Crise do Século XVII



Quando se trabalha com o conceito de "crise" diversos trabalhos enfatizam o processo como enfraquecimento da nobreza e à eminente ascensão da burguesia. O autor Eric Hobsbawm faz um panorama diferenciado usando sua concepção marxista para explicar as causas que levaram à crise na economia européia e a remoção de entraves à plena produção capitalista que nada mais seria a última fase de transição geral de uma economia feudal para a economia capitalista.

Em seu livro, Hobsbawm aponta todo momento que está querendo encontrar a crise, e não como ela se sucedeu. É importante perceber é que a linha central do texto é que, segundo afirmativa de Marx em O Capital, a partir da revolução científica, do renascimento e (do que chamaríamos) de Grandes Navegações, a burguesia emerge conquistando poder econômico, passando por um processo evolutivo que deveria atravessar os séculos XVI-XVIII até alcançar o ponto máximo com a Revolução Francesa. Este seria o momento em que a burguesia, que já tem o poder econômico, alcança o poder político e tomando o estado.

O problema central é que apesar de Marx falar do continuum evolutivo da burguesia, desde o surgimento como classe até a hegemonia no poder, nesse momento havia uma crise. Especulando-se que no final do século XV e começo do século XVI as ditas Grandes Navegações e as conquistas Marítima fizessem que muitos cabedais fossem invertidos das colônias para a Europa, isso não garantiria que as riquezas se reproduzissem.

As autoridades européias, apesar de existirem pólos econômicos e intelectuais fundamentados no princípio econômico (burguês), havia uma mentalidade voltada para o antigo regime (extra-econômico). Em outras palavras, por mais que houvesse um acúmulo de riquezas na Europa (não a Mediterrânea, mas Atlântica) tivessem sido invertidos da Àfrica, da Ásia ou América, com a mentalidade geral ainda fundamentada no antigo regime, não houve uma adequação de pico de a economia criar reservas para fundamentar um problema na economia no momento de crise.

Quando chega ao século XVII, o momento que há uma dificuldade de reprodução econômica e que as próprias colônias declinam na mineração não há mais o acúmulo de cabedais como aconteceu ao longo do século XV. No mesmo fluxo de entrada ao longo do século XV-XVI e não houve a criação de alternativas capitalistas de produção, não tinha como manter o mesmo padrão de ostentação e consumo por não mais haver sustentabilidade econômica.

No texto de Hespanha, o capitalismo começa desconstruir e impor uma idéia da possibilidade de uma mobilidade social através do mérito, da construção da individualidade, de uma mentalidade burguesa; A Reforma Protestante constrói uma fundamentação ideológica de modo a combater uma mentalidade extra-econômica uma vez que pressupõe à usura, à riqueza, o paraíso na terra desde que tem a racionalidade de ter riqueza sabedoria, seguir as vontade de deus e aplicar esse capital de modo que a economia capitalista gire acerca do trabalho. Este trabalho por sua vez, não será baseado no sistema colonial voltada ou pela graça ou pela subsistência, mas pelo investimento, empreendimento. A Expansão Marítima e comercial acabaria iniciando gradualmente o processo de globalização no final do século XV, trazendo o comércio para o eixo Atlântico e vai se desconstruindo toda uma hegemonia geopolítica e geocomercial.

É preciso um cuidado especial quando referem que as doenças que se proliferavam na Europa e ajudaram na crise. Compreende-se que a expulsão dos camponeses em razão dos cercamentos dos campos resultou numa demasiada migração para os centros urbanos e gerando um "inchaço" demográfico e uma aglomeração de indivíduos num único ambiente ajudou na proliferação de doenças e na própria mendicância. Porém, não se devem responsabilizar esses fatores à crise porque não tem ocorrência em virtude de um declínio populacional. Em termos de produção, de 1492-1650, quando eclode essa crise, a população ameríndia (do norte do Canadá à Patagônia) ela foi exterminada, segundo a estatística, foi extinta. Há um profundo decréscimo populacional, mas não foi significou necessariamente que isso não permitiu a Europa extrair a mesma quantidade de riquezas. Independente de uma queda populacional proveniente das doenças, não se trata daqueles que participam da economia, não existe o consumo dos bens que chegam do comércio atlântico.

Quanto à questão da moeda, deve-se ressaltar que a Europa era fundamentalmente agrária. Quando a rota comercial estava inserida no mediterrâneo, havia pequenas aldeias e vilas, havendo pequenos núcleos urbanos voltados à economia rural. Uma das causas da crise seria a circulação de moeda? Não há uma afirmativa quanto a isso por parte do autor, mesmo porque a moeda nunca circulou nesse período com as trocas comercial. A sua circulação aconteceu quando aconteceu no grande mercado atlântico colonial quando há a saída do Mediterrâneo para o eixo Atlântico, e ainda assim a economia permaneceu como subsistência até a Revolução Francesa.

A alimentação do europeu (povo) estava baseada no pão (centeio, cevada e trigo). Essas riquezas provenientes da América se concentravam nas mãos de uma burguesia (no caso de Portugal e Espanha) aristocrática que, necessariamente, não representava uma riqueza nacional. Era um acúmulo mais pessoal, da Coroa. A partir disso voltamos à premissa mencionada anteriormente: uma riqueza para a ostentação do funcionalismo público.

A sociedade moderna, para o marxismo, é uma sociedade de transição de um social feudal para um social burguês (capitalista). Ou seja, por mais que haja uma classe burguesa, uma classe que comercializa e mentalizam, aqueles que acumulam cabedais seria um ponto fundamental para atingir o capitalismo. Alguns desses grupos que atuam nessa prerrogativa, não têm uma mentalidade econômica de investir na produção, uma vez que ainda esteja voltado ao sistema do antigo regime.

Pode-se concluir que o objetivo de Hobsbawm não é dizer "a crise é", mas que a crise não pode ser justificada por questões que não passem pela estrutura mental, econômica e cultural. Não estaria fundamentada no declínio populacional e nos gastos com as guerras e insurreições que ocorreram ao longo do século XVII, como a Guerra dos Trinta Anos como apontam a historiografia tradicional. Estes seriam apenas componentes para aprofundar uma crise já existente. As guerras eram uma maneira de manter a colônia, manter uma hegemonia comercial, mas estando fundamentado não numa concepção de monopólio para haver um domínio capitalista burguesa para investimento na produção e sim um monopólio para que essa riqueza seja voltada para ostentar uma riqueza do Estado.

O autor na busca dos responsáveis pelas crises, a mesma não estaria fundamentada nos conflitos, como a Guerra dos Trinta Anos, mas seriam componentes para mergulhar mais e mais a crise européia, não como razões primárias, mas consequências. A crise estaria fundamentada potencialmente no sistema econômico de uma mentalidade extra-econômico.

Segundo Marx, não o desenvolvimento pleno de classes burguesas e nem trabalhadoras, mesmo porque nesta sociedade do antigo regime há uma sociedade de estamentos, e não uma distinção social de espaço de "trabalhador" e de "empregado" e sim todos estarem inseridos num mesmo universo com uma legitimação divina, onde há a graça de um ser "trabalhador" e outro de ser "proprietário". Não existe, assim, uma separação de classe nesta concepção ideológica de uma sociedade de antigo regime. Para Hobsbawm, para haver um desenvolvimento de o capitalismo era preciso haver uma revolução, uma ruptura entre capital e trabalho. A partir desse processo haveria a formação das corporações de ofícios que viriam impedir a competição entre produtores e suprimir o mercado autárquico. Para o sucesso do capitalismo era necessária a existência de, pelo menos, uma produção em massa para obtenção de maior volume de lucro por venda, não mais uma produção de subsistência como estipulava o sistema feudal.

A sociedade do antigo regime, para Marx, é uma sociedade de transição: não sendo uma sociedade feudal nem uma sociedade burguesa, mas aquela que está buscando uma identidade. É criada então uma linha de acontecimentos organizados, buscando elementos de uma sociedade feudal e mesclando para sua sociedade capitalista em sua plenitude.

Quando escreve O Manifesto Comunista em 1848, quando uma sociedade burguesa já estava implementada na Inglaterra e na França e dominando efetivamente a política e economia. Em sua lógica com relação ao passado e que todo o processo foi gradual em sua organização para resultar na sua sociedade capitalista. Em suma, há uma análise de transição. Havia nesta sociedade feudal elementos capitalistas que não estavam plenamente desenvolvidos, ocorrendo uma desconstrução ao longo da História e acontecendo sua maturidade na Revolução Francesa com a ascensão da burguesia.

Referência:

HOBSBWAM, Eric L. A crise Geral – Da economia européia no século XVII In: Capitalismo - Transição. São Paulo: Eldorado, 1975. pp.81-97


Autor: Andréia Feital Mendes


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