A Concepção do Divino em Aristóteles



O termo original grego revela-nos nuances incompreensíveis pela expressão portuguesa "felicidade", visto que traz implícitas as ideias de "eu", na qual se encontra nitidamente a noção de "bem". O que irá coincidir, contudo, com qualquer termo análogo, uma vez que trata-se justamente daquilo que constitui uma busca de todo o homem. Seja esta busca qual for, é sempre chamada "felicidade". A associação desta busca humana universal a algo divino é uma marca do ideal da tradição grega, ou seja, a melhor vida para os gregos, mesmo relacionada aos prazeres, esteve sempre ligada a uma concepção do divino. Para Aristóteles a teologia é a melhor das ciências teóricas porque lida com os seres mais dignos; precede a física e a filosofia natural, sendo mais universal do que elas. Para melhor compreensão deste ponto torna-se necessário um aprofundamento da noção de divino em Aristóteles.

Dentro da análise da hierarquia aristotélica dos seres, estão os motores móveis e imóveis que são as causas finais de toda a geração e corrupção. São assim, de certo modo, as causas de todos os seres compreensíveis e corruptíveis, desde que sejam seres. A ciência que pretenda alcançar o motor imóvel estará a estudar a explicação de toda e qualquer predicação verdadeira e, desse modo, de todo e qualquer ser enquanto ser. Na sua Metafísica, Aristóteles explica que existem três tipos de substâncias: os corpos perecíveis, os corpos eternos e os seres imutáveis. Os dois primeiros tipos pertencem à ciência da natureza, e o terceiro à filosofia. Aquilo que explicar a substância, afirma, explicará todas as coisas, já que sem substâncias não existiriam mudanças activas nem passivas. Aristóteles avança então para a comprovação da existência de um motor imóvel, concluindo que «de tal princípio dependem os céus e a natureza»  — ou seja, tanto os corpos eternos como os corpos perecíveis dependem do ser imutável. E este é o divino, o objecto da teologia.

No nosso sentindo corrente, da contemporaneidade, traz sempre um elemento ligado ao individualismo e à subjectividade, que nem sempre é assim tão subjectiva para cada sujeito, inerente ao nosso tempo, razão pela qual não há um sentindo moderno do termo felicidade que pudesse ser considerado necessariamente contraposto ao sentido do termo grego. É importante salientar que a expressão aqui tratada será coberta de uma conotação concorrente para um único sentido, com o objectivo de não gerar dúvida sobre a distância que será mantida ao sentido corrente, pois Aristóteles liga-o, no contexto mesmo do seu pensamento, ao divino.

O desenvolvimento do conceito de "felicidade" só atingirá sua plena compreensão no Livro X, embora sua definição já seja estabelecida no Livro I. Os conceitos relacionados, como "fim", "tarefa" e "virtude", também devem ser compreendidos, pois tornam-se indispensáveis no sentido de que a "felicidade" revele-se para nós naquilo que ela é. E já no Livro I esses conceitos compõem, em conjunto, a compreensão mesma da "felicidade".


Autor: Hugo Leonardo Cavalcanti


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