TABAGISMO E O IDOSO: IMPORTÂNCIA DAS INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM



O tabaco é a segunda causa de mortalidade no mundo, sendo responsável pelo desencadeamento de doenças cardiovasculares, déficit cognitivo, diminuição da função respiratória e disfunção osteoarticular, que adquirem maior significado com o avançar da idade. Nesse sentido fez-se necessário buscar o conhecimento em torno dos principais fatores que dificultam o abandono do tabaco, especificamente na população idosa, bem como analisar o papel da equipe de saúde, em destaque da enfermeira, na abordagem contra o tabagismo. Portanto, após revisão bibliográfica foi possível constar que o abandono do tabaco pelo idoso esbarra em conceitos pré-formados por hábitos culturais sendo primordial um preparo especial do profissional de saúde para que construa argumentos que o convença dos benefícios da abstinência do fumo. Palavras chave: Tabagismo, Idoso, Abstinência, Enfermagem.

Fumar é um desvio do comportamento muito difundido em todo o mundo e também no Brasil. Estima-se em torno de 1,4 bilhões o número de fumantes no mundo todo, consumindo cerca de seis trilhões de cigarros por ano (DUNCAN et al, 2006).

Ainda citando o mesmo autor, esse uso tão freqüente dos produtos processados da folha de tabaco (em geral industrializados na forma de cigarro) está relacionado com a busca das ações da nicotina sobre o SNC, com seus efeitos aditivos, com outros componentes psicossociais e com os interesses da agroindústria correspondente.

Segundo a organização Mundial de Saúde (OMS) o tabaco é a segunda causa de mortalidade no mundo. É responsável pela morte de um em cada dez adultos, somando cerca de cinco milhões de mortes anualmente. Se os padrões atuais de consumo continuar, estima-se que o tabagismo causará cerca de 10 milhões de mortes por ano em 2020. Metade das pessoas que fumam atualmente, cerca de 650 milhões, eventualmente morrerá por doenças relacionadas ao tabaco (FREITASet al., 2006).

O Tabagismo é um fator agravante para a saúde da população senil sendo responsável por diferentes co-morbidades, por sofrimentos e mortes prematuras, por um custo social e financeiro alto para as instituições de saúde(FILHO, 2009).

Segundo Freitas et al.(2006), a influência do tabagismo no idoso ocorre não somente pelo tempo de vida, caracterizando o tabagismo como hábito cultural, mais também pelas alterações anatômicas e fisiológicas que no decorrer da existência e de um processo cumulativo podem desencadear efeitos fisiopatológicos.

Em 1999 a OMS declarou o uso do tabaco como fator de risco modificável isolado mais importante para prevenção de doenças não comunicáveis entre idosos, apesar disso as pessoas idosas são consideradas as vítimas esquecidas, nos casos de doenças e mortes relacionadas ao tabaco. Enquanto á atenção é voltada na prevenção para pessoas jovens, as pessoas mais velhas virtualmente não recebem atenção da mídia, pesquisadores, gestores ou políticas (FREITAS et al, 2006).

Embora, os benefícios com a interrupção do hábito de fumar sejam maiores entre os jovens, o abandono do cigarro em qualquer idade reduz o risco de morte e melhora a condição de saúde, espera-se um aumento de dois a três anos na esperança de vida, após abandono do cigarro, entre idosos com 65 anos ou mais de idade, que fumam até um maço de cigarros por dia. No entanto, o tabagismo entre idosos tem recebido pouca atenção por parte da equipe de saúde em geral (PEIXOTO et al,)

Existem poucos estudos sobre a prevalência do Tabagismo na terceira idade no Brasil e no mundo; acredita-se que esta seja em torno de 10 a 11% da população geral de fumantes. A pesquisa a cerca do tema Tabagismo e o Idoso: importância das intervenções de enfermagem tem como objetivo conhecer osmalefícios diretamente ligados ao consumo do cigarro, os principais fatores que dificultam o abandono do vício e a abordagem da equipe de saúde, bem como as intervenções de enfermagem realizadas contra o tabaco(GONÇALVEZ et al,2006)

A construção desse trabalho foi baseada em pesquisa bibliográfica que será citada no final do mesmo. A pesquisa bibliográfica tem a finalidade de levantar dados que possibilitam maior conhecimento sobre o tema escolhido para investigação. Foram utilizadas literaturas nacionais e internacionais, traduzidos em língua portuguesa, e artigos científicos de publicação nacional.

DESENVOLVIMENTO

A Para Peixoto et al ,população idosa vem crescendo muito rapidamente no Brasil. Entre 1960 e 2000 o número de habitantes com sessenta ou mais anos de idade neste país aumentou de dois para quatorze milhões, e estima-se que alcançará trinta e dois milhões em 2020, correspondendo a uma das cinco populações idosas mais numerosas do mundo.

As principais causas de mortalidade entre idosos brasileiros são as doenças do aparelho circulatório, as neoplasias e as doenças do aparelho respiratório. Entre as primeiras predominam as doenças cerebrovasculares (taxa de mortalidade igual a 483 por 100 mil, entre homens, e 394 por 100 mil, entre mulheres) e as doenças isquêmicas do coração (taxa de mortalidade igual a 468 por 100 mil, entre homens, e 329 por 100 mil, entre mulheres). O câncer de pulmão, traquéia e brônquios representa, entre as neoplasias, a primeira causa de morte entre os homens e a segunda entre as mulheres (taxas de mortalidade iguais a 113 e 39 por 100 mil, respectivamente). Entre as doenças do aparelho respiratório, predominam as doenças crônicas das vias aéreas inferiores (taxa de mortalidade igual a 260 por 100 mil, entre homens, e 127 por 100 mil, entre mulheres) e as pneumonias (taxa de mortalidade igual a 132 por 100mil, entre homens, e 117 por 100 mil, entre mulheres) (PEIXOTO et al.)

Fumar, beber e não realizar atividade física está mais associado ao risco de desenvolvimento das doenças, como as cardiovasculares. Doenças relacionadas com o aparelho respiratório representam a segunda causa de internação hospitalar e a terceira causa de óbitos causados pelo consumo de cigarro. (DUNCAN et al, 2006)

De acordo Freitas et al (2006), o idoso que fuma apresenta vários problemas de saúde, alguns merecem maior destaque, como a diminuição do déficit cognitivo, e a única opção para reduzir a piora dos padrões cognitivos é a cessação do tabagismo. O aparelho respiratório, por receber toda a carga tabágica, é o local mais freqüente de doenças como o câncer, doença obstrutiva crônica (DPOC), e também se pode afirmar que a deterioração desse aparelho diminui a qualidade de vida.

O consumo de cigarros está implicado como fator de risco para osteoporose, o próprio processo de envelhecimento já causa dano ósseo, e é agravado pelo hábito de fumar por que devido à redução da densidade mineral óssea, sendo resultado da diminuição da absorção do cálcio com hiperparatireodismo secundário e aumento da reabsorção óssea (FREITAS et al, 2006).

Além das doenças citadas acima, o autor Freitas et al. (2006) ainda acrescenta a irritação química na mucosa oral e nas papilas gustativas, diminuindo o paladar; há também uma associação do tabaco com o uso abusivo de álcool e o aparecimento de úlceras péptica em idosos. O uso contínuo do cigarro pode agravar a injúria aguda na mucosa gástrica causado pela ingestão de álcool. Há os danos causados diretos ao tecido periodontal e tecidos moles da boca. Deve-se considerar que o tabagismo não causa uma única alteração, mas tem poder para uma maltitude de danos que ocorrem simultaneamente no individuo, dos quais muitos não são visíveis, mas não deixam de ser perceptíveis.

O tratamento da dependência do tabaco é particularmente importante do ponto de vista econômico, porque a abstinência pode prevenir uma grande variedade de doenças crônicas cujo custo terapêutico é elevado. Uma intervenção breve, o mínimo que se pode esperar de qualquer profissional de saúde, como simplesmente alertar o fumante produz taxas de cessação de 5 a 10% por ano. Abordagens mais intensivistas, combinando aconselhamento comportamental e farmacoterapia, podem alcançar sucesso em 20 a 25% em um ano (DUNCAN et al, 2006)

Portanto, o fumante idoso que já utiliza o tabaco por várias décadas torna-se vítima preferencial, principalmente devido ao longo tempo de exposição continuada do seu organismo as mais de quatro mil substâncias químicas inaladas a cada tragada. Sabe-se que existe relação entre o consumo do tabaco, sob qualquer forma, e o aparecimento de várias problemas de saúde (FREITAS et al 2006),e no entanto ,poucas atividades educacionais e esforçosno combate ao fumo é dirigido a esse público da terceira idade.

Dois fatos contribuem para dificultar a abordagem ao idoso que fuma: primeiro, o fato de que os idosos tabagistas crônicos aparentemente sadios utilizam o argumento de que já fumaram durante sua vida inteira e não adoeceram, portanto, acham-se imunes aos malefícios do cigarro. Em segundo lugar, o idoso tabagista crônico que já tenha adquirido uma doença argumenta que, pelo fato de já estar doente, não fará mais diferença se vier a largar o tabaco. Esses dois tipos de situação geram conflitos na hora em que se decide intervir nesse importante fator de risco. (DUNCAN et al,2006)

Frente esses argumentos a enfermeira deverá utilizar de contra-argumentos que convenção o idoso sobre a qualidade de vida que o abandono do tabaco proporcionará á sua vida como um todo. Para essa orientação é necessário que não se perca de vista vários pontos importantes como outros hábitos culturais, ambiente, nível de escolaridade, conhecimento sobre estado de saúde e possíveis complicações, o posicionamento da família e o apoio da mesma na mudança do hábito de fumar(SMELTZER; BARE, 2005)

Para se fazer qualquer planejamento estratégico visando à abordagem e controle do Tabagismo na Terceira Idade, é necessário conhecer os motivos pelos quais os idosos fumam, a influencia do ambiente familiar e socioeconômico cultural sobre eles, os aspectos da dependência nicotínica, as inter-relações das comorbidades tabaco dependentes como fator determinante na manutenção da qualidade de vida, e, por fim, procurar de maneira criteriosa, uma melhor maneira de tratar este idoso fumante, valorizando sempre a terapia cognitiva comportamental como eixo principal na condução do tratamento(FILHO, 2009)

Pedroso e Oliveira (2007) acrescentam que listar para o paciente algunsargumentos e estimulá-lo a falar sobre o assunto tem efeito positivo sobre o tratamento para deixar de fumar, como por exemplo: parar de fumar diminui drasticamente o risco de infarto, derrame, pressão alta, câncer, enfisema; melhora a tolerância à esforços, melhora a auto-estima e a imagem entre amigos, parentes e colegas; acaba com o mal cheiro de cigarro no corpo, roupas, cabelos, hálito; protege os filhos e família dos efeitos nocivos da fumaça do cigarro; recuperação do alfato e da percepção do sabor das coisas; para de gastar dinheiro com cigarro e ser explorado pela industria fumageira; para de incomodar os outros e ser segregado como fumante; e tem a sensação de bem-estar e melhora da disposição relatada pelo ex-fumante.

Para os idosos persistentes deve ser passada a mensagem de que o tabagismo é para todos excepcionalmente em algumas pessoas, incompatíveis com o envelhecimento saudável e compromete a expectativa de vida mesmo em casos de longevidade extrema. Portanto, parar de fumar só traz ganhos para qualquer pessoa, e os idosos tem o direito de saber disso, assim como os profissionais de saúde tem a responsabilidade de fazer a abordagem anti-fumo também em idosos (FREITAS et al,2006).

Para DUNCAN et al (2006), além da dificuldade natural de se deixar de fumar, particularmente em indivíduos adctos à nicotina, muitos não tem recebido a ajuda dos profissionais de saúde para fazê-lo. A responsabilidade do profissional de saúde extrapola aquela estritamente associada à queixa principal que cada paciente lhe apresenta. Com relação a tabagismo, essa responsabilidade pode ser resumida em poucos itens conforme apresentado no quadro a seguir:

TABAGISMO: Comportamentos Esperado dos Profissionais de Saúde

§Não fumar e dá exemplo pessoal

§Perguntar na anamnese, entre outros riscos, sobre exposição atual e pregressa ao fumo, ativo ou passivo, sua intensidade e duração;

§Consignar as respostas na ficha clínica e do destaque ao fumante como paciente de risco aumentado

§Buscar possíveis complicações relacionadas com o tabagismo em todo cliente ativa ou passivamente exposto ao fumo

§Recomendar o abandono do uso do cigarro ou as medidas necessárias para prevenir a exposição passiva sua e de circunstantes

§Dá o apoio necessário a seus pacientes acompanhando o processo de abandono do cigarro, utilizando estratégias e técnicas adequadas

§Atualizar-se sobre recursos terapêuticos existentes prescrevendo ou recomendando pacientes resistentes para profissionais habilitados ou clínicas especializadas

§Cooperar com atividades comunitárias de controle do habito de fumar

FONTE: DUNCAN et al,2006

Resumem-se as intervenções em chamar a atenção para os riscos do tabagismo, e para aqueles que indicam desejo de parar de fumar, aconselhamento e farmacoterapia. Não é difícil traçar plano estratégico para abordagem do Tabagismo na Terceira Idade. A capacitação de profissionais ligados à área de saúde para o atendimento ao fumante idoso pode ser semelhante ao da população em geral. Mas é necessária uma atenção especial por parte destes profissionais, encorajando o idoso a iniciar o tratamento no programa de prevenção e controle do Tabagismo(FILHO, 2009)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi possível constatar que os malefícios que são causados pelo uso contínuo do tabaco são inúmeros, como doenças cardiovasculares, déficit cognitivo, diminuição da função respiratória, disfunção osteoarticular além do agravamento de doenças comuns, que adquirem maior significado com o avançar da idade (quando se somam as perdas funcionais próprias do envelhecimento).

Pode se verificar que com o decorrer do tempo os idosos acreditam que o abandono do tabagismo não trará benefícios significativos a saúde como um todo. Nesse sentido as metas do cuidado devem enfatizar abordagens que levem o idoso a reflexão sobre a importância da qualidade de vida, do bem-estar familiar e social, como também o resgate da saúde.

A partir da pesquisa realizada pode-se afirmarainda que é necessário tratar o tabagismo como um problema de saúde publica, pela sua extensão, por suas conseqüências e porque afeta não somente a saúde dos fumantes, mas, também das pessoas que com elas convivem. O tratamento de suas conseqüências é caro, prolongado e, em geral, paliativo.

Felizmente as instituições de saúde pública e os serviços de assistência a comunidade estão cada vez mais conscientes da importância do problema, ao mesmo tempo em que abordam a necessidade de interromper o hábito do fumo mediante programas específicos ou integrados a programas de saúde da família,como hipertensão, diabetes, planejamento familiare atendimento ao adulto, promovem campanhas anti-fumo junto ás escolas e em atividades de educação em saúde e durante as consultas, com o objetivo de minimizar o consumo do tabaco e melhorar a qualidade de vida de todos.

A enfermeira como membro fundamental da equipe de saúde e tendo como meta uma assistência de qualidade não deve deixar de questionar e investigar sobre o hábito de fumar e de planejar o cuidado do cliente tendo em vista o abandono do tabagismo enfatizando os benefícios que ocorrerão em sua saúde.

Deve-se valorizar o idoso como membro atuante e participativo da vida em conjunto e desenvolver a consciência de que medidas de prevenção e controle de doenças entre os mais velhos atribuem à sociedade a característica de generosidade e cuidado com aqueles que podem ainda contribuir com a melhoria da vida em comunidade e que retratam o futuro de todos nós.

REFERÊNCIAS

DUNCAN, B.B.; SCHMIDT, M. I.; GUIGLIANI, E. R. J. et al. Medicina Ambulatorial - Condutas primárias baseadas em evidencia. 3° ed. São Paulo: Artmed, 2004.

GONÇALVEZ. Maria Tereza Ap.Moi.O enfermeiro na educação continuada sobre o tabagismo.Disponível em:http://faculdadecomunitária.edu.br/programasinst/revistas/2006.Acesso em:25/08/2008.

FILHO. Osvaldo Afonso da Silva. Tabagismo em idosos. Disponível em: http://www.tabagismoonline.com.br/entendendomelhor/gerontologia/tabag. em.idosos.Acesso em:15.09.2008.

FREITAS, E. V. et al. Tratado de geriatria e gerontologia. 2° ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.

PEDROSO, E. R. P.; OLIVEIRA, R.G. Black Book - Clinica Médica. 1° ed. - Belo Horizonte: Black Book, 2007.

PEIXOTO, S. V.; FIRMO J. O. A.; LIMA, C. M. F. Condições de saúde e tabagismo entre idosos residentes em duas comunidades brasileiras (Projeto Bambuí e Belo Horizonte). Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro22, nº09, set.2006 Diponivel em: <http:www.scielo.br/pdf/csp/v22n°9/17pdf.. Acesso em: 28/08/2008.

SMELTZER, Suzane C; BARE, Brenda G. Tratado de Enfermagem Médico - cirùrgica. 10°ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.


Autor: Corine Moura


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