempéries. Outras, pior ainda, lastimam-se sem qualquer razão.

                Nós tropeçamos apenas em pequenas pedras, pois não as vemos com as mesmas dimensões de grandes montanhas. Os indivíduos não percebem que essas ínfimas pedras no caminho, esses singelos obstáculos, são extremamente necessários para quem deseja alcançar um sucesso perene, que seja sinônimo também de felicidade.

                Nas consultorias que realizo me deparo com todo tipo de gente. Infelizmente, a maioria delas tece uma enorme colcha de retalhos de reclamações, entretanto, não cosem centímetros de fios de gratidão. São indivíduos que lamentam pelo emprego que possuem, pelo chefe que têm, pelo salário que recebem ou pelos empregados que possuem, pela empresa que lhes toma todo tempo, enfim, não são raras as que culpam a tudo e a todos. Elas não compreendem que são as responsáveis pelo que lhes acontece. Já está cimentado que somos responsáveis pelo que temos e pelo que não temos, pelo que fazemos e não fazemos, pelo que somos e pelo que não somos.

                Mas, me parece que alguns relutam em compreender, quando sutilmente, singelamente, tentamos lhes mostrar essa fatídica verdade. Usamos de todo vocabulário, de toda retórica para não ofender as pessoas ou, ao menos, para que não se deitem a chorar por serem chamadas à atenção. Incrivelmente, para uma parcela de pessoas, agir calmamente, cortesmente, não tem produzido os efeitos indeléveis que se pretende quando são realizadas entrevistas, cursos, palestras, na tentativa de evidenciar que enquanto reclamam, outros já estão fazendo o que tem de ser feito.

                Contudo, não são somente os colaboradores que pensam ter do que reclamar. Há alguns anos, num trabalho de mentor que eu exercia numa determinada empresa, o empresário teimava em afirmar que o trabalho realizado pelos colaboradores deveria ser perfeito e que teriam de dar o seu melhor, pelo salário que aceitaram ganhar, sem qualquer outra forma de recompensa ou reconhecimento. Imagino que ele deva ter lido os livros que falam da arqueologia da Administração e Gestão de Pessoas. Eu lhe mostrara todos os ganhos que teria se incentivasse aos colaboradores a reduzirem o desperdício com produtos, que, mensalmente, chegava, para o tamanho da empresa, ao valor estratosférico de 15 mil reais. Tal desperdício se dava, na sua grande maioria, pela irresponsabilidade e descomprometimento dos funcionários.

                Todavia, o empresário lançou mão de um emaranhado de reclamações. “Paulo, eu pago uma fortuna para esses funcionários (salário da categoria). Veja bem, eu ganho uma miséria (algo em torno de 35 mil por mês, líquido). Não sei se vale à pena manter esta empresa por mais tempo, só tenho obtido prejuízo (empresa com mais de cinco anos de lucros consecutivos). Trabalho igual a um “condenado” (pelo que sei, mais de 80% dos condenados não tem o que fazer nos presídios) e esses montes (funcionários) querem ganhar mais que eu (só se somarmos o salário de todos os colaboradores).”

                Sem ter outra coisa a fazer, respondi a ele, rindo, mas, com toda a sinceridade do mundo: “Amigo, você não tem vergonha na cara?” Espantado, ele cingiu a testa e bradou: “É brincadeira sua Paulo, não é?”

                Eu lhe disse que não, e falei mais algumas palavras: “Amigo, olhe ao seu redor. Veja quanta coisa você possui. Você tem uma empresa que está fora das estatísticas do SEBRAE, sobre a mortalidade de empresas. Você ganha mais de 70 salários mínimos, tem dois carros que valem mais de 200 mil reais, uma bela e confortável moradia, vai a restaurantes todo final de semana, viaja, pelo menos, duas vezes por ano, com toda sua família. Seus tênis valem o salário de um honesto trabalhador, por todo um mês. Algumas camisas que você possui dariam para pagar o “rancho” do mês para uma família da classe “C” de três pessoas. Você é saudável fisicamente, seus filhos estão em colégio particular e todos os dias gastam, pelo menos, 10 reais em lanche na escola. Eles possuem brinquedos caríssimos, a maioria deles trocados quase todos os meses. Você respira, fala, anda, tem braços, pernas, mãos, tem a possibilidade de fazer um “check-up” médico todo fim de ano. As pessoas nas ruas lutam por migalhas de pão, você tem a mais farta mesa e seus cães comem melhor do que muitos seres humanos. A vida lhe tem sido bastante profícua, Deus tem lhe abençoado abundantemente. A quem você quer convencer com essas lamúrias? Aos seus funcionários? Ou a você mesmo?”

                Olhando fixamente para mim por alguns segundos, ele recostou sua cabeça em meu ombro e desta vez, seu pranto era por ter percebido que deveria ter mais vergonha na cara e deixar de lamentar diante da maravilhosa vida que pulsava dentro de si.

                Recentemente, uma das atitudes desse empresário foi a de promover um jantar para todos os colaboradores, para comemorarem o sucesso da empresa, sobretudo, na redução do desperdício, que, de 15 mil reais por mês, fora substituído por menos de 5 mil reais em bônus aos funcionários. O desperdício tem fechado em menos de 3,5 mil reais, o que é, para sua atividade, perfeitamente aceitável.

                E você, querido leitor, está ouvindo enquanto as pessoas e a vida estão suavemente tentando lhe mostrar que não é por meio de lamúrias que se supera problemas? Ou está aguardando alguém ser mais severo?

                Um forte abraço e felicidades sempre!

 

                Professor Paulo Sérgio

                www.professorpaulosergio.com.br
               

 

               

 


Autor: PAULO SERGIO BUHRER


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