ESTÍMULO AO ERRO



A cena é a seguinte: um aluno de 14 anos picha as paredes de uma escola que acabou de ser pintada em um sistema de mutirão, do qual participaram pais e alunos de uma comunidade no município de Viamão (Rio Grande do Sul). Durante oito meses dezenas de pessoas se mobilizaram para arrecadar fundos e, em um feriado, todos trabalharam para pintar a escola. Mas, em apenas um dia, um jovem estudante estraga todo o trabalho realizado com afinco e dedicação. A vice-diretora descobre quem foi o autor da façanha e o coloca para consertar o próprio estrago. Um outro aluno grava a situação e começa a confusão: a mãe do aluno infrator acusa a vice-diretora de humilhar seu filho e de havê-lo injustiçado.

Tão logo a notícia se espalha, começa a discussão. Surgem algumas pessoas que, alheias ao bom senso, usam sua língua ferina para condenar a atitude da vice-diretora e defender o “pobre” aluno, sem se prestar a fazer uma análise crítica do fato. Entretanto, parece que nesse caso prevaleceu a lógica e quase 99% das pessoas que opinaram sobre o assunto apoiaram a medida tomada, condenando o ato do aluno e de sua mãe, que quer tomar medidas contra a escola.

Entretanto, o que está por trás de tudo isso é algo mais grave. Ao defender o “pobre” aluno nessa situação, as pessoas que assim o fazem estão contribuindo para estimular o desenvolvimento de um sentimento perigoso e que aparece vivo em muitos jovens: a sensação de que o mundo está aos seus pés, a ideia segundo a qual as demais pessoas não têm importância e o seu trabalho pode e deve ser destruído e desrespeitado sem que haja maiores consequências. Agindo assim, essas pessoas estão contribuindo para a formação do bandido de amanhã.

Ao tomar conhecimento de que existem pessoas que condenam veementemente a correção aplicada pela escola e ainda colocam o aluno infrator na condição de vítima, o jovem em questão tem à sua disposição elementos suficientes para achar que o mundo é seu, e que suas atitudes, por mais danosas que sejam, serão apoiadas por pessoas que condenarão a parte afetada. É como se a culpa fosse da escola, e não do jovem que estragou o trabalho realizado por uma multidão de pessoas.

Em uma dessas defesas, certa pessoa chegou a dizer que o jovem aluno estava tapando o rosto com o boné para, pobrezinho, esconder o “rubor da face”  diante da injustiça a que estava sendo submetido. E como ficaram as dezenas de pessoas que viram seu trabalho e esforço ser estragado de tal maneira? Devemos pensar não no “rubor das faces” dessas pessoas, mas sim na tristeza de seus corações ao verem a cena.

Infelizmente, ainda existe essa inversão de valores. Pessoas que, na ânsia de condenar  a escola sem analisar criticamente os fatos, contribuem para estimular o desrespeito, a delinquência. Tudo se resolveria se o jovem aprendesse que o mundo não está à sua disposição. E isso não se aprende só na escola. Aliás, a escola pouco pode fazer nesse sentido se não houver colaboração dos pais e da sociedade. O aluno passa pouco tempo do seu dia na escola, e nesse tempo ele precisa aprender o conteúdo didático que é exigido para sua vida. A maior parte do dia ele passa em companhia dos pais, de amigos, da Internet, de pessoas desconhecidas.... pessoas que, na situação aqui discutida, estimulam as atitudes negativas que resultam em atos de vandalismo. De nada adianta a escola ensinar que é errado o que o jovem fez se fora dos muros escolares ele encontrar em sua mãe e em outras pessoas o apoio para seus atos errôneos.


Autor: vitor souza


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