PROFISSÃO: ENFERMAGEM



Este artigo tem o objetivo de traçar um perfil do Enfermeirocomo um profissional que, ao exercer o seu papel de cuidador do ser humano em suas necessidades básicas de saúde, tem a consciência de que o paciente sob seus cuidados é, antes de tudo, um ser humano que necessita ser visto e compreendido de forma holística. Enquanto se encontra sob cuidados em uma Unidade de Saúde, o paciente é uma pessoa carente de atenção e de carinho, desejando ser compreendida e protegida em sua insegurança diante de seu quadro de saúde. É o Enfermeiro quem está mais próximo do paciente durante um período de internação, ouvindo suas queixas e receios. Para se tornar um profissional, o Enfermeiro passa por experiências que o transformam também como pessoa, pois convivendo com a dor do Outro, adquire a compreensão mais profunda sobre o ser humano que, naquele momento, não é somente um portador de doenças, mas um ser com corpo, alma, sentimentos, pensamentos e emoções.

Rosana Moura Daher[1]

Não se pode imaginar a evolução do homem na terra sem momentos marcados pela dor, seja ela causada por ferimentos, nascimento ou morte, isto é, situações exigindo cuidados prestados pelo outro, haja vista que o ser humano não é capaz de se cuidar em suas necessidades básicas de saúde; neste sentido, a enfermagem surgiu e evoluiu paralelamente à humanidade, desde os tempos em que as doenças eram consideradas como castigo dos deuses em resposta às ações do homem. Naquela época, os cuidados à saúde eram práticas empíricas nas mãos de sacerdotes ou curandeiros e suas poções mágicas, segundo relatam Fernandes et al. (2000).

O trabalho da enfermagem propriamente dito foi desenvolvido por Florence Nathingale no século XIX, uma personagem ousada que revelou toda a coragem da qual uma mulher é capaz, num período em que o sistema social patriarcal era hegemônico e, as questões de gênero, tão fortes, predominavam. Suas ações na Guerra da Criméia, conforme referências de Fernando et al. (2000), definiram o verdadeiro papel da Enfermagem, criando assim o perfil da profissão que tem, em Florence, o seu espelho.

No Brasil, o Departamento Nacional de Saúde Pública foi implantado e dirigido por Carlos Chagas em 1920, abrindo espaços para a criação da Escola de Enfermagem. A partir de então, a Enfermagem passou por diferentes fases de transformação, construindo e reconstruindo sua imagem, seu papel, história e identidade profissional. As enfermeiras-visitadoras no princípio do século XX são hoje profissionais integradas num sistema de práticas tradicionais, de diagnósticos e de intervenções.

Os cursos de formação acadêmica foram complementados com outros de pós-graduação, mestrado e doutorado, não apenas como conquista de títulos, mas como níveis de formação profissional, permitindo que os Enfermeiros tenham autoridade para dirigir outros grupos, com base em sua competência e conhecimentos.

Horta (1979) descreve que, ao estar presente no ambiente imediato do paciente e no controle dos diversos processos do cuidado, o Enfermeiro demonstra a sensibilidade e conscientização de seu trabalho, de acordo com sua trajetória histórica, durante a qual adquiriu experiências, técnicas, conhecimentos e teorias inter-relacionadas, tendo o ser humano como objeto de estudos, atenção, cuidados e assistência às suas necessidades básicas.

Segundo a Teoria de Parse (Teoria "Human Becoming" de Rosemarie Rizzo Parse), a prioridade da Enfermagem é proporcionar melhorar a qualidade de vida daqueles que estão sob seus cuidados, respeitando os seus diferentes princípios individuais, suas crenças, etnias e cultura. Rosseto e Sodré (2000) comentam que "(...) a essencialidade da enfermagem é o relacionamento entre o enfermeiro e o indivíduo ou familiares e a meta da prática da enfermagem é melhorar a qualidade de vida sob a perspectiva da própria pessoa (...)."

Assim, a prática profissional não é ortodoxa; ela se movimenta dentro de princípios flexíveis e compatíveis com as situações de saúde presentes que envolvem os pacientes e familiares. É neste sentido que a Enfermagem tem a característica missionária.

Novas conceituações vão modelando a assistência de acordo com planejamentos, gestão e remanejamento de ações, segundo as práticas reflexivas e avaliações sobre a própria prática aplicada de acordo com aspectos científicos que orientam as ações específicas dos profissionais.

Diante dos olhos do Enfermeiro, o paciente deixa de ser um problema biológico para ser uma pessoa, um ser humano único em busca do alívio ao seu sofrimento. Esta visão empresta à Enfermagem a característica de profissão humanizada e elevada em seus princípios fundamentais. Horta (1979) complementa que, apesar destes aspectos, a enfermagem é uma prática científicaque busca a inter-relação de seus conhecimentos.

Esta característica humanista que compõe o perfil profissional revela-se através das ações do Enfermeiro enquanto pessoa que se oculta atrás do avental branco que veste em seu trabalho. Na verdade, o Enfermeiro olha o paciente aos seus cuidados e o vê como seu espelho: o paciente é apenas uma pessoa física e emocionalmente necessitada que requer cuidados humanizados e dedicação.

O Enfermeiro-pessoa é um ser integral que se divide em muitas partes, isto é, como cuidador do paciente, assistente do médico e mediador entre ele e os familiares do paciente, sendo muitas vezes o ouvinte das suas queixas pessoais e consolador de suas inseguranças, medos ou problemas pessoais. Por isto é um ser especial no exercício de suas atribuições.

Falando de profissionais e profissionalismo, é preciso citar a definição de Perrenoud (2002) em relação aos dois termos. Segundo ele, o profissionalismo existe a partir do momento em que o profissional, seja qual for a sua área de atuação, domina saberes acadêmicos, práticos, especializados ou experimentais que formam, juntos, um instrumental do trabalho. O autor comenta que um profissional nunca parte do nada para um desempenho; parte sim de uma fundamentação sólida de teorias e práticas, pois em todas as profissões há variantes imprevisíveis que são singulares, devido às suas próprias complexidades.

Nas profissões humanistas, como o é a Enfermagem, exige-se uma qualificação específica que se faz pelo desenvolvimento de competências através da formação continuada, cursos de reciclagem e de especializações, sem nos esquecermos de que Paulo Freire define o ser humano como alguém eternamente em busca de respostas e é, portanto, um sujeito inacabado.

De acordo com o mesmo autor, o homem que não busca novas aprendizagens torna-se um prisioneiro da cotidianidade reprodutivista, acrítica, automática e prosaica, afastando o seu lado profissional da postura autônoma. Neste patamar de formação qualificada e de constante aprendizagem e reaprendizagens, coloca-se a Enfermagem com sua indiscutível relevância e o Enfermeiroà altura de sua identidade profissional instituída.

Neste sentido, o Enfermeiro não pode ser definido como um trabalhador que executa suas funções de forma mecanicista e nem o paciente como um conjunto de problemas biológicos aguardando o resultado de uma reação química de fármacos prescritos.

A definição de Horta coloca o profissional como um ser humano emotivo, sensível, amoroso e solidário com o sofrimento humano, razão pela qualse dedica ao trabalho que escolheu como profissão. A autora define o Enfermeiro como um "ser" possuidor de tres aspectos singulares:

Ser-Enfermagem é o profissional ao assistir as necessidades básicas do paciente;

Ser-Enfermeiro é o ser humano cuidando de outro ser humano;

Ser-Paciente é a superação do profissionalinteragindo com o paciente.

Estas multifaces integram-se, transformando o profissional em um Ser-CuidaDOR (ou seja, aquele que cuida da dor, de acordo com Kastenberg, 2001), capaz de monitorar a própria emotividade para se dedicar ao seu próximo!




Autor: ROSANA ALVES MOURA DAHER


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