Sou Quem?...



Sou quem me elaborou, projetou, analisou, descreveu, interpretou, construiu... Acontece que sobrevivi, e entre a minha construção e um vácuo deixado pelos executores da obra, escapei e me fiz também. Hoje sou a dúvida de quase todas as certezas. Nego muito do que do que fui e do que sou, pois sei que vontades alheias aos meus desejos determinando quem eu seria me trouxeram mais dissabores do que sabores. Sendo assim, renuncio a minha autenticidade.
Tento dizer o indizível, me faltam palavras para expressar meus

sentimentos, nesta hora me valho do meu olhar, mas quantos o entenderão? Não tem importância, o poeta avisou: “Quem não compreende um olhar, tampouco compreenderá uma longa explicação”.
Vazios existentes promovem um encontro comigo mesmo, e de forma revigorada eu continuo a minha luta em prol das vozes sem som. Faço festa com o desconforto dos saberes, e como meu sol tem sabor de lua, encontro reconforto nos alucinados.
Neste “bolicho” de proscratinações, me transformo na esperança do moribundo, converto desespero em alegrias, e fantasio-as como a leveza de uma embriaguez.
Manter a chama das ilusões é agigantar-se no ínfimo; é saber que os defeitos são autênticos, e os perfeitos são excêntricos; é manter a jovialidade sem a preocupação de ser jovem; é entender que ser belo é produzir belezas, que ser novo é construir novidades; e que para ser feliz, quase sempre requer ser o sim do não e enchê-lo de nada.
Andando por asfaltos de areia movediça, blefando comigo mesmo, ouço os gritos dos calados, que sem liberdade continuam sonhando em ser livres. Despertar os sentidos adormecidos e fazê-los desistir dos limites é uma forma empolgante de extrair o sabor do nada e abastecê-lo com magia e mistério.
A eficácia da mediocridade torna as almas descrentes e extravagantes, acolhendo quase sempre desilusões. Não quero isto para mim, o que eu quero é ser a birra da criança transgressora, exteriorizando sentimentos sem medo de desagradar ou não.
Sou tantos e sou nada, abrigo em mim à incompreensão do presente, mas quem sabe não metamorfosearei o futuro? Só não tente me entender, porque eu já sou outro.


Autor: Zico Carvalho


Artigos Relacionados


Adria Camila

Pasma Imaginação

Subproduto(18/05/1989)

Revelação Do Ter

Para O Dia Das MÃes - Ser MÃe

O Deserto

A Perspectiva Construtivista De Ensino