BALADA DA METRÓPOLE



BALADA DA METRÓPOLE

 

Nas corcovas das grandes indústrias

Cresce e viaja o tempo aproveitado.

Apitam fábricas, chamando seus escravos.

Onde estarão?

Onde estará fincada sua noite?

 

As pontes vibram (passa o desespero).

A noite não tem nome,

Não tem cor,

Não tem sentido.

A noite é o esconderijo dos que dormem.

 

Os homens vão andando,

Vão buscando e encontrando

Outras vidas, ilusões...

Cruel realidade momentânea

De alimento dos sentidos.

 

Meia noite, volta ao lar sem lar,

E à vida insistente, persistente,

Que não para, que empurra,

E persevera em ir em frente.

 

E os deveres e haveres

E a grande obrigação

De representar, de fingir, de aparentar,

Disfarçando, simulando, camuflando...

 

O que nos fez a urbes?

Sonâmbulos? Semoventes? Robôs?

Espantalhos? Polichinelos?

Andróides? Zumbis?

 

O que vai nos levando, movendo, motivando?

 

A selva de concreto nos sufoca,

Os carros que se cruzam nos afetam.

As máquinas gigantes nos humilham.

Os grandes homens pisam nos pequenos.

 

Como sonhar no meio do concreto?

Como avançar nas rudes estruturas?

Como amar orgânicos bonecos?


E a metrópole de súbito se revela:

Betoneiras, compressores,

Guinchos, esmeris,

Britadeiras, talhadeiras

E máquinas de soldar.

 

Tão fria! Tão distante! Desumana!

Petrificante e artificial.

Afastada de nós, ausente e solitária,

Mesmo em meio a grandes multidões.

 

É este o cântico que te ofereço,

Minha cidade tão real que até machuca.

Ingrata, infiel, improdutiva.

Desleal, mesquinha e traiçoeira.

 

Mas, mesmo assim,
Me abrigas em teu seio

E a quem mais vou dedicar minha afeição?

 

 


Autor: Paulo de Aragão Lins


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