ADORADORES EM ESPÍRITO E VERDADE



ADORADORES EM ESPÍRITO E VERDADE

"Deus é espírito e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade" Jo 4,24

Vigilância, oração, adoração, intercessão são atos próprios de quem vive pela fé, formas de comunicação do fiel com Deus. "Vigiai e orai para que não entreis em tentação; pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca. O Senhor Deus adorarás, só a ele prestarás culto". Adorar o Pai, o Filho e Deus Mãe que nos acolhem na Família divina e nos tratam como filhos e irmãos. Jesus disse que viu Satanás joeirando Pedro como grãos na eira pra perdê-lo. Mas rogou ao Pai para que o firmasse na fé. A fé é o remédio infalível contra o veneno de Satanás. Ele nada pode contra a pessoa que crê, pois está revestida do mesmo poder de Jesus Cristo. Na véspera da paixão, Jesus declarou: "Agora é o julgamento do príncipe do mundo. Contra mim ele nada pode". Tampouco contra aquele que crê. "Tua vitória sobre o mundo é tua fé em Jesus "O Cordeiro de Deus imolado e de pé intercede dia e noite pelos irmãos junto ao Pai, com os contemplativos, para que resistam às ciladas do Inimigo ávido de perdê-los. Precisamos orar pedindo ao Pai que não nos deixe desfalecer da fé. Vigiar é estar alerta e andar à luz da fé. O clima ideal do encontro com Deus é o silêncio exterior e interior. Sobretudo o silêncio do coração, que é o templo da SS Trindade. "Conduzi-la-ei ao deserto e lhe falarei ao coração".O deserto exterior também é necessário para apoiar o deserto interior, pra percebermos o oásis, o lugar do encontro com Deus. "Quando orares, não sejas como os hipócritas, que gostam de fazer oração pondo-se em pé nas sinagogas e esquinas, para serem vistos por todos. Em verdade vos digo: já receberam sua recompensa. Porém, quando orares, entra no teu quarto (deserto interior) e, fechando a porta (abstraindo os sentidos), ora ao teu Pai que está lá no segredo; e ele, que vê no segredo, recompensar-te-á". Jesus praticava o silêncio retirando-se em lugares ermos, onde ficava à sós com seu Aba Pai e Deus Mãe. Lá ele recompunha as energias, consumidas na dura lida diária com as multidões e rudes discípulos. O silêncio, maneira habitual do relacionamento de Deus com os filhos e filhas pela fé, não é indiferença, desprezo pelo mundo, mas atenção focada na presença vivificante e suave de Deus conosco. Só a fé imprime sensibilidade pra captar a presença amorosa da Família Divina conosco. No silêncio do quarto interior (coração) os filhos dizem ao Pai, a Ruah, ao Primogênito: "De vós esperamos alimento no tempo certo. Se afastas tua face, nos apavoramos". Pois em vós "vivemos, nos movemos, existimos". Para os filhos e filhas de Deus o silêncio é uma melodiosa sinfonia. O Pai envia Jesus ao mundo pra dizer-nos que nos ama. O silêncio cria condições para o fiel ir ao encontro do Deus que vem a nós, sintonizar com ele e deixá-lo comunicar-nos vida divina. No silêncio, aprendemos a ouvir a voz melodiosa, curtir a amizade, a parceria e fidelidade com Jesus. 'Já não vos chamo servos, mas amigos, pois vos dei a conhecer tudo que ouvi do meu Pai'. É no silêncio que descobrimos a aliança com Jesus na edificação do Reino. Faz-se amigo e nos escolhe pra caminharmos com ele, no espírito da aliança conosco. "Não fostes vós que me escolhestes, eu vos escolhi e constituí, para que vades e deis muito fruto e vosso fruto permaneça". Na vivência da aliança, às vezes esquecemos que Jesus é o forte, nós, fracos . Aí o silêncio nos socorre e voltamos a ouvir sua voz: "Eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo. Não se perturbe vosso coração. Dou-vos a minha paz, minha paz vos dou. Não a dou como o mundo dá. Dou-vos a minha paz: paz que brota da presença amorosa da Família Divina convosco em meio às tribulações do mundo". E no silêncio da oração humilde reavivamos o 'primeiro amor', refazemos as 'primeiras obras'. De fato, o silêncio é lugar teologal privilegiado. No deserto (silêncio), Abraão, Moisés, Elias, Oséias, Maria, Jesus, Paulo, Agostinho, Francisco de Assis, Catarina de Sena, Inácio de Loyola, Tereza d'Ávila, Antônio, Nara, Míria, Ivo encontram-se com Jesus e mudam o mundo. Silêncio não é, pois, solidão, mas o espaço do encontro da Igreja militante e da Igreja triunfante com a Família Divina. O silêncio é o ambiente da comunhão dos santos.

Nossa relação legítima com Deus é pela fé na Palavra revelada. O clima da vivência da fé é o silêncio sonoro da presença envolvente do Amado. Sem fé, impossível ouvir a voz silenciosa do Emanuel que se comunica intensamente conosco até no meio da tempestade. Para tirar qualquer suspeita sobre a fé em Jesus Cristo, o fiel precisa sinalizá-la com obras boas de serviço aos irmãos. "Vós sois a luz do mundo. Brilhe a luz da vossa fé diante dos  homens, para que, vendo vossas boas obras, glorifiquem o Pai celeste. Pois fé sem obras é morta", diz Tiago Maior, irmão de João Evangelista, ambos primos em primeiro grau de Jesus, os três, primos em terceiro ou quarto grau de João Batista". As boas obras precisam ser vistas. Mas, oração e jejum devem ser secretos, imunes a elogios do mundo. Só Deus sabe quão sincera é nosso jejum e oração, e nos recompensará. Os homens não saberiam avaliar corretamente o alcance do jejum e da oração. Por isso, no nosso relacionamento de fé, no que respeita à oração e ao jejum, não precisamos de outro referencial a não ser Deus mesmo. Elogio, julgamento, crítica das pessoas nada disto deve nos afetar, sobretudo em relação à oração. Por isto o melhor a fazer é silenciar para o mundo. "Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta, ora ao teu Pai que está contigo no segredo. Ele vê no segredo e te recompensará". Que quarto? Trata-se do tálamo interior, no mais íntimo do coração, onde se dá o colóquio de amor entre o Amado e a amada (quem cre). Os sentidos são as janelas da alma. Por eles estamos abertos ao mundo, que se imprime na memória sensível da nossa alma como sensação, imagem, idéias, conhecimento. A alma não é uma parte de nós, mas nosso ser inteiro. Quando a Bíblia fala em 'alma' é sempre no sentido semítico-cristão (nephesh), nunca no sentido grego (psiché). A filosofia grega vê o ser humano de modo dualista, composto de duas substâncias separáveis: corpo, descartável na morte e alma que retorna para o céu, onde sempre existiu. Mas, porque se rebelou contra Zeus, foi enviada à terra pra se encarnar, ser punida e purificada num corpo, desencarnar-se e voltar para o céu como espírito puro. Esta doutrina contaminou a fé e teologia cristã e vem sendo ensinada como matéria de fé por pregadores mal informados. Na verdade, é uma heresia destruidora da verdade primeira da revelação judeu-cristã: a ressurreição do ser humano inteiro, a exemplo de Jesus. Aos discípulos apavorados com sua aparição no lugar fechado onde se achavam com medo de ser mortos pelas autoridades religiosas de Jerusalém, achando tratar-se de um fantasma, um espírito desencarnado, Jesus mandou-os ver e tocar as marcas da crucificação, para terem certeza que a ressurreição se dá num corpo de carne: "Vede minhas mãos e meus pés: SOU EU. Apalpai-me e entendei que um espírito não tem carne nem ossos como vedes que eu tenho. Tendes o que comer? Apresentaram-lhe um pedaço de peixe assado, tomou-o e comeu diante deles" Lc 24,36-42. O Credos Niceno e o Niceno-constantinopolitano não fala de salvação da alma sem corpo, como muitos padres pregam, mas em ressurreição da carne, conforme a revelação bíblica (Lc 24; Jo 20,27-28; 21,11-14; 1Cor 15): "Creio na ressurreição da carne, na vida eterna". João evangelista é categórico: "Caríssimos, não acrediteis em qualquer espírito, mas examinai os espíritos pra ver se são de Deus, pois muitos falsos profetas vieram ao mundo. Reconheceis o espírito de Deus nisto: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio na carne é de Deus; e todo espírito que não confessa (que) Jesus (veio na carne) não é de Deus; é este o espírito do Anticristo", do mundo, de Satanás 1 Jo 4,1-3. A filosofia grega e o espiritismo desprezam o corpo em nome de um purismo espiritual inconsistente. Jesus resgata o corpo humano e lhe dá status de eternidade, indissoluvelmente unido à alma. Muitos confundem corpo com carne. Ora, carne não é categoria física e mundana, mas antropoteologal. Em Jo e Paulo 'carne' significa a fragilidade do ser humano inteiro, corpo e alma juntos. "O Verbo se fez carne" significa: o Unigênito do Pai e Deus Mãe assumiu toda a fragilidade humana, corpo e alma inseparáveis. Somos uma unidade ôntica indivisível. Não temos, mas somos corpo, com dimensões exterior e interior. Nem a morte separa a alma e corpo, que são resgatados na ressurreição. Ocorpo é a dimensão visível da alma e a alma é a dimensão invisível do corpo: sensação, inteligência noética e emocional, sentimento e pensamento. O corpo é a morada de Deus Mãe e o coração é o quarto interior, lugar mais íntimo da morada de Deus Mãe. Fechar as janelas do quarto significa desviar a atenção sensorial do mundo e dirigi-la para dentro do quarto, para a intimidade do coração, onde olhares indiscretos não chegam, só Deus Mãe. "O Deus Mãe sonda todas as coisas, até a profundeza de Deus. Quanto a nós, não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito de Deus, para que conheçamos os dons da sua graça. Desses dons não falamos usando a linguagem procedente da sabedoria humana, mas aquela ensinada por Deus Mãe, que exprime realidades espirituais em termos espirituais". Eis o quarto do encontro de amor com o Amado, cujas janelas estão fechadas. "Eis que estou à porta da casa e bato: se alguém ouvir minha voz e abri-la, entrarei, cearei com ele e ele comigo. Eu dormia, mas meu coração velava, ouvi meu amado que batia: abre, minha irmã, amada minha, pomba minha sem defeito. Tenho a cabeça orvalhada, meus cabelos gotejam sereno. Meu amado põe a mão pela fenda da porta: as entranhas me estremecem, minha alma, ouvindo-o, se esvai. Ponho-me de pé para abrir ao meu amado. Minhas mãos gotejam mirra, meus dedos são mirra escorrendo na maçaneta da fechadura. Já vim ao meu jardim, irmã minha, noiva minha, colhi minha mirra e meu bálsamo, comi meu favo de mel, bebi meu vinho e meu leite. Como és bela, minha amada, como és bela! Teu cabelo é um rebanho de cabras, ondulando pelas colinas de Galaad. Que beleza as tuas faces entre os brincos, teu pescoço com colares. Teu pescoço é a torre de Davi, construída com defesas. São pombas teus olhos ocultos sob o véu. Teus dentes, um rebanho tosquiado subindo após o banho, cada ovelha com seus gêmeos, nenhuma delas sem cria. Teus lábios são fita vermelha, tua fala é melodiosa; teus seios mergulhados sob o véu são metades de romã, dois filhotes gêmeos de gazela, pastando entre açucenas. Antes que sopre a brisa e as sombras se vão, vou ao monte da mirra, à colina do incenso roubar essências silvestres para perfumar teu grácil e gracioso corpo. Com um só dos teus olhares, uma volta dos teus colares, roubaste meu coração, minha irmã, noiva minha. Que belos são teus amores, irmã minha, noiva minha; eles são melhores que o vinho, o odor dos teus perfumes é mais fino que outros aromas. Tens leite e mel sob a língua, teus lábios são favo escorrendo, ó noiva minha, e o perfume de tuas roupas é como a fragrância do Líbano. Desperta, vento norte, aproxima-te, vento sul, soprai no meu jardim para espalhar os perfumes da minha amada. Entre o meu amado em seu jardim e coma dos seus frutos saborosos. Que me beije com beijos de sua boca! Teus amores são melhores que o vinho, o odor do teu perfume é suave, teu nome, como óleo escorrendo, as donzelas se enamoram de ti. Arrasta-me contigo, corramos! Celebremos teus amores mais que ao vinho. Guarda-me como o sinete sobre teu coração, como o sinete sobre teu braço. Porque o amor é forte como a morte, inflexível, como o abismo é o ciúme: suas chamas são fogo, labaredas divinas. Águas torrenciais não podem apagar o amor, nem rios poderão afogá-lo. Se alguém oferecesse todas as riquezas de casa para comprar o amor, com total desprezo o tratariam". O diálogo amoroso ocorre no quarto interior do coração, onde os amorosos trocam confidências, contam segredos: segredos do esposo pra esposa, da esposa pra o esposo; de mãe pra filha, de filha pra mãe; de pai e mãe para os filhos. Por ser a morada de Deus, o coração é o mais íntimo do nosso ser, o sinal divino, o DNA. Trancar a porta do quarto é ficar a sós com Deus na intimidade do coração, onde nada do mundo se intromete. Sobretudo o mundo que trazemos dentro de nós. O coração é o deserto silencioso onde o orante e Deus se encontram. O mundo só entrará nele quando intercedemos por ele. "Eu mesmo a vou seduzir, conduzi-la ao deserto e falar-lhe ao coração". Na intimidade, longe dos olhares curiosos do mundo, Deus e o fiel estarão em colóquio de reconciliação, amor e perdão, proposta de mudança de vida. É no silêncio do deserto interior onde ocorrem as núpcias do Cordeiro com os que crêem nele e adoram Deus em espírito e verdade. "No silêncio do coração Deus faz ouvir sua voz. Onde iremos, senão a ti? Só tu tens palavras de vida eterna". O que se passa no quarto é segredo de Pai e filho, longe dos ouvidos do mundo ímpio. A linguagem do amor só os que amam entendem. "Só os que têm o Espírito Santo entendem as coisas de Deus". Deus Mãe não pode morar junto com o espírito do mundo, mas com os que "têm mãos limpas e coração puro. Estes verão Deus". Unidos a ele pela fé, voltamos ao mundo com o olhar purificado, enxergando-o com os olhos de Deus, levando a ele a vida que Deus nos comunicou, para torná-lo mais humano. A partir do nosso coração puro o mundo começará a ficar puro.

"Cristo Jesus esteve morto, mas ressuscitou, agora vive eternamente no céu à direita doPai, onde é nosso intercessor", eterno Sumo Sacerdote. Jesus Cristo é o orante número um, o Intercessor de plantão da humanidade pecadora junto ao Pai. Entronizado ao lado do Pai, Ele continua seu ofício sacerdotal iniciado no Dia em que o Pai lhe deu um corpo e ele se ofereceu como hóstia viva em favor da humanidade pecadora. Por causa da união de todos os santos, do céu e da terra, no seu Corpo Místico, toda oração dos cristãos é em, com, por Cristo. Em Cristo, porque unidos a seu Corpo; com Cristo, porque ele reza conosco; por Cristo, porque ele é o Mediador das nossas orações junto ao Pai: por ele todas chegam ao Pai. O Intercessor Jesus é o Sumo Pontífice da criação, a Ponte entre o céu e a terra, terra e céu. Nele, até as orações pessoais são comunitárias. Somos e rezamos como membros do Corpo de Cristo, ramos da videira, pedras vivas do novo templo, povo sacerdotal, unido ao Sumo Sacerdote Jesus pelos laços do Espírito. O sangue que corre nas veias de Jesus corre nas nossas também; a seiva viva que irriga a videira, irriga também os ramos; as pedras vivas do novo templo são do mesmo material que a Pedra angular. "Fostes integrados na construção que tem por fundamento os apóstolos e profetas e o Cristo como pedra mestra. Nele, toda a construção se ajusta e se eleva para formar um templo santo em Jesus Cristo. Nele vós também sois, todos juntos, integrados na construção para vos tornardes morada de Deus no Espírito". Jesus é o novo templo, onde se realiza o culto em espírito e verdade. Pela fé, sou ramo enxertado no tronco: "não vivo eu, mas é Cristo em mim; não rezo eu, mas Cristo em mim"; por isso, oro com o tronco e ele comigo; como "Jesus é o Mediador exclusivo entre Deus e os homens", por ele minha oração chega ao Pai. "Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e vos será dado". Rezamos em Cristo e ele reza conosco, unidos a Deus Mãe. Unidos a Cristo pela fé, as orações individuais dos membros do Corpo Místico afetam a comunidade de fé inteira. Não há distância para Deus. Até porque, o que peço para mim, peço-o como filho de Deus, irmão de muitos irmãos de Jesus. Daí, mesmo individual, nossa oração visa sempre todo o Corpo de Cristo com seus membros.

O Pai-Nosso é a oração que Jesus ensinou pessoalmente aos discípulos, é a oração dos irmãos de Jesus, dirigida diretamente ao Pai de Jesus e nosso. Trata-se da oração dos filhos de Deus no Filho Primogênito, com quem formamos um só Corpo. De modo que, quando a rezamos, Jesus reza conosco, como a Cabeça do Corpo. O Pai-Nosso é rezado em, com, por Cristo. É, pois, uma oração comunitária, que o justo não reza só pra si, mas sempre em comunhão com todos os membros do Corpo de Cristo, em louvor ao Pai e em benefício dos irmãos, como Jesus ora. Posso chamar Deus de meu Pai, porque Jesus me dá o direito de assim chamá-lo. "Subo ao meu e vosso Deus, ao meu e vosso Pai". Mesmo assim oro ao Pai comum: "Pai nosso, santificado seja o teu Nome". Quando é santificado o Nome do Pai? O Nome de Deus é Deus mesmo. Ao dizermos "em Nome do Pai, do Filho, de Deus Mãe; eu te batizo em Nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo; quando fazemos, dizemos algo no Nome de Jesus" significa que nossos atos e palavras valem como se cada Pessoa divina os realizasse e falassem. Jesus diz a Pedro e cada irmão: "O que ligares na terra será ligado no céu; o que desligares na terra... ". O Nome do Pai é santificado quando pela fé, aderirmos ao seu Enviado, Jesus Cristo, e praticarmos a Palavra que lhe mandou anunciar. "Seja feita tua vontade". Qual a vontade do Pai? "Nossa salvação: Que não se perca algum do que me deste pra salvar". Quando não nos perderemos? Quando o Reino vier a nós pela prática da fé. Quando isto acontecer o Nome de Deus será santificado. Então sua vontade é feita. Quais os sinais que a vontade do Pai está sendo feita? Quando damos de comer aos famintos, de beber a quem tem sede, abrigo aos desamparados, vestimos os nus, visitamos os doentes e prisioneiros, fazendo da fraternidade uma mística existencial, um estilo de vida. As obra de amor fraterno perdoam nossos pecados e perdoarmos quem nos ofendeu; pela fé, o Pai nos livrará do mal e não nos deixará cair em tentação. Quando estas coisas ocorrerem, o Nome do Pai terá sido santificado e podemos dizer: "Amém". O Pai-Nosso é do agrado do Pai, porque os filhos adotivos a rezam unidos ao Primogênito. A oração mais pura é agradecimento e louvor antes que pedido. É que o Pai nos dá seu favor antes mesmo que lhos peçamos. Se tivermos vigilantes na fé, a mão de Deus antecipa-se a nós sempre. Daí a gratidão e o louvor serem prioritários. Mesmo se tudo não vai bem, não esquecer que Jesus nunca nos abandona e nele podemos nos alegrar. Por isso, chova ou faça sol, ele é a razão do meu cantar sempre. "Minhas entranhas tremem, meus lábios estremecem, a cárie penetra meus ossos, meus passos tornam-se vacilantes. Espero em paz o dia da angústia que se levantará contra os inimigos do povo. A figueira não dará fruto e não haverá frutos nas vinhas. O produto da oliveira decepcionará, os campos não darão de comer, as ovelhas sumirão do aprisco e não haverá gado nos estábulos. Eu, porém, me alegrarei em Javé, exultarei no Deus da minha salvação. Javé é minha força, faz meus pés semelhantes aos da gazela e faz-me caminhar nas alturas" Hab 3,16-19. Nesta direção vai a Oração que Jesus nos ensinou. Se o Pai é conosco no Cristo, tudo o mais vem por acréscimo, mesmo sem o pedirmos. Se faz chover e o sol se levantar sobre injustos e justos, maus e ingratos, como negaria algo aos filhos de suas entranhas, gerados no Primogênito? "Quem não poupou o próprio Filho e o entregou por nós, como não nos haverá de agraciar em tudo junto com ele"? O mais difícil o Pai fez: dar-nos o Filho Único, enviado "numa carne semelhante à carne de pecado". O resto dependerá da nossa fé. Cabe-nos estar atentos ao Pai que cuida de nós dia e noite e lhe dedicarmos o louvor merecido. Este é o difícil, mas merecido, justo sacrifício de louvor. Precisamos renunciar ao nosso crônico narcisismo, ao incontrolável e insensato desejo de elogios gratuitos, de sermos o centro das atenções, e louvarmos Quem realmente merece toda honra e louvor: A SS Trindade. Aí nossos problemas começarão a diminuir de importância. Se o Primogênito, o Pai e Deus Mãe trabalham indormidamente, sem tirar férias nem repousar, cuidam até das aves do céu e dos lírios do campo, como não cuidariam dos amados filhos, aos quais dão o pão até enquanto dormem? Por isto, Jesus ensina-nos a respeitar a vontade do Pai, que está acima de nossos pedidos pessoais. Jesus pediu que Abba Pai afaste o cálice de amarguras da humilhação, flagelação, crucificação e morte cruel que sofrerá. Mas submete sua vontade à do Pai: "Não se faça o que quero, mas o que queres". A vontade do Pai não é insano capricho que ele impõe aos filhos. Trata-se, antes, do seu projeto salvífico para a humanidade, que se realizará até ao custo da vida do Filho Único. "Fui enviado, não para fazer a minha vontade, mas a vontade do meu Pai. O Filho do Homem não veio ser servido, mas servir e dar a vida pela multidão dos perdidos que o Pai me deu pra salvar. A vontade do meu Pai é que não se perca nenhum daqueles que me deu, mas os ressuscite no último Dia". Dia é de Javé, previsto como Dia de fúria e cólera contra os pecadores. Mas em vez de cair sobre os pecadores, abateu-se sobre Jesus, que o Pai "fez pecado, maldição, para nos resgatar da maldição" do pecado. "Andávamos como ovelhas errantes, seguindo cada um o próprio caminho, mas Javé fez pesar sobre ele nossas iniqüidades. Ele era abandonado e desprezado, não fazíamos caso algum dele. E, no entanto, eram nossas enfermidades que levava sobre si, nossas dores que carregava. Como vítima do castigo o tínhamos, ferido, humilhado por Deus. Mas foi trespassado, esmagado por nossas transgressões e iniqüidades. O castigo que nos traria paz caiu sobre ele; por suas feridas fomos curados. Javé o quis submeter à enfermidade. Mas, se oferece a vida em sacrifício pelo pecado, certamente verá uma descendência, prolongará seus dias, e o desígnio do Pai triunfará por ele. Justificará muitos, levará sobre si suas transgressões". A oração sacerdotal atingiu o ápice na cruz, onde Jesus não oferece sacrifícios de animais, mas se auto-oferece: na cruz, ele é Sacerdote celebrante e vítima ofertada: ele louva o Pai se oferecendo uma vez por todas, de maneira permanente pelo resgate dos irmãos e da criação perdida por causa dos pecados deles. Os efeitos da auto-imolação do Cordeiro de Deus continuam valendo quando aderimos a Jesus pela fé e a rememoramos na celebração eucarística. Jesus "apareceu uma só vez no final dos tempos pra destruir o pecado pelo sacrifício de si mesmo. Não é necessário oferecer diariamente sacrifícios por seus pecados e os do povo, pois Jesus o fez uma só vez por todas. Depois de ter realizado a purificação dos pecados, está sentado à direita do Pai intercedendo eternamente por nós". Jesus é a mão direita, Deus Mãe é mão esquerda do Pai, pelas quais a ação salvífica da SS Trindade se realiza no mundo. Sendo o Amor do Pai e do Filho, Deus Mãe é o Coração da SS. Trindade. Por isso está do lado esquerdo, lado do coração.

Quando pedimos a Deus que nos ilumine não é para ficarmos sentados esperando que a iluminação chegue. Tampouco, ficar na expectativa de sermos atendidos. Pois, toda oração feita na fé é atendida de imediato, já que é feita em, com, por Cristo, e o Pai não nega um pedido ao amado Filho, mesmo quando feito pelo menor membro do Corpo Místico. Uma vez feito o pedido, mãos à obra, confiante: Jesus agirá através da nossa ação livre. Moisés se queixou a Javé da dificuldade de dirigir um povo rebelde e queria renunciar à missão a ele confiada. Javé foi curto e grosso: "Deixe de lamúrias e faça o povo andar". Exatamente isto: Deus, a graça divina não age diretamente no mundo, mas através da nossa fé. A graça não dispensa a natureza. Por isto, é preciso pedir e agir, dê no que nossa ação. Deus saberá usá-la com sabedoria. Até quando aparentemente fracassamos, Deus ouvirá nossa oração. Fracassos humanos podem significar vitórias segundo a lógica insondável do amor. Nem o amado Filho o Pai livrou do cálice de amarguras do Getsêmani à cruz, mas o atendeu na ressurreição. "Nos dias de sua vida terrestre, apresentou pedidos e súplicas, com veemente clamor e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte e foi atendido por causa da piedade. Embora seja Filho, contudo aprendeu a obediência pelo sofrimento". Por isto, ao orarmos pedindo, não criemos expectativa de resposta favorável ou dizer "se Deus quiser, ele há de querer", numa espécie de chantagem com Deus, para que atenda nosso pedido. Ora, nossa oração deve ser feita em espírito de humildade e pobreza de espírito como "Jesus, que é rico, mas se fez pobre, para nos enriquecer com a sua pobreza. Deus, rico em misericórdia, quando estávamos mortos por causa dos nossos pecados, deu-nos a vida juntamente com Cristo". É ao Pai misericordioso que dirigimos nossos humildes pedidos, sem chantageá-lo: "Com Deus não se brinca". Podemos gritar premidos pelo sofrimento vindo da nossa fragilidade, como fizeram Jó, Jeremias e Jesus: "Pereça o dia em que eu nasci, a noite em que disseram: 'um menino foi concebido'. Não seja abençoado o dia em que minha mão me gerou. Maldito o dia em que eu nasci, maldito o homem que deu a boa nova a meu pai: 'Nasceu-te um filho homem' e lhe causou grande alegria. Que esse dia se torne trevas, que Deus do alto não se ocupe dele. Que essa noite fique estéril, que não penetrem ali os gritos de júbilo. Porque não fechou as portas do ventre da minha mãe para esconder tanta miséria à minha vista? Por que não me matou desde o seio materno, pra que minha mãe fosse para mim o meu túmulo e suas entranhas estivessem grávidas para sempre? Por que não morri ao deixar o ventre materno, não pereci ao deixar as entranhas? Por que saí do seio materno pra ver trabalhos e penas e terminar meus dias na vergonha? Que eu fosse como um aborto escondido, que não existisse agora, como crianças que não viram a luz! Por que recebeu-me um regaço, seios deram-me de mamar? Por que foi dado à luz quem o trabalho oprime, e à vida quem a amargura aflige, quem anseia pela morte que não vem, homem que não encontra o caminho, porque Deus o cercou de todos os lados? Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonaste? As palavras do meu rugir estão longe de me salvar! Meu Deus, grito de dia, não me respondes, de noite, não tenho descanso. Sou um verme, não homem, riso e desprezo do povo; todos os que me vêem caçoam de mim: 'voltou-se a Javé, que o liberte, o salve, se é que o ama". Porém, apesar de toda dor, os justos sofredores nunca ostentaram orgulho diante do Senhor da vida e da morte. "Pois tu tiraste-me do ventre e me confiaste aos peitos da minha mãe; tu és meu Deus desde o ventre materno, a ti fui entregue ao sair das entranhas. Não fiques longe de mim, pois a angústia está perto, não há quem socorra-me". O justo sabe que a resposta ao seu clamor será dada por Deus, pois crêem e confiam nele: "Seja feita vossa vontade assim na terra como no céu. Nos dias de sua vida terrestre, apresentou pedidos e súplicas, com veemente clamor e lágrimas, àquele que podia salvá-lo da morte; e foi atendido por causa da sua piedade. Pois, ele não desprezou, não desdenhou a pobreza do pobre, nem lhe ocultou sua face mas ouviu-o quando gritou". Javé sempre ouve o clamor do justo sofredor, partilha suas dores, consola-o na tribulação, reanima-o na angústia, lhe dá vitória inesperada. "Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias, Deus de toda consolação. Ele nos consola em nossas tribulações, para que possamos consolar os que estão em qualquer tribulação, pela consolação que nós mesmos recebemos dele". A oração do justo ensina-nos que, em vez de criar expectativa ilusória de ser atendidos como desejamos, geradoras de tristeza se não somos atendidos, convém entregar-se na mão de Deus e deixá-lo responder-nos segundo sua sabedoria achar melhor dentro doe plano salvífico, mesmo que não o entendemos. Precisamos entender os sinais de Deus e entrar em sintonia com ele sem nada exigir. Ele é sábio e está ao nosso dispor. Como poderia eu confrontar a soberana vontade, a insondável sabedoria, a infinita bondade de Deus com minha obscura inteligência e fraca vontade? Nem vingança de meus inimigos posso exigir. Só Deus sabe o que fazer com cada um de nós e nossos inimigos, e nos retribuirá conforme mereçamos. Está banida do vocabulário da fé a vingança, justiça com as próprias mãos. A conduta correta do justo é crer na Palavra de Deus e confiar que ele nos fará justiça. Assim ora o justo: "Senhor, vence em mim toda resistência à ação da graça. Tu és minha pedra preciosa, meu tesouro, a razão maior do meu viver. Nada nesta vida importa mais que tu, Senhor, Deus Pai, Deus Mãe, Deus Irmão Jesus. Meu coração pecador insiste em me convencer que não és nada disso, mas quinquilharia, falsa jóia, e devo me deixar conduzir pelo espírito do mundo. Mas minha pouca fé me assegura que somente tu tens palavra de vida eterna e se eu te abandonar, ficarei sem rumo. Tu és minha Rocha de apoio e seguro porto. Por isto, socorre minha pouca fé, quebra a resistência do meu pouco fiel coração, ó "Restaurador de cisternas rachadas". Santifica meu corpo de pecado, torna-o pedra viva do Templo Santo, que és tu. Comunica ao meu corpo pecador Espírito de santidade de Jesus. Liberta-me da concupiscência, tendência ao mal enrustida no íntimo do meu ser, no meu DNA. Destrói o veneno do mal, torna-o tendência pro bem. Ajuda-me a soltar as cadeias injustas do meu coração, para ser livre como convém aos filho e filhas de Deus. Rogo "que a bondade do meu Senhor e Pai repouse sobre mim e me conduza. Pai, torna fecundo meu trabalho. Faz dar frutos o labor de minhas mãos". Oração humilde de quem vive o espírito a santidade infundido nele pela aliança que Jesus fez com ele pra capacitá-lo para "as boas ações que de antemão preparou para as praticassem". O justo sabe que a oração é a missão mais importante dos aliados de Jesus, que comunica sua ao fiel, o faz partícipe da sua natureza e obra criadora. A aliança pra edificação do Reino conforme o paradisíaco sonho de uma integração perfeita das criaturas com o Criador. É no nosso íntimo, no coração que Deus revela os segredos do seu amor e nos inspira ações apropriadas à edificação do Reino no seu Nome. A graça de agir em Nome de Jesus com certeza nos é dada como capacitação para a boa obra. Daí edificar o Reino na parceria da graça é prêmio que recebemos e não precisa alguém nos agradecer. Exigir gratidão, como se a obra dependesse da nós, seria destorcer o sentido da parceria com Deus. "Nossa capacidade vem de Deus. É ele que opera em nós o querer e o executar, mediante fé". Por isto, agradeçamos a Jesus porque nos escolheu e capacitou pra edificarmos o Reino em seu Nome. Jesus é que merece toda honra, louvor, gratidão por ter se aproximado de nós, ter-nos feito partícipes da sua natureza e colaboradores na edificação e beneficiários do Reino. O Reino é de Jesus, não meu; a iniciativa de edificá-lo é sua, não minha. Mas, por bondade e misericórdia sua, deu-me o Reino de presente e fez-me operário para a sua edificação. A energia pro trabalho no Reino vem da oração, como pagamento antecipado aos que vão trabalhar pelo Reino. Na oração o Senhor olha para nós com amor e nos favorece para sua obra, dizendo-nos: "Não fostes vós que me chamastes e escolhestes, mas eu vos chamei, escolhi, constituí pra que vades, deis muitos frutos. Já não vos chama servos, mas amigos, pois vos dei a conhecer os mistérios do Reino". De pecadores, somos alçados à condição de amigos de Jesus, com direito a privar de sua intimidade na oração, na diaconia e doação da vida. Ser amigo de Jesus é privilégio que só seu amor misericordioso concede. Atesta que somos preciosos aos olhos do Pai, que tudo providenciou para sermos filhos e filhas por ele sonhados. Jesus quer que sejamos partícipes de sua cruz e glória. Na oração somos investidos do poder e da glória de Deus pra brilharmos com boas obras, para que o mundo renda glória a Deus. "O Verbo se fez carne, habitou entre nós e vimos a sua glória".

Nossas orações não podem ser individualistas, com pedidos egoístas de graça. Como se o Pai não soubesse do que precisamos antes mesmo de o pedirmos. A primeira graça a pedir é a fé. "Jesus, aumenta minha fé". Pela fé nos apropriamos do poder de Deus dado a Jesus Cristo para dizer e realizar as obras que ele diz e realiza. "Quem crê em mim faz o que eu faço, diz o que eu digo. Quem vos ouve, me ouve. Quem vos rejeita, me rejeita". A fé nos introduz no Reino de Deus e com ela, muitas coisas são acrescidas. Somos agraciados toda

hora de graças e não percebemos, porque não cremos. Alcançamos graças toda vez que o Senhor nos dá a oportunidade de fazer o bem aos irmãos. Deixar de fazer o bem na hora certa é desperdiçar a graça que nos é dada, recebê-la em vão. Pedir não só pensando em si, mas sobretudo em benefício de Corpo de Cristo inteiro. Gratuitamente o Pai concede-nos seu favor sem o pedirmos. Como o Pai, façamos o bem aos outros com gratuidade. Quem é beneficiado gratuitamente com algum bem que lhe fizemos pode dizer feliz que recebeu uma graça. Mas quem estendeu a mão foi agraciado primeiro e dispensa agradecimento. Ficaria parecendo que a obra foi feita no seu nome, não no Nome de Jesus. Ao fazermos o bem estamos dando de graça o que de graça recebemos. As boas obras são as luzes que iluminam o caminho do fiel até a Casa do Pai. "Quem subirá até o monte de Javé e ficará na sua santa habitação? Quem tem as mãos puras e o coração inocente (sem maldade). A bênção do Senhor e a recompensa do seu Deus e salvador desce sobre ele. A geração dos que buscam e procuram a face do Deus de Israel é assim". As mãos são símbolo do poder. Com as mãos realizamos a quase totalidade das atividades. As mãos de Deus são o poder de Deus, que se exerce por Jesus Cristo e Deus Mãe, a mão direita e esquerda do Pai. Ter as mãos puras é exercer o poder de Deus pela fé: fazendo sempre o bem. Só quem faz o bem, "tem mãos puras e inocente o coração", pode se apresentar a Deus na oração. Estes são os verdadeiros adoradores em espírito e verdade. Mas quem tem as mãos sujas de más ações, comparece em vão diante de Deus. "Quando vindes à minha presença, quem vos pediu que pisásseis os meus átrios? Basta de trazer-me oferendas vãs: elas são para mim um incenso abominável. Quando estendeis vossas mãos, desvio de vós meus olhos; ainda que multipliqueis a oração não vos ouvirei. Vossas mãos estão cheias de sangue: lavai-vos, purificai-vos! Cessai de praticar o mal, aprendei a fazer o bem! Tirai da minha vista vossas más ações! Buscai o direito, corrigi opressor. Fazei justiça ao órfão e defendei a causa da viúva. Se fizeres isto tua luz romperá como a aurora, a cura das tuas feridas rapidamente se operará, a glória de Javé irá à tua retaguarda e irá à tua frente tua justiça. Então clamarás e Javé te responderá, clamarás por socorro e ele dirá: "Eis-me aqui". Esta é a geração dos que buscam a face de Deus com coração sincero, com as mãos limpas. Após amaldiçoar a Serpente, disse Javé: "Porei inimizade entre a mulher e ti, entre tua descendência e a dela". A geração da Serpente é aquela dos que fazem o mal, os de mãos suja. A descendência da mulher é dos têm mãos limpas, os adoradores do Pai em espírito e verdade. Do ponto de vista da fé, a geração dos de mãos limpas é a descendência de Maria, encabeçada pelo Primogênito gerado conosco no ventre dela pela potência Pai e a fecundidade de Ruah. Jesus é o Herdeiro da bênção de Abraão e nós, co-herdeiros nele. A fé absoluta de Maria ensejou a geração dos abençoados, os éticos, de mãos limpas, os politicamente corretos, os adoradores em espírito e verdade. Os corrutos, mentirosos e mornos são a geração da Serpente, que não dobram os joelhos ao Deus vivo. Por outro lado, por Jesus os que crêem são gerados filhos do Pai, criaturas novas, mediante a fé. Os que vivem pela fé, os éticos, os de coração puro e mãos limpas, são a geração dos adoradores em espírito e verdade, apoiados unicamente na fé e boas obras, não no mérito e nas obras da carne. A pureza de coração, a justiça de Deus é a justiça da fé, não do mérito das obras. "Por graça fostes salvos mediante a fé. Isto não vem dos vossos méritos, mas é dom de Deus; não provém das obras, pra ninguém se gloriar. Somos obra de Deus, criados em Cristo Jesus pras boas ações, que ele de antemão preparou para que as praticássemos".

Nosso corpo é a morada de Deus Mãe, o Espírito Santo que procede do Pai e do Filho (Credo niceno) ou do Pai pelo Filho (Credo niceno-constantinopolitano). Sendo morada de Deus Mãe, nosso corpo animado está destinado à vida eterna, à ressurreição. Ao rezarmos, invocamos o Espírito Santo, não de fora, mas da profundeza do nosso ser, do coração, do mais íntimo das nossas células, tecidos, do nosso DNA para mover nossa sensibilidade, emoção, inteligência, espírito a se aliarem a Jesus, fieis ao mandamento: "Amarás o teu Deus de todo teu coração, com toda tua alma e toda a tua força, e o teu próximo como a ti mesmo"; colocamo-nos livre e generosamente ao dispor da vontade do Pai: "Seja feita tua vontade, assim na terra como no céu". Qual a vontade do Pai? "A santificação dos filhos: que não se perca nenhum dos que me deste, mas os ressuscite no último Dia", iniciado na encarnação, consumado na cruz, ressurreição e ascensão, ratificado no dia da nossa morte, consubstanciado no juízo final. "Quando todas as coisas lhe tiverem sido submetidas, o próprio Filho se submeterá àquele que tudo lhe submeteu, para Deus ser tudo em todos". Na oração nos colocamos à disposição do projeto de restauração da criação, iniciada pelo Unigênito antes da criação do mundo, ratificada na encarnação do Primogênito. Na oração entregamos nosso ser ao Deus da vida, a Deus Mãe, para que confirme em nós a criatura nova salva pela encarnação, morte, ressurreição de Jesus; inunde nosso ser com o amor misericordioso do Pai, pra que o homem e mulher velhos que ainda habita no nosso corpo de carne frágil não nos impeça de praticar as obras do novo ser que somos. Pedimos que o Senhor não nos deixe ser guiados pelo pecado que habita em nossos membros e nos leva a praticar obras más no lugar das boas, "que Deus já antes tinha preparado para que nelas andássemos". Pedimos a Deus Mãe que do íntimo do nosso ser onde mora venha vivificar e ocupar os espaços vazios, necrosados do nosso ser e capacitá-los para a restauração do universo inteiro que está em processo. "Vem Deus Mãe, enche os corações dos teus fiéis, acende neles o fogo do teu amor. Envia teu Espírito, Senhor, tudo será criado e renovarás a face da terra". Sobretudo Deus Mãe, infundida pelo Ressuscitado em nosso coração ferido pelo mal, será apoio à nossa fragilidade. O pecado, concupiscência, tendência ao mal que habita no nosso DNA leva-nos a realizar obras egoístas, contrárias ao Espírito do Reino. Deus Mãe, ao contrário, inspira-nos atos de justiça, que contestam os desejos do coração mau. "Os desejos da carne e os do Espírito estão em conflito em nós". Vencerá a guerra quem deixar-se conduzir por Ruah, mediante a fé; perdê-la-á quem seguir os desejos da carne. Na oração pedimos ao Senhor a vitória da sua santidade em nós. "Vem, Deus Mãe, da profundeza do meu coração onde habitas, preenche os espaços estéreis, necrosado do meu ser pecado, faz-me dócil à tua voz, que minhas mãos pratiquem boas obras. Amém"!

Rogamos ao Senhor que nos livre dos nossos inimigos. Não se trata principalmente dos inimigos exteriores, pois até quem não tem inimigos também pede libertação. Sobretudo, trata-se dos inimigos interiores, alojados no íntimo de coração e se manifestam na forma de medo, ódio, ressentimento, rancor, ciúme, inveja, cinismo, má-fé, partido, as coisas que Paulo chama de "carne", que envolvem corpo e alma (Gl 5,16-26). Estes sentimentos se manifestam exteriormente como falta de respeito, omissão, indiferença, direito excessivo, discriminação, falta de ética de toda espécie. A fragilidade, pecabilidade, tendência ao mal congênita, concupiscência é o insuperável inimigo interior. "De fato não consigo entender o que faço: não pratico o que quero, mas o que detesto. Na verdade não sou eu que pratico a ação, mas o pecado (concupiscência) que habita em mim. Sei que o bem não mora em mim, isto é, na minha carne (fragilidade). Pois querer o bem está ao meu alcance, porém, não o praticar. Pois, não faço o bem que quero, mas o mal que não quero. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu que estou agindo, e sim o pecado que habita em mim. Infeliz de mim! Quem me libertará deste corpo de morte?". Nosso inimigo interior, pecado virtual precisa morrer para dar lugar ao amigo interior: Deus Mãe. Ficarei livre dessa escravidão interior quando, pela fé, crucificar a carne, o corpo de pecado com Cristo. "Fui crucificado com Cristo. Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim". Pela fé no sacrifício redentor de Jesus, a concupiscência é neutralizada e o homem carnal torna-se homem espiritual, ressuscitado com Jesus Cristo. Mas,"se que o corpo e coração de carne se vão gastando, Deus é nosso apoio e fundamento, nossa herança para sempre. Ainda que exteriormente se desconjunte o homem exterior (carne), o homem interior se renova de dia para dia". Mesmo rejeitados, reduzidos à inatividade, crucificados com Jesus, podemos ainda apoiar-nos nele, e com ele, por ele fazer o melhor: exercer o sacerdócio existencial, oferecer nossa fraqueza como hóstia viva, culto espiritual de louvor ao Pai, como Jesus o fez. A oração sacerdotal atingiu o ápice na cruz, no grau mais aviltante, no extremo de sua kénosis: "Pai, perdoai-os porque não sabem o que fazem". Jesus, que arrebatou multidões, encantou adultos, jovens, mulheres, crianças; foi adorado pelos pecadores; matou a fome de amor da Samaritana; deixou Madalena banhar seus pés com perfume e enxugá-los com os longos cabelos, para escândalo dos hipócritas fariseus, terminou só, reduzido ao corpo macerado, hóstia viva, trigo moído, no louvor máximo ao Pai, a quem devolve tudo que dele recebeu: o corpo, a vida. "Pai, em tuas mãos entrego meu Espírito". Espírito em cujo poder Jesus é gerado ab eterno e no ventre de Maria, que repousou sobre ele no Batismo e o conduziu durante a missão pública. Na cruz, Jesus era oração silenciosa, puro louvor ao Pai. Antes ele servia o Pai saciando as necessidades dos pobres, como sinal da presença do Reino entre eles. Na hora extrema, quando tudo lhe é tirado, os amigos o desconhecem e renegam, seu louvor resume-se na oferta do que dispõe em absoluto: o corpo macerado, a vida, que se consome feito vela nos últimos momentos de combustão. Prevendo a dureza do Calvário, no Getsémani Jesus roga ao Pai que afaste dele o cálice das amarguras. Mas sempre se submetendo à vontade de querido Abba, Pai! Afirma que sua alma sofre de uma tristeza mortal; tristeza porque sente a distância, o abandono inevitável do Pai na hora que mais precisava dele. Tristeza torturante, humilhante, que destrói toda resistência interior. Tristeza que fez Jó e Jeremias amaldiçoarem o dia do nascimento e desejarem a morte no ventre da mãe. A tristeza dos justos e de Jesus era infinito sentimento de frustração pela impotência humana ante a dor e a morte. Seus gritos desesperados são trágicos pedidos de socorro de quem não quer morrer a quem os pode salvar a vida. A tristeza com a distância do Pai perturbou tanto Jesus que na hora da extrema desolação, não mais o chama de Pai: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste"? Oração pura, partida de um coração em carência total de socorro, em completa desgraça, dirigida ao único que o pode salvar. Jesus dá a definitiva resposta às vítimas da dor: a confiante submissão aos soberanos desígnios de Deus: "Tudo está consumado. Pai, em tuas mãos entrego meu Espírito. E dizendo isto, expirou". É o ápice da Oração Sacerdotal, continuada eternamente à Direita do Pai, onde o Cordeiro está eternamente imolado e de pé, consumando o fracasso absoluto de Satanás e seus anjos maus. "Agora o príncipe deste mundo está derrotado de vez", bateu em retirada e poço "servir o Senhor em santidade e justiça todos os dias da minha vida, mediante a fé".

Na terra, buscamos satisfazer os desejos e necessidades básicas: bens materiais, poder, alimento, casa, sexo, prestígio, coisas que fazem o bem-estar de uma pessoa normal. Mas por mais que satisfaçamos todos os desejos, não ficaremos plenamente satisfeitos, pois os valores elencados são do mundo do ter. Ora, sem embargo dos bens materiais, a felicidade está focada no mundo do ser, estar-com, gratuidade, característico dos valores éticos. Por isso, só quando nos abrirmos aos valores éticos, será satisfeito plenamente nosso desejo de felicidade. Os bens materiais serão apenas sinais do bem maior que nos plenifica. "Põe tuas delícias em Javé, os desejos do teu coração ele atenderá. Fizeste-nos para ti, Senhor, e inquieto estará nosso coração enquanto não repousar em ti". Deus é o objeto do interesse maior das filosofias e religiões. Se de fato Deus é a razão de viver dos que crêem, temos por obrigação conhecê-lo bem. Daí a necessidade de estudar e meditar a Palavra de Deus e orar sem cessar. A oração é o meio mais eficaz de Deus se nos revelar. "Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultastes os segredos do teu coração aos entendidos e sábios do mundo, e os revelaste aos pequeninos", aos que praticam o sacrifício de louvor pela fé. Na oração, o fiel está na presença de Deus e Deus com ele, em diálogo intenso das Pessoas divinas com o fiel. Orar é ouvir mais e falar menos. Na escuta atenta da Palavra Deus se revelará aos de coração disponível, humildes, abertos ao Deus que vem a nós. Os orgulhosos, "ele os cega, para que, olhando, não vejam; e os ensurdece, para que, ouvindo, não escutem". Por causa da oração nossa vida começa a mudar, nossas mãos ficam limpas para as obras boas da fé, "que o Pai já antes da criação do mundo tinha preparado para que andássemos nelas". A primeira ação do cristão é a oração, que é a ação da Palavra de Deus no orante. Sua parte na oração é deixar Deus transformá-lo por sua presença viva gratuita, capacitando-o ao trabalho do Reino. Por isso, o missionário que não se dispõe a que Deus Mãe ore nele, estará fadado ao fracasso na obra do Senhor.


Autor: Geraldo Barboza de Carvalho


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